Fundada por imigrantes italianos, no dia 26 de agosto de 1914, a Società Sportiva Palestra Italia, nasceu com o objetivo em congregar todos os imigrantes italianos e seus descendentes sob uma agremiação sócio / esportiva e eventualmente cultural.
Com o futebol a tornar-se o carro chefe, logo tornou-se uma referência esportiva para orgulhar os ítalo-brasileiros. Inicialmente, tal agremiação deteve como cores oficiais, o verde; branco, e vermelho por fazer alusão ao pavilhão nacional italiano. Foi portanto, “tricolore”, em seus primórdios. O vermelho culminou em ter sido deixado de lado, por conta de problemas decorrentes em face às pressões políticas advindas, devido à II Guerra Mundial, no momento em que o Brasil fechou apoio aos aliados, e assim, por ter declarando guerra aos países que formaram o antagonista, "eixo", formado por Alemanha; Japão e a Itália.
Dessa forma, o clube teve que forçosamente mudar de nome, quando passou a chamar-se : Sociedade Esportiva Palmeiras, no ano de 1942, e ironicamente ao enfrentar o clube que mais forçou a barra nos bastidores para o prejudicar, ao aproveitar-se da situação imposta pelo conflito, gerado pelo advento da guerra. A resposta veio no campo : Palmeiras 3 x 1, primeiro jogo com o novo nome e justamente em uma final de campeonato paulista : Palmeiras nasceu campeão. Tudo isso é história, mas eu não pretendo ficar aqui a repetir aqui textos oficiais, mesmo por que, essa literatura é vasta e muito melhor abalizada para tratar do assunto e eu não vou fazer deste depoimento, um repetitivo trabalho escolar. Prefiro encerrar a parte histórica e nem entrar no mérito das conquistas esportivas para falar da minha experiência pessoal, com esse clube.
Foi por volta de 1968, quando eu tinha oito anos de idade e alheio às pressões familiares para escolher entre o São Paulo Futebol Clube, e a Associação Portuguesa de Desportos, que eu, espontaneamente tornei-me palmeirense, por ver embasbacado a atuação do escrete esmeraldino, nos tapes da TV, ainda em preto e branco. Ao vislumbrar o Divino, Ademir da Guia, a flutuar com a sua cabeça erguida, e colocar a bola onde queria, com a sutileza de um artista plástico que pincela uma tela, senti-me arrebatado pelo conceito de um futebol arte, acadêmico e plasticamente belo.
E dessa forma, acostumei-me a assistir o Palmeiras, sempre a imprimir esse ritmo bonito para jogar, diferente dos outros times. Se o Corinthians era o time da garra, do apelo popular e o Santos tinha a magia do super-time de Pelé, o Palmeiras era a Academia, o jogo ditado pelo conceito cerebral de uma partida de xadrez.
Em 1968, a derrota na final da Libertadores para um Estudiantes de La Plata, da Argentina (muito forte, mas tecnicamente inferior à Academia verde), não provocou-me uma grande dor, pois eu ainda formatava na alma de menino, com oito anos de idade, o que representava vitória e derrota, euforia e frustração. Mas logo em 1969, em plena reformulação da primeira academia sessentista, pude comemorar o meu primeiro título brasileiro, não o do Palmeiras, mas o meu, como torcedor.
E não poderia haver momento mais mágico para ser um palmeirense adolescente, do que o início dos anos setenta. Eis que surge uma nova safra com craques e uma Academia II, reforçada por Dudu e Ademir da Guia, egressos da Academia I, dos anos sessenta, e agora, a comandar, como jogadores experientes. Foi aí que exerci a minha identidade verde, ao máximo. Subi na grade do Pacaembu para comemorar gol com o César "Maluco"; vibrei com a classe irretocável de Luis Pereira; voei para cabecear nas alturas com Leivinha; respirei aliviado com as defesas elásticas de Emerson Leão; ri dos dribles desconcertantes com os quais o pequeno Nei, humilhava os seus marcadores, e vibrava com a velocidade de fundista, do Edu Bala.
E no banco de reservas, o melhor técnico que eu vi trabalhar (sem demérito aos "professores" da modernidade), um certo : Osvaldo Brandão, que teve a proeza de ser ídolo para duas torcidas arquirrivais. E assim, fui embalado por vitórias; títulos & beleza estética da parte de quem tratava a bola como a um instrumento musical. Maestro Ademir da Guia a conduzir essa orquestra verde.
Eis que a seleção brasileira fora humilhada em 1974, pelo espantoso "Carrossel Holandês", idealizado pelo técnico, Rinus Michels, para a surpresa de Zagallo que alegara não conhecer aquela seleção… e assim, com metade dessa fabulosa seleção holandesa a jogar no poderoso Barcelona, naquele mesmo ano… foi o esquadrão verde quem colocou ordem, quando sobreveio a final do Troféu Ramón de Carranza, e a vingança : com os mesmos 2 x 0, devolvidos e os holandeses a correr com o seu carrossel atrás de Ademir da Guia, inutilmente…
E os jornalistas europeus a perguntar : -“Se esse rapaz com a camisa dez do Palmeiras, esteve na seleção brasileira na última Copa do Mundo, por quê o seu teimoso treinador não o escalou” ? Ocorreu que eles não sabiam que o "velho Lobo" enxergara mais méritos táticos na atuação do mediano, Dirceu “Borboleta”…
Tempos difíceis no anos 1980, derrotas e futebol feio. Humilhações, frustrações… haveria de deixar de amar o verde ? Ora, isso lá importaria para quem amava o esmeraldino ? Ressurreição nos anos 1990, gestão inovadora e saraivada de críticas dos rivais. Onde já se viu mudar o desenho da camisa ? O Palmeiras vendeu-se a um patrocinador… não demorou e todo mundo percebeu que esse seria o caminho para modernizar o padrão de gestão. Academia III ? Esquadrões; títulos, e momentos sublimes em torno do puro futebol arte. Sim, eu fui testemunha in loco de muitos desses momentos de gala. Saí a cantar, “Mi Buenos Aires Querido” do Palestra Itália, após o histórico, 6 a 1 no Boca Juniors, em uma dessas páginas mágicas vividas em meio à disputa de uma edição da Taça Libertadores da América.
Mais tempos difíceis vieram... má gestão; descaso; brigas de clãs pelo poder interno; auto-sabotagens incompreensíveis para quem não percebera a mesquinharia inerente desses crápulas e a maldita política do "bom e barato", que revelou-se, na prática : "ruim e ineficaz , mas o amor pelo clube não mudou uma vírgula. O sangue jorra verde e para sempre. Agora (2011), na expectativa pela conclusão da obra que entregará a nova Arena Palestra Itália, a esperança por dias melhores, renova-se, para que os dirigentes possam manter sempre um time competitivo, e à altura das tradições do clube, com a retomada das conquistas e respeito às suas glórias. E não poderia haver maior honraria à colônia italiana, do que a nova Arena sediar um jogo da squadra Azurra, na Copa de 2014. Isso seria uma grande homenagem à essa colônia que tanto contribuiu para a grandeza da cidade, e do estado de São Paulo e que de tão marcante, deixou como marca indelével o seu sotaque, que tipifica inconfundivelmente o idioma português falado em São Paulo.
Parabéns, Palmeiras, pelos seus 97 anos (2011), construídos em torno da sua italianíssima identidade paulista / paulistana.
Matéria publicada em 2011, no Blog Futebol Apaixonante, sob um convite do jornalista, Thomas Lagôa, como forma de marcar o aniversário pelos 97 anos da Sociedade Esportiva Palmeiras, na ocasião.
Parabens campeão 2016 merecido comentario de um vascaino que volta de novo em 2017
ResponderExcluirOlá, Miguel !
ExcluirFeliz com sua visita ao meu blog, convido-o a voltar mais vezes, o blog é seu !
Como quase todo palmeirense, tenho simpatia pelo Vasco da Gama e não tenha dúvida que enxergo nesse simpático clube carioca, muitas similaridades com a história do Palmeiras e vice-versa. É tanta afinidade, que o Vasco, nos anos quarenta teve pulso firme a impedir que um clube paulista fundado por escroques e que tentava aproveitar-se do fato do Brasil ter declarado guerra às nações que formavam o eixo abriu campo para que aproveitadores como esse clube, tentassem roubar patrimônio de clubes fundados por imigrantes italianos; alemães e japonesas e nesse bojo, queria apropriar-se do Parque Antarctica. Pois o Vasco foi o clube que usou mão de ferro para impedir esse assalto e defendeu com veemência o Palmeiras.
Torci bastante para o Vasco subir em 2016 e atuar no seu lugar de direito, que é a série A. O que eu comentei sobre o Palmeiras nesse texto de alguns anos atrás foi profético sobre a reforma do estádio ser um marco para o clube reerguer-se. Acho que o Vasco deveria adotar a mesma política, mesmo que seja uma reforma a médio/longo prazo e torcida não ter paciência. Mas se o Vasco fizer isso e com a força natural que tem, vai ser muito feliz, como o Palmeiras está sendo.
Grande abraço e muito obrigado pelo comentário e cumprimento pelo BR-16 !!