Chip nos Carros, George Orwell Tinha Razão ? - Por Luiz Domingues

Em 1948, o escritor, George Orwell, lançou um impressionante livro denominado : "1984", onde sob um exercício futurista a usar o recurso da literatura Sci-Fi, misturada ao enfoque sociopolítico extremista, imaginou uma sociedade completamente dominada por um poder central e absolutamente controlador, a vigiar de uma forma implacável, todos os cidadãos. Tratou-se do grande olho controlador do "Big Brother", que reduzira a privacidade a zero, para tornar as pessoas escravizadas por um sistema opressor.

Claro, metáfora de sistemas políticos totalitários, onde o Ser Humano seria reduzido a uma mera peça manipulada dentro de  uma engrenagem. O livro teve um sucesso retumbante, ao abrir caminho para muitas teses; tratados acadêmicos; filmes; peças teatrais etc. E infelizmente, muitos anos depois, deu margem também para distorções, como a criação de um ridículo "reality show" de TV, ao banalizar o conceito original da obra de Orwell.

Ao partir para o campo realista das realizações oficiais, estamos prestes a depararmo-nos com mais uma velada forma de controle, para inibir a nossa cada vez menor privacidade na sociedade. Segundo uma nova resolução, já aprovada e confirmada para entrar em vigor a partir de julho de 2013, todos os carros zero Km deverão sair com um sistema de monitoramento mediante chip e até 2014, todos os carros usados deverão adequar-se à nova norma.

Sem dúvida que existe toda uma justificativa aparentemente plausível em benefício do cidadão comum, por parte das autoridades para que tal medida ser aprovada. A ideia é aumentar o grau de segurança para os proprietários no tocante à questão de furtos e roubos. A reboque, seria uma maneira de ajudar a inteligência policial também, pois seria um controle interessante para detectar a ação de criminosos.

Claro, pois que cidadão de bem não concorda com esse tipo de dispositivo sob forte efeito colaborativo ? Só que existe outras implicações que são invasivas e opressivas, também. Mediante os chips, os órgãos responsáveis pelo trânsito, teriam o controle absoluto sobre as condições de cada carro. É lógico que com esse tipo de dispositivo, irregularidades na documentação dos veículos e infrações cometidas, ficariam expostas de maneira irrefutável, ao dispensar até a existência dos agentes de trânsito e seus indefectíveis blocos de multas em mãos, pelas esquinas.

Até aí, o cidadão de bem que respeita as leis do trânsito e mantém os seus tributos em dia, nada tem a temer, contudo, a pergunta é : Até que ponto é ético ter esse tipo de monitoramento ? Não é assustador ser vigiado o tempo todo ? Que garantias o cidadão terá de que esses dados estarão seguros e por conseguinte, serão exclusivamente usados de forma técnica, para visar apenas a segurança no trânsito e no resguardo do patrimônio, sob um esforço em prol do combate à criminalidade ?

Saber onde eu vou; quanto tempo fico em cada lugar, onde estaciono, por quais vias circulo... será que é por aí que a sociedade deve caminhar, ou melhor, rodar ?

Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.