Eis que eu recebi, recentemente, o trabalho de uma banda paulistana relativamente
nova, mas formada por dois guitarristas da pesada, e muito tarimbados da cena Rocker da
cidade de São Paulo.
Chamada como "8080", a banda liderada pelos ótimos, Chico Marques
e Cláudio “Moco” Costa, apresenta o seu CD debut à cena artística, em grande
estilo.
Ambos são amigos de longa data, oriundos da simpática
cidade interiorana paulista de Marília (alô, MAC !), e que vieram batalhar a
carreira na capital paulista, há mais de quinze anos, ao adquirir assim, o amplo
respeito e admiração generalizada, ao atuar pela noite paulistana, com bandas tributo; ou a atuar como side-man para artistas
em geral, e tornar-se produtores musicais, igualmente, com muitas ações realizadas em estúdios. E agora, acertam a mão mais uma vez ao lançar-se como
uma banda autoral, e mostrar assim, um trabalho sob forte apelo Pop, com muita substância
musical e atributos múltiplos em seu trabalho.
Antes de avançar por esta resenha, eu devo esclarecer que, sim, o
grupo, "8080" mostra fortemente a sua influência básica em torno do movimento "BR-Rock 80’s", mas também, ao contrário do
que poder-se-ia imaginar, ao tratar-se de uma banda fundada por dois
guitarristas, a intenção não foi fazer menção ao amplificador Marshall, modelo 8080,
tampouco. Todavia, a explicação oficial vinda de ambos os guitarristas e mentores da ideia, tal numeração
correspondia à placa de um carro que Chico Marques possuía, quando conheceu,
Cláudio “Moco”Costa, lá na ensolarada cidade de Marília / SP, no início dos anos 2000.
Entretanto, no cômputo final, acredito que a somatória das três
hipóteses faz sentido, pois de fato há um sabor da década de oitenta no
trabalho; existe o enfoque total das guitarras (daí a menção ao amplificador, fazer
jus ao nome), e a explicação oficial é típica da cultura Rocker, ao atribuir um
certo quê de misticismo em evocar um “sinal mágico”, certamente enviado pelos
Deuses do Rock. Sobre o álbum homônimo, são dez faixas para ser saboreadas.
O talentoso, Chico Marques, um artista com múltiplos atributos
O disco abre com : “Todo Mundo Quer Amor”. Trata-se de um
Rock bem para cima, festivo, e com muita influência do grupo carioca oitentista, Barão Vermelho. O trabalho das duas guitarras é excelente. Riff; base;
solo, e contra-solos como manda o figurino do som com forte pegada Pop, com forte apelo radiofônico.
O vocal do Chico é límpido; com excelente emissão; dicção, e por dar o recado como Cazuza daria, mas em minha opinião, Chico tem mais atributos vocais, e por isso empolga, em meio ao alto astral da canção. A presença dos backing vocals em vocalises plenos em onomatopeias ao estilo : “Uh-uhs”, lembra a Rita Lee & Tutti Frutti dos bons tempos. A letra fala sobre o amor, sem grande arroubo poético, mas atende ao clima da música, com bastante eficácia.
Discreto, mas muito funcional, um órgão Hammond ao fundo faz uma base ao estilo “sombra”, que dá um charme e tanto para a canção. Esse teclado foi executado pelo próprio, Chico Marques.
O vocal do Chico é límpido; com excelente emissão; dicção, e por dar o recado como Cazuza daria, mas em minha opinião, Chico tem mais atributos vocais, e por isso empolga, em meio ao alto astral da canção. A presença dos backing vocals em vocalises plenos em onomatopeias ao estilo : “Uh-uhs”, lembra a Rita Lee & Tutti Frutti dos bons tempos. A letra fala sobre o amor, sem grande arroubo poético, mas atende ao clima da música, com bastante eficácia.
Discreto, mas muito funcional, um órgão Hammond ao fundo faz uma base ao estilo “sombra”, que dá um charme e tanto para a canção. Esse teclado foi executado pelo próprio, Chico Marques.
Ouça : "Down de te Amar", nesta postagem do You Tube
A segunda faixa, “Down de te Amar”, começa com um slide muito bem tocado. Lembra o som do "AC/DC" de certa forma, pelo Riff de Rock básico e envolvente. Nesta canção, um convidado especial atua, a destacar-se : Ricardo Cristaldi, um ótimo tecladista que somou muito ao trabalho. A intervenção dele ao Clavinete é sensacional, ao proporcionar um tempero da boa Black Music, com um balanço incrível. Impressiona também a extrema felicidade na escolha do timbre desse instrumento. Apreciei muito. Eclético, também colocou piano elétrico (que Billy Preston abençoe o Fender Rhodes !), e órgão Hammond, para enriquecer demais a música.
Chico e Cláudio brilham, igualmente, com guitarras super
desenhadas e sensacionais, que passeiam com desenvoltura pelo "pan" do stereo, e
os timbres são ótimos.A canção contém também, um ótimo refrão, além de um solo de guitarra para entortar a espinha de qualquer ouvinte sensível que aprecie o Rock'n' Roll.
Chico Marques, mais uma vez mostra o seu talento vocal, com uma
interpretação ótima.
Ouça : "Nosso Mundo é ainda Perfeito" no promo do You Tube
Hora para ouvirmos : “Nosso Mundo ainda é Perfeito”. Essa remonta
mais a uma outra vertente do BR Rock 80’s. Lembra artistas mais orientados pelo Pop e menos Rock, como :
Lulu Santos; Rádio Táxi; Kid Abelha, e até o Kiko Zambianchi. Existe intervenções de sintetizadores ao sabor dos anos
oitenta, além de guitarras mais limpas, mas extremamente bem colocadas e
tocadas.
Ouça : "Amor ao Contrário na postagem do You Tube
“Amor ao Contrário” é uma bela balada. Contém um balanço dançante que certamente bebe da fonte do R’n’B e remete aos Rolling Stones, em sua produção sonora mais dos anos 1980. Há um violão providencial, tocado pelo Chico, a amenizar a harmonia, e uma grande profusão de arpejos, super inspirados vindos da guitarra do Cláudio.
O grande, Cláudio "Moco" Costa, um guitarrista superb
O refrão é muito bom, a observar um "crescendo", com uma linha melódica bem desenhada, não apenas pela criação da melodia em si, mas pelo ótimo tratamento de áudio, no acabamento final da mixagem, que o valorizou, bastante.
Eis a quinta faixa, “Ganhar ou Perder” onde a menção aos Rolling Stones e Barão Vermelho é total, a estabelecer uma combinação muito boa entre o riff e a melodia. Após um excelente solo, super Rock’n Roll, e um refrão com uma modulação harmônica sutil, mas bem instigante.
A sexta faixa, “Caso Encerrado” entra com riff forte, e
uma voz dobrada muito bem engendrada. O fato do Cláudio ser também um bom técnico de som e ter feito a mixagem do álbum,
certamente foi decisivo nessa ótima escolha de desenhos a passear pelo "pan". O
stereo é muito bem aproveitado, com muitos detalhes, que deixaram o trabalho
não só nesta faixa, mas no disco todo, muito rico.
“Você nem Liga”, a sétima faixa, contém uma certa aura reggae / ska, e lembra o trabalho do "Hanoi-Hanoi", de alguma maneira. O convidado especial, Ricardo Cristaldi colocou um naipe de metais sampleados, via teclados, bem arranjado, além de algumas pontuais intervenções de sintetizador ao longo da canção. Até o uso de um recurso tipicamente oitentista, o “clap”, é usado.
“Você nem Liga”, a sétima faixa, contém uma certa aura reggae / ska, e lembra o trabalho do "Hanoi-Hanoi", de alguma maneira. O convidado especial, Ricardo Cristaldi colocou um naipe de metais sampleados, via teclados, bem arranjado, além de algumas pontuais intervenções de sintetizador ao longo da canção. Até o uso de um recurso tipicamente oitentista, o “clap”, é usado.
Cláudio arrasa no Wah-wah. Sutis também são alguns backing vocals a costurar o vocal
principal, sob um arranjo bastante feliz.
“Simples” lembra os Rolling Stones, mas de uma outra época, mais sessentista, talvez pela batida que fez-me lembrar de uma canção como : “Child of the Moon”. Há mais uma ótima presença das guitarras, com timbres sensacionais, e um vocal dobrado e muito bem desenhado. Gostei da solução do "fade out" final, pois acho que foi perfeita.
“Simples” lembra os Rolling Stones, mas de uma outra época, mais sessentista, talvez pela batida que fez-me lembrar de uma canção como : “Child of the Moon”. Há mais uma ótima presença das guitarras, com timbres sensacionais, e um vocal dobrado e muito bem desenhado. Gostei da solução do "fade out" final, pois acho que foi perfeita.
A nona faixa, “O Certo é o seu Mal”, também apresenta
um Riff forte e muito Rock’n’Roll. Mais uma que lembra o som do Barão Vermelho, fala sobre o
amor, como quase todas as demais, mas com um pouco mais de acidez, desta feita, senão, vejamos :
“Fingindo ser tão Chic, pra ver se chama a atenção
Perdendo toda a classe se alguém te fala que não,
Tentando a noite inteira achar o seu alvo ideal”...
Trata-se, sem dúvida, de uma das melhores letras do álbum, em minha
ótica.
“Apoteótico” entra a fazer jus ao nome, com um Riff ornado pelo Rock clássico e bem animado. O refrão envereda pelo Pop oitentista, super radiofônico e a pergunta é inevitável : por quê uma banda como o "8080", não está a ser executada nas emissoras de rádio ? Bem, sabemos a quantas anda a mentalidade no panorama da difusão mainstream... portanto, só lamento essa ausência.
“Apoteótico” entra a fazer jus ao nome, com um Riff ornado pelo Rock clássico e bem animado. O refrão envereda pelo Pop oitentista, super radiofônico e a pergunta é inevitável : por quê uma banda como o "8080", não está a ser executada nas emissoras de rádio ? Bem, sabemos a quantas anda a mentalidade no panorama da difusão mainstream... portanto, só lamento essa ausência.
Gostei da letra, com uma firmeza de propósito das mais salutares. O negócio é seguir em frente, sem espaço para o desânimo, mesmo que as coisas não estejam do jeito que gostaríamos que fosse a realidade.
“Mesmo que eu tropece nos meus passos,
Tudo o que eu
quiser um dia eu faço,
Mesmo se eu tiver um ponto fraco,
Não me iludo mais, eu piso em falso,
Mesmo que eu me esqueça um pedaço,
Levo a maior parte nos meus braços,
Pra chegar inteiro no final”...
Nesse trabalho inicial, Chico e Cláudio tocaram todos os
instrumentos, tirante as faixas onde o tecladista, Ricardo Cristaldi colaborou.
Chico Costa tocou guitarra; violão; órgão Hammond e foi
coprodutor geral, enquanto Cláudio “Moco” Costa tocou guitarra e baixo; além
de programar a bateria eletrônica; produzir; editar, e mixar o álbum. Por isso eu não mencionei baixo e bateria nas faixas, pela
ausência de componentes oficiais nesse trabalho. Sobre a bateria, foi super bem programada, e é muito
eficaz, com rara felicidade, até. Para o padrão Pop, é perfeita, ao atuar de uma forma reta, com
discretas viradas etc e tal, mas deixo a ressalva que a banda já providenciou
um baterista de alta técnica e fixo na formação (Lucas Melo), e que certamente vai gravar uma
bateria mais humana e desenhada nos próximos trabalhos, para enriquecer ainda mais
o trabalho do 8080.
O promissor, Lucas Melo, um tremendo reforço para o 8080
Sobre o baixo, Cláudio executou as linhas com grande firmeza,
bom timbre e eficácia. Não apresentou grandes voos, mas apresenta-se bem agradável no
contexto geral dos arranjos das canções. Uma outra boa nova, a banda já anunciou a presença de um ótimo
baixista oficial, Silvano Andrade, que vai somar muito nesse trabalho,
certamente.
Silvano Andrade, um baixista da pesada
Mais uma particularidade dessa obra, é que ela foi gravada em uma noite tão somente, e segundo Chico e Cláudio, as músicas foram compostas; arranjadas; e gravadas, ali no calor do estúdio, ao mostrar mais um trunfo da dupla, ou seja, com a criatividade à flor da pele. Sobre a gravação, gostei muito da sonoridade geral, e como já salientei, os timbres dos instrumentos, sobretudo as guitarras, ficaram espetaculares, além de também chamar-me muito a atenção o tratamento dado às vozes, no processamento de mixagem. Gostei do padrão da mixagem, com tudo na frente, e que honra as tradições do Rock, em um dos aspectos que mais o consagraram, isto é, o fato de que todos os instrumentos são importantes no cômputo geral, portanto, Cláudio soube dar essa marca ao disco.
A respeito da capa, eu gostei bastante da ilustração.
Trata-se de uma garota jovem; sensual; e muito voluptuosa, a mostrar-se
bastante perigosa a apontar-nos um ostensivo revolver. Apesar de parecer
agressivo, creio que a metáfora é outra, e não chocou-me, necessariamente. O responsável pela ilustração foi o artista gráfico, Paulo Argollo, que
mostrou ter influência boa das "Comics", com traços bem marcantes.
Gravado; mixado, e masterizado no DaCosta Studio, em 2014. Produção geral de Cláudio Costa e Chico Marques.
Gravado; mixado, e masterizado no DaCosta Studio, em 2014. Produção geral de Cláudio Costa e Chico Marques.
Para quem fica o dia inteiro absorto nas Redes Sociais, a reclamar
que o Rock brasileiro está caído, ou mesmo morto, digo com pesar que trata-se, infelizmente,
de um preguiçoso, ou deliberadamente esse tipo de pessoa gosta de fazer o gênero, “reclamão”,
ao destilar o seu insuportável discurso vitimista, ao disseminar o baixo astral e sob o sentido do derrotismo
sem fim. Mesmo ao considerar-se que a difusão "mainstream" atual, está
realmente dominada em sua totalidade,
pelos agentes da subcultura (ou mesmo anticultura, o que é muito pior),
por outro lado, existe uma cena artística a habitar o patamar "underground", a mostrar-se viva e pulsante, com dúzias, ouso
dizer, centenas de bandas a apresentar muita qualidade, ao produzir música em todas as vertentes imagináveis.
Portanto, se ao invés dos lamentos, as pessoas tirassem
as suas respectivas nádegas preguiçosas do sofá para ir prestigiar tais
artistas nas casas de espetáculos onde costumam apresentar-se, ou se no mínimo, tivessem
a mínima paciência para ouvir os seus trabalhos através dos canais disponibilizados na internet, e os compartilhassem pelas redes
sociais, já seria um alento.
Basta fazer uma busca nos arquivos dos meus Blogs 1 e
2, e o leitor verificará que eu já enfoquei vários artistas com extrema qualidade, e que merecem o nosso
apoio. É o caso do 8080, outra banda brasileira que eu recomendo !
Para conhecer melhor o trabalho dessa boa banda, procure
a sua página no Facebook :
Procure também o seu canal oficial de You Tube :
E dá para ouvir o disco, igualmente no Soundcloud :