A TV Tupi de São Paulo iniciou as suas atividades em setembro de 1950, e as pessoas tendem a considerar a TV Record, fundada em 1953, como a segunda emissora criada na cidade de São Paulo, mas na verdade, desde 1952, outra emissora já estava no ar. Tratou-se da TV Paulista, canal 5, que fora inaugurada oficialmente em março de 1952.
Fruto do esforço pessoal do deputado, Oswaldo Ortiz Monteiro, ao contrário da TV Tupi, que teve todo o empenho do mega empresário das comunicações, Assis Chateaubriand e da TV Record, com outro magnata das comunicações, Paulo Machado de Carvalho, a TV Paulista nasceu de uma forma muito improvisada e com parcos recursos financeiros, que não pode dar-lhe o respaldo para investir em melhores instalações; equipamento e tecnologia. Por exemplo, os primeiros tempos de atuação da emissora, foram muito difíceis, com as transmissões realizadas sob condições precárias, nas dependências de um apartamento residencial, localizado na Rua da Consolação.
Nesse improviso, a cozinha do apartamento foi o laboratório de revelação do celulóide e na sala de estar instalou-se a redação / produção e também o micro estúdio para o telejornal. A garagem do edifício, foi usada como estúdio, igualmente, além de um salão no térreo, onde funcionava uma loja, anteriormente. Mesmo assim, em condições precárias, a TV Paulista pôs-se bravamente a crescer, mesmo diante da TV Tupi, com estrutura muito maior e mesmo com a fundação da TV Record, que entrou no ar, com estrutura operacional em alto nível.
Em 1955, o deputado, Ortiz Monteiro vendeu a emissora para Victor Costa e aí, a TV Paulista teve os seus melhores dias, ao ter podido concorrer com dignidade, contra os seus concorrentes gigantes. Nessa altura, a emissora já possuía instalações mais confortáveis, instaladas na Rua das Palmeiras, em Santa Cecília, bairro da zona central da capital paulista. Muitos artistas; técnicos e jornalistas importantes da TV brasileira, tiveram passagem pelos quadros da TV Paulista. Mesmo antes da Era das telenovelas diárias entrar para valer no cotidiano do telespectador brasileiro, a TV Paulista investiu bastante nesse setor, ainda que tal tipo de atração não fosse exibida com a periodicidade diária, como já observei.
Como foi praxe nos primórdios da TV, nessa emissora também foram muitos os programas a investir em teleteatros ao vivo, com grandes nomes do teatro nacional.
Artistas do calibre de Cacilda Becker e Nicete Bruno, só para citar duas grandes atrizes, atuaram nos teleteatros da TV Paulista, que fez história.
O "Circo do Arrelia", famoso programa infantil e "A Praça da Alegria", histórico humorístico popular, foram atrações da grade da TV Paulista, assim com a "Sessão Zás-Trás", outro famoso da linha infantil. O comunicador popular, Silvio Santos, também deu os seus primeiros passos na TV, via TV Paulista e Hebe Camargo também teve passagem pelo velho "canal 5". Na linha musical, o programa "Hit Parade", trazia o melhor da MPB nos anos cinquenta, com nomes fortes tais como : Elizete Cardoso; Cauby Peixoto e Agostinho dos Santos, entre muitos outros, ao emprestar as suas respectivas vozes privilegiadas para trazer muita musicalidade ao canal 5.
Uma marca registrada no estúdio, foi a existência de um palco giratório e uma piscina. Convenhamos, nos anos cinquenta e início dos sessenta, mostrava-se como um cenário luxuoso para os padrões da TV brasileira. dessa época. Para aproveitar esse recurso, surgiu o programa : "Maiôs em Passarela", que intercalava números musicais com desfiles com belas mulheres a exibir maiôs, ou seja, para atrair uma audiência masculina e causar a inevitável celeuma em uma época ainda a observar-se uma sociedade bem conservadora.
No campo do telejornalismo, o "Mappin Movietone" marcou época, ao ostentar tal nome, obviamente por conta da loja de departamentos mais tradicional da cidade, o Mappin, ter sido o seu patrocinador exclusivo.
Em vários livros sobre a história da TV brasileira, consta que o "Programa Silveira Sampaio" foi o primeiro "Talk Show" da TV brasileira.
O mote do programa fora montado na verdade, por um elemento fictício. O apresentador falava sobre fatos políticos ou sociais do momento e era interrompido por um telefonema. Então, o tom esquentava, por ele conversar com uma suposta fonte que alimentava-lhe com notícias de última hora. Curiosamente, muitos anos depois, o jornalista Ferreira Neto usou o mesmo recurso, quando falaria ao telefone com o personagem fictício, "Leo", que dava-lhe informações supostamente privilegiadas e ele as repercutia com cinismo e muita ironia. Não tão curioso assim, pois Ferreira Neto fora da produção do Programa Silveira Sampaio...
Outro programa que entrou para a história, foi : "o homem do Sapato Branco", liderado por Jacinto Figueira Junior. A sua linha era popularesca e passava fácil pela barreira do mau gosto, ao enfocar casos de pessoas comuns envolvidas em conflitos pessoais e absolutamente prosaicos, e que geralmente terminavam em pancadaria e xingamentos nos estúdios. Infelizmente inaugurando assim, uma linha que perdura até hoje na TV, como uma fórmula. A parte engraçada disso, foi que o Jacinto era um sujeito carismático e estabelecia uma tremenda mise-en-scené, com o seu indefectível "sapato branco". Ele agia na linha de um mediador de conflitos, que na verdade queria mesmo, era ver o circo a pegar fogo...
Na TV Paulista, houve também uma boa grade formada por seriados; desenhos animados e filmes de longa metragem, internacionais. Todavia, como foi uma espécie de praxe nefasta nos anos sessenta, essa emissora foi vítima de um incêndio muito suspeito, que culminou em um prejuízo irreparável. Muito estranho...
Em 1965, ao estar em situação financeira dificílima e ao amargar derrotas na briga pela audiência, ante outras emissoras rivais (e nessa altura, já existia com muita força também, a TV Excelsior,) aceitou-se a proposta do jornalista, Roberto Marinho, que recém havia inaugurado a TV Globo no Rio de Janeiro, e assim, a TV Paulista passou a ser uma afiliada da Globo em São Paulo.
Em princípio, foi uma afiliada ainda a manter a sua identidade e grande parte de sua programação tradicional, mas aos poucos, a Globo colocou-se a cortar a sua participação própria a daí assumiu-se como a TV Globo de São Paulo, canal 5. Já em 1968, após o estranho incêndio, a TV Globo de São Paulo desistiu em usar a estrutura da TV Paulista e então deslocou toda a sua produção para o Rio. O velho estúdio da Praça Marechal Deodoro, ficou obsoleto e doravante usado apenas para prover poucas peças do jornalismo Global, como o Jornal Hoje, por exemplo, até que a Globo criasse enfim a sua nova estrutura paulistana, no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo e muitos anos depois.
Há muita controvérsia sobre a venda da TV Paulista e processos correm na justiça, movidos pela família de Oswaldo Ortiz Monteiro, contra a venda da emissora, perpetrada pelo segundo dono, Victor Costa para a Rede Globo, em 1965.
Segundo o que defende, a sua tese é a de que a venda fora efetuad de uma forma fraudulenta, com várias falsificações das assinaturas, incluso a de pessoas falecidas oficialmente, portanto ao caracterizar uma grave fraude, mediante falsidade ideológica. Bem, é mais uma dúvida que paira sobre a construção do império que a Rede Globo construiu a partir de 1965.
A TV Paulista nasceu de uma forma muito improvisada e isso denotou a vontade em precipitar algo positivo a acontecer, a despeito da escassez de recursos com a qual lidou em seu início. A emissora teve os seus momentos importantes para marcar uma posição na história da TV brasileira e foi um bom celeiro ao revelar o talento de artistas; técnicos e jornalistas.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013.
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