Mais um
filme produzido no calor gerado pela euforia em torno do Rock’n’Roll primordial
cinquentista, o filme, “Go, Johnny Go” (!) foi um pouco além da simplicidade em
que a maioria dos filmes com tal teor e realizados nessa década, pautou-se, ao
preocupar-se em apresentar uma história, e assim justificar um mínimo de
dramaturgia para chegar perto de um conceito cinematográfico e não apenas
caracterizar-se por ser um documentário.
É bem verdade, que um documentário
assumido é uma peça muito digna em via de regra e ao analisar-se friamente, é
preferível em relação à algumas tentativas medíocres de produzir-se filmes com
teor dramatúrgico absolutamente insípido, apenas para justificar a promoção de
artistas musicais, é preciso deixar o conceito bem claro.
Nesses
termos, a história que envolve esse filme, é bastante singela, no entanto,
ao oferecer uma substância mínima para justificar o filme e claro, vamos ao que
realmente interessa, a presença de artistas musicais bem significativos do
espectro do Rock cinquentista e naturalmente a abranger muito da Black Music e do Pop
em geral.
Bem, sobre a
trama, a ideia foi dramatizar a história de um cantor Pop, conhecido como: Johnny
“Melody” (interpretado pelo cantor/ator, Jimmy Clanton), e no filme, o roteiro
privilegiou o recurso do “flashback”, pois logo no início, mostra-se o tal
jovem cantor no auge do sucesso, a cantar ao vivo em um grande teatro, perante
os seus fãs delirantes.
Na coxia, o radialista e empresário, Alan Freed e o
grande astro, Chuck Berry, ambos a interpretar as suas respectivas personas,
comentam sobre o sucesso do cantor em questão e como quase o destino o afastou
do glamour da carreira artística e muito pelo contrário, como o garoto poderia
ser apenas um delinquente juvenil, encarcerado por um crime cometido no passado.
Indo além, Freed relata sobre o destino do rapaz ter sido decidido pela ação da
sorte em torno de uma escolha feita por uma moeda. Uma reflexão é sugerida
sobre como Freed conhecera o rapaz, tempos antes e assim, volta-se ao passado
para conhecer a sua trajetória.
Johnny fora
um garoto órfão e pobre que cantava em um coral. Apesar de ser reconhecido pelo
seu talento nato, ele é cobrado por ter simpatia pelo Rock’n' Roll e briga com o
maestro. Por conta de ser órfão e a justificar que não teria como comunicar aos
seus pais a sua insatisfação, o maestro simplesmente o despede do coral. Johnny
arruma emprego em um teatro, mas ali não dura nada pois é repreendido por ter
sido flagrado a dançar o Rock’n’ Roll pelos bastidores.
Ele reencontra uma amiga
de infância, Julie Arnold (interpretado pela cantora, Sandy Stewart), e Johnny
conta-lhe que está a economizar dinheiro para gravar uma Demo-Tape. Eles
reencontram-se em um estúdio de gravação, onde Julie estava a gravar e a
cantora aproveita para participar da gravação de Johnny, a colaborar com
backing vocals pontuais.
Então, tal
gravação chega à mãos de Alan Freed, mas por um contratempo pontual, demora
para que o radialista tome contato com o talento do garoto, embora Chuck Berry
tenha percebido isso antes. Nesse ínterim, Johnny e Julie, apaixonam-se e a
moça demonstra desejar possuir um broche, como presente de natal, no entanto, o
rapaz não tem recursos, visto que a sua carreira ainda nem esboçou engrenar.
No
afã em presentear a sua namorada, Johnny penhora o seu trompete. Infelizmente,
o dinheiro que recebeu da penhora do seu instrumento, mostra-se insuficiente e
Johnny parte para uma loucura, ao atirar um tijolo na vitrine da loja de joias
e assim visar roubar a peça que seria um objeto de desejo da sua namorada.
Nesse ínterim, Allan Freed finalmente coloca para tocar a música de Johnny
Melody na sua emissora e a resposta do público é muito animadora, com múltiplos
telefonemas oriundos da parte de fãs instantâneos. Ele, Freed, decide então procurar o
artista, imediatamente, e nessa busca pela noite, acompanhado da namorada de
Johnny (Julie), Freed não sabe por onde procurar o rapaz e tem uma ideia:
lançar uma moeda e buscar na sorte, a direção por onde seguir com o seu carro
para tentar achar o rapaz.
Bem, o resultado da moeda favoreceu Johnny
inteiramente, visto que no momento em que o rapaz havia atirado o tijolo na
vitrine da joalheria, o carro de Allan Freed e Julie dobra a esquina e ambos
presenciam a cena.
Freed toma
uma atitude heroica ao apanhar outro tijolo em sua mão e exigir que Johnny e
Julie desapareçam dali ao usar o seu carro. Em meio à sirene da loja, assim que
o casal evade-se do local do crime, a polícia chega e Freed finge estar
embriagado e assim simular que apenas vandalizara a loja por conta de seu
torpor etílico e de fato, a joia não fora roubada. Tudo resolvido, Freed
assumiu o pequeno delito inconsequente e Johnny teve a sua vida e carreira
salvas.
Bem,
história muito singela, simplista e bastante ingênua, mas devo acrescentar,
porém (como já havia dito), serviu para justificar a produção do longa-metragem
e não deixar os números musicais a esmo. Tudo bem, entendo perfeitamente a
preocupação de seus produtores, todavia, se não houvesse dramaturgia alguma,
creio que o filme valeria a pena ser assistido simplesmente pela parte musical,
sem dúvida alguma.
Ainda a falar sobre a dramaturgia, há por registrar-se que a
atuação do astro, Chuck Berry, como ator, foi surpreendente. É claro que ele
não teria nenhuma obrigação de desempenhar tal função com um mínimo de
qualidade, no entanto, a sua atuação foi acima da média para quem simplesmente
não era e jamais pensou em ser ator.
O mesmo pode ser atribuído para Jimmy
Clanton e Sandy Stewart, aliás, com um maior destaque ainda, visto que
sustentaram papeis mais complexos do que o defendido por Chuck, que atuou como
ele mesmo, afinal de contas.
E sobre a
parte musical, o filme tem ótimas surpresas. Chuck Berry, para início de
conversa e claro que o título do filme a evocar uma das suas mais famosas
canções, não poderia faltar na película. Eddie Cochran, em sensacional aparição
e Ritchie Valens, que filmou a sua participação mas não assistiu o filme, visto
que infelizmente morreu naquele fatídico acidente aéreo, antes do seu
lançamento.
O número defendido pelo grupo vocal, The Flamingos”, é espetacular.
Os rapazes não apenas cantavam muito, com aquelas típicas vocalizações em
harmonia no espectro do R’n’B, mas faziam encenações muito criativas, a usar
teatralidade & humor, em dose maciça.
“The
Cadillacs”, outro grupo muito estiloso os cantores: Jo Ann Campbell, Adriano
Celentano, Jackie Wilson, Harvey e Sandy Stewart, também contribuem, além do
próprio, Jimmy Clanton, a usar o personagem do cantor, Johnny Melody, acrescenta
também com a ótima estrutura musical dessa obra.
Além dos
atores ou atores improvisados já citados, o elenco do filme contou com: Herb
Vigran (Bill Barnett), Frank Wilcox (Mr. Arnold), Barbara Wooddell (Mrs.
Arnold) e mais alguns atores de apoio. Escrito por Gary Alexander. Foi dirigido por Paul Landres e Piero
Vivarelli (que também fez uma ponta como ator, a aparecer como ele mesmo, um
diretor de cinema, italiano).
O filme foi lançado em julho de 1959 e obteve um
discreto apoio do público e da crítica. Naturalmente, com o decorrer do tempo,
a obra ganhou outra conotação ao ser valorizada, principalmente pela presença
de tantos astros da música cinquentista, notadamente a orbitar no mundo do
Rock'n' Roll e a garantir uma ótima trilha sonora.
Passou bastante na TV aberta, por muitos anos,
igualmente em canais de TV a cabo, foi lançado em versão VHS, posteriormente em
DVD, e é encontrado com facilidade no You Tube. Ingenuidade e fragilidade da
produção a parte, vale muito a pena ser assistido, pelo aspecto musical, sem
dúvida alguma.
Esta resenha faz parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 210
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