terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Livro: 101 Crônicas para eu ler antes de morrer/João Lucas - Por Luiz Domingues

Entre as tantas possibilidades que a literatura nos oferece, a vertente das crônicas está entre as minhas prediletas. O cotidiano observado pelas pessoas, expresso em meio ao seu convívio na sociedade,  sempre rende um bom texto e do qual nos identificamos sob múltiplos aspectos, bem dentro daquela prerrogativa óbvia de que estamos todos a viver situações e emoções muito parecidas ao longo da existência.

O bom cronista é antes de tudo um observador, um detalhista que lê as entrelinhas, percebe os arredores sob visão mais ampla do que a percepção dos distraídos em geral e sobretudo, a acrescentar nuances diversificadas sobre cada narrativa empreendida.

Todos esses predicados eu encontrei com abundância, nas páginas do livro: "101 Crônicas minhas para eu ler antes de morrer", livro escrito por João Lucas, artista muito conhecido por sua trajetória na música, e que exerce a escrita há tempos, sempre a publicar seus bons textos através das redes sociais. Tal iniciativa de expor seus escritos certamente lhe serviu como um termômetro a lhe mostrar o sucesso que suas publicações despertaram e dessa forma, ele tomou a decisão certeira de providenciar a publicação do livro impresso, muito bem vindo.

Organizado de uma forma a acompanhar a trajetória cronológica do autor, o livro tem um certo caráter autobiográfico, sem ser no entanto, uma autobiografia assumida. Tal característica, inclusive, está insinuada na capa do livro e reforçada através das orelhas e contracapa da obra, quando diversas fotos do autor, extraídas das famosas fotos 3/4 obrigatórias para ilustrar documentos, o mostram, da juventude à idade madura, através de uma muito criativa ideia.

Nesses termos, são deliciosas as crônicas que remontam às suas mais remotas reminiscências da infância, das quais, confesso que gerou-me bastante comoção, pois as situações descritas são muito semelhantes ao que eu experimentei na minha própria tenra infância, principalmente no advento da idade escolar.

Pude também imaginar o bucolismo prosaico que foi uma marca registrada do bairro em que ele viveu na zona sul de São Paulo e do qual eu também experimentei percepções muito semelhantes, pois ali vivi, igualmente. Se eu já tenho essa lembrança boa desse bairro, quando ali morei a partir de 1967, posso mensurar como ele era ainda mais incrível ao final dos anos cinquenta e início dos sessenta, no qual ele o descreveu.

As brincadeiras de rua, a amizade mais ingênua e muito sincera que se forja no bairro em geral e nos bancos escolares, a simplicidade encantadora da metodologia didática adotada pelas primeiras professoras, enfim, são muitas as lembranças citadas.

No avançar da obra, eis que uma explosão de signos interessantíssimos surge, ao descrever a sua entrada no período da adolescência, amparada por toda aquela explosão sonora dos anos sessenta sob vários vórtices e a descoberta do cinema (e eu sei bem como a grande avenida que corta esse bairro era pródiga em exibir aquele grande número de salas de cinema de rua, décadas atrás), o impactou.

Eis que eu leio muitas crônicas ótimas sobre os seus primeiros contatos reais com a música, as primeiras bandas, a descoberta do Jazz, da Bossa Nova, do Rock'n'Roll e a vida do músico da noite levado para embalar a alegria onde o povo está, com direito a muitas histórias engraçadas dos bastidores, que muito me divertiram e claro, com as quais me identifiquei de imediato. 

A vida laboral fora da música também rendeu crônicas muito significativas, com situações dignas de um roteiro de filme, que renderia muito nas mãos de uma diretora engajada do porte de Lina Wertmüller e aliás, todas as crônicas propostas por João Lucas tem o poder da perspectiva cinematográfica. O cinema tem tudo a ver com a formação cultural dele e isso ficou impregnado nas suas crônicas, no sentido de que as crônicas tem muitas imagens implícitas.

A vida universitária e a consciência política recém-adquirida nessa fase da sua vida, a apontar para a convicção acalorada em torno dos mais belos ideais e os muitos contrastes que advém dessa perspectiva, também estão bem presentes e emocionam.

Dessa maneira, eu pensei muito no cinema de François Truffaut, quando ele propôs relatar as suas lembranças sobre a infância e adolescência, a me lembrar dos filmes que acompanharam o crescimento e amadurecimento sistemático da personagem de Antoine Doinel, em vários filmes a usar o recurso do mesmo ator (Jean-Pierre Léaud) a interpretá-lo e assim a explorar o seu próprio crescimento como ser humano. João Lucas e Truffaut tem muito a ver um com o outro, estou convencido disso.

Quando da plena adolescência e início da juventude madura em curso, eis que João Lucas descobriu o amor, quando fala de Valéria, sua namorada, musa inspiradora e esposa, cuja convivência pelas décadas afora, também rendeu crônicas ótimas, a falar sobre a cumplicidade do namoro e companheirismo no casamento, inclusive sobre os diversos aspectos mais básicos da organização familiar, a casa, os filhos e os netos.

A vida artística também rendeu boas crônicas e nesse aspecto, eu pensei que viria uma enxurrada de histórias nesse sentido, mas nesse quesito, João Lucas economizou. Indício de que virá um novo volume centrado em tais lembranças? Tomara que sim.

Aliás, foi exatamente nesse ponto que eu o conheci, quando tive a oportunidade de voltar a ser componente de uma banda da qual eu estive na sua primeira formação e nessa fase da minha volta, João Lucas foi o tecladista, compositor e vocalista do Língua de Trapo, ícone do humor e sátira no Brasil e então um dos nomes mais celebrados daquela cena artística que ficou conhecida como "Vanguarda Paulista", nos anos 1980. 

Da esquerda para a direita: Nahame Casseb, Fernando Marconi, Laert Sarrumor, João Lucas, Lizoel Costa, Serginho Gama, eu (Luiz Domingues) e Pituco Freitas. A formação do Língua de Trapo quando da minha volta à banda em 1983, quando me tornei amigo de João Lucas

Nessa minha segunda passagem pela banda (1983-1984), estive no palco com o amigo João Lucas por mais de cem vezes e gravamos juntos um disco ao vivo. Nos muitos ensaios, palcos de shows, saguões de hotéis, plataformas de rodoviárias & estações ferroviárias, bancos de "Kombis", restaurantes, coxias de teatro, estúdios de rádio e TV dos quais estivemos juntos, sempre conversávamos muito e ali ele já se mostrava um cronista nato e sensacional, ao contar-nos histórias incríveis que colecionara na sua memória.

Portanto, quando eu soube que ele lançara um livro, e já leitor de muitas crônicas que ele publicara na rede social, lembrei-me bem desse convívio, isto é, de como João armazenara tais lembranças na sua memória e como ele sempre as narrava com uma graciosidade muito grande. E ao ler a obra, constatei que, sim, todo aquele talento para contar histórias e a acrescentar muitas nuances enriquecedoras nas entrelinhas, estava devidamente impresso nas páginas da obra e sim, com direito a imagens cinematográficas, muita música implícita e claro, poesia.

Ainda a lembrar a nossa amizade forjada como companheiros de banda, eu preciso acrescentar que o editor do livro e autor do prefácio, foi o nosso amigo em comum, Jerome Vonk, cuja atuação como empresário do Língua de Trapo naquele período no qual estivemos juntos, foi muito prolífica. Jerome também é um ótimo contador de histórias boas, e suas lembranças dentro da música, são riquíssimas.   

Sobre o título do livro, João me contou que se baseou naquelas intermináveis listas que abundam as redes sociais, a dar conta de muitos assuntos variados. As pessoas adoram elencar os "melhores" (e também os "piores"), entre os representantes de infindáveis ramos das atividades humanas em geral e assim, ele usou dessa ideia como base e a ironizar a marca de "cem", ao usar o "cento e um", número de crônicas que demarcou o conteúdo do livro.

Para encerrar, digo que o livro me despertou o sentimento de identificação em muitos aspectos, gerou-me nostalgia por motivações diversas, boas risadas em muitos momentos e o florescer de reflexões importantes, em outros.

Músico de alto gabarito, João Lucas é um tecladista, cantor e compositor da pesada. Muitas das músicas que ele compôs, tem uma inequívoca vocação para o cinema, com aquela atmosfera de trilha sonora que fala por si só, algo muito natural em face à influência que o cinema sempre teve na sua formação cultural e isso também está presente no livro.

Leitura mais do que recomendada, "101 crônicas minhas para eu ler antes de morrer" abre espaço para um novo livro, que eu espero, não demore para ser lançado pelo meu talentoso amigo, João Lucas.

Ficha técnica:
Livro: "101 crônicas minhas para eu ler antes de morrer"
Autor: João Lucas
Editor: Jerome Vonk
Revisão: Laura Gillon
Projeto gráfico e diagramação: Laura Gillon
Capa: Ivan Lucchini
Lançamento: maio de 2023

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

CD: Viola Paulistana/Zé Brasil - Por Luiz Domingues

Artista histórico, Zé Brasil tem uma carreira brilhante que se mostra prolífica, profícua, criativa e multifacetada, no sentido de que já apresentou trabalhos sob a influência de diversas vertentes e não apenas versadas pelo Rock, mas a revelar grande fluência de outras tendências variadas, do jazz à MPB.

No comando de trabalhos muito relevantes, computa-se no seu rico currículo, o trio Folk da pesada, "Space Patrol", junto a Arnaldo Baptista e Marcelo Aranha, ou seja a pré-história da Patrulha do Espaço no início dos anos setenta. Logo a seguir, ele fundou e comandou o "Apokalypsis", espetacular banda montada sob a égide do Rock Progressivo, porém a manter muita proximidade com o Jazz-Rock, ou seja, entre os dois estilos, a banda produziu um som de alta densidade técnica e memorável em torno de seus discos que deixou como um legado irrepreensível.

Incansável, Zé Brasil emendou muitos trabalhos posteriormente, e muitas vezes de forma simultânea, a contabilizar o som Folk esotérico da dupla que formou com sua esposa, a ótima cantora Silvia Helena, "Maytrea & Silvelena".

Mediante uma boa estada na Europa, montou outro duo com Silvia Helena, com a proposta de seguir os ventos da então modernidade em torno das estéticas oriundas do Pós-Punk, ao qual denominou como: "José & Silvia".

Nessa fase europeia ele lançou o EP Brazilian Wave, considerado pelo próprio artista como uma de suas maiores obras.

Já de volta ao Brasil, seguiu na onda oitentista e criou uma típica banda da época no uso de uma sigla para designá-la, ou seja, o "UHF". Nesse ínterim, o "Apokalypsis" se manteve com aparições sazonais, portanto, em tese, o sonho progressivo jamais morreu, ainda bem.

Já no andar do novo século e milênio, Zé Brasil criou o movimento "70 de novo", a reunir um elenco estelar de artistas que muito brilharam nos anos 1970 e mediante o "Apokalypsis" como banda base, tal espetáculo belíssimo encantou São Paulo, a gerar muito mais que simples nostalgia, mas a se revelar como um tour de force extraordinário.

Há também a ser contabilizado nessa conta o trabalho da banda "Delinquentes de Saturno", por ele fundada e comandada, que pratica um som mais ligado ao Rock visceral e com forte dose de psicodelia sessentista no seu rol de influências, embora seja curioso o fato de que essa banda fora criada na verdade nos anos oitenta e com inclinação às estéticas então em voga, mas nos anos dois mil, ganhou essa roupagem neo-hippie, com bastante identificação com o tropicalismo da década de sessenta.

E sim, muitos discos solo intessantissimos, versáteis e permeados por muita qualidade na criação das canções e igualmente no apuro da elaboração de arranjos, produção de áudio e a apresentar um elenco espetacular de músicos convidados da mais alta estirpe.

Um desses álbuns solo, inclusive, eu já tive o prazer de analisar e a resenha se encontra disponível para a leitura neste blog, denominado como "DoisMilEVinteUm" (Povo Brasileiro), através do seguinte link para ser acessada:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2021/05/cd-doismilevinteum-povo-brasileiroze.html

Eis então que Zé Brasil anunciou o lançamento de um novo disco solo, e desta feita a mostrar um outro lado seu que já era mostrado com certa parcimônia em outros trabalhos, todavia, tal tendência tão natural para ele, ganhou dessa forma, um trabalho integral. 

Refiro-me ao lado silvestre da arte de Zé Brasil, baseado no bucolismo interiorano em meio à natureza exuberante que proporciona os cantos naturais dos pássaros, os dias sob a ação do sol bem quente e dos rios caudalosos e sobretudo, ao cancioneiro raiz que absorve e canta sobre tudo isso. Em suma, o lado da música folk de raiz, a enaltecer a cultura genuinamente caipira, embalada pelas "modas" de viola ao luar do sertão, que pululam em vários estados brasileiros, foi amplamente privilegiado neste disco.

Contudo, apesar desse trabalho ser inteiramente dedicado ao som interiorano de raiz, mediante tal sonoridade típica a predominar através das cordas acústicas muito bem tocadas, há uma simbiose com a eletricidade e tanto é assim, que o nome do disco faz a devida ponte entre o rural e o urbano, já explicitado em seu próprio título: "Viola Paulistana", uma escolha muito criativa ao propor a presença desses dois lados bem distintos, entre o que é ser paulista e/ou paulistano, interior bucólico e/ou centro mega urbano. Viola caipira e/ou guitarra.

Acrescento um dado que reputo ser interessante: neste disco, há uma outra conexão que foi concebida e bem sucedida pelo artista, no sentido de que há a visão interiorana genuína e também a visão cosmopolita da parte do cidadão eminentemente urbano sobre como ele enxerga a cultura interiorana. Portanto, ao longo do disco, essas duas visões se complementam, tanto nas canções autenticamente interioranas, quanto em canções com acento Folk-Rock ou Folk-Prog-Rock.

Mais uma vez cercado de músicos brilhantes, com a boa colaboração de técnicos de alto nível (lastimo muito a morte prematura do técnico de áudio e grande músico, Renato Coppoli, ao qual o Zé Brasil dedicou o álbum com muita honra), eis aqui mais um ótimo trabalho realizado pelo Zé Brasil, compositor, cantor e multi-instrumentista de enorme importância para a cena musical e cultural nacional.

A imagem que compõe a capa do álbum "Viola Paulistana" dá a dimensão do que eu observei anteriormente, no sentido de estabelecer a simbiose entre o interior e a capital, ao mostrar uma imagem emblemática do centro velho da cidade São Paulo, com a perspectiva do hoje conhecido "Farol Santander", o clássico edifício Altino Arantes, que por anos foi conhecido como "Banespão" por abrigar a sede central do extinto Banco do Estado de São Paulo (Banespa), construído a partir de 1939 e inaugurado em 1947, cuja arquitetura foi inspirada no Empire State de Nova York. Se a cidade de São Paulo tem muitos ícones urbanos, este é um dos mais clássicos, sem dúvida.

Na contracapa, sob a imagem do Zé Brasil em ação, toda a ficha técnica se mostra bem embasada e ao final desta resenha, o seu teor está devidamente representado.

Sobre as músicas que compõem o disco, vale a pena destacar mais algumas considerações.

"Gente decente" (Zé Brasil e Gersion Conrad)
Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=rP7XeXyci0Y

Canção bela, com uma letra muito forte a evocar a consciência com a qual se constrói efetivamente uma sociedade melhor, tem a sonoridade Folk-Rock com acento progressivo docemente setentista. 

O trabalho de cordas é belíssimo, com lindos timbres que se realçam nos arpejos e mediante um solo de guitarra curto, porém de uma eficácia absurda, feita por um músico que eu admiro muito. O som do baixo é um destaque, com uma linha absolutamente "Squireana" (no sentido de ter o estilo do magistral baixista britânico, Chris Squire), e claro, feita por um super baixista, cujo nome também o leitor descobrirá na ficha técnica.

Gostei muito dos vocais, com uma linda construção melódica, marca registrada do casal/duo Zé Brasil & Silvia Helena. O coautor dessa canção, é Gerson Conrad, ex-Secos & Molhados e notadamente um grande compositor.

"Das terras do sem fim" (Cezar de Mercês, Zé Brasil e Silvia Helena)
Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=LhQBtm_SF_Q

Apreciei demais a melodia central, embasada por uma harmonia rica. De certa forma me lembrou o som de artistas como Luli & Lucina, A Barca do Sol e Olívia Byington. Além de coautor, o genial Cezar de Mercês participa da faixa a emprestar a sua bela voz para enriquecê-la.

Chama a atenção uma guitarra etérea belíssima, super calcada no estilo do Prog-Rock setentista e claro, feita por um especialista em tal quesito.

"Desvario" (Zé Brasil e Nico Queiroz)
Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=jnI_xMnkUaU

É belíssima a melodia dessa canção, e a maneira pela qual o arranjo de cordas, incluso o baixo, interagiu. Lembra bastante o som de Renato Teixeira na sua formatação geral, pelo aspecto campestre.
Destaque para a letra construída com um tipo de afirmação muito positiva e os vocais elaborados por
Zé Brasil e Silvia Helena, se mostram bem dentro do seu tradicional entrosamento perfeito como duo. 

"Folia de Reis" (Zé Brasil)
Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=yo0YkPqWja8

Nesta canção, o trabalho de cordas acústicas foi muito bem arranjado no sentido de soar autenticamente interiorano e a denotar representar bem a Folia de Reis, uma das mais tradicionais festas folclóricas do Brasil interiorano, com raízes medievais trazidas pelos colonizadores portugueses.  

"Rio da Vida" (Zé Brasil)
Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=jFY_v_D30GU

Há um eco da World Music nessa canção, com até uma certa proximidade Pop, que se revela muito interessante. A música soa límpida, agradável como uma fonte a derramar água continuamente, ou seja, a transmitir uma sensação ótima de bem-estar ao ouvinte e não por acaso, a sua letra contém uma temática positiva no sentido de expressar de uma forma bem poética o pensamento especulativo sobre o sentido da vida. 

"Monte Verde"
Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=jzOGKPDjXz0&t=1s

Essa canção, além da sua beleza melódica e harmônica, tem uma sonoridade reforçada pelo som extraordinário de uma "cabacítara", que lembra sobremaneira o som da cítara tradicional indiana. Tal instrumento é tocado por um grande músico que é um especialista em unir o Rock clássico ao som de raiz genuinamente caipira e cujo nome está na ficha técnica. Gostei muito também da inserção do efeito da onomatopeia no apoio dos backings vocals. 

E a letra é extremamente feliz ao dissertar sobre a exuberância das montanhas e do verde contido em Monte Verde, distrito de Camanducaia, no sudoeste mineiro, encravado nas montanhas e com uma vegetação de tirar o fôlego (pela metáfora a realçar a sua beleza visual), mas pelo contrário, por tratar de garantir o fôlego no aspecto literal, mediante a pureza extrema do seu ar.  

E neste caso, o Zé Brasil foi muito feliz em criar uma canção tão bela para retratar a beleza dessa localidade bucólica.

"Pura Intenção" (Zé Brasil)
Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=--7PcOZljYk

Já em "Pura Intenção", a voz de Silvia Helena comanda a melodia na primeira estrofe. Zé Brasil entra a seguir para cantar em duo. Pela estrutura da melodia, letra e mensagem, lembrou-me bastante o trabalho do Walter Franco em seu tipo de evocação com viés esotérico, embalado pelo concretismo no estilo poético. 

E claro, Maytrea e Silvelena reaparecem nessa faixa, pelo estilo e firmeza de propósito no sentido de usar a música como ferramenta para tocar corações e mentes, mediante a pura intenção aquariana de se aspirar um mundo fraterno. Em suma, é a abordagem hippie, muitíssimo bem vinda para fazer o contraponto e derrotar a mentalidade destes tempos formatados por ideias de ódio, guerra e morte. 

"Pingo D'água (Zé Brasil)
Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=tGGFYduxg_E

O som das cordas acústicas muito bem executadas, mediante belos timbres, dá o mote nesta peça singela e curtíssima, praticamente a se constituir de uma vinheta.  

"Viola Sertaneja" (Zé Brasil)
Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=JB4tiLAfY4Y

Neste caso, o som caipira genuíno se mostra com toda a sua força. A letra faz uma ode à vida no campo e justifica plenamente todo o seu arranjo a evocar as suas tradições.

"Naturalmente" (Zé Brasil)
Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=8ljPi3yJJOc

Nesta balada, há a urbanidade no sentido de se buscar o elemento pop, mas com aquele viés do Folk-Rock. 

É muito bonita a intervenção pontual da guitarra, feita por um outro guitarrista que eu também gosto muito e cujo nome está assinalado na ficha técnica.

"Terra dos Bem-te-Vis" (Zé Brasil)
Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Qnko8L4QZD0

Quem disse que não ouvimos o som dos pássaros em meio à selva de pedra de um "skyline" infinito que se tornou a cidade de São Paulo?
Pois na verdade, esta canção é perfeita para nos lembrar que ainda que supostamente inexistente, há sim bucolismo em São Paulo, em recantos espalhados por muitos bairros existentes pelos quatro cantos da pauliceia.  

Musicalmente, me lembrou bastante o trabalho do Grupo Rumo de Luiz Tatit, com a sua música de vanguarda e ao mesmo tempo inspirada nas raízes da música brasileira. 

Para Andréa (Zé Brasil)
Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=kVcbtgFQqRc 

Mais um tema a valorizar bastante o som acústico, tem o som de guitarra a compor junto a linha melódica com extrema singeleza e guitarra essa tocada por um muito versátil guitarrista, mas que geralmente é conhecido pela sua atuação em torno do Blues brasileiro.

Encerrada a audição, o veredicto é o da aprovação sem restrições de mais um trabalho magnífico perpetrado pelo grande Zé Brasil, artista com história gigantesca já construída e que se recusa a parar de criar mais e mais belas páginas musicais. 

Sorte nossa em termos um artista tão criativo e inquieto, a favor do Rock, da música em geral e tão empenhado em fazer arte engajada por seus ideais e dessa forma, utilizar a cultura como uma ferramenta para tornar este planeta melhor.   

Ficha técnica:

Zé Brasil: Voz, viola caipira, teclados, arranjos e programações de instrumentos

Músicos convidados:
Silvia Helena: Voz nas faixas 1,2,3,5,6,7,9,10 e 11
Cézar de Mercês: Voz na faixa 2
Edu Gomes: Violão na faixa 3 e guitarra nas faixas 1,2,3 e 7
Fábio Golfetti: Guitarra na faixa 2
André Cristovam: Guitarra na faixa 12
Fernando Alge: Guitarra na faixa 10
Nivaldo Campopiano: Guitarra na faixa 5
Ricardo Vignini: Cabacítara na faixa 3
Gerson Tatini: Baixo na faixa 1
Gabriel Costa: Baixo nas faixas 2, 5 e 10
Geraldo Vieira: Baixo nas faixas 6 e 12
Fabio Zaganin: Baixo na faixa 7
Claudio Erlan: Baixolão na faixa 3
Fred Barley: Bateria nas faixas 1,2 e 5
Caio Gomes: Bateria na faixa 3
Junior Muelas: Bateria na faixa 10
Alexandre Barreto: Bateria na faixa 7

CD Viola Paulistana

Gravado em vários estúdios de São Paulo: Natural Home, Audio Freaks, Cakehome, LeChat Áudio, Mosh, Orra Meu, Addictive, Wave, Hendrix, Bojo Elétrico
Edição: Zé Brasil
Mixagem e masterização nas faixas: 1,2, 3, 4, 7, 8 e 12: Renato Coppoli (in memoriam)
Mixagem e masterização nas faixas: 5,6,9, 10 e 11: Zé Brasil
Design: Alexandre Barreto
Fotos: Dean Claudio e Zé Brasil (capa)
Produção geral: Zé Brasil
Lançado em 2023

Lançamento da Natural Records BR

naturalrecords.br@gmail.com

Distribuição online pela Tratore:
https://tratore.ffm.to/violapaulistanana

Contato direto com o Zé Brasil:

Canal de YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCdwy_DYh7wveOvC1S4Qd32w

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Apokalypsis Trio na TV Brasil:
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