Foi apenas em abril de 1968, que o governo do Estado de São Paulo criou a Companhia do Metropolitano, a sua empresa meio-estatal (por que tem capital misto a envolver participação de capital privado), que comanda o sistema metroviário da capital paulista e iniciou enfim as primeiras obras. A inauguração oficial da linha 1 - azul, também conhecida como norte / sul, só viria a ocorrer em 14 de setembro de 1974. Todavia, a ideia para construir-se o metrô na cidade é muito mais antiga.
No longínquo mandato do prefeito, José Pires do Rio, (entre 1926 e 1930), esse projeto foi elaborado, com uma moderna concepção e descartado por falta de apoio recebido por ele próprio. Foi uma época onde os carros ganhavam cada vez mais força e apesar de ser imprescindível seguir os passos das grandes cidades do mundo, um misto de falta de visão, com interesses escusos por parte de poderosos, tratou por jogar um balde d'água gelada no entusiasmo do prefeito e a ideia foi engavetada nessa ocasião. O seu sucessor, Fabio de Almeida Prado, não demonstrou grande interesse, mas a seguir, o prefeito, Francisco Prestes Maia, mostrou-se um entusiasta do projeto.
Apesar de ser reconhecido até hoje como um dos maiores prefeitos da história da capital paulista, pelos seus inúmeros projetos urbanísticos e viários avançados (ele criou a linha mestra da locomoção paulistana, até hoje), Prestes Maia também enfrentou problemas na sua primeira gestão, entre 1939 e 1945. Com o advento da Segunda Guerra Mundial a estourar, mais os efeitos inevitáveis da grande depressão americana pós-crash da bolsa de Nova York (1929, com as suas consequências a arrastar-se por toda a década de trinta) e Estado Novo de Vargas a reinar incólume e cada vez mais simpático aos preceitos do nazi / fascismo europeu, perpetrado por Hitler; Mussolini & Franco, realmente seria bem difícil um investimento dessa envergadura. Entretanto, a cidade crescia de uma forma desenfreada e quando voltou à prefeitura por aclamação popular, estourado nas urnas em 1961, o metrô não era mais um sonho utópico ou um luxo primeiro-mundista descabido, como queriam alguns opositores desse avanço, mas sim uma necessidade premente.
Prestes Maia deixou a prefeitura em 1965, e o seu sucessor foi : José Vicente Faria Lima, outro prefeito que deixou saudade pelo dinamismo que apresentou em sua gestão. E foi nessa gestão que enfim, as primeiras desapropriações de imóveis e escavações começaram em 1968.
É óbvio, eu sei que a Companhia do Metropolitano é controlada pelo governo do estado e os louros das conquistas do metrô, caem no colo dos governadores que ocuparam o palácio dos Bandeirantes nesses últimos quarenta e quatro anos. Mas é notável como em 1928, ou seja, quarenta anos antes do início oficial das obras, uma pessoa com abrangência visionária já tinha um projeto dessa envergadura em mãos.
Portanto, é para lamentar-se que tenha ficado quarenta longos anos engavetado esse projeto e enquanto mofava em arquivos esquecidos das repartições públicas, a cidade crescia sob um ritmo frenético, a precisar desesperadamente dessa obra.
Se tivesse começado em 1928, certamente teria sido muito mais fácil para expandir-se e hoje, estaria com um número de Km's construídos, compatíveis com as necessidades da megalópole. Hoje em dia, 2012, o governo estadual comemora com foguetório cada pequena expansão, a capitalizar dividendos eleitoreiros, mas sob um cálculo frio, o saldo é muito negativo, ao contrário do que apregoa em sua propaganda em tom de autoelogio.
Se em quarenta e quatro anos em obras (1968 / 2012), possui 74.3 de KM's construídos e 68 estações, como explicar os 200 Km's construídos no metrô da Cidade do México ? Por quê essa comparação e não com Buenos Aires, por exemplo ? Simples, o metrô da capital mexicana, iniciou a sua construção, também em 1968. Concluo a dizer que para administrar é preciso ter sustentação política para aprovar os projetos, não basta ser dinâmico, visionário e idealista, tampouco amar a cidade, como romanticamente nós esperamos que o nosso alcaide e por conseguinte, o governador do estado, a ame, como nós.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.
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