Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste meu primeiro Blog, reúno a minha produção geral e divulgo as minhas atividades musicais. Não escrevo apenas sobre música, é preciso salientar ao leitor, pois abordo diversos assuntos variados. Como músico, iniciei a minha carreira em 1976, e já toquei em diversas bandas. Atualmente, estou a trabalhar com Os Kurandeiros.
A
difusão do Rock, ao ponto em torná-lo um fenômeno de alcance mundial, vai além da
genialidade dos artistas que deram o início de tal processo, durante a
década de cinquenta. São
muitos os fatores que contribuíram para que lograsse em êxito essa missão e isso é
naturalmente fruto de muitos estudos por parte de musicólogos, historiadores etc. Entretanto, indubitavelmente, o papel das emissoras de rádio que compraram a ideia
do Rock, enquanto estilo com possibilidades em âmbito Pop, no sentido comercial do
termo, foi preponderante. Estende-se
tal conceito à Black Music, notadamente em suas três ramificações mais
Pop, também : Soul, R'n'B e Funk (o de "verdade"...).
Nesse
contexto, não dá para deixar de citar, Alan Freed, um DJ americano que
muito contribuiu para essa explosão toda do Rock'n Roll naquela década.
Aqui
no Brasil, muita gente valorosa teve esse papel importante também nas
emissoras de rádio, mas ninguém foi mais emblemático que um DJ carioca,
que atuou decisivamente no Rio e em São Paulo, simultaneamente, chamado
: Newton Alvarenga Duarte, mas que ficou conhecido pela alcunha de : "Big
Boy". Nascido
no Rio de Janeiro, em 1943, Newton "Big Boy", cresceu bastante
influenciado pelo rádio e sobretudo pelo seu poder de encantar o ouvinte, ao
introduzi-lo em novo mundo musical.
No
seu caso em específico, a sua emissora predileta na infância e
adolescência, foi a Mayrink Veiga, uma emissora que mantinha uma grande
audiência nacional e pioneira, tocava o Rock'n' Roll como absoluta
novidade, ali no frescor dos anos cinquenta. Escondido
dos pais, Newton viajava regularmente à São Paulo, onde batia ponto nas
melhores lojas da pauliceia, ao iniciar a formação de sua coleção de
vinis fantástica. Em 1965, Newton entrou na faculdade de geografia da UFRJ, e ali formou-se em 1968.
Todavia, desde 1966, foi um locutor contratado pela rádio Tamoio e já em 1967,
deu um salto na carreira, ao mudar-se para a Rádio Mundial, onde fez a sua fama
em nível nacional. Profundo
conhecedor do Rock; Pop; Black Music;, Folk e outros gêneros, Big Boy
detinha um carisma inacreditável e costumava criar bordões que caíram no gosto dos
ouvintes, de uma forma avassaladora.
Beatlemaníaco
assumido, foi à Londres em 1967, com o objetivo em entrevistar os
Beatles, mas na base da pura vontade, sem nenhum tipo de credenciamento oficial, mesmo
a estar em uma grande emissora brasileira. Deu muita sorte por encontrar
Paul McCartney na rua, e este sensibilizou-se com o esforço do
radialista brasileiro, e assim colocou o seu nome no mailing oficial dos
Beatles, um privilégio que concedeu-lhe a chance para receber uma cópia do LP
Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, antes da fábrica brasileira
providenciar a distribuição nacional.
Nessa
altura, Big Boy já assinava colunas em importantes jornais e revistas
brasileiras. O seu estilo de redação seguira a mesma maneira esfuziante de
sua locução no rádio.Big Boy era completamente louco para os padrões da locução radiofônica convencional que a maioria dos locutores "normais" usavam nessa época. De
certa forma, ele seguiu o mesmo padrão anárquico e abusava do nonsense
tanto quanto Abelardo Barbosa, o Chacrinha o fazia na TV. Big
Boy aliás, também foi parar na TV, ao tornar-se um comentarista quentíssimo para
cobrir o Rock, no Jornal Hoje, da Rede Globo e também com intervenções
em outros programas jornalísticos daquela emissora.
Ele fez paralelamente uma carreira de sucesso em São Paulo, também, como locutor da Rádio Excelsior, a Máquina do Som.
Por incrível que pareça, segundo
consta em sua biografia, ele não tinha na verdade o menor jeito para
ser um locutor, pois não possuía uma voz padrão de radialista. A sua voz era
estridente, sem a presença de um timbre grave, sem a impostação padrão
que espera-se, de forma paradigmática nesse métier...
Sabedor
disso, criou aquele estilo estridente, a explorar na verdade o que
poderia ter sido a sua maior dificuldade para ingressar na profissão, mas que tornou-se, ao contrário, um trunfo. A sua maneira par expressar-se com aquela dose de loucura,
teve tudo a ver com o Rock. Popular
e adorado, aventurou-se em produção de eventos, ao emprestar o seu
prestígio para o "Baile da Pesada do Canecão", onde até cinco mil jovens
costumavam reunir-se para dançar ao som do melhor do Rock e da Black Music, de
1970, ou seja, somente pérolas escolhidas a dedo pelo DJ que conhecia música
com profundidade. Algum
tempo depois, o sucesso retumbante animou-lhe a voar solo e quando comprou
o seu equipamento privado, passou a organizar o seu próprio evento. A partir desses bailes, tornou-se também um produtor fonográfico, ao assinar coletâneas com músicas que tocava em seus bailes. Ao perceber
que tornara-se quase um personagem, Chico Anysio o convidou para participar de
seu programa humorístico. Big Boy participou a interpretar o personagem "Índio
Jerônimo", que fazia parte da patota de hippies liderados por "Lingote",
um hippie zen interpretado pelo próprio, Chico, e que só comunicava -se monossilabicamente.
Big Boy entrevistou Stevie Wonder; James Brown e Mick Jagger; e também tornou-se produtor musical da gravadora Odeon. Ele ganhou
o seu programa próprio na TV Globo, denominado : "Hello Crazy People", título inspirado em seu bordão mais
famoso.
Todavia, antes já tinha estrelado um programa na TV Record, o "Papo
Pop", que dava espaço para artistas do Rock brasileiro, tais como : Raul
Seixas; Secos & Molhados e Joelho de Porco, por exemplo. "Papo Pop"
foi o nome de sua coluna em jornais e revistas.
Assumiu a seguir
no Rio de Janeiro, a programação da Rádio Eldorado e criou a Eldo Pop,
onde costumava tocar discos de Rock Progressivo na íntegra, sem
intervalos, um escândalo no meio radiofônico, pois quebrava o padrão Pop das músicas regidas pelos parcos três
minutos e meio de duração, em detrimento de peças com até vinte e três minutos, como se fossem suítes de
música erudita.
Em São Paulo, passou a comandar a rádio Excelsior, em 1976.
Em março de 1977, Big Boy teve uma crise asmática fulminante, dentro de seu quarto, no hotel em que estava hospedado em São Paulo. Uma
nova produção sensacional que ele faria para a TV Globo, foi ao ar de
forma póstuma, pois não deu tempo dele aproveitar o sucesso que foi o "Rock
Concert", doravante.E a sua última coluna impressa falava sobre a iminente vinda do Genesis, espetacular grupo progressivo britânico, ao Brasil, dois meses depois.
Infelizmente o grande Big Boy deixou-nos e perdeu esse grande concerto de Rock, ocorrido em 1977. Big
Boy deixou um legado e tanto. Foi mais que um locutor que inventava
bordões populares e ultrapassou a imagem louca de sua figura a bordo de uma voz
esganiçada, visual & postura enlouquecidas e tambem pelo seu carisma absurdo.
Na
verdade, foi um ´tremendo apaixonado pela música; pelo Rock e pelo
prazer em colecionar discos, que por conhecer a matéria com o requinte
de um catedrático no assunto, sabia o que falava e por ter esse
conhecimento, aliado ao seu estilo e carisma, impressionava e conferia
credibilidade em seu trabalho. Não
quero usar clichês, mas é inevitável não deixar de mencionar que um
jornalista / DJ / locutor e produtor musical desse calibre, faz falta para o
Brasil.
Todo mundo morre, é fato da vida, mas foi uma tremenda fatalidade perdê-lo com apenas trinta e três anos de idade.
Recentemente,
a sua família criou uma página sensacional no Facebook, onde o mote é
disponibilizar o máximo de material possível de sua atuação nos meios de
comunicação nos anos 1960 e 1970.
Muito
mais que um museu virtual, a página tem vida, ao parecer que ele mesmo
cuida das postagens e está entre nós ainda. Ao pensar bem, é claro que
está.
Recomendo visitas e segui-la, sem dúvida alguma. https://pt-br.facebook.com/pages/Big-Boy-Rides-Again/565152540194400
Hello Crazy, people... Big Boy Rides Again !
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2014
Estamos a poucos dias da abertura da Copa do Mundo de 2014 ( quando da primeira publicação desta matéria, ao final de maio de 2014), que marcará
um momento histórico, não só por isso, mas para a vida esportiva do
Sport Club Corinthians Paulista, que finalmente vai obter o seu estádio
próprio, após 104 anos de existência e naturalmente, esse longo período
sem uma casa própria (feita a ressalva que sim, o Corinthians tinha / tem
seu estádio, chamado, Alfredo Schürig, popular "Fazendinha", anexo ao
Parque São Jorge, a constituir-se em seu patrimônio poliesportivo e social, mas por ser um
estádio de pequena proporção, não podia ser chamado de estádio
propriamente dito). Fora esse marco importante para tal clube, é
claro que a inauguração de um estádio moderno, com tecnologia High Tech e
no padrão das mais modernas arenas europeias, é espetacular para a
cidade; estado de São Paulo, e naturalmente para o Brasil.
Nesta
altura dos acontecimentos, recuso-me a falar das falcatruas monstruosas
provenientes da realização da Copa do Mundo no Brasil e sobre os
respingos óbvios que a Arena Corintiana recebe nessa, no mínimo, estranha oportunidade conveniente, pois já
lancei matérias contundentes sobre o assunto, há três anos atrás e
agora, insistir em lamentar o leite derramado é mero oportunismo e não
serei eu que vou deixar-me ser usado como idiota útil dessa atual
oposição que não tem proposta política alguma, a não ser querer destruir
a situação, mediante sabotagens midiáticas e que invariavelmente confunde-se com o próprio mar de lama que criou no passado. Enfim, sem política nesta matéria, porque o objetivo deste texto é outro.
O fato é que a cidade está a ganhar uma Arena espetacular, e claro que isso é bom para a nossa economia local.
Não
obstante essa novidade, o maior rival do Corinthians, está a finalizar também
a completa reforma de seu estádio, que ainda vai demorar para ser
inaugurado, mas já dá mostras que vai ser espetacular. O novo estádio da
Sociedade Esportiva Palmeiras, na verdade foi reconstruído, pois o
velho Estádio Palestra Itália, foi demolido para que construísse-se uma
Arena inteiramente nova; moderna e com tecnologia high tech, também. Previsto
para ser inaugurada alguns meses depois do novo estádio do Corinthians,
a arena Palmeirense será multiuso e já coloca-se como um ponto natural
para shows internacionais de grande porte.
Ao perceber que vai
perder muitas receitas, o São Paulo Futebol Clube está a movimentar-se
para reformar o Morumbi, ao anunciar planos de construção de uma
cobertura para increntá-lo. No caso tricolor, receio que uma reforma não conseguirá
deixar o Morumbi à altura das novas arenas de seus rivais, ao necessitar,
isso sim, uma complexa mudança estrutural, quiçá a fazer como o
Palmeiras o fez, ou seja, demolir e reconstruir, da base. Sendo assim, ainda que mostre-se momentaneamente suplantado, tecnologicamente, ainda é um grande estádio na cidade. Diante desse quadro de estádios modernos a ser inaugurados, a pergunta é : e o velho Pacaembu, o que será dele ?
Modernidade
e tecnologia à parte, o Pacaembu é mais que um estádio bem localizado
na cidade de São Paulo, mas mantém tradição; história e um charme
inquestionável com aquela arquitetura das décadas de trinta / quarenta,
sensacional, pela quial foi construído. Aconchegante, faz com que o torcedor fique bem próximo do campo, com uma visão panorâmica, espetacular do gramado. Todavia,
agora que Corinthians e Palmeiras vão mandar seus jogos em suas
modernas arenas e o São Paulo não costuma usar o Pacaembu, naturalmente,
uma grande dúvida paira sobre o futuro do estádio.
Especula-se
que o Santos Futebol Clube o use com maior frequência doravante, pois é
fato que a sua torcida na capital é grande e prefere prestigiar o time no
Pacaembu do que descer a serra e ir à cidade Santos, para poder assistir os jogos do Santos, na Vila
Belmiro. Mesmo que o Santos intensifique o seu uso, ainda assim,
parece insuficiente para mantê-lo em suas necessidades mais básicas de
manutenção. A Associação Portuguesa de Desportos também o usa
muito pouco, pois a despeito de seu pequeno estádio do Canindé estar
defasado, também (e tenderá a tornar-se jurássico após as inaugurações das arenas dos eus rivais, já
citadas), supre as necessidades do clube, que infelizmente não dispõe
de uma grande torcida e consequente meio para gerar uma melhor renda.
E se é difícil para a Portuguesa, imagine
para agremiações ainda menores, como o Juventus da Mooca, e o Nacional da
Barra Funda, que nem conseguem manter-se no rol da primeira divisão
estadual. Outro ponto dramático para a manutenção do Pacaembu, é
o fato dos shows musicais estar proibidos ali, há anos, por conta da
pressão da associação de moradores do bairro.
Sem essa receita
extra, o Pacaembu manteve-se nos últimos anos basicamente pelo aluguel
cobrado do Corinthians, em primeiro lugar e mais recentemente do
Palmeiras, que ficou sem o Palestra Itália nessa fase de reconstrução de
seu estádio. Uma solução para o Pacaembu, seria uma reforma
estrutural pesada. Por ser público, claro que nenhum prefeito embarca
em uma aventura assim, pois as prioridades para uma megalópole como é São
Paulo, são outras e ninguém cometeria um suicídio eleitoral ao
aventurar-se em empreender uma obra supostamente supérflua para a municipalidade.
Independente de ser
viável, e provavelmente não o seja, eu promoveria uma reforma estrutural
pesada, mas a manter a arquitetura retrô, que é charmosissima. E dentro
desse conceito, demoliria aquele adendo horroroso, que é o "Tobogã",
a famigerada arquibancada construída a mando do prefeito biônico da cidade em
1969, Paulo Maluf.
Reconstruiria a charmosa "concha acústica" do projeto original, com direito à volta da estátua de Davi. Daria
um jeito na situação vergonhosa das instalações sanitárias que fizeram
as autoridades instalar calamitosos "banheiros químicos" no corredor
oval de acesso às arquibancadas. Não precisa ficar High Tech como
as novas arenas da cidade, mas absolutamente em ordem, com o charme
retrô impecável e infraestrutura digna.
Talvez, devido ao pouco
uso que terá doravante (isso a contar com a hipótese do Santos passar a
usá-lo com maior frequência), o caminho seja o contrário do que habituamo-nos a ver em relação ao Museu do Futebol, isto é, o estádio como
equipamento do Museu. A extensão do Museu, a abrigar o estádio
como um anexo de sua área física, pode ser uma atração a mais para ele, que
já é sensacional por si só, e muito visitado por turistas.
É apenas uma ideia, sem base alguma da realidade, mas talvez seja a sua salvação. E
seria uma lástima para a história de São Paulo, se o estádio do
Pacaembu morresse, como está a insinuar-se em uma perspectiva de curto / médio
prazo.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2014.
Vivemos
em sociedade, em meio à inúmeras demandas. As necessidades estruturais
são múltiplas para que possamos viver com conforto; bem estar; segurança
e sobretudo a usufruir do meio ambiente e de suas reservas naturais. Contudo,
essa equação é dificílima para fechar-se, na medida em que tudo,
absolutamente tudo, depende do dinheiro para ser movimentado.
Pareço
óbvio ao falar sobre isso, mas pense bem : se tudo depende do dinheiro, torna-se
justo que cada um forneça uma contribuição pessoal para que providencie-se
obras fundamentais, ao visar suprir as necessidades de interesse comum. Cáspite,
outra obviedade. Isso existe desde a antiguidade, quando ainda nas
civilizações mais rudimentares, percebeu-se que sem tal esforço
coletivo, nenhuma providência para o bem estar do grupo, poderia ser
cumprida.
Concomitantemente,
a tentação em desviar o dinheiro arrecadado pela coletividade, constituiu-se em um caminho aberto para o ego humano desenvolver essa patologia chamada,
"corrupção", e assim a humanidade pôs-se a caminhar, ao manter essa relação pouco
saudável dentro da sociedade. Todavia,
esta matéria não é sobre ética, apesar de ser inevitável mencionar a
questão da lisura, quando fala-se a questão do erário público; tributação & gerência governamental. O que eu desejo enfocar nesta matéria, é a formação do cidadão, sob o ponto de vista educacional.
Evidentemente
que a sociologia engloba o assunto de uma forma muito ampla,
ao distribuir entre várias vertentes das ciências sociais, tais estudos ajuda-nos a entender os meandros da organização social como um
todo. O que é público e o que é privado, como complementam-se etc. Mas
como formar o cidadão comum, no básico, é a questão, pois parece
ineficaz considerar que tal estudo restrinja-se aos estudantes das
Ciências Sociais. Independente
de quem aspire seguir esse caminho acadêmico e assim a especializar-se em suas
múltiplas graduações, o cidadão médio deveria saber o básico sobre o
funcionamento da máquina pública, ao meu ver. E essa máquina, é gigantesca, repleta por subdivisões e por que não dizer, contradições.
Se
para um estudante de sociologia; economia; ou direito, já é complexo
tentar compreender as entranhas dessa máquina monstruosa (o "monstruosa"
aqui, tem duplo sentido, eu sei), imagine para o cidadão comum. Só
que existe um detalhe nessa predisposição, que eu considero fundamental :
estamos no século XXI, e ante tal constatação, não tem cabimento que o cidadão que paga
impostos (e tudo o que consome é tributado, fora os impostos por bens,
renda e serviços), não saiba como esse dinheiro é usado, nem com
funciona a máquina pública.
Já
estou a imaginar alguns leitores a considerar-me um tremendo ingênuo por escrever isso, pois há
séculos que o modus operandi das autoridades, baseai-se na prática contrária, ou seja, em não explicar nada, e
assim não favorecer nenhuma ação que propicie transparência sobre o
funcionamento da máquina. Eu sei disso. Falo sobre o que seria ideal, não sobre o que é errado desde que a humanidade começou a organizar-se. Quando
o governo autoritário, aumentou o seu poder de influência repressiva, após a promulgação do AI-5, tais autoridades baixaram decreto a instituir a obrigatoriedade da matéria
: "Educação Moral e Cívica" no ensino fundamental (ainda ao final da era
do curso primário e posterior curso ginasial); "OSPB" (Organização
Social e Política Brasileira"), no ensino médio e "EPB" (Estudo dos
Problemas Brasileiros"), no ensino superior, além de militarizar as
aulas de educação física, com a obrigatoriedade em fazer uso da "ordem unida".
No
discurso, ou desculpa para falar o português claro, a ideia foi ensinar
as crianças e adolescentes a conhecer o funcionamento da sociedade, mas tal prerrogativa não foi a mais correta. O
objetivo foi outro, com a exaltação do nacionalismo, sob um viés a incutir valores
religiosos quase explícitos, sendo que o estado deveria ser laico, e o
pior de tudo, ao desestabilizar a capacidade de reflexão, e assim instituir a
obediência cega como o valor máximo a ser observado.
Para
corroborar com tal estratégia, os militares instituíram licenciaturas
de curta duração nos cursos superiores, ao quebrar os cursos de História &
Geografia, e assim a incentivar a formação de professores muito
despreparados para ministrar as aulas de Educação Moral e Cívica nas
escolas, o mais rápido que pode ser estabelecido. Quando a repressão acabou, tais cursos foram suspensos, enfim. Não sou professor, portanto não tenho elementos para opinar com profundidade sobre a pedagogia. odavia,
tenho em mente, que o cidadão tem o direito em entender o funcionamento
da máquina governamental que rege a sociedade, desde o ensino básico, pois é condição básica do
exercício da cidadania.
Se
alguém joga um papel de bala na calçada, precisa ter a consciência do
dano ambiental que aquilo causa à coletividade. Por exemplo, se as
pessoas tivessem a consciência de que é errado jogar lixo nas ruas,
quanto economizaríamos com as enchentes que atormentam as cidades a cada
temporal ? Se
não houvesse a ocorrência de enchentes, quanto economizar-se-ia em saúde pública,
ao considerar-se que uma enchente é na prática, um caldo asqueroso, a constituir-se em uma sopa infecta, repleta por bactérias
? Quanto o departamento de zoonose gastaria menos, se não houvesse a proliferação de insetos; ratos e baratas que tal sujeira proporciona ?
Esse
exemplo do papel de bala, é só um item dessa equação. Quantas outras
questões de civilidade não poderiam ser tratadas em sala de aula, desde a
tenra infância ? E a máquina em si, como funciona ?
O
que faz exatamente o prefeito; o governador e o presidente ? Como é arrecadados os montates fabulosos vindos através dos impostos e como distribui-se tais parcelas entre as três instâncias ?
Qual é o papel do legislativo ? Para que serve um vereador; deputado estadual;, deputado federal e senador ? O que são as secretarias que servem o poder executivo ? Para que servem os ministérios ? O que é o tribunal de contas ?
Quem define as prioridades da saúde; agricultura; segurança pública ? Quem traça os planos da educação; infraestrutura; abastecimento, energia ?
O que é o Ministério Público, o que é defensoria ?
O que são autarquias ?
Aposto
que 95 % (ou mais), das pessoas que foram ás ruas na onda de protestos
de 2013, não sabem responder essas perguntas, infelizmente. E
se no bojo, pela essência, eu reconheça que os protestos tiveram a legitimidade
democrática em de demonstrar a insatisfação generalizada, tais protestos
pareceu uma briga de bêbados no escuro, tamanha a confusão que
denotou, com pessoas a protestar sem um critério adequado, assim cobrar
reivindicações para as autoridades que nem tratou dos itens que estavam a levantar como bandeiras. Isso sem mencionar que a manipulação por trás de tais manifestações foi enorme, daí a mostrar-se muito relativa a maneira pela qual foi apresentada.
Nesses termos, ao pedir
para o prefeito abaixar o preço das hortaliças nos supermercados ou
para o presidente cuidar da segurança pública, ou mesmo que o governador
tome providências sobre o mau estado das estradas federais, são
alguns exemplos clássicos de confusão que as pessoas estabelecem sobre a atribuição
de cada instância. E
não para por aí. Cobra-se posturas dos parlamentares, como se fossem do
executivo e vice-versa. Cobram da polícia providências que são
concernentes ao judiciário etc. Portanto,
sou a favor da matéria de estudos sociais, nas escolas fundamentais e
médias, mas sem aquele ranço observado por radicais de outrora, ao observar interesses escusos da parte de grupos elitistas da sociedade, mas sim a criar um conteúdo onde
fosse explicado aos jovens, como funciona a rés pública e como devemos
ser solidários para que possamos obter o melhor convívio possível, e assim conduzir o país,
enfim, para o padrão de uma nação do primeiro mundo.
Fazê-los
entender que a cidade é uma extensão de nossa residência, é
fundamental. Quebrar o paradigma de que a rua não merece consideração
porque "não é de ninguém", além de contribuir para transformar a cidade
em uma lata de lixo decadente, é um caminho permanente para a roubalheira da
corrupção (sei que existe outros fatores e não é só isso que acabaria
com a corrupção). Quando
cada cidadão considerar a rua como parte da sua própria residência, de fato, a mentalidade
generalizada vai ser a de manter tudo limpo, o tempo todo. Logradouros públicos bem
iluminados; com equipamento em perfeito funcionamento e isso a gerar como consequência, a baixa criminalidade; ausência de vandalismo; solidariedade,
fraternidade etc. Utópico
em primeira leitura, eu sei. Mas se em países como a Nova Zelândia;
Dinamarca; Finlândia; Canadá; Alemanha; Austrália; Bélgica; França, e
outros, isso que descrevi é quase uma realidade, penso que o segredo é a
educação e troca de paradigma.
Talvez
demore para chegarmos nesse patamar, mas não acho impossível. Veja o
exemplo da Coréia do Sul e o salto que deu quando passou a investir
pesado na educação. A
própria revitalização de Seul, com a despoluição do rio Han, é um
exemplo. Até bem pouco tempo atrás, tratava-se de um rio putrefato como o Tietê,
com o povo acostumado a jogar detritos nele, como se não importasse
com a sua morte inevitável. Quando o rio passou a ser encarado como um patrimônio da cidade, tudo mudou.
A transformação da sociedade começa na mudança individual do cidadão. Mesmo
porque, se eu não ligo para a minha cidade ( e por extensão, estado ou
país), abro o caminho para que as autoridades também pensem igual, e com
aquela montanha de dinheiro arrecadado nos cofres públicos, a tentação em desviá-lo será enorme.
E
tem um dado a mais : de onde vem os políticos ? De onde saem os
funcionários públicos de carreira ? De onde saem os parlamentares, e os
membros do judiciário ? Pois, são pessoas como nós, do mesmo povo. E
se a mentalidade do povo pauta-se em não considerar o bem público, por quê
você acha que eles pensariam diferente, se são pessoas da mesma formação
cultural; educacional e nacional ? O
que adianta cobrar seriedade e lisura, se você continua a passar incólume pelo
semáforo a indicar a cor vermelha; acha normal jogar lixo na rua; não economiza água;
desperdiça comida; não respeita filas; destrata pessoas humildes e
idosos etc ?
Matéria publicada anteriormente no Blog Planet Polêmica, em 2014