Guitarrista com forte influência de algumas das mais nobres vertentes da música, tais como o Blues, Rock, Folk-Rock, R’n’B/Soul Music e MPB, Marcos Mamuth já tocou em muitas bandas e atuou bastante pela noite paulistana. Ele é também poeta, com uma forte tendência a usar da abordagem urbana como uma tendência e tal predisposição se mistura com a música, naturalmente.
Então, o seu som se mostra baseado nessa amálgama rica entre a poesia do asfalto e a melancolia do Blues, do embalo do Rock à docilidade do Soft-Rock, da sofisticação harmônica da Bossa Nova ao engajamento sociocultural do Folk-Rock, o conter o balanço da Black Music e muito mais.
Marcos Mamuth em ação! Click de Ivani Albuquerque
Em “Turbulência”, seu trabalho solo, Mamuth nos apresenta através de treze faixas, uma boa amostra da sua criação, com o apoio de músicos convidados de alto padrão.
A sonoridade do álbum é agradável ao extremo, por apresentar um ecletismo musical bem grande e assim, são várias as opções sonoras para todos os gostos, bem dentro das influências declaradas do artista, conforme eu já elenquei no início da resenha.
Chamou-me a atenção o aspecto de haver uma boa dosagem na abordagem sonora, ao se observar a leveza de certos temas em contraste com peso em outros, portanto, o álbum se mostra eclético.
Marcos Mamuth ao vivo! Click: Ivani Albuquerque
Outro aspecto interessante se dá em relação a certos trechos de certas músicas em que Mamuth declama, ao deixar de lado a entoação melódica, e assim realçar a sua veia poética muito forte.
Sobre a embalagem do disco, eu gostei da capa a apresentar a foto do artista, recortada em meio a uma representação abstrata, certamente a insinuar a presença da turbulência, o mote que deu título à obra. Na parte interna do encarte, há uma boa descrição dos músicos que atuaram e a ficha técnica prossegue na contracapa.
A respeito das músicas, anoto algumas observações adicionais a seguir:
Escute a música “O Blues é meus Pastor”
https://www.youtube.com/watch?v=GGtWvaNMTIQ
“O Blues é o meu Pastor” mostra uma canção vibrante, com peso na base da guitarra e um slide muito bem colocado que desenha a canção de forma muito bonita. Gostei da presença do violão em anexo a garantir um bom balanço. Destaco igualmente os backing vocals bem colocados e a boa bateria, com viradas criativas.
A letra é bem interessante a realçar o caráter de um ato de fé em torno de quem professa o Blues de coração e alma, e assim, eu destaco alguns versos:
“Se os meus versos não convencem/ e ninguém gosta do que eu canto/já nem me importo tanto/se a paixão tem prazo de validade/e a felicidade é sempre por enquanto/ já nem me importo tanto/ mas se o blues é meu pastor/é só o que tem valor/é só o que tem sentido”
Escute a música: “Capitão Solidão”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=CMEL7nYd_g0
A próxima faixa se chama: “Capitão Solidão” e se trata de uma canção muito agradável pelo seu balanço natural. Ela trafega entre o R’n’B e o Soft-Rock, com uma bela melodia. Gostei bastante da contundência na massa sonora da parte B e do ótimo refrão. Mamuth interpreta bem e o arranjo do backing vocals é muito bom, igualmente.
Escute a música: “A Bela e Insensata Rota dos Amantes”:
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=EFzqJCqvICg
A terceira faixa é “A Bela e Insensata Rota dos Amantes”. Mais uma vez a recorrer ao balanço R’n’B e dessa maneira a realçar o apoio de uma ótima cozinha que garantiu tal prerrogativa para que Mamuth possa voar em um solo excelente, mediante um timbre vigoroso, que lava a alma do ouvinte.
E não apenas por isso, mas as pontuais intervenções com contra-solos são providenciais para colorir a música.
A letra é rica em imagens, ao se tratar de uma bela poesia. Destaco os versos iniciais:
“Mesmo se o sol brilhasse em branco e preto/ou as nuvens sufocassem para sempre as estrelas/a cintilância ilusória das estrelas/e a lua desistisse de iluminar/a rota incerta dos amantes/a bela e insensata rota incerta/dos amantes”
Escute a música: “Coração Sem Lei”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=1OhxkYJyBtA
“Coração Sem Lei” é a quarta faixa. Como um trovador, Mamuth dá o seu recado com contundência. A argamassa musical que lhe dá o sustentáculo é muito boa, com vibração, peso nas guitarras, violão batido e muito bem tocado e mais uma vez com apoio excelente do baixo e bateria.
É muito bom o refrão a dar vazão a uma afirmativa forte contida em mais uma ótima letra, bem construída. Eis dois trechos que eu destaco:
“Reticências entre os dentes/saliências no discurso/no olhar, armadilhas de mel/sonho zero, cinco pra realidade/Eu perdi a fé/mas não a vontade/e muito menos a ternura”
E no refrão ele justifica ao dizer:
“Se existe um cantinho vazio eu não sei/neste meu coração sem lei/coração, coração, coração/sem lei”
Escute a música “Chuva na Vidraça”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=TRcKtqEGENQ
“Chuva na Vidraça” é um Blues muito encorpado, com apoio de órgão Hammond, violão, guitarras e backing vocals. Os contrasolos da guitarra rasgam a música de ponta a ponta, com um timbre magnífico, às vezes com sobreposição de canais a se construírem vozes distintas entre Marcos Mamuth e o seu convidado nesta faixa, o guitarrista, Matheus Tagé, muito bem concatenadas pelo arranjo. O solo é muito inspirado e emociona.
Escute a música “Dois Acordes”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5K_f0Orz9Ow
“Dois Acordes” vem a seguir com um forte apelo pelo Soft-Rock, muito melódico. O apoio do piano é fundamental para imprimir uma docilidade muito grande à canção.
E na letra, Mamuth brinca com a questão da canção estar realmente baseada em apenas dois acordes e mesmo assim soar tão rica, exatamente como muitas músicas que ouvimos e gostamos do James Taylor, Carly Simon, Jim Croce e afins. Veja abaixo um trecho da letra:
“Eu e meus dois acordes/nem o sono quis ficar/eu e meus dois acordes/sem mais nada pra falar/somente dois semeando o deserto”
“Feriado” é a sétima faixa do álbum. Há uma divisão rítmica interessante logo no começo da canção que me despertou a atenção de imediato. Mamuth canta em duo com a cantora Andresa Dantas em alguns trechos e tal predisposição produz um efeito bonito a contribuir com a canção.
Escute a música: “Caminho do Meio”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=83-MVQrLgCU
“O Caminho do Meio” é a próxima peça. Composição do grande Ayrton Mugnaini Junior, nosso amigo em comum, aliás, conta com a letra escrita pelo Marcos Mamuth, a sacramentar a parceria. Apesar da roupagem ao estilo do R’n’B a grosso modo, há uma pitada subliminar a insinuar a presença da MPB nessa canção, que é muito interessante. Contém também um bom refrão e eu gostei bastante do solo.
Desta feita, Marcos Mamuth tratou do tema da relação Homem-Mulher, mas como um poeta nato, ele passou longe dos clichês que normalmente permeiam tal tema. Destaco um trecho da letra:
“Não quero morrer nem de paixão nem de tédio/quero o caminho do meio/por isso vou lhe dizer/vá embora do jeito que veio”
Marcos Mamuth ao vivo! Click de Cristina Piratininga Jatobá
“Platônica III” é a nona faixa e traz um balanço ao sabor do “R’n’B, muito grande.
Escute a música: “Lost Boy”
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=J5VKjtbg2zE
“Lost Boy” é um reggae com forte apelo Pop. Esta poderia tranquilamente figurar na programação das emissoras FM do dial radiofônico. Gostei do refrão, da harmonia da parte B, do apoio do efeito wah-wah na guitarra e a boa vocalização de apoio da parte da cantora Miss Daisy Blue.
Marcos Mamuth ao vivo! Click de Ivani Albuquerque
“A Face do Estranho” é a próxima faixa e eu gostei muito do apoio do piano, que trouxe um élan para a canção. A harmonia e consequentemente a melodia, são muito boas.
“Gosto de Nunca Mais” é a décima segunda canção e contém uma proximidade com a MPB em simbiose com a Soul Music, a me fazer recordar das obras de Marcos e Paulo Sérgio Valle no início dos anos setenta.
Gostei do balanço proposto, igualmente da melodia muito boa e do solo com guitarra limpa (este executado pela guitarrista convidada, Marlene Souza Lima), bastante adequado para a canção ao meu ver.
“Cavaleiro Negro” fecha o disco. Gostei da vibração rítmica imposta e penso que tal peça finalizou bem a obra ao se caracterizar como uma boa escolha.
Em suma, Marcos Mamuth nos proporcionou uma obra musical muito boa, eclética, com boa qualidade sonora, muita poesia e beleza estética.
CD Turbulência/Marcos Mamuth
Gravado nos estúdios Red Studios, Estúdio7 e Soul Master Studio em 2013
Mixagem e masterização: Estúdio Jaburu em 2013
Projeto gráfico: Miss Lily Comunicação
Direção Musical: Walton Salles
Fotos: Amanda Cipullo
Composições e letras: Marcos Mamuth (a não ser em “O Caminho do Meio”, em parceria com Ayrton Mugnaini Junior)
Marcos Mamuth: guitarra, violão, voz e backing vocals
Músicos convidados:
Vinicius Soares: Baixo
Marcos Tagé: Bateria
Matheus Tagé: Guitarra (solos 1 e 3 de “Chuva na Viudraça”)
Diogo Timótheo: Teclados
Piano e teclados: Tato Fischer
Ayrton Mugnaini Junior: Baixo
Marlene Souza Lima: Guitarra (solo em “Gosto de Nunca Mais”)
Miss Daisy Blues: Voz
Walton Salles: Voz
Andressa Dantas: Voz
Neto Tezotto: Voz
Para conhecer melhor o trabalho de Marcos Mamuth, acesse:
Site:
https://mmamuth.wixsite.com/mamuth
Canal do YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCgHSLLEHvzObq6sUuh9yTYA/featured
O álbum "Turbulência" também disponível Music YouTube:
https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_lB3KnOFPKYud7IhWBhj7aYrMMWldd_T08&feature=share
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