Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste meu primeiro Blog, reúno a minha produção geral e divulgo as minhas atividades musicais. Não escrevo apenas sobre música, é preciso salientar ao leitor, pois abordo diversos assuntos variados. Como músico, iniciei a minha carreira em 1976, e já toquei em diversas bandas. Atualmente, estou a trabalhar com Os Kurandeiros.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Quando o Riff deixou de ser "Cool" ? - Por Luiz Domingues
Quando o Rock nasceu da explosiva junção das raízes da música negra mescladas à música dos brancos, as duas vertentes mantinham um ponto em comum. Tanto o blues e seus derivados, quanto o country & western, produziam fraseados marcantes de instrumentos de cordas, sobretudo, os chamados "riffs", que propiciavam o estopim dessa explosão química, ou alquímica, como queiram enxergar.
Nos primórdios do Rock, ainda incompreendido e encarado por muitos à época (nos anos cinquenta), como uma degeneração de suas raízes, a guitarra elétrica e o piano, primordialmente, encarregavam-se de produzir os tais riffs que enlouqueciam as sessões de cinema onde exibia-se películas tais como : "Rock Around the Clock" e "The Blackboard Jungle".
Nesse contexto, logo a guitarra de Scotty Moore chamou a atenção a serviço do Rei Elvis; Chuck Berry botava para quebrar; Buddy Holly trazia a sua sofisticação harmônica; Gene Vincent e Carl Perkins providenciaram a visceral contribuição do blues e do country, respectivamente; Richie Valens seria o responsável pela dose de latinidade, Big Bopper pelo lado do humor; Bo Diddley, a extravagância entre tantos outros artistas geniais que contribuíram decisivamente para o engrandecimento do gênero : Rock'n Roll. Em toda obrao desses artistas, houve um fator em comum : a criação de Riffs de guitarra, com raiz do blues ou do country, tanto fez, o importante foi que criaram uma tradição inerente ao Rock, que influenciaria as gerações posteriores de uma forma avassaladora. Podemos sim, afirmar que o piano e o órgão (quiçá alguns instrumentos de sopro), também criavam riffs. Jerry Lee Lewis e Little Richard que o digam.
Mas foi na guitarra que isso tornou-se uma autêntica instituição no Rock. A seguir, veio uma nova fase com a surf music de Dick Dale e seus fraseados a imitar subliminarmente o som das ondas que somente os surfistas ouvem zunir em suas orelhas; os riffs rápidos de Link Wray e os guitarristas de bandas instrumentais, tais como : Shadows e Ventures, a fazer a guitarra cantar, literalmente, para desespero dos crooners, que certamente sentiram-se ameaçados com essa onda...
E lá veio a Beatlemania, a carregar a reboque, a dita "British Invasion". Segundo conta-se de uma maneira folclórica, alguém teria dito à Muddy Waters (ou teria sido, Willie Dixon ?) : -"você não vai acreditar, mas garotos brancos da Inglaterra estão a amealhar um sucesso enorme, por tocar o som de negros norteamericanos" ! O texto ficaria Ad eternum a ser escrito, se eu fosse enumerar todos os riffs importantes criados pelos Beatles; Rolling Stones e todas as bandas dessa fase pré-psicodelia.
Só para aguçar o paladar, pensemos em algumas canções como "Satisfaction"; "You Really Got me"; "I Feel Fine"; "We Gotta Get Out of this Place"; "My Generation", entre muitas outras, criadas por esses garotos britânicos brancos, isto é, the kids are alright...
O Bubbelugum ingênuo, pôs-se a ficar lisérgico, na medida em que o ácido agira na mente dos frequentadores da Swinging London de ruas como Portobello Road e Earl's Court, e no famoso cruzamento da Haight-Ashbury em San Francisco / Califórnia. O pedal Fuzz trouxe as abelhas psicodélicas às guitarras.
The Beatles e The Rolling Stones a enlouquecer; The Who a propor uma viajem a borde de um magnífico ônibus mágico e um certo Jimi Hendrix a precipitar que o som da sua guitarra fosse à Marte, a estabelecer um salto quântico que nem de longe o decantado Robot "Curiosity", concebe em pleno 2012. Riffs ? Meu amigo... ainda não fez a experiência na terra das mulheres elétricas ?
Quer Riff ? Nunca ouviu o Cream ? A inacreditável possibilidade de três músicos a extrapolar o impossível. Clapton é Deus por conta do quê ?
Yardbirds; Them; Jeff Beck Group; Small Faces; Fleetwood Mac; Grateful Dead; Jefferson Airplane; Iron Butterfly; Pretty Things; The Byrds; Blue Cheer; Ten Years After... Blues em estado bruto, visceral, pesado...nasce o Zeppelin de Chumbo.
Do outro lado do oceano Atlântico, os irmãos Allman tratam em unir o blues, ao country sulista e uma usina de riffs brotam nos pântanos cheios de jacarés. Carlos Santana alimenta-se mediante a ação da guitarra, ao acrescentar chilli; burrito e percussões mil... Johnny Winter de um lado, Rory Gallagher do outro.Yin e Yang do Power Blues enérgico. Um em cada extremidade do oceano Atlântico. Chega a nova década, anos setenta e o som fica mais pesado para quem ouvia as bandas que eletrificaram o blues ao extremo e sofisticados aos que ouviam a psicodelia, mas possuíam bagagem erudita ou jazzística.
E a indústria de Riffs prosseguiu em franca expansão. Jimmy Page; Ritchie Blackmore; Tony Iommy; Mick Box; Mark Farner; Rick Derringer; Joe Walsh; Robin Trower, e tantos outros criadores de Riffs na ala pesada. Em meio à turma do Prog Rock, a ala dos "Estevams"... Steve Howe;, Steve Hackett & Steve Hillage...
John Maclaughlin;, Gary Green; Martin Barre; Jan Akkerman...
O que dizer do toque Blues de David Gilmour ? E a genialidade insana de um monstro chamado, Robert Fripp ? E até no Glitter-Rock onde a purpurina e o batom imperou, a escola de Riffs era forte. Salve Mick Ronson, eterna aranha marciana; salve Brian May, salve Marc Bolan, get it on, get it on !
Pois é... uma quantidade incrível de criadores de Riffs. De suas mãos saíram verdadeiras pérolas da história do Rock. Bastam três ou quatro notas e estádios de futebol lotados até a tampa, desmoronam...
Peter Frampton declarou certa vez, que ele tinha um prazer incrível em tocar um acorde de Mi maior e a fazer a sua mise-en-scené de Rock Star, ao levantar o braço direito com a palheta entre os dedos. Era infalível essa atitude rocker com a microfonia aliada ao peso, para estremecer os P.A.'s em estádios de futebol. Como já disse, não poderia citar aqui todos os grandes nomes da guitarra que produziram riffs infernais, eternizados, tamanha a sua profusão, dos anos cinquenta aos setenta. Tudo fora uma grande euforia sob progressão geométrica, entretanto, a opinião começou a mudar. Ah... os ditos formadores de opinião...
"Atitude" passou a ser mais valorizada que o Riff, que por sua vez tornou-se algo "fora de moda", um exemplo claro de uma Era que já era, literalmente... para quê fazer um riff ? Para quê saber tocar ? Isso tornara-se uma configuração do passado e merecia ser jogado no limbo da história, segundo essa nova ordem estética imposta pelos "formadores de opinião". Claro que ainda persistiriam os abnegados. O que seria de Paris sem os Maquis, não é verdade ?
Mas o fato é que o Riff colocou-se a cair em desuso, acentuadamente, a não ser em nichos fechados como o do Heavy-Metal, por exemplo, se bem que à sua maneira peculiar, fechado em seu mundo e a fugir das raízes do Blues, tal como o demônio foge do símbolo da cruz. No mundo Pop em geral, sumiu, paulatinamente. No final da década de oitenta, pequenos lampejos de esperança ocorreram, como a explosão do grunge de Seattle, mas que revelou-se efêmero em sua ação, e no meio dos anos noventa, com o Brit Pop a tentar resgatar a Londres sessentista, mas a permanecer sempre aquém, apesar da arrogância mercadológica dos irmãos Gallagher, afirmar o contrário.
Qual foi então o último suspiro de um Riff de guitarra ? Provavelmente na figura de Jack White, seria esse verdadeiro Dom Quixote, a lutar contra moinhos de vento, mas convenhamos, bem menos do que seria necessário, porém apenas a entusiasmar certos caçadores de hype de ocasião.
Outro dia, li aqui mesmo na Jukebox (ao referiro-me à primeira publicação no Blog Jukebox), uma declaração de um membro de uma banda "indie" internacional, onde em tom de desabafo, dizia estar cansado de ser "indie" e que desejava que a sua banda tornasse-se uma banda de Rock de verdade.Ora, essa emblemática declaração revela o quanto afastamo-nos dos Riffs e deixamos o Rock a degringolar-se. Que seja epidêmica tal tendência entre esses famigerados "indies" e que algum formador de opinião resolva decretar que o pesadelo da inversão de valores esteja encerrado, e assim coloque a ordem semiótica no lugar certo, até que enfim.
Matéria publicada inicialmente no Blog Jukebox, sob um convite do jornalista, Dum de Lucca, o seu titular, e publicada dentro do portal da revista, Dynamite, em 2012
Também acho que o riff anda fazendo falta. Esse grupo indie seria o Artic monkeys? o Som deles anda bem pesado e cheio de solos rápidos.
ResponderExcluirTambém acho, Aline !!
ExcluirNão, o depoimento que eu citei que li no Blog Jukebox, foi com o "Vaccines".
Como você, torço por dias melhores para o Rock.
Muito grato por ler e comentar !!