sexta-feira, 23 de março de 2012

Atire a Primeira Pedra - Por Luiz Domingues


Em uma guerra, não há mocinhos, nem bandidos em tese, como os filmes de Hollywood tanto disseminaram ao contrário, por décadas a fio. Na realidade, barbaridades podem ser são cometidas por todos os personagens envolvidos no conflito. 

Recentemente, por exemplo, foi descortinada uma página triste da história, pela qual atrocidades cometidas por cientistas sem escrúpulos os igualaram às praticas nazistas em campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial. 

Documentos revelaram que entre 1946 e 1948, um experimento científico infectou cerca de mil e trezentos cidadãos guatamaltecos, acometidos por doenças venéreas, para supostamente ser testado os efeitos da então recém-lançada penicilina, no combate às doenças sexualmente transmissíveis.

Entre outras praticas dignas de um Dr. Mengele, inoculou-se sífilis através do globo ocular de prostitutas e estas moças foram estimularam a copular posteriormente com soldados do exército daquele país latino-americano, além de civis a apresentar quadro com deficiências físicas e mentais. 

Órfãos também foram usados nos experimentos, em que o cientista responsável, um senhor chamado, Dr. John Charles Cutler, manteve um laboratório nos moldes parecidos aos usados pelo personagem fictício, o sinistro Dr. Moreau (protagonista da ficção científica: "A Ilha do Dr. Moreau" (Livro de H.G. Wells), que gerou três bons filmes, por sinal). 

E o Dr. Cutler, que antes desse documento vir à baila, por décadas foi considerado um benfeitor da humanidade por suas descobertas no campo das DST, agora sabemos, as suas descobertas foram conquistadas às custas do sofrimento de pessoas pobres de um país centro-americano, certamente tratadas como cidadãos de terceira classe. 

E para ir mais fundo, descobriram que antes, em 1943, ele já fizera vários experimentos em presidiários e infelizmente, em pessoas negras e pobres de uma penitenciária do estado da Indiana, nos Estados Unidos. 

Porém, Mengele e Cutler não estão sozinhos na disputa pela "medalha de ouro Dr. Moreau". Cientistas coreanos, nos anos 1930, obrigaram cobaias humanas a ingerir repolhos envenenados e através de uma cúpula envidraçada, monitoravam "cientificamente', os vinte minutos, em média, que esses infelizes demoravam para morrer, após apresentarem violentas convulsões corpóreas.

Um microbiologista chamado, Shiro Ishii, montou durante o período da Segunda Guerra Mundial, um laboratório ainda mais cruel que o do Dr. Cutler, instalado em um rincão asiático. 

Grigori Mairanovski, outro cientista (este de origem da Geórgia, no leste europeu), costumava realizar experimentos com cobaias humanas nos chamados, gulags, ao envenená-las com gás C-2. 

Neste caso, durava cerca de quinze minutos a agonia dessas pessoas, observada com afinco pelo "nobre" pesquisador. E o objetivo desse experimento fora descobrir um meio do gás não deixar vestígios a ser descoberto por legistas, e assim contribuir com a eficácia do sigilo da espionagem durante o período da Guerra Fria.

E o que dizer dos experimentos que foram feitos para o desenvolvimento da bomba atômica? Pergunte aos pobres moradores do Atol de Bikini ou das Ilhas Marshall, locais onde muitos foram prejudicados, diante de casos relatados sobre abortos, nascimentos prematuros, câncer tireoidiano etc. 

Entre 1971 e 1989, um cientista sul-africano, torturou milhares de pessoas, ao alegar ter encontrado a "cura" para o homossexualismo masculino e feminino. Entre os seus métodos, constava o uso de eletrochoques e castração química.

E o projeto MK-Ultra? Muito antes dos Hippies dos anos sessenta elegerem o LSD como o seu combustível, sob as bênçãos de Timothy Leary, cientistas fizeram muitos experimentos desde o final dos anos 1940, mas com outros propósitos, menos lúdicos. 

O objetivo seria controlar a mente de super espiões, ao violar as normas do código de Nuremberg (quando proibiu-se experimentos desse nível para efeitos militares ou de inteligência secreta). E para testar tais métodos, doses cavalares com LSD, foram injetadas nas cobaias e muita gente morreu de uma forma trágica. 

Recomendo assistir o excelente filme, "The Manchurian Candidate", no qual esse tema é tratado, com Frank Sinatra a atuar como o protagonista (e muito bem por sinal, aliás).

Para encerrar: em nome da "ciência", não foram apenas os pobres animais que sofreram. E nenhuma nação está livre desse ônus, em que não existem mocinhos, só bandidos
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2011.

4 comentários:

  1. Não podemos esquecer que o Freud,sem saber do mal, claro, andou receitando cocaína para alguns pacientes...Na época que era liberada e não se tinha estudos sobre as consequências.

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    1. Muito bem lembrado, Elmo ! Além desse fato relatado, até bem pouco tempo atrás, anos 1940, o cigarro era receitado como "relaxante" por clínicos gerais, para pessoas com dificuldades para relaxar.

      Muitos excessos foram cometidos nesse sentido das experimentações com substâncias.

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  2. A rigor, acho que todos somos cobaias quando aceitamos medicamentos novos e gratuitos dos médicos. Mas, eles têm que saber o que faz efeito ou não...

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    1. É verdade !

      Nossa confiança como leigos e enfermos, é acreditar que todo medicamento foi exaustivamente testado em laboratórios farmacêuticos, antes de serem colocado no mercado, mas na prática, não é tão criterioso esse controle de qualidade, quanto esperaríamos.

      Muito grato pela atenção e postagem dos comentários !

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