Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste meu primeiro Blog, reúno a minha produção geral e divulgo as minhas atividades musicais. Não escrevo apenas sobre música, é preciso salientar ao leitor, pois abordo diversos assuntos variados. Como músico, iniciei a minha carreira em 1976, e já toquei em diversas bandas. Atualmente, estou a trabalhar com Os Kurandeiros.
domingo, 3 de junho de 2012
Filme: Rock Around the Clock (Ao Balanço das Horas) - Por Luiz Domingues
Entre 1954 e 1955, o Rock and Roll estava sob forte ebulição, a ganhar espaço de uma forma contínua, principalmente no espectro radiofônico. Portanto, foi algo muito natural, dada a força que a indústria cinematográfica ostentava há décadas na América do Norte, que os seus produtores colocassem o fenômeno para funcionar também nas telas e dessa forma, sob uma espécie de efeito retroalimentador inevitável, impulsionasse-se ainda mais a difusão do gênero e por consequência, a construir a fama individual de muitos de seus artífices.
Portanto, quando o filme, "Rock Around the Clock" ("Ao Balanço das Horas", em português), foi lançado em março de 1956, o movimento borbulhava; Elvis Presley já começara a destacar-se e inevitavelmente, uma enxurrada de outros filmes foram produzidos e lançados logo a seguir e com isso, a fortalecer o Rock and Roll cada vez mais, doravante.
Esse foi o primeiro aspecto. Uma segunda questão mais secundária em relação à música, contudo importante para a consolidação desse segmento, foi que os produtores cinematográficos perceberam que não fora apenas a euforia em torno da música que estava a movimentar o interesse da juventude cinquentista, no entanto, outros elementos análogos, estavam a confluir na mesma direção.
Por exemplo, quando o filme: "The Wild One" ("O Selvagem", com Marlon Brando e Lee Marvin), foi lançado em 1951 (sob a direção de Laslo Benedek), houve um sinal claro que algo novo estava no ar.
Tanto foi assim, que um aviso foi emitido sob uma locução, antes do filme iniciar-se, para alertar os "pais e responsáveis", que um perigo de ordem social incalculável assolava a América : gangues formadas por jovens arruaceiros, a pilotar motocicletas e a insinuar dessa forma, a desobediência civil à vista.
No roteiro dessa peça, apresentou-se uma discreta menção à filosofia Beat, mas não fora um "Motorcycle Movie"/"Road Movie" explicitamente a enfocar sobre a "Beat Generation" e tampouco continha o conceito do Rock, pois essa escola musical ainda nem existia, formalmente.No futuro próximo, os motorcycles movies e também os road movies, multiplicar-se-iam a tornar-se dois gêneros específicos de cinema.
Logo depois veio outro filme em moldes semelhantes, chamado: "Blackboard Jungle" em 1955, ainda mais assustador, pela exposição de uma rebeldia juvenil incontrolável, no mau sentido da expressão e o Rock, como um estilo musical ainda a engatinhar (no sentido da expressão e o Tock a insinuar-se, como um estilo musical ainda a engatinhar (no sentido da sua popularização, mas sobretudo, pelo aspecto observado em aspirar uma relevância no campo cultural), ganhou espaço, com a inclusão da música: "Rock Around the Clock", de Bill Halley and His Comets, em sua trilha sonora.
Mas desta vez, foi um estouro e daí motivou os produtores cinematográficos a lançar o filme: "Rock Around the Clock", para começar a explorar esse crescente novo filão da música, como um elemento agregado à ideia de juventude.
O filme em si não é nenhum primor. Com roteiro quase nulo, conta a história de um produtor musical que descobre um conjunto promissor e mostra dessa maneira, os seus esforços para catapultá-lo ao sucesso.
O conjunto retratado é o próprio: Bill Halley and His Comets e outros grandes nomes da cena cinquentista participam, como o lendário radialista Alan Freed, The Platters, Ernie Freeman Combo, Tony Martinez and His Mambo e Freddie Bell and His Bellboys.
Nesses termos, o resumo da singela história exibida neste filme é o seguinte: há um produtor musical chamado, Steve Hollis 9interpretado por Johnny Johnston), que percebe a movimentação da juventude em torno de um novo ritmo e dança por conseguinte, que seria a nova coqueluche em detrimento ao som das Big Bands que costumava embalar a programação das emissoras de rádios e os salões de dança, desde os anos quarenta.
Aliás, registre-se, no meu caso em particular, eu não tenho nada contra esse som Pop quarentista, pelo contrário, é uma vertente maravilhosa enquanto estilo musical tão somente, no entanto, enquanto manifestação cultural, no sentido mais amplo do termo, não há parâmetros de comparação com o que o Rock veio a representar e somente por esse início arrebatador, a movimentar os hormônios da juventude cinquentista, isso ficou patente.
Bem, de volta ao roteiro, esse tal produtor, Steve Hollis, descobre em um show rural a atuação do guitarrista, Bill Haley e o seu grupo, "Comets" e assim os contrata para levar tal som mais "jovem" para repercutir no rádio e TV. Cabe acrescentar que de fato, o som de Bill Haley and His Comets tinha uma forte influência da Country Music, portanto a pender bem mais para a vertente branca da clássica fusão entre o Blues negro e a Country Music branca, que gerou o Rock and Roll. Bem, Steve apaixona-se também pela bailarina, Lisa Johns (interpretada por Lisa Gaye)
A seguir, Steve procura a ajuda de Corinne Talbot (interpretada por Alix Talton), que trabalha com agenciamento de artistas, mas esta mulher na verdade nutre um interesse pessoal por Steve, portanto, essa pretensão sentimental da parte da moça, atrapalha os negócios entre ambos. Infelizmente, por ciúmes em verificar que Steve está apaixonado por Lisa, Corinne não controla os seus instintos e trabalha como sabotadora, então, ao agendar Bill Haley and His Comets para tocar em locais inadequados, onde ela espera que haja uma rejeição e a banda fracasse, a visar prejudicar Steve por extensão, mas para o seu azar (ou sorte, na verdade, se analisado sob outro ponto de vista), a banda faz sucesso onde toca, a enlouquecer os jovens.
Ele tenta boicotar o som em uma emissora de rádio, mas o radialista, Alan Freed (ele em pessoa, de fato), manobra a sabotagem e põe o Rock para tocar no ar, aliás, como ele o fez na vida real. A última tentativa de Corinne em forçar o relacionamento com Steve, ocorre quando ela propõe que se Steve aceitasse casar-se com ela, haveria um contrato muito vantajoso com a banda, para impulsionar a sua carreira e assim para que atingisse um patamar alto.
Steve finge aceitar a pressão/coação, mas quando Corinne cobra-lhe o casamento, nesse ínterim, Bill Halley and His Comets, já estão estourados no país inteiro e aí, Steve apenas comunica-lhe que se casara secretamente com a sua amada, Lisa Johns. É o momento final do filme, com todos a assistir a banda a tuar em meio a um frenesi entre os jovens e nesse clima, a atuar em meio a um frenesi entre os jovens e nesse clima, Corinne, simplesmente absorve a derrota de uma forma amadorística em padrão de teatro colegial de final de ano ou simplesmente, a tratar-se de um tipo de vilã "dócil", ou seja, algo completamente inverossímel. Bem, em suma, a história é bem fraca como eu avisei desde o início.
A respeito de outros atores que participaram da história, na verdade, com uma trama tão enxuta, não houve a necessidade de conter mais personagens em profusão, portanto, na ficha técnica do filme, consta apenas mais dois nomes: John Archer (como Mike Todd) e Henry Slate (como Corny Lasalle).
Sobre a trilha sonora, na época não foi lançado um LP especialmente com tal material, mas leve-se em consideração que este foi praticamente o primeiro Rock Movie, propriamente dito, da história, portanto, creio que pelo fator do improviso em que tal filme foi produzido, justifica-se parcialmente que ainda não houvesse a ideia em atrelar-se o filme ao disco, como um trabalho em conjunto para gerar receita e impulso promocional compartilhado, portanto a revelar-se algo vantajoso para todos os envolvidos. Ouve-se diversos clássicos do repertório de Bill Haley and His Comets, sobretudo, com a música título, "Rock Around the Clock", além de "See You Later, Alligator", "Rock-a-Beatin' Boogie", "Rudy's Rock", "Happy Baby", "Mambo Rock" e outras. Isso sem contar com a preciosidade que é o clássico do R'n'B, "Only You", com "The Platters" e várias canções com os outros artistas que participam dos números musicais ao longo da trama.
Com baixo orçamento ao padrão de um "B-Movie", o filme é simples em todos os quesitos técnicos, mas é um grande marco para essa bela vertente que inaugurou, ao associar o cinema ao Rock.
O filme causou frisson no mundo inteiro, e houve relatos sobre cadeiras quebradas em cinemas, não por truculência, mas simplesmente pelo fato das pessoas não aguentar assistir sentadas e por conta desse frenesi gerado, colocar-se a dançar sobre elas. Ou seja, a quebradeira das cadeiras fora um reflexo da euforia desmesurada, motivada pela incontrolável impulsividade em extravasar a energia recebida através da dança, acima de tudo.
Visto hoje em dia (2012), quase sessenta anos depois, parece inacreditável que um filme tão ingênuo possa ter provocado esse frenesi todo, todavia, por outro lado, espelha bem a dimensão exata sobre quantos paradigmas comportamentais mudaram ao longo desse período de tempo percorrido e por conseguinte, dá para imaginar a libido daquela garotada cinquentista, a extravasar em meio a uma sensação de liberdade, em contraponto àquele mundo formal e austero em que viviam, no pré- advento da contracultura e com o movimento "Beat Generation" ainda a engatinhar e por conseguinte, não exatamente a mostrar-se identificado diretamente à juventude, embora em suas entrelinhas fosse um movimento libertário.
E mais um dado, o movimento Beat, em princípio, identificava-se com o Jazz, portanto, a aproximação com o Rock veio bem depois, já no avançar da década de sessenta e não de uma forma institucional, porém observada por manifestações isoladas de alguns de seus expoentes, no caso mais famoso a tratar-se de Allen Ginsberg, que encantou-se com o movimento Hippie, ao ponto em ter sido um militante dos ideais em diversas manifestações públicas nesse sentido, notoriamente o "Human Be-In", ocorrido em 1967.
De volta ao cerne desta resenha, essa garotada cinquentista que tanto vibrou com a novidade do Rock and Roll primordial, aliás, hoje em dia é septua-octagenária, sem dúvida. Com essa explosão do filme e a crescente expansão radiofônica de vários artistas geniais daquela cena pioneira, o Rock and Roll cinquentista firmou-se a alicerçou as bases para tornar-se uma instituição sólida no sentido da sua perpetuação enquanto gênero musical.
Portanto, releva-se qualquer predisposição em termos de chamar-se a atenção à sua precariedade técnica e notoriamente pela falta de um roteiro minimamente convincente, pois o filme extrapolou os seus próprios limites, ao tornar-se uma peça histórica no sentido em que a demarcar um período importante tanto para a música e o Rock em específico, quanto para o cinema, doravante, e que viria a ser conhecida como: "Rock Movies".
Escrito por Robert E. Kent. Produção a cargo de Sam Katzman. Direção de Fred F. Sears. Lançado em março de 1956.
Bem, como eu já comentei, tal filme fez bastante sucesso nas salas de cinema, ao ponto de ter sido um auxiliar importante para o estopim que fez o Rock and Roll explodir no panorama norte-americano dos anos cinquenta e a espalhar-se quase que instantaneamente ao redor do mundo. é claro que já a partir da década de cinquenta, o filme chegou às telas de TV e recebeu incontáveis reprises.
Veio o advento da TV a cabo e o filme foi reprisado com força, principalmente em canais temáticos, especializados em cinema vintage. Curiosamente, não foi lançado como fita VHS nos anos oitenta, uma tendência quase obrigatória para todos os clássicos antigos e tampouco sensibilizou os produtores de Laser-Disc quando essa decantada tecnologia chegou ao mercado ao final da década de oitenta.
Incólume em tais etapas, finalmente chegou ao mercado para o deleite dos colecionadores, em sua versão em DVD, embora isso tenha ocorrido apenas a partir do avançar dos anos 2000, e não há registro de que tenha sido lançado em Blu-Ray, até os dias atuais (2012). Na internet, é encontrado em muitos portais, sob versão integral, menos no YouTube, onde apenas fragmentos são encontrados.
Resenha publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2012. Esta resenha foi revista e ampliada, para ser incluída no livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", através de seu volume I, a partir da página, 244.
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