É curiosa a
situação desse filme, “Rock’n’ Roll High School Forever” (“Rock’n‘ Roll High
School Forever/Dia de Rock”, na versão brasileira), pois ele não é considerado
exatamente uma continuação do filme de 1979, “Rock’n’ Roll High School”,
tampouco uma refilmagem pura e simples, e nem mesmo pode ser classificado como
uma peça em regime derivado, o chamado “spin off”, como os norte-americanos
gostam de afirmar. O que é então? Bem, trata-se de uma obra a conter a intenção
de manter o mote, como se fosse uma sketch de humor, onde se conta a mesma
piada ad infinitum, a promover sutis diferenciações, mas sem nenhuma
preocupação de ser criticado por tal atitude.
Em suma, o
filme segue quase que inteiramente a fórmula do filme anterior, inclusive ao
repetir um personagem, como se fosse um programa humorístico da TV, no mesmo
raciocínio adotado por programas famosos no Brasil, tais como: “A Praça da
Alegria” ou “A Escolinha do Professor Raimundo”, quando os personagens criados
são patenteados e pouco importa quem são os atores a interpretá-los, pois a
ideia é usufruir da mesma fórmula, o quanto for possível e nesse caso, o limite
é muito flexível, visto que as pessoas demonstram não enjoar de ouvir a mesma piada.
Dentro dessa prerrogativa, o que o
filme mostra como diferencial? Muito pouca coisa em essência. Talvez a mais
significativa mudança tenha sido em torno da não adoção de uma banda como mote
principal como houvera sido o caso dos "Ramones", no filme de 1979, e desta vez a
ação mais emblemática fica em torno de uma banda criada pelos próprios alunos
da High School, no caso, o grupo fictício, “Eradicators”. E certamente na ambientação do
início da década de noventa, a demonstrar signos bem diferentes de 1979, caso
do filme anterior. Nesse sentido, o filme parece um grande vídeo clipe produzido
pela MTV.
Toda a questão visual e sonora, remete ao período, o que foi natural
pela captura de sua contemporaneidade e assim, o filme pautou-se. No entanto é
preciso salientar que as duas vertentes mais salientes no Rock, então “moderno”
da ocasião (sem contar o nicho do Heavy-Metal do Indie Rock britânico pós Pós-Punk),
ou seja, o movimento "Grunge" que acontecia com força na cidade Seattle, Washington e o
Funk-Metal oriundo principalmente da Califórnia, não são retratados. O que
ouve-se em via de regra nesse filme, é um pastiche Pop, plastificado, mais a assemelhar-se
com o Pop oitentista quando este se orientou pelo Techno-Pop, a conter doses de um som
industrial, hip-hop e outras vertentes distantes do Rock’n’ Roll.
Dentro dessa
perspectiva, mesmo quando o Rock clássico insinua-se vez por outra, ele
simplesmente não deslancha a contento, mas certamente a conter ranços para pasteurizá-lo,
indevidamente.
Sobre a
história, não há muito para se destacar. Ele segue o padrão do filme anterior, com
a dinâmica em torno do cotidiano de uma High School típica, neste caso batizada
com o nome do ex-presidente, Ronald Reagan, ou seja, um tipo de escárnio
bastante descartável e que perdeu o seu imediatismo enquanto gracejo, bem
rapidamente. Portanto, é o tipo de piada que perde o sentido ao ter que ser
explicada para a geração posterior, que não entende a sua sutileza em torno do
contexto daquela época.
Enfim, a história é centrada em alguns alunos rebeldes, liderados por Jesse Davis
(interpretado pelo ex-ator mirim, Corey Feldman), e estes planejam e executam diversos
atos de sabotagem no ambiente escolar. Logo no início, mostra-se a articulação
para a explosão dos encanamentos dos banheiros da escola, um clássico entre os
clichês a envolver a abominável indisciplina indisciplina escolar.
Entre os principais membros dessa “gangue”,
estão os demais componentes da banda, “Eradicators”: Mag (interpretado por
Evan Richards), que é o baterista da banda e mostra-se um garoto hiperativo,
Jones (interpretado por Patrick Malone), o tecladista e identificado como um “Geek“, interessado em alta tecnologia, Stella
(interpretada por Liane Curtis), violonista e única garota da banda/gangue e
também namorada de Namrock (interpretado por Steven Ho), que é o baixista da
banda e obcecado por artes marciais.
Acusado de
não possuir poder para controlar os alunos indisciplinados, o diretor, McGree
(interpretado por Larry Linville) é substituído por uma diretora com mão de
ferro, literalmente, visto que ostenta uma mão mecânica com garras ameaçadoras.
Trata-se de “Vadar” (interpretada por Mary Worovov), que repetiu a sua participação
do filme anterior, mas desta feita a carregar ainda mais na sua personagem ao torná-la
ainda mais caricata.
A insinuação em torno do personagem vilão do filme, “Star Wars”
(“Guerra nas Estrelas”), Darth Vader, é total. Ela tem dois assistentes que são
sádicos por natureza, mas a revelar-se patéticos em essência. Então, mediante a
perseguição inevitável que a terrível diretora adota doravante para prejudicar
os adolescentes, a reação é imediata com planos para mais sabotagens e também a
elaborar um plano para desmoralizar Vadar e o seus principais apoiadores,
quando a turma de Jesse forja situações para que tais pessoas sejam flagradas
em situações completamente constrangedoras.
Ao considerarmos os avanços da tecnologia,
o engraçado hoje em dia é verificar o tamanho da câmera que usam para filmar as
pessoas a cometer atos vergonhosos, detalhe bem mais divertido que as próprias piadas
propostas pelo roteiro. Existem também os personagens, Tabatha (Brynn Horrocks)
e The Witch (interpretada por Roberta Bassin, filha e mãe, ambas a
apresentar-se como “bruxas”.
Bem, haverá
o famoso “prom”, o tradicional baile de formatura e que mostra-se sempre tão
icônico na cultura norte-americana. A ideia é não deixar a banda Eradicators ser
o conjunto oficial da festa a fornecer a música ambiente. Porém, o tecladista
da banda, que é um entusiasta da tecnologia, elabora uma artimanha e mediante
um robô que inventou para discar alucinadamente para burlar uma votação via
telefone, visa assim contornar a vigilância de Vadar para eliminar outras bandas
pleiteantes e assim garantir a sua presença no palco da festa. Ou seja, de uma forma ingênua, mostrou como foi criado o monstro manipulador das ditas "fake news", que tantos estragos nos causa nos dias atuais de 2019*.
Todavia, a banda,
"Zillion Kisses", é escalada para tocar na festa e por conta disso, é claro que o
pessoal do Eradicators, arquiteta um plano para sabotá-la e isso ocorre, com a
banda assumir o baile e piora ainda, ao projetar no telão da festa, o filme
apócrifo, no qual as pessoas que os perseguiam, são devidamente humilhadas
mediante a exibição de suas vergonhas pessoais para a escola inteira tomar conhecimento, sob cenas constrangedoras em que foram
flagradas.
Em suma, uma comédia bem simplória, a conter uma resolução óbvia.
Segue a cena final com a vilã, Vadar, completamente enlouquecida em sua
obstinação de querer matar os alunos rebeldes e mesmo a se configurar como um
desfecho supostamente em tom de terror, é encenada naquela prerrogativa usada
nos filmes d’Os Trapalhões, para o leitor brasileiro se situar.
Sobra algo
positivo nessa obra, enfim? Bem pouco, infelizmente, pois a despeito da
intenção ter sido, assim como o filme de 1979, em prol do humor explícito, ao
menos no primeiro filme a menção ao Rock foi mais incisiva.
Desta feita, a
rebeldia parece não ter tido conexão direta com o Rock e nem mesmo o fato da
gangue central do filme, formada por adolescentes que seriam músicos e formavam
uma banda, criou tal conexão, pois ao longo da película, o fato desses alunos
serem membros de uma banda de Rock, não faz a menor diferença, pois poderiam ser
patinadores, skatistas, dançarinos, esportistas, enfim, não há nenhum comprometimento
Rocker, neste caso.
O que existe é um pano de fundo a justificar a conexão com
o filme anterior, sobretudo para fazer jus ao nome da obra, pois afinal de
contas, seria o cúmulo que isso não ocorresse, mesmo de forma muito equivocada,
como se configurou este filme.
Sobre a
trilha sonora, a escolha foi bastante decepcionante. Artistas de segunda, quiçá
terceira linha do Pop-Rock norte-americano da ocasião e uma inclusão apenas
interessante, no caso, do The Ventures, a executar o tema do seriado de TV “Hawaii
5-0”, logicamente usado apenas para reforçar uma piada. De resto, ouve-se o som
de Mister Mixi & Skinner Scotty, Will & The Bushman, Tackhead, The
Pursuit of Hapinness, Jesus Jones e The Lunar Twins, entre outros.
Com todo o
respeito aos artistas elencados, a sua insipidez artística era notória até para
a época (talvez com exceção do grupo, “The Pursuit of Hapiness”, que tinha uma veia
Rocker, não posso negar e um pouco do "Jesus Jones"), portanto, mais um demérito para essa produção. Foi
dirigido e escrito por Deborah Brock e lançado em 1991.
Como Rock
Movie, na verdade este trabalho nem deveria ser considerado assim, na prática,
mas como veio a reboque do filme de 1979, foi alojado na categoria, embora
esteja muito mais para uma comédia adolescente como outra qualquer e para dizer
a verdade, bem fraca. Passou bastante na grade da TV aberta, a alimentar a
sessão da tarde e em canais de TV a cabo que exibem comédias em geral. Existe cópia
em versão DVD e está disponível no YouTube.
*Data na qual escrevi a resenha.
Esta resenha faz parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 275.
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