sexta-feira, 30 de maio de 2025

Filme: Go, Johnny Go! (Johnny Melody) - Por Luiz Domingues

Mais um filme produzido no calor gerado pela euforia em torno do Rock’n’Roll primordial cinquentista, o filme, “Go, Johnny Go” (!) foi um pouco além da simplicidade em que a maioria dos filmes com tal teor e realizados nessa década, pautou-se, ao preocupar-se em apresentar uma história, e assim justificar um mínimo de dramaturgia para chegar perto de um conceito cinematográfico e não apenas caracterizar-se por ser um documentário. 
 
É bem verdade, que um documentário assumido é uma peça muito digna em via de regra e ao analisar-se friamente, é preferível em relação à algumas tentativas medíocres de produzir-se filmes com teor dramatúrgico absolutamente insípido, apenas para justificar a promoção de artistas musicais, é preciso deixar o conceito bem claro. 
Nesses termos, a história que envolve esse filme, é bastante singela, no entanto, ao oferecer uma substância mínima para justificar o filme e claro, vamos ao que realmente interessa, a presença de artistas musicais bem significativos do espectro do Rock cinquentista e naturalmente a abranger muito da Black Music e do Pop em geral.
Bem, sobre a trama, a ideia foi dramatizar a história de um cantor Pop, conhecido como: Johnny “Melody” (interpretado pelo cantor/ator, Jimmy Clanton), e no filme, o roteiro privilegiou o recurso do “flashback”, pois logo no início, mostra-se o tal jovem cantor no auge do sucesso, a cantar ao vivo em um grande teatro, perante os seus fãs delirantes. 
 
Na coxia, o radialista e empresário, Alan Freed e o grande astro, Chuck Berry, ambos a interpretar as suas respectivas personas, comentam sobre o sucesso do cantor em questão e como quase o destino o afastou do glamour da carreira artística e muito pelo contrário, como o garoto poderia ser apenas um delinquente juvenil, encarcerado por um crime cometido no passado. 
 
Indo além, Freed relata sobre o destino do rapaz ter sido decidido pela ação da sorte em torno de uma escolha feita por uma moeda. Uma reflexão é sugerida sobre como Freed conhecera o rapaz, tempos antes e assim, volta-se ao passado para conhecer a sua trajetória.
Johnny fora um garoto órfão e pobre que cantava em um coral. Apesar de ser reconhecido pelo seu talento nato, ele é cobrado por ter simpatia pelo Rock’n' Roll e briga com o maestro. Por conta de ser órfão e a justificar que não teria como comunicar aos seus pais a sua insatisfação, o maestro simplesmente o despede do coral. Johnny arruma emprego em um teatro, mas ali não dura nada pois é repreendido por ter sido flagrado a dançar o Rock’n’ Roll pelos bastidores. 
 
Ele reencontra uma amiga de infância, Julie Arnold (interpretado pela cantora, Sandy Stewart), e Johnny conta-lhe que está a economizar dinheiro para gravar uma Demo-Tape. Eles reencontram-se em um estúdio de gravação, onde Julie estava a gravar e a cantora aproveita para participar da gravação de Johnny, a colaborar com backing vocals pontuais.
Então, tal gravação chega à mãos de Alan Freed, mas por um contratempo pontual, demora para que o radialista tome contato com o talento do garoto, embora Chuck Berry tenha percebido isso antes. Nesse ínterim, Johnny e Julie, apaixonam-se e a moça demonstra desejar possuir um broche, como presente de natal, no entanto, o rapaz não tem recursos, visto que a sua carreira ainda nem esboçou engrenar. 
No afã em presentear a sua namorada, Johnny penhora o seu trompete. Infelizmente, o dinheiro que recebeu da penhora do seu instrumento, mostra-se insuficiente e Johnny parte para uma loucura, ao atirar um tijolo na vitrine da loja de joias e assim visar roubar a peça que seria um objeto de desejo da sua namorada. 
 
Nesse ínterim, Allan Freed finalmente coloca para tocar a música de Johnny Melody na sua emissora e a resposta do público é muito animadora, com múltiplos telefonemas oriundos da parte de fãs instantâneos. Ele, Freed, decide então procurar o artista, imediatamente, e nessa busca pela noite, acompanhado da namorada de Johnny (Julie), Freed não sabe por onde procurar o rapaz e tem uma ideia: lançar uma moeda e buscar na sorte, a direção por onde seguir com o seu carro para tentar achar o rapaz. 
 
Bem, o resultado da moeda favoreceu Johnny inteiramente, visto que no momento em que o rapaz havia atirado o tijolo na vitrine da joalheria, o carro de Allan Freed e Julie dobra a esquina e ambos presenciam a cena. 
Freed toma uma atitude heroica ao apanhar outro tijolo em sua mão e exigir que Johnny e Julie desapareçam dali ao usar o seu carro. Em meio à sirene da loja, assim que o casal evade-se do local do crime, a polícia chega e Freed finge estar embriagado e assim simular que apenas vandalizara a loja por conta de seu torpor etílico e de fato, a joia não fora roubada. Tudo resolvido, Freed assumiu o pequeno delito inconsequente e Johnny teve a sua vida e carreira salvas.
 
Bem, história muito singela, simplista e bastante ingênua, mas devo acrescentar, porém (como já havia dito), serviu para justificar a produção do longa-metragem e não deixar os números musicais a esmo. Tudo bem, entendo perfeitamente a preocupação de seus produtores, todavia, se não houvesse dramaturgia alguma, creio que o filme valeria a pena ser assistido simplesmente pela parte musical, sem dúvida alguma. 
Ainda a falar sobre a dramaturgia, há por registrar-se que a atuação do astro, Chuck Berry, como ator, foi surpreendente. É claro que ele não teria nenhuma obrigação de desempenhar tal função com um mínimo de qualidade, no entanto, a sua atuação foi acima da média para quem simplesmente não era e jamais pensou em ser ator. 
 
O mesmo pode ser atribuído para Jimmy Clanton e Sandy Stewart, aliás, com um maior destaque ainda, visto que sustentaram papeis mais complexos do que o defendido por Chuck, que atuou como ele mesmo, afinal de contas. 
 
E sobre a parte musical, o filme tem ótimas surpresas. Chuck Berry, para início de conversa e claro que o título do filme a evocar uma das suas mais famosas canções, não poderia faltar na película. Eddie Cochran, em sensacional aparição e Ritchie Valens, que filmou a sua participação mas não assistiu o filme, visto que infelizmente morreu naquele fatídico acidente aéreo, antes do seu lançamento. 
 
O número defendido pelo grupo vocal, The Flamingos”, é espetacular. Os rapazes não apenas cantavam muito, com aquelas típicas vocalizações em harmonia no espectro do R’n’B, mas faziam encenações muito criativas, a usar teatralidade & humor, em dose maciça.
“The Cadillacs”, outro grupo muito estiloso os cantores: Jo Ann Campbell, Adriano Celentano, Jackie Wilson, Harvey e Sandy Stewart, também contribuem, além do próprio, Jimmy Clanton, a usar o personagem do cantor, Johnny Melody, acrescenta também com a ótima estrutura musical dessa obra.
Além dos atores ou atores improvisados já citados, o elenco do filme contou com: Herb Vigran (Bill Barnett), Frank Wilcox (Mr. Arnold), Barbara Wooddell (Mrs. Arnold) e mais alguns atores de apoio. Escrito por Gary Alexander. Foi dirigido por Paul Landres e Piero Vivarelli (que também fez uma ponta como ator, a aparecer como ele mesmo, um diretor de cinema, italiano). 
 
O filme foi lançado em julho de 1959 e obteve um discreto apoio do público e da crítica. Naturalmente, com o decorrer do tempo, a obra ganhou outra conotação ao ser valorizada, principalmente pela presença de tantos astros da música cinquentista, notadamente a orbitar no mundo do Rock'n' Roll e a garantir uma ótima trilha sonora.

Passou bastante na TV aberta, por muitos anos, igualmente em canais de TV a cabo, foi lançado em versão VHS, posteriormente em DVD, e é encontrado com facilidade no You Tube. Ingenuidade e fragilidade da produção a parte, vale muito a pena ser assistido, pelo aspecto musical, sem dúvida alguma.

Esta resenha faz parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 210

Nenhum comentário:

Postar um comentário