Em 1968, o
cineasta, José Mojica Marins estava consolidado como cineasta, e a sua fama
pessoal como diretor e produtor de cinema confundia-se totalmente com o seu
personagem, Zé do Caixão. Por viver um
momento midiático total, pois além do barulho pró e contra que os seus filmes
faziam desde 1963, quando do estouro de seu filme, “À Meia Noite Levarei Tua Alma”, Mojica
estava na boca do povo, a participar cada vez mais de programas de TV, e isso
motivou a sua ida para tal veículo, com direito a um programa próprio, nas noites de quinta, quando as suas pequenas histórias macabras, em formato de curta
metragem, passaram a ser exibidas.
Sob um efeito
dominó, surgiu a oportunidade para intensificar a sua atuação, e assim, uma
adaptação do personagem, Zé do Caixão, foi concebida também para chegar às bancas
de jornais e revistas, na forma de uma revista em quadrinhos. Gibis
a explorar o mote do terror não foi novidade no mundo dos Comics / HQ. Na
verdade já era uma tradição em vários países, notadamente nos Estados Unidos,
onde o mercado editorial desse segmento detinha uma estrutura industrial, há
décadas.
E até no
Brasil já havia tal nicho dedicado às publicações com histórias macabras, caso
da revista, "A Cripta", por exemplo.
Não por
coincidência, os produtores da revista, "A Cripta", estavam envolvidos com José
Mojica Marins na produção do programa de TV, “O Estranho Mundo de Zé do
Caixão”, e do filme longa-metragem, homônimo lançado em
1968. O roteirista
Rubens Francisco Lucchetti e o desenhista, Nico Rosso tiveram a percepção
genial de que Mojica / Zé do Caixão estava na crista da onda, e dessa maneira, certos de que a revista em
quadrinhos seria um estouro, portanto, rapidamente convenceram os mandatários
da editora Prelúdio, a investir na produção.
Rubens Francisco Lucchetti, um artista genial
Lucchetti
era um ótimo profissional, com a desenvoltura de um roteirista experiente para
histórias em quadrinhos; cinema & TV, e Rossi, um excelente desenhista, sendo
assim, somado ao fato da editora Prelúdio também ter o seu padrão de qualidade
reconhecido no mercado editorial brasileiro, o sucesso dessa produção estava
praticamente assegurado.
Mais do que
ter qualidade, a produção do gibi trouxe ousadia estética. Isso por que
ao fugir ao padrão tradicional, fotos dos personagens em ação, foram
incorporadas, a misturar o conceito de uma história em quadrinhos tradicional
com o formato de uma fotonovela.
Para tanto, procuraram
a participação do fotógrafo oficial de Mojica, Luiz Fidélis Barreira que cedeu
muito material que detinha em seu acervo, mas mesmo assim, sessões extras de
fotos, foram realizadas especialmente para atender as necessidades da revista. Sobre o
mote, Lucchetti e Rossi estavam habituados a lançar histórias de terror mais
centradas no universo clássico do gênero. Tratava-se de histórias sobre vampiros; lobisomens; espíritos e afins, mas ambientados naquela tradição
europeia típica de sabor gótico, a evocar uma aristocracia decadente, com
castelos medievais assombrados e abandonados; histórias com bruxas medievais em florestas; seres
elementais e / ou diabólicos a denotar a inspiração na fonte do paganismo pré-cristão etc.
Ao associar-se com Mojica / Zé do Caixão, um outro universo abriu-se, para acrescentar um
tipo de terror com elementos diferentes, a conter alguma brasilidade até, por esbarrar em
tradições folclóricas caboclas; indígenas & afrobrasileiras. Um outro
elemento diferenciado, e típico dos filmes do Zé do Caixão, foi o da exploração
do sadismo, via torturas e taras sexuais macabras, uma tendência que o cinema
de horror norteamericano e europeu só veio a explorar com muita contundência,
décadas depois.
Nesse
sentido, Mojica também mostrara o seu diferencial, e não foi à toa que o seu
cinema despertara a atenção de críticos e outros cineastas, caso de Glauber
Rocha, por exemplo, que o considerava um gênio. Com produção
gráfica sob bastante qualidade, o gibi teve o seu primeiro número a ser distribuído às bancas
brasileiras, em janeiro de 1969.
Batizado com
o nome do filme e também do programa de TV, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, fez
obteve sucesso naquele instante e controvérsia também, pois se não houvesse o
forte elemento erótico nas suas entrelinhas e tivesse apostado no terror
tradicional tão somente, talvez não incomodasse os moralistas de plantão. Apesar do
aparente sucesso todo que recebeu, a revista não teve grande longevidade. Após o lançamento do
número seis, em junho de 1969, extinguiu-se. E não foi por falta de interesse do público consumidor, diga-se de passagem. Após alguns
anos, outras produções em torno das publicações "HQ" a envolver o personagem, Zé do Caixão, surgiriam,
mas certamente não tão bem acabadas como foi “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, em
1969.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2016
Sou Luiz Fidelis Barreira Junior, filho do Fotografo Oficial do grande Cineastas Brasileiro "Zé do Caixão", neste Blog elaborado pelo musico Luiz Domingos, me fez recordar, com muito carinho do meu Pai, Luiz Fidelis Barreira, pessoa empreendera que, além de seu oficio dito, desbravou no seguimento de eventos, jornais e revista, que alias, foi uma as primeiras do Brasil, especializada no Turismo, com titulo "Turismo no Brasil e no Mundo".
ResponderExcluirMe serviu como inspiração para minha Dissertação do Mestrado, com titulo "O Turismo como instrumento de desenvolvimento social" .
Seu Fidelis, chamado por muitos , foi brilhado com seu olhar no foco com sua lente objetiva, tanto com a arte, historias da época e pessoas, mas, triste dizer, que seu acervo foi todo ele desaparecido, gostaria de ter guardado para mostrar o quanto importante na historia de São Paulo, contribuiu pelas imagens registradas pela sua fotografia.
Posso contar mais detalhes para aqueles amantes da arte da fotografia. até já!!!