quinta-feira, 20 de junho de 2019

CD Solar/Prognoise - Por Luiz Domingues


O Rock Progressivo, vertente tão criativa e que ajudou a elevar o Rock ao patamar de uma Art-Rock superior, foi duramente vilipendiado ao final dos anos setenta por conta de uma ação torpe, arquitetada por marqueteiros que usaram tal escola como um autêntico bode expiatório para criar uma atmosfera favorável para que um tipo de arte menor, dominasse os espaços, despoticamente. 

Portanto, tirante a propaganda antagonista que gerou esse paradigma errôneo e deveras injusto, a verdade é que tal vertente sublime (por conta da sua natureza tão bem amparada nas influências que teve para expressar-se), resistiu bravamente aos ataques sistemáticos, ainda que muito paulatinamente, a atuar em nichos minúsculos e praticamente invisíveis do grande público (e sobretudo de certos setores da mídia, que adotou a ideia de adorar odiá-la), atravessou os anos, 1980 e 1990, com dificuldades e já na primeira década do século XXI, demonstrou pequenos, mas firmes sinais de renascimento.

Que bom, temos uma geração jovem que nasceu sem saber que no passado, tal estilo fora tão execrado, de forma torpe e gratuita e assim, livre para pensar, o redescobriu, saiu à cata de informação para vir a conhecer os seus ótimos artífices do passado e sobretudo, nutriu vontade para formar bandas e entrar em estúdio para produzir o Rock Progressivo, aqui e agora. 

Pois este é o caso de uma banda oriunda de Porto Velho, a capital do estado de Rondônia, chamada: Prognoise. Formada em 2012, por um grupo de amigos e entusiastas do Rock Progressivo clássico, da década de setenta, eis que mostraram talento e muita determinação em dar o seu recado, quando lançaram em 2015, o EP “Esquizóide”. Após algumas reformulações na sua formação, lançaram recentemente, em 2018, o CD “Solar”.
Trata-se de um trabalho feito com muita qualidade artística, a demonstrar claramente as ótimas influências do Rock Progressivo setentista e também ao acrescentar uma boa dose de MPB, a música erudita in natura (considere-se naturalmente que a música erudita é um dos pilares do Rock Progressivo clássico, assim como a Folk Music europeia de uma maneira geral), Jazz e o Neo-Progressivo mais contemporâneo. 

Em “Solar”, o Prognoise mergulha sem temores nos longos temas fatiados em suítes, um elemento tradicional dentro dessa escola e assim, demonstra não importar-se com questões mercadológicas que empurram os artistas a compor e arranjar canções mediante parcos “três minutos” de duração, para seguir o paradigma radiofônico da música Pop. Que maravilha, esses artistas estão interessados em produzir arte e não artigos descartáveis para vender no varejo dos supermercados. 

Banda formada por ótimos instrumentistas, que compõem e arranjam muito bem as suas canções, mediante execução vocal e instrumental em alto nível, como manda a cartilha do gênero e sobretudo, os seus componentes mostram inspiração em suas criações. 

No quesito das letras, discorre-se sobre questões existenciais do Ser Humano, em via de regra, a demonstrar uma preocupação em abordar questões mais profundas da natureza humana, com uma boa dose de poesia.
Sobre a capa do CD Solar, assinada pela artista gráfica, Bárbara Ugalde, o simbolismo é imediato ao mostrar um bebê em gestação, ao sugerir que está a desenvolver-se em um ventre, que na verdade representa o sol. Tal imagem dá margem a várias interpretações, naturalmente, mas de uma maneira geral, faz menção à criação da vida e entenda-se tal conceito pelos aspectos micro e macro, portanto, é algo bastante amplo. 
 
Como diziam famosos Proggers setentistas brasileiros: “Tudo Foi Feito Pelo Sol”, e assim, faz todo o sentido que o Prognoise resgate tal conceito no mundo de 2019, e ao ir além, nestes tempos trevosos, precisamos mesmo da luz do sol de outrora.
A respeito do áudio, este mostra-se consistente, com um bom trabalho de estúdio. Muitos timbres dos instrumentos remetem às sonoridades tradicionais observadas por grandes ícones do Rock Progressivo dos anos setenta, entretanto, há também um certo conceito moderno em alguns aspectos, a estabelecer uma média como resultado final. Sobre as faixas, quase todas mostram-se longas para honrar as tradições desse gênero e com duas mais curtas, apenas, em seu bojo. Devo acrescentar mais algumas observações sobre as canções.

Ouça abaixo, o CD “Solar” do Prognoise, enquanto continua a ler esta resenha: 
https://www.youtube.com/watch?v=N1FEJAUNUTo 

“Especulações”

Trata-se de uma canção amena, ricamente arranjada por uma camada de instrumentos (guitarras e teclados) a trabalhar com arpejos. Existe uma bela melodia solada por uma das guitarras, com o uso muito bonito do efeito do delay.
“Incandescente”

Esta música inicia-se com um belo Riff versado pelo Hard-Rock setentista, em duo pelas guitarras e com apoio do órgão Hammond a sustentar-se com um timbre grave, muito belo. Usa-se uma fórmula de compasso não usual neste instante (7/4), com bastante criatividade.
 
Vem a seguir uma longa convenção com um solo estabelecido por um sintetizador a evocar o velho Mini Moog, muito bonito. Eis que sob uma desdobrada rítmica, vem a parte inicial cantada, com rica harmonia a sustentar tal base. Bonitos backings vocals enriquecem bastante a beleza dessa melodia e a cozinha (baixo e bateria), mostra-se bastante firme, gostei muito. 

Advém uma parte adicional pesada, com ares mais modernos, mas a conter um solo feito pelos teclados, que simula o efeito de um theremim e isso produz um colorido psicodélico incrível à canção. Gostei muito do solo de guitarra, também.
 
Bruscamente apresenta-se uma nova parte e a conter mais um solo de guitarra. Desta feita com um balanço muito acentuado e a contar com o apoio do órgão Hammond, lembra muito o som de bandas como o Triumvirat, Trace, Omega, ou seja, só remete a exemplos edificantes, ao meu ver. 

Eis que mais um trecho ocorre, desta vez com extrema doçura, a mostrar violões muito bem timbrados e tocados, além de uma insinuação ao Flute Organ. A voz flutua em meio a um ritmo agradável e pontuado por contra-solos produzidos pelo sintetizador, intercalados com guitarra. A música finaliza-se com mais uma longa convenção, com brilhantismo.
“Hanging Garden”

Esta canção inicia-se com uma harmonia bela, sob a delicadeza de uma arranjo bem engendrado, a dar vazão para que o som do violino expresse uma linda melodia introdutória. A letra, como sugere o título da canção, foi escrita em inglês. Lembrou-me pela sua singeleza, o trabalho do Genesis, em seus áureos tempos. 

Um pouco adiante, o som esquenta, com uma mudança de ritmo e para tal, existe mais solos de violino e guitarra, ornados por um ótimo trabalho com piano. Baixo e bateria muito bons, gostei bastante da atuação de ambos. 
 
Eis que uma soturna parte chega abruptamente e lembra bastante o caráter sombrio do King Crimson. Efeitos muito bons são acrescentados, com muita criatividade, principalmente pelos teclados. O piano sobra com uma base de sintetizador ao fundo e a voz solo dá o seu recado. 
 
A banda volta a dar peso para o grande final, a valorizar a melodia cantada, com o violino a pontuar com riqueza tal trecho e assim a abrir o caminho para um lindo solo de guitarra, que revela-se épico, sob a ação de um efeito de "looping".
“Insolação”

Sob uma estrutura quebrada, em termos rítmicos, a canção inicia-se com tal ênfase muito interessante. Entra a parte cantada com peso e é possível até encarar tal trecho como algo mais palatável aos ouvidos não acostumados ao Prog Rock, com certa característica Pop. Mas que não engane-se o leitor, pois soar Pop não significa subtrair o nível e assim, tudo é bem tocado ao extremo. 

Logo a suíte encaminha o ouvinte para outras sonoridades, pois uma convenção intrincada é cheia de colorido pelo arranjo e uma parte mais orientada pelo "Space-Rock" chega, mediante efeitos produzidos pelos teclados, tudo muito bonito e a garantir o direito à epifania de quem costuma mergulhar em digressões viajantes, sem nenhuma preocupação em saber quando isso acaba (e pelo contrário, a depender da situação, deseja-se mesmo é não voltar mais, se é que o leitor permite-me tal divagação). 

Uma parte rica em balanço, traz uma melodia muito bonita e permite ao baixo estabelecer uma linha com notas dobradas, deveras rica, gostei muito e com essa desenvoltura, também oferta a oportunidade para o baterista soltar-se. Uma surpreendente etapa bem centrada no Blues-Rock, tem um peso contundente. A suíte desemboca na parte cantada mais uma vez e sob a repetição de uma elaborada convenção, encerra a obra. Bravo!
“Singular”

Bela e singela canção a trazer um arranjo com violões e viola, muito bem concatenados. Contém um elaborado trabalho melódico, inclusive enriquecido com a presença de uma cantora convidada, Mariana Gonçalves, a trazer o timbre feminino em contraste, o que sem dúvida, garantiu um élan para a canção. Há também um bom trabalho dos teclados, com efeitos estabelecidos ao sintetizador e um singelo mellotron que encerra o trabalho.

“Não tema, apenas se deixe levar/A vida é singular”, diz um trecho da letra e em suma, creio que a síntese seja essa mesmo, em torno de não haver amarras, e assim, que jamais deixemo-nos seguir os parâmetros estabelecidos por outrem. A vida é singular, e a grande viagem é para dentro de nós mesmos, perfeito.
Recomendo o trabalho do Prognoise, certamente, e torço para que esse ótimo grupo siga em frente, com uma longa carreira adiante. 

O CD físico "Solar" está a venda com preço muito acessível, através da página da banda no Facebook
Gravado no Pl@y Sonora Estúdio, em 2018

Produção de Hugo Borges e Prognoise

Capa (arte e lay-out): Bárbara Ugalde
Selo Masque - Rio de Janeiro / RJ
Formação do Prognoise:

Alessandro Amorim: Baixo e Violão

Anderson Benvindo: Teclados

Ícaro Dickow: Bateria

Victor Salles: Guitarra

Zeno Germano: Voz, Guitarra e Violão


Músicos Convidados: 
Alessandro da Cunha Bateria em “Insolação”

Mariana Gonçalves: Voz em “Singular”

Hercílio Santana: Viola em “Singular”

Paulo Cesar: Teclados em “Hanging Garden”

Eduardo Barros: Violino em “Hanging Garden”

Vandrin Rodrigues: Backing Vocal em “Incandescente”

Jefferson Almeida: Teclados e Efeitos em “Singular”

Para conhecer melhor o trabalho do Prognoise, acesse:

Página do Facebook:
Prognoise Pvh – Rock Progressivo

Canal do YouTube:
Prognoise Pvh Oficial

Contato direto com a banda, pelo E-mail: 

prognoisepvhoficial@gmail.com

Contato para shows:

Fones : (69) 99236-5900 ou (69) 99286-9264

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Os Kurandeiros - 20/6/2019 - Quinta-Feira (Feriado) / 21 Hs. - Santa Sede Rock Bar - Tucuruvi - São Paulo / SP

Os Kurandeiros

20 de junho de 2019 - Quinta-Feira (feriado) - 21 Horas

Santa Sede Rock Bar
Avenida Luiz Dumont Villares, 2104
Tucuruvi
Estação Parada Inglesa do Metrô
São Paulo - SP

Entrada Grátis

Convidados Especiais :
Geraldo "GG" Guimarães : Guitarra
Nição Vini Altino - Guitarra e Voz

Os Kurandeiros :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Phil Rendeiro : Guitarra e Voz
Luiz Domingues : Baixo

sábado, 1 de junho de 2019

Compacto Simples "Ciclorama" / Vento Motivo - Por Luiz Domingues


O Vento Motivo é um dos mais perseverantes grupos de Rock do Brasil, ao lançar novidades sistematicamente, e mais que provar ser obstinado, mostra-se na verdade criativo e compromissado com a qualidade, pois não lança discos por lançar, mas sobretudo, por ter o que dizer, artisticamente a expressar. 

Desta feita, tal material que já faz parte do novo CD (que chama-se: “Obras Cruéis), proporciona aos seus fãs um compacto duplo como opção em anexo, a conter uma canção inédita, chamada: “Ciclorama”, acompanhada de uma versão de “A Serpente e a Estrela”, clássico da Country Music norte-americana (de autoria de Terry Staford e Paul Fraser, originariamente intitulada, “Amarillo by Morning”), que foi adaptada ao português pelo letrista, Aldir Blanc e imortalizou-se na interpretação do nosso grande menestrel Folk, Zé Ramalho.

Em Ciclorama, a canção de Fernando Ceah mostra uma forte carga em prol do Pop Rock (como aliás é uma marca registrada do trabalho da banda), mas não canso-me em explicar, a despeito do termo “Pop Rock” ter sido conspurcado ao longo do tempo (ao ponto de ter adquirido uma carga deveras pejorativa, a designar música de baixa qualidade, produzida em escala industrial para ser usada e descartada rapidamente), no caso do Vento Motivo, a velha conotação do termo, realça-se, pois qualidade musical e poesia, são pilares típicos de tudo o que essa banda produz. 

Ouça abaixo as duas canções do compacto, enquanto continua a ler a resenha. Eis o link para escutar diretamente no You Tube:

https://www.youtube.com/watch?v=qqSGhbpEIGI  

Trata-se de uma canção vibrante, com um arranjo muito bem concatenado, com direito a uma linha de baixo e bateria muito criativa, bases harmônicas de guitarra e sobretudo em relação à melodia, é tudo muito bem caprichado. 

Muito destacado também é o trabalho de uma segunda guitarra a produzir belos desenhos no sentido de contra-solos pontuais e que garantiu um colorido especial à canção. Portanto, a peça tem o poder Pop da empatia automática a ser provocada para o ouvinte em geral e sobretudo, faz uso de poesia, algo muito raro no panorama da música brasileira em geral nos dias atuais, onde apelações chulas podem até agradar a patuleia manipulada, mas eu tenho certeza de que uma parcela significativa da população anseia por uma retomada da poesia e se há um artista no âmbito do Pop Rock brasileiro, que cumpre tal tarefa com muito brilho, este é Fernando Ceah, como compositor, letrista e poeta, na acepção da palavra.

Fernando Ceah profere alguns conceitos interessantes em seu canto, tais como: “todas as cores perdem o brilho / diante do nosso intenso contraste / em nossa casa de tons pastéis / somos artistas de obras cruéis / eu quero colorir a vida lá fora, a foto em preto e branco que tiramos agora / eu quero as cores vivas do mundo que eu quis para mim”.

Ou seja, ao pensarmos que o “ciclorama“ trata-se de uma grande tela clara, quem coloca-se a desenhar e colorir o que desejar, somos nós mesmos, visto que a vida de cada um de nós, é um ciclorama pessoal e intransferível. Portanto, eis aí um recado direto aos que esperam sentados por toda a vida, por algum “milagre” externo a esmo, mas que na verdade, não percebem que a criação da trajetória é livre e o fruto a ser colhido, uma atribuição pessoal de cada um.

Sobre a versão de “A Serpente e a Estrela”, a opção do Vento Motivo pelo Rock é óbvia, mas sente-se uma boa influência da Country-Music norte-americana, a reaproximar a canção da sua versão original, no entanto, é claro que o Rock predomina na versão do Vento Motivo. 

A linha de baixo e bateria é muito criativa e no caso do baixo, impressionou-me alguns fraseados muito swingados, certamente inspirados no R’n'B/Soul Music e que coloriu demais a canção, isso sem contar certos "glissandos" estratégicos e muito oportunos, portanto, destaque para Ivan Soldi e Binho “Batera”. 

Gostei da ardência da guitarra base e também dos contra-solos e a interpretação vocal do Fernando Ceah, mostra-se muito boa, pois não basta ser um grande poeta e compositor inspirado, mas Ceah toca e canta bem, isso é um fato.

Sobre o áudio, este mostra-se muito agradável, com bastante brilho e pressão sonora, e sobretudo por realçar ótimos timbres de todos os instrumentos, a observar um caráter vintage, muito interessante, muito embora não seja essa uma bandeira proposital levantada pela banda em sua determinação artística, mas ao fazer uso desse tipo de sonoridade clássica, torna-a ainda mais atrativa ao meu ver. Em relação à capa, a ilustração oficial do CD “Obras Cruéis”, que já foi lançado, inclusive, mostra um botão de rosa incandescente, uma imagem forte. Para compor este compacto, uma imagem alternativa é utilizada, a manter o mesmo fundo e desta feita a mostrar o vulto de uma mulher sobre a ação de uma contra-luz.
Esta é uma terceira resenha que escrevo sobre um trabalho do Vento Motivo (anteriormente eu já pude comentar as minhas impressões sobre o CD “O Voo do Marimbondo” e o EP “Sol Entre Nuvens"), portanto, a minha confiança nesse grupo é total, para recomendá-lo, sempre aos meus leitores.

Gravado e mixado no estúdio Curumim de São Paulo.
Técnico de captura: Fernando Ceah
Técnico de mixagem: Guilherme Canaes
Capa (Criação e Lay Out): Caio Bars
Produção Geral: Fernando Ceah

Vento Motivo:
Fernando Ceah: Guitarra e Voz
Binho “Batera”: Bateria
Ivan Soldi: Baixo

Para conhecer melhor o trabalho do Vento Motivo, acesse o seu site oficial: 

https://www.ventomotivo.com.br/ 

Canal da Banda no You Tube: 

https://www.youtube.com/channel/UCVXCakCDc8gFU7wDtHmcQDQ 

Página do Vento Motivo no Facebook: 

https://www.facebook.com/profile.php?id=100007592445099 

E a banda disponibiliza os seus fonogramas em todas as plataformas digitais atuais.