Muito tem sido comentado sobre o estrangulamento do trânsito nas megacidades, mas a verdade é que esse problema já espalha-se também por cidades de menor porte. A falta de investimentos maciços em transporte público, por parte dos governantes, aliado aos interesses da indústria automobilística, sem dúvida que são fatores que impulsionam esse colapso.
Em diversas outras matérias que escrevi, para abordar algumas nuances dessa problemática, sempre deixei cravada a opinião de que uma ação isolada não resolve um problema complexo dessa magnitude. O investimento maciço no metrô, parece ser a medida número um nessa equação, mas como eu já salientei, não é a única.
O apoio de uma integração com os trens de subúrbio, é necessário e não descarto a existência dos aerotrens, ao cumprir interligações inteligentes inter / bairros. Nada disso basta, pois não podemos abrir mão dos ônibus tradicionais e para tanto, a experiência da abertura de corredores exclusivos, com a possibilidade de tais veículos poder circular mais rapidamente, é fundamental.
Nesse quesito, a prefeitura de São Paulo tem agido corretamente em forjar tal prática, ainda que tenha gerado alguns transtornos inevitáveis no processo de implantação. Em uma cidade gigantesca como São Paulo, parece inevitável que qualquer medida que seja adotada, pode desagradar um grupo de pessoas, mas não tenho dúvida que a existência de um corredor exclusivo, é imprescindível. A experiência de cidades como Bogotá, na Colômbia e a Cidade do México, capital do país asteca, tem que ser usada como exemplo, onde os corredores contém centenas de Kms, em apoio ao Metrô.
Sobre a questão das ciclovias, também já citei bastante tal recurso e tem muito ciclista que não entende certas colocações de minha parte. Eu já deixei muito bem explicado, mas reitero : acho que o incentivo à prática do ciclismo urbano, tem que ser total por parte do poder público, desde que sejam criadas ciclovias seguras e muito bem sinalizadas. No entanto, deixo a ressalva de que os ciclistas precisam urgentemente conhecer a regulamentação que cabe-lhes dentro do Código Brasileiro de Trânsito. Não respeitar os sinais básicos de trânsito, como o semáforo; indicação de faixa de segurança para pedestres e circular sobre calçadas, é abominável como conduta a revelar a prática de civilidade; cidadania e respeito ao próximo.
Outra questão que defendo com ênfase, é o incentivo ao uso dos táxis. Se a tarifa do táxi fosse mais convidativa, quantos carros particulares não sairiam das ruas ? Em conversa com taxistas amigos, sei que a reivindicação deles por melhores condições de trabalho, passa além da redução do preço dos combustíveis para a categoria, e dos impostos na hora da aquisição de um carro novo. Para poder abaixar a tarifa, esses profissionais defendem um programa de auxílio à manutenção do carro.
Convenhamos, o desgaste de um táxi vai muito além do carro particular de passeio e não acho absurda a reivindicação deles, pelo contrário. O governo que mais preocupa-se em arrecadar com a obrigação da inspeção veicular, poderia bem usar essa estrutura montada que na prática somente foi montada para arrancar dinheiro extra dos proprietários de veículos (é bem sabido que o IPVA já deveria garantir essa inspeção, não é mesmo ?), para garantir o suporte mecânico, mais em conta para os taxistas. Outra medida que poderia funcionar, é a da proibição sumária de tráfego de veículos particulares pelas ruas do centro da cidade, e sobretudo com a volta dos bondes urbanos a circular em trajetos curtos.
Se os bondes nunca deixaram de funcionar, e pelo contrário, são funcionais e charmosos em cidades europeias, não vejo por que não poderiam voltar a operar em percursos sob pequeno porte e assim a desafogar as entupidas ruas do centro, de cidades como Rio e São Paulo, só para citar duas que estão caóticas pelo acúmulo de carros nas ruas. A verdade é uma só : se o transporte público fosse abundante e com qualidade, muita gente deixaria o carro particular na garagem e só o usaria para um passeio no final de semana.
Se não o fazem, é por que desejam evitar o sufoco em submeter-se a ser espremidos como sardinhas dentro da lata. Se conseguem sentar-se decentemente; com limpeza e iluminação adequada, sinalização e sobretudo com abundância de opções e tudo sem período de espera descomunal, as pessoas perderiam o receio em usar o transporte público.
Entretanto... a indústria automobilística não iria gostar muito de vender menos carros, e como um efeito dominó, ameaçariam demitir funcionários das montadoras. O governo sempre corre para socorrer a indústria e não vai querer ser responsável pela queda da taxa de empregos e consumo. Políticos não vão gostar de observar corte de verbas para as suas campanhas eleitorais...
Ou seja, é como a velha propaganda daquele biscoito / bolacha : "Vende mais por que é mais fresquinho, ou é mais fresquinho justamente por vender mais" ?
Publicado inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013
Essa é uma questão muito séria e de difícil solução.
ResponderExcluirAqui no Rio não é diferente. O BRT foi uma promessa de desafogar o trânsito, e com isso retiraram das ruas muitas linhas vitais pra quem mora em bairros de condução escassa, pra dar vez as linhas alimentadoras do BRT, que circulam precariamente após às 22:00h. Eu inclusive participei de abaixo-assinado pela volta de uma determinada linha que prejudicou muito os moradores da baixada de Jacarepaguá. Em suma: o trânsito continua caótico. Quem tem carro, não deixou de usá-lo por causa dessa nova alternativa de transporte. Os BRTS andam LOTADOS! Com a limitação de algumas linhas de ônibus a prova a sardinha é uma realidade do cotidiano....enfim, é foda, é irritante, dá nos nervos. E se chover é que a situação se agrava, porque o Rio não tem infraestrutura pra chuvas fortes...é tragédia anunciada.
PQP!¬¬
Ana, antes de mais nada, o meu agradecimento por ter lido e comentado a matéria.
ExcluirIsso que contou no seu comentário, muito me desanima. Faz tempo que não vou ao Rio, mas acompanhei com bastante entusiasmo a criação do BRT, enxergando nessa obra, uma grande solução para desafogar o trânsito na cidade.
Com seu relato, estou desanimado. Parece que a obra deixa a desejar e pior, em alguns aspectos trouxe transtornos, conforme explicou, graças aos cancelamentos de linhas tradicionais que supriam alguns bairros de Jacarepaguá.
Esse Paes não toma jeito mesmo, hein ?
O BRT é um meio e transporte mais rápido, porém, isso não trouxe o benefício esperado. Quem tem carro, continuou usando o seu carro, e o BRT atende mais a camada mais humilde da população, que é imensa. E o BRT ainda não está em pleno funcionamento. Nem todas as estações estão funcionando ainda. Mas sinceramente, eu esperava mais, pois com tantas obras que criaram uma situação caótica e insuportável durante um longo tempo, era pelo menos pra ter um funcionamento eficiente.
ResponderExcluirEu nem vou dizer que cada povo tem o governo que merece porque no panorama político, se você não vota no merda, acaba votando no cocô ou no bosta.
Olha os excrementos de candidatos que temos aqui:
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/eleicoes/2014/noticia/2014/08/veja-entrevistas-do-rjtv-com-os-candidatos-ao-governo-do-rj.html
Um dos problemas é esse : inaugurar sem a obra estar 100% pronta, e o motivo óbvio deve ter sido a Copa. Outro problema é o planejamento mal feito, criando um inferno para as pessoas humildes em termos de desapropriações e o inevitável pagamento muito abaixo do valor justo pelos imóveis, valendo-se de brechas jurídicas amorais e assim se valendo do valor venal dos mesmos. Vidas são destruídas, com famílias que lutaram com muito sacrifício para ter sua casa própria,geralmente pagando financiamentos muito longos e sofridos.
ExcluirO Metrô sendo construído a passo de tartaruga é uma vergonha. Não é falta de dinheiro, tampouco tecnologia, mas simplesmente o rabo preso dos políticos com a indústria automobilística que quer vender carros a todo custo e nenhuma campanha publicitária é mais eficaz do que a realidade de um transporte público caótico...
Estou vendo as entrevistas do RJTV. Lastimável o nível dos candidatos. Crivella e Garotinho tentaram justificar fatos irrefutáveis.
Mas em São Paulo é rigorosamente igual. Estamos à mercê de verdadeiros energúmenos.