domingo, 22 de maio de 2022

CD/DVD: M.úsica P.ropositalmente B.izarra/Subtotal - Por Luiz Domingues

O Subtotal nasceu no início dos anos 1980, bem no meio do furacão que o movimento BR-Rock 80’s havia gerado. Porém, diferentemente da maioria das bandas surgidas nessa safra, ao se mostrarem orientadas pelas várias vertentes oriundas do movimento Punk e sobretudo da sua continuidade em torno do Pós-Punk (e tampouco pelos admiradores do Heavy-Metal e Hard-Rock oitentista), neste caso o Subtotal se colocou na cena com outro tipo de abordagem e influência.

                 A formação clássica do Subtotal nos anos 1980

Com admiração confessa pela Bossa Nova cinquentista, movimento tropicalista dos anos sessenta e pela então mais recente, Vanguarda Paulista dos anos 1980, a inspiração não foi exatamente o Rock, mas a buscar misturar a MPB mais vanguardista e sobretudo, urbana na sua constituição sonora e na construção poética de suas letras.

O Subtotal atuou até o final da década de oitenta quando encerrou atividades. No entanto, foi em 2006, muito tempo depois, que surgiu a proposta da banda voltar e nesse aspecto, veio com toda a força, a alimentar uma agenda boa desde então, e melhor ainda, a buscar o registro fonográfico para enfim perpetuar o seu legado artístico.

Dessa forma, foi em 2012 que a banda aproveitou bem a oportunidade de gravar e filmar um show realizado em um espaço famoso de São Paulo, ou seja, o palco do Sesc Belenzinho, unidade localizada no bairro homônimo da zona leste de São Paulo, para produzir um belo CD e DVD ao vivo.

Denominado como: “M.úsica P.ropositalmente B.izarra”, o disco traz um conjunto de onze canções, a maioria composições da banda e mais cinco canções adicionais, uma delas da parte da dupla formada por Lé Dantas e Cordeiro, valorosos compositores egressos dos anos setenta, duas do compositor e violonista osasquense, Eron Meira e duas de Edvaldo Santana, um outro bom artista que se notabilizou por criar uma linha de MPB bem próxima do Blues em sua carreira como compositor e intérprete.

Inclusive, o próprio Edvaldo Santana participou do espetáculo como um convidado muito especial e assim, deixou a sua ótima colaboração no CD e também no DVD que está anexado como um bônus do álbum.

O projeto gráfico do disco é de muita criatividade, a apresentar em sua capa frontal a foto de um automóvel da marca Volkswagen, o popular “fusca”, submerso, no leito do mar (ou de um rio), com a sua carcaça já dominado pela vegetação submarina, portanto a denotar o aspecto do possível naufrágio, por conseguinte a abrir uma gama de possibilidades para promover diferentes interpretações sobre o significado que a imagem possa adquirir.

Na parte interna, há uma foto bem conceitual do equipamento da banda a postos no palco para o show, sob a perspectiva do “headstock” de uma guitarra, portanto, a se revelar um belo click.

E na contracapa a exibir a foto da formação da banda que gravou esse disco e que nos dias atuais se modificou levemente, por conta do falecimento do baixista e backing vocalista original da banda, Gilberto Campos, que não está mais entre nós, lamentavelmente, desde 2015.

No encarte vem assinalado o repertório que consta no disco e na contracapa, há uma ficha técnica boa e a descrição completa sobre a formação da banda nessa ocasião.

Assista a performance de “New Funk”, abaixo:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=XG84nge1zG8

Sobre o repertório do disco, a primeira faixa, “New Funk” traz como sugere o seu título, um super balançado tema versado pela influência do bom Funk, aquele nobre derivado da Soul Music e do R’n’B e neste caso fortemente adaptado à linguagem da MPB com aquele sabor da Vanguarda Paulista de 1980, e por conta de tal característica, lembra demais o trabalho de Itamar Assumpção.

O groove do baixo, bateria e percussão é muito bom, a interpretação vocal segue aquela linha verborrágica e afiada ao estilo de Itamar, como já salientei e a guitarra solo pontua de uma maneira bastante salutar. Destaque também para a excelente dinâmica que a banda desenvolve, com contrastes muito bem colocados entre a intensidade e a amenidade como um recurso muito bem ensaiado.

A letra fala sobre o amor, mas de uma maneira nada usual, daí mais uma semelhança com a poesia alternativa recorrente entre os artistas do movimento da Vanguarda Paulista. Observe:

Faz-me desesperar/Eu nunca sei dizer/Parece ser tão fácil ter você/Mas eu me atrapalho/E fico falando coisas inúteis/Tento saber o que você sente/Tenho claro o destino de nós dois"

"Será que a minha presença te incomoda/O tanto quanto a sua a mim/E já nem sei se tenho medo/Ou se tudo o que eu sentia se acabou/As formas do seu corpo/Não atentam tanto quanto ontem/E é uma pena/Que nada entre nós chegasse a ser completo

Assista abaixo a performance de “Essa Menina”:

Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=975n9ZHasJA

Essa Menina” tem o sabor gostoso de um xote, mas este a se mostrar todo ambientado com uma intenção Pop-Rock ao modo oitentista e assim, poderia tranquilamente ser uma faixa radiofônica.

Em sua letra, há a citação explícita de um verso de uma canção dos Secos & Molhados (“Sangue Latino”), naturalmente a se constituir de uma homenagem e que encaixou bem.

E a instrumentação é toda muito boa, são ótimos músicos e isso soma demais ao trabalho, naturalmente.

Assista abaixo a performance de “Buscapé Xangô”:

Eis o Link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=yEH4uSANM4c

Buscapé Xangô” é uma canção da dupla, Lé Dantas e Cordeiro, este duo a apresentar relevantes serviços prestados à MPB desde os anos setenta.

Sobre a canção propriamente dita, ela é versada por uma identidade daquela sonoridade que misturava raízes folclóricas com a MPB e a esbarrar no Rock, ou seja, é um tipo de manifestação artística bem setentista em tese, por tal intenção e empolga não só por essa lembrança boa de uma época tão empolgante culturalmente, mas por ela em si, que leva a banda a praticar uma linha de interpretação muito boa.

É ótima a instrumentação, tanto na parte mais amena do início da canção, com ótimas intervenções no arranjo das duas guitarras, quanto na parte mais acelerada e na qual os backing vocals se destacam, além disso, também pelo ótimo final, no qual a percussão se destaca muito positivamente ao ficar isolada e empolgar a plateia.

Assista abaixo a performance de “Energia Primitiva”:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=wM5K8wZZ3eg

Energia Primitiva” tem um uma força muito grande a soar Pop-Rock, mas com raiz do reggae bem sutil. Mais uma vez a banda se apresenta muito bem em todos os sentidos. Canção do compositor Eron Meira, tem na interpretação do Subtotal, um requinte muito grande. Gostei do solo de guitarra, bem melódico e também da base do violão bem batido.

Assista abaixo a performance de “Jererê:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=L33aik2HgFA

Jererê” é também uma composição de Eron Meira, que apresenta uma bela harmonia no cômputo geral e por ter sido cantada em duo em alguns trechos e neste caso, a melodia se destaca. 

Gostei bastante da linha de baixo, muito criativa e que deu uma sustentação excelente à canção. Há um vocalize deveras interessante e enigmático, pois não fica claro se foi disparado durante a realização do show ou se algum cantor não revelado o emitiu da coxia, secretamente, visto que ninguém no palco o entoou pelo que se observa no vídeo, mas que também chama a atenção em seu decorrer. 

Assista abaixo a performance de “Nova Ironia”:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=y5wsOe7NeV0

Nova Ironia” é a sexta faixa e se trata de uma balada com boa influência da MPB, todavia, pelo viés da Vanguarda Paulista, novamente a lembrar bastante o trabalho do grupo "Rumo", ao menos na minha impressão muito pessoal, não tenho a convicção de que tenha sido essa em específico a influência da banda neste caso.

A guitarra base pontuada por efeitos, com a segunda a estabelecer delicados desenhos com certa menção bluesy, ficou muito agradável. E no mais, baixo e bateria flutuam em perfeita sintonia, enquanto a percussão também cria atmosferas bem amenas, pontuais e muito felizes em suas escolhas. É ótimo o solo de guitarra, embora bem curto.

Assista a performance de “Raios do Oriente Médio” abaixo:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=MYrqY1PRXfM

Raios do Oriente Médio” é uma canção do Edvaldo Santana e ele em pessoa foi um convidado especial para abrilhantar a performance do Subtotal.

E o tema é um Blues misturado com o Reggae, com rica melodia, letra poética muito bem construída. A banda a interpreta de uma forma muito competente. Drausio Silva pontua muito bem ao tocar o acordeon e assim enriquece a performance.

Assista a performance de “Dobradinha” abaixo:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Gt0GB_8JBV4

Dobradinha” é um tema bastante interessante pela sua condução bem executada. Gostei bastante da base de guitarra com bastante efeito de caixa Leslie, vocal com bom apoio de backing vocals e bateria com batida seca e muito bem tocada, incluso em uma parte levada na divisão “staccato”, muito interessante e também do solo bluesy com ótimo timbre da guitarra.

Assista a performance de “Menina do Poeta” abaixo:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=01PmaxTq0Lo

Menina do Poeta” também tem uma intenção Reggae em sua constituição base, porém, na melodia, há um aspecto de inovação mais vanguardista na sua essência a se mostrar como um diferencial. 

Em sua letra, o jogo de palavras chama a atenção, como neste trecho, por exemplo:

A linha ondulante/Cortando sua face/Bordando, vestindo
Sou corpo ao meu/Que fazes da vida?/Mendigas palavras?/O que diz o poeta ao p
apel?/Rouba da mente o inconsciente agente/Detalhas tudo que faz

Assista a performance de “Toda Dúvida” abaixo:

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=wz54HcQfG60

Já sobre a faixa: “Toda Dúvida”, esta música investe no Rock com aquele viés oitentista, ou seja, versado pela estética Pós-Punk que se mostrara predominante naquela década. Lembra bastante o som de bandas como Titãs, Cabine C, Smack e outras que fizeram sucesso naquela ocasião. 

Chama a atenção a intervenção do acordeon conduzido por Drausio Silva, tanto pela execução em si ao pontuar bons fraseados em duo com a guitarra, quanto na sua inclusão no arranjo da canção, por não ser algo muito habitual no cenário do Rock.  

Quem é que não quer ser Feliz” é a última canção do álbum e se trata de mais uma composição de autoria de Edvaldo Santana que a banda interpretou, e diga-se de passagem, de uma forma bem efusiva. A sua sonoridade lembra a grosso modo o som daquela vertente bem setentista do dito estilo do “Samba-Rock” praticado por artistas da pesada tais como: Jorge Bem, Trio Mocotó, Luiz Melodia e outros.

Nesses termos, a banda tem uma performance rica em nuances rítmicas com a percussão e bateria a trabalharem com muita felicidade. Edvaldo Santana a cantou e a sua interpretação vocal também é muito boa, gostei bastante.

O recurso de forçar o efeito do “fade out” natural ao vivo, caiu muito bem, pois forçou a interação da plateia, para depois a banda poder voltar ao tema, girar em sua harmonia mais uma vez e enfim decretar o seu encerramento sob alta vibração.

O álbum tem um padrão de gravação e acabamento final pós-mixagem e masterização, muito bom. Mediante timbres agradáveis, equilíbrio muito feliz nos planos de volume e inteligibilidade perfeita na parte vocal, no tocante às letras. Dessa forma, proporcionou à banda ter um produto de ótima qualidade para ofertar aos seus fãs.

Como um bônus de luxo, há na mesma embalagem a presença de um DVD com o show ao vivo, na íntegra e o padrão da filmagem também se mostra muito bom. Portanto, trata-se de algo mais do que um bônus, mas um verdadeiro presente para o fã do Subtotal ter esse DVD para assistir no conforto do seu lar.

Em suma, o álbum: “M.úsica P.ropositalmente B.izarra" apresenta uma ótima performance ao vivo da parte do Subtotal e assim, a dar uma mostra muito convincente da sua proposta artística. 

A atual formação do Subtotal. Em pé, da esquerda para a direita: Rey Bass, Douglas Silva, Drausio Silva e Jurah Di Ann. Agachados: André Piovan e marcos Soledade "Pepito". Foto: Eduardo Soledade

Com o falecimento do ótimo baixista Gilberto Campos, a banda tem nos dias atuais apenas os irmãos Silva, Drausio e Douglas da formação original dos anos 1980, e alguns companheiros que estiveram na gravação do disco de 2012, como os ótimos percussionistas Marcos Soledad “Pepito” e Jurah Di Ann (no disco, o “Pepito” tocou apenas bateria), e doravante passou a atuar com o acréscimo do não menos ótimo baixista e backing vocalista, Rey Bass e do bom baterista, André Piovan.

Mais um detalhe a ser comentado, o título desse álbum contém notadamente uma intenção ousada sob o ponto de vista da sua apresentação nominal, ao demarcar a sua estranheza ortográfica que insinua a experimentação musical como um mote, mas não chega a ser na prática assim com tamanha radicalização que funciona o som do Subtotal. Há sim, flertes com recursos não exatamente tradicionais presentes na música Pop em geral, porém, a proposta do Subtotal está mais para a formatação musical tradicional e não pela aposta no radicalismo experimental mais intenso.  

Formação do Subtotal neste disco:

Drausio Silva: Voz, violão, guitarra e acordeon

Douglas Silva; Guitarra, gaita e backing vocals

Gilberto Campos (in memoriam): Baixo e backing vocals

Jurah Di Ann: Percussão e backing vocals

Marcos Soledade “Pepito”: Bateria

Músico convidado:

Edvaldo Santana: Voz e violão nas canções: “Blues do Oriente Médio” e “Quem é que não quer ser Feliz”

M.úsica P.ropositalmente B.izarra foi gravado ao vivo no palco do Sesc Belenzinho de São Paulo-SP, em agosto de 2012.

Editado, mixado e masterizado no estúdio Big Red (www.estudiobigrec.com.br)

Técnico de gravação, mixagem e edição: Mauricio Pastori

Técnico de masterização: Bill Reinikova

Assistente de palco: Pedro Campos

Projeto gráfico e edição de vídeo: Douglas Silva (www.zpolt.com.br)

Produção do vídeo: Visual Design Produtora Audiovisual

Fotos: Alex Mustard (capa) (www.amustard.com)

Sérgio Ribeiro de Barros (contracapa)

Para conhecer melhor o trabalho do Subtotal, acesse:

Site Oficial do Subtotal:

http://www.subtotal.com.br/

Página no Facebook:

https://www.facebook.com/BandaSubtotal/

Contato direto com a banda:

contato@subtotal.com.br

YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UCnviJNyETAEW2qvXgF1eKIw/featured

Spotify:

https://open.spotify.com/album/1sB5e2sGT4DgnO4jFQZcQN?si=4hZmYQpIQJCVcneI2WLwVg&fbclid=IwAR3hDx440QMQGnYdvapMXt2c8roAbkZclaTKwIAa140CLuVQyE3_jpRt_BM&nd=1


terça-feira, 10 de maio de 2022

CD Pevê III/Paulo "Pevê" Valério - Por Luiz Domingues

Idealista por natureza, Paulo Valério, o popular “Pevê” é um artista obstinado por se manter firme em torno dos ideais que norteiam a sua formação cultural em face à sua construção de carreira, sempre pautada pela coerência de se manter firme em tais nobres propósitos.

Compositor, multi-instrumentista, cantor, letrista e ativista cultural, Pevê chegou ao seu terceiro álbum e mais uma vez a usar um signo Rocker tradicional, ele o batizou novamente com o seu nome e a conter a marcação da numeração a registrar ser o seu terceiro disco, portanto a usar o número três em algarismo romano, portanto, um luxo a se pensar sob tal prisma de ordem “vintage”.

Antes de avançar sobre esta resenha em específico, deixo o lembrete ao leitor sobre as respectivas resenhas que eu preparei para analisar os dois álbuns anteriores que ele lançou no mercado, para que o leitor leia e ou releia.

Resenha sobre o CD Pevê:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2018/12/cd-peve-paulo-peve-valerio-por-luiz.html

Resenha sobre o CD Pevê II:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2021/06/cd-peve-iipaulo-peve-valerio-por-luiz.html

Se no primeiro disco, houve uma mescla de sonoridades e tendências, obviamente tudo amalgamado pelas correntes mais nobres do Rock, Black Music, MPB e Folk-Rock das décadas de sessenta e setenta, a balança pendeu mais para o Folk-Rock no segundo trabalho. 

Pois em relação ao terceiro disco, este “Pevê III” traz a eletricidade à flor da pele. É, portanto, um disco que mergulhou no Rock, baseado nas vertentes do Blues-Rock e Hard-Rock, sobretudo e mostra uma contundência tremenda.

A tocar com a formação de um Power-Trio muito afiado, Pevê nos apresentou um álbum inspirado, com alta densidade Rocker, brilhantismo nas composições, arranjos e forte poderio nos riffs como uma base sólida e tal muralha construída por altos decibéis de energia tiveram reforço de pontuais intervenções de teclados e instrumentos de apoio para garantir o colorido.

Em termos de capa, contracapa e encarte, o artista optou por seguir o padrão dos álbuns anteriores, ou seja, a manter uma riqueza visual muito grande e sobretudo no apuro do texto, ao oferecer para o consumidor, todas as letras, uma ficha técnica bem completa, incluso com a boa prática observada nos discos anteriores, a conter comentários do próprio artista sobre cada faixa e assim delinear ainda com maior profundidade o que ele teve em mente a cada criação que estabeleceu.

E um luxo a mais, através da presença do grande jornalista, escritor e expert em contracultura sessentista, Joel Macedo, como um colaborador no texto de apresentação, o que é um fator que engrandece ainda mais a obra. 

Todavia, há um diferencial notório em relação aos dois primeiros discos em termos de projeto gráfico da capa, no tocante ao fato de que se o formato foi mantido, principalmente para o encarte, a identidade visual mudou, ao sair da ilustração e uso de cores que aludem à pintura e adotar, por conseguinte, a fotografia nua e crua como imagem a ser apresentada.

Diante desse fato, a capa frontal mostra o Pevê e sua guitarra encostado em muro com um enorme grafite a apresentar a imagem de um tigre e com apoio da inscrição: “Ride The Tiger” (monte o tigre, na tradução livre), que acabou por se tornar uma frase de efeito a reforçar o espírito da obra, mas que também pode ser confundido como o nome do disco por algumas pessoas, fica a ressalva sobre uma possível dubiedade nesse sentido. 

Na contracapa, há a lista de músicas contidas no disco e o restante do grafite, ou seja, mediante a abertura da capa como à moda dos antigos LP’s dotados de capa dupla, tal recurso sugere a unificação da foto, para dar mais sentido visual à sua concepção.

Nas partes internas, há fotos do artista e de seus músicos convidados, que também compõe o pôster contido no encarte adicional, este em preto e branco, no entanto.

Em suma, a apresentação gráfica do álbum é muito rica e valoriza certamente o conteúdo musical da obra.

Sobre as músicas, a minha impressão sobre cada faixa vem a seguir e eu aproveito para convidar o leitor a ouvir o CD Pevê III na íntegra, enquanto examina esta parte da resenha:

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=v7hQxwlsVe0

Banda de Rock” abre o disco, mediante um riff muito bom, a se mostrar como um exemplo de puro Blues-Rock. São ótimas as intervenções de slide-guitar nos contrasolos pontuais. O peso imposto pelo baixo & bateria, impressiona.

A sobreposição de muitas guitarras no decorrer da canção é bem arranjada e o recurso do bicorde usado pelo baixo em alguns trechos, deu um peso incrível ao tema.

Na letra, Pevê fala de forma muito direta sobre o papel de uma banda de Rock clássica, sem meias palavras, de forma direta, sem rodeios metafóricos. É uma banda de Rock literalmente a dar o seu recado com força e qualquer elucubração a mais seria redundante. Perfeito.

Nuvem Negra” investe no Rock’n’Roll bem setentista e lembra bastante o trabalho de grandes bandas nacionais dessa década. É muito boa a atuação da bateria, com viradas criativas à moda antiga, bem naquela predisposição de um tempo em que os produtores deixavam o baterista livre para criar linhas de ótima qualidade, sem preocupações comerciais para atrapalhar a criatividade do músico.

Estrada Sem Fim” é um Blues-Rock bem clássico, com excelente riff e espaço para todos os instrumentistas brilharem e neste caso, a linha de baixo é muito boa, aliás, com direito aos voos mais ousados, e além do mais, é muito valorizada a questão do áudio, por conta de um belíssimo timbre a revelar bom gosto na escolha e certamente a denotar influências de altíssimo padrão da parte do músico.

Há variantes muito bonitas na harmonia da canção, ao fugir um pouco do padrão habitual do Blues e isso deu um colorido muito grande à canção. Nesse sentido, lembrou-me o trabalho do guitarrista britânico, Robin Trower que igualmente se pautou pelo Blues-Rock em sua carreira solo, mas que também costumava inserir variantes harmônicas em seu som. 

Pevê defende bem a parte vocal e o seu arranjo de guitarras é igualmente bem feito.

Floydiando” entrega no título a intenção primordial do seu autor. Trata-se de um tema instrumental com bastante inserção acústica de apoio, a mostrar aquele lado “Folk” que é uma marca registrada do artista.

No entanto, como eu disse no início, é “viajante” no sentido de seguir a estética do Pink Floyd quando da interpretação do Blues e do Folk-Rock, ou seja, com aquela marca do Space-Rock implícito para lhe conferir um aspecto de contemplação etérea e o Pevê usou do mesmo recurso, certamente como uma forma de homenagem ao fantástico quarteto britânico.

Por Quê?” é uma belíssima balada com teor Blues e que me fez recordar do trabalho do “Free”, uma banda que soube como nenhuma outra fazer das canções com andamentos lentos, um estilo a parte.

Neste caso, tudo soa bem. O uso de caixa Leslie engrandeceu sobremaneira o trabalho da guitarra, assim como a inserção de órgão Hammond a ofertar a grandiosidade que ela mereceu.

Mais uma vez o baixo e a bateria brilharam bastante e o solo de guitarra é bastante melodioso, para deixar a marca da emoção aflorar.

A música cresce muito em sua parte final e dessa maneira, o recurso do “fade out” para finalizá-la, foi sábio, portanto providencial.

Medo” começa lenta a sugerir se tratar de uma balada, porém há a mudança para o Rock acelerado e a música empolga. Há uma volta ao andamento lento e posterior retorno do Rock sob esquema de alternância.

É um tema bastante sofisticado, com ótima atuação de todos os instrumentistas e de certa forma lembrou-me o trabalho de Raul Seixas, principalmente na abordagem bem inteligente da letra, mesmo que o próprio Pevê tenha assinalado enfaticamente que a sua inspiração tenha sido o trabalho dos Mutantes e em específico de Arnaldo Baptista e claro que faz todo o sentido igualmente. Veja um trecho:

Eu Tenho Medo/Medo de Ter Medo das Coisas, que me causam medo”...

O apoio do órgão Hammond é muito feliz e o solo final de guitarra, bastante empolgante.

Para fechar o disco, temos a sétima faixa, que se chama: “Sonhar”. A música se inicia com bastante parcimônia, ao demonstrar os instrumentos a entrarem aos poucos. A ênfase inicial se dá na linha melódica. Os timbres dos instrumentos se sobressaem nessa ambientação de calmaria.

Depois o peso entra em sua estrutura mediante uma condução que realmente lembra os áureos tempos do mestre Ken Hensley a conduzir teclados e slide guitar no Uriah Heep, como Pevê descreveu no encarte. Melhor inspiração não poderia ter tido.

O tema avança, fica progressivo por algumas nuances pontuais do arranjo e se encerra em grande estilo. É um tema ousado na sua concepção ao misturar diversos conceitos e foi brilhantemente defendido por Pevê e seus dois músicos convidados, os excelentes, Adriano “Baga” Rotini (baixo) e LeandroPirata” (bateria). 

Em suma, o CD Pevê III do compositor, cantor, multi-instrumentista e letrista, Paulo “Pevê” Valério reforça a sua contribuição ao cenário artístico do Rock Brasileiro a demonstrar, desta feita, o seu lado mais Rock e reforça-se tal conceito sob muito brilhantismo em todos os quesitos musicais e também da produção em si, a se revelar muito esmerada.

É claro que eu recomendo este álbum, assim como os anteriores de sua discografia, com muita ênfase.

Assista o vídeoclip oficial da música “Banda de Rock”.

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=xqeW0RH8rDU

Paulo “Pevê” Valério: Voz, guitarras de 6 e 12 cordas, violões, craviola de 6 cordas, bandolim, teclados, sintetizadores, percussão e baixo (em “Floydiando” e “Nuvem Negra”)

Músicos convidados:

Adriano “Baga” Rotini: Baixo

Leandro “Pirata”: Bateria

Gravado nos estúdios Green Box (2020 e 2021) e Jardim Elétriko (janeiro de 2021)

Técnicos de áudio: Marcelo Stock (Green Box) e Luiz Maia (Jardim Elétriko)

Mixagem e masterização: Pevê e Nycollas Medeiros (Studio de Poche – Paris/França), entre janeiro e agosto de 2021

Projeto Gráfico: Luiz “Pinky” Maia e Pevê

Foto da capa: Cláudia Laureant

Fotos: Cláudia Laurent e Mila Kichalowski

Texto de apresentação: Joel Macedo

Aproveito para agradecer ao Pevê por ter incluído o meu nome, Luiz Domingues, na lista de agradecimentos inscrita no encarte do disco, o que certamente me alegrou e honrou demais.

Lançado em 2021

Para conhecer melhor o trabalho do Pevê, acesse:

YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UC07b44iKkufasjth_YXrNcg

Facebook:

https://www.facebook.com/PeveGuitarra

Contato direto com o artista:

paulovaleriopv1@gmail.com

Site oficial:

http://www.peve.com.br/

Instagram:

https://www.instagram.com/peveguitarra/