domingo, 20 de outubro de 2019

CD Power Blues / Power Blues - Por Luiz Domingues

Quando um grupo de músicos tarimbados anuncia que formou uma banda de Rock, a expectativa gerada previamente já garante uma simpatia pelo trabalho, mesmo antes do primeiro acorde que essa turma boa vai emitir através de seus instrumentos, pois é óbvio que desse novo grupo, somente coisas boas advirão. 

Formada por Daniel Gerber (guitarra e voz), Paula Mota (voz e percussão), Daniel “Kid” Ribeiro (baixo e voz) e Franklin Paolillo (bateria e percussão), essa banda nasceu para brilhar e o seu debut fonográfico prova isso, plenamente.

O extrato da banda é o Rock clássico e o Blues como fontes primordiais. Dentro desse espectro, há uma mobilidade interessante entre a aposta natural em torno das escolhas pela sonoridade vintage e a modernidade. Pois ao avançar nessa predisposição, a banda acerta em cheio ao manter ao estética inteiramente inspirada no melhor do Rock pregresso, em termos estéticos e simultaneamente, deter um áudio moderno, com o melhor da tecnologia da atualidade. 

Acrescento mais um dado que julgo ser oportuno: cerca de dois anos atrás, uma discussão repercutiu na mídia internacional quando um jornalista musical levantou uma questão interessante sobre o panorama do Rock naquela atualidade e que se pode afirmar, ainda vigora. Em sua tese, a desconexão com a raiz do Blues prejudicara o Rock, observada em tendências que avançam desde a década de oitenta. Não cabe aqui avançar sobre tal discussão, mas serve como adendo ao observar que o Power Blues propõe exatamente o contrário, isto é, ao mostrar o seu trabalho inteiramente baseado em um Blues-Rock vigoroso, convicto em seus ideais e orgulhoso de suas raízes.

Na prática, em seu álbum de estreia, o Power Blues mostra uma coleção de canções fortes, mediante a observação de melodias muito boas. Ao ir além, a construção primordial das composições é orientada por uma autêntica usina de riffs muito fortes e os arranjos mostram-se excelentes, ao privilegiar a construção de convenções intrincadas em alguns momentos e que enriquecem sobremaneira as músicas. E a parte cantada mostra-se forte, com Paula Mota, a brilhar mediante o uso da sua emissão vocal que é muito boa, naturalmente.

No quesito das letras, a aposta da banda é pela crônica do cotidiano, no entanto, há espaço para cravar opinião ante as mazelas observadas no meio social, no entanto sem esbarrar em panfletagem política, portanto, uma escolha acertada ao meu ver, no sentido em que todo artista tem que fazer valer a sua opinião forte (e convenhamos, da parte de quem enxerga na frente, há por tornar-se um farol), entretanto, nem todo artista percebe tal sutileza e sobretudo a responsabilidade que possui em ser um influenciador em potencial, ao abusar da sua condição para tomar partido acintosamente sobre uma posição “A ou B”, quando o ideal seria manter-se imparcial para enxergar o todo da questão. Pois não é o caso do Power Blues, que porta-se com inteligência nesse sentido.

Sobre a capa do álbum, a ideia é muito incisiva ao dar ênfase a uma imagem de um amplificador em "close-up". A explosão energética total é sugerida, pois tem tudo a ver com o poder do Blues, elevado em tal grau de eletricidade, portanto, eis aqui um exemplo perfeito a destacar-se em termos de sincronia entre a música e a imagem escolhida para ilustrar a capa de um álbum, principalmente ao levar-se em conta o fato de constituir-se a sua estreia fonográfica. Nesses termos, a imagem que passa é perfeita ao mostrar a artilharia pesada que municia o poder do Blues. Sobre as canções em si, cabe destacar:


“A Vida me Espera”

O Rock’n‘ Roll apresenta-se sem nenhuma parcimônia, com uma base fortemente influenciada pela influência setentista. Tem o vigor envolvente a mostrar força, no entanto, ao mesmo tempo é dançante ao extremo. 

Destaca-se a voz aguda de Paula Mota, com timbre muito bonito, afinação e estilo de interpretação cativante. A letra contém bom humor, ao citar diversos fatores a respeito da condição da mulher na sociedade e a ironizar o machismo, por conseguinte. Linha de baixo e bateria espetacular e não apenas durante a exceção de um solo excelente, mas também a realçar a base, é preciso salientar que muitos contra-solos executados por Daniel Gerber, mostram-se criativos, ao interagir diretamente com o sentido da letra, principalmente no bom uso do recurso do wah-wah.

“Sexta-Feira”

Trata-se de um belo Blues-Rock, com a observação da linha harmônica tradicional do gênero, mas ao agregar elementos ricos em termos de convenções muito precisas. Impressiona o áudio a realçar os timbres verdadeiramente espetaculares de todos os instrumentos. Sobre a interpretação e execução da parte da banda, não há muito a acrescentar, visto que mostra-se perfeita.



“Liberdade Tem um Preço”

Nesta faixa a temperatura esquenta ainda mais. A transitar entre o Acid-Rock sessentista e o Hard-Rock Setentista, tal música mostra uma energia impressionante. Além disso, é notável a qualidade da melodia, o que ajuda a dar eloquência à proposta expressa em sua letra, a citar filosoficamente, mas em alto e bom som, um posicionamento firme em termos libertários. Paula canta com ênfase:

“Ninguém bate mais forte do que a vida... Liberdade tem um preço”...

Gostei muito da quebrada rítmica imposta pela bateria e o baixo, a inverter os tempos, ao estilo do Led Zeppelin em alguns trechos, e assim revelar criatividade e brilho. É impressionante o timbre do baixo, a mostrar o estalo bem proeminente ao final das notas, e assim a sugerir o som de John Entwistle.

Assista abaixo, o clip da canção: “Mentes Criminosas”

Eis o Link para assistir no You Tube:


“Mentes Crimonosas”

Carro chefe do álbum, pelo fato em ter motivado a produção do primeiro vídeoclip da banda, essa canção é sem dúvida a que apresenta uma roupagem mais moderna, no sentido do Hard-Rock. Mesmo a conter essa roupagem mais atual, em seu momento decisivo como ápice, ao destacar-se o seu riff primordial, eis que um fraseado bastante inspirado na surf music cinquenta/sessentista comanda a atenção. O baixo tocado por Daniel Kid, brilha mais uma vez ao estabelecer um solo estiloso, com farto uso de efeitos.

“Berço da Terra”

Eis que um momento para acalmar o ânimo, sobrevém e mediante alto estilo, eu devo observar. “Berço da Terra” traz em seu início a condução de uma balada doce, sustentada por um trabalho de guitarra muito bom e devidamente sedimentado pela presença do imponente órgão Hammond, sempre agradável em sua sonoridade tão característica. 

No entanto, o ritmo acelera ao propor uma mudança na fórmula de compasso para o 2/4 e que sugere ao dobrar-se naturalmente, o 6/8. O solo de guitarra bem melódico, é muito bonito. A banda investe em uma bela inserção ao Prog-Rock, algo aparentemente surpreendente, visto não ser a proposta mais clara da banda e por isso mesmo, é muito agradável ouvi-la em tal viagem instrumental auspiciosa, aparentemente distante de sua zona de conforto bluesy.

“Nunca Diga Nunca”

Eis o tema mais balançado do disco, ao mostrar-se muito inspirado no estilo de muitas bandas maravilhosas que transitaram com desenvoltura entre os anos sessenta e setenta. A melodia é muito boa, com uma interpretação excelente da parte de Paula Mota, que remeteu-me à lembrança da grande e saudosa, Silvinha. Mediante uma linha de baixo e bateria, excelente, destaco igualmente a percussão que é sutil, mas contribuiu para garantir mais molho à composição. 


“Louca de Pedra”

Outro tema bastante dançante, traz o Rock’n‘ Roll em perfeita comunhão como o melhor do R’n’B, ou seja, uma combinação explosiva que torna impossível ao ouvinte, ouvir sem sentir a vontade irresistível de dançar sem parar. É providencial a presença do piano ao trazer o elemento, “boggie woggie”. Paula Mota arrebenta ao lembrar bastante a voz de Maggie Bell e a banda soa como o Stone The Crown em seus melhores dias. 

“Chega de Chorar”

Mostra-se muito boa a ideia dos acordes soltos feitas pela guitarra ao início, gostei muito. Rock vigoroso, tem em sua letra uma ode ao alto astral, por destacar o otimismo como melhor meio para que ninguém deixe-se contaminar pela choradeira observada em uma sociedade doente, onde as pessoas vivem tristes em seu cotidiano, talvez equivocadas em colocar todas as suas expectativas em torno de metas que foram impostas pela formação de opinião alheia, ou seja, valores que muito possivelmente nem fossem exatamente os seus por natureza, se não houvessem sido sugestionadas por isso. Gostei bastante do intermezzo desdobrado que realçou um belo solo melódico (mais uma vez), executado por Daniel Gerber.

“A Coisa Tá Dura”

O início com o baixo isolado, mais uma vez realça um belíssimo timbre extraído por Daniel “Kid“ Ribeiro. Tema acelerado, mostra um Rock mais reto e direto, a conter uma letra a expressar a insatisfação do cidadão comum em meio aos malfeitos perpetrados  pelos poderosos & inescrupulosos.

Enfim, as canções são ótimas, a execução e interpretação da parte de seus instrumentistas e cantora, excelentes, os arranjos são muito bem feitos, o áudio é exemplar e nesse último quesito, certamente há o mérito em conjunto com o técnicos envolvidos nesta produção e neste caso, a qualidade do estúdio em si, do qual sou suspeito para elogiar, pois sou conhecedor de sua infraestrutura, construída com o rigor técnico em torno do padrão internacional da parte de seus proprietários, os irmãos Schevano, meus amigos de longa data.

Bem, merece uma menção muito honrosa, o senhor, Franklin Paolillo, que gravou este álbum e por força das circunstâncias, afastou-se momentaneamente da banda por uma questão de saúde, e tem sido substituído nos shows pelo grande, Roby Pontes, que também é um baterista dotado de uma técnica impressionante. 

No caso de Franklin, a sua monstruosidade como baterista é pública e notória, a dispensar uma maior explicação. A sua atuação neste álbum é espetacular, na exata medida em que espera-se da atuação de um gênio como ele o é, portanto, expresso aqui os meus mais sinceros votos para que a sua convalescença seja a mais breve possível e que em muito breve ele possa retomar o seu posto na banda.

Gravado no Estúdio Orra Meu em São Paulo

Técnicos de Som (captura): Gustavo Barcellos e André Miskalo

Técnicos de mixagem e masterização: Gustavo Barcellos e Daniel Gerber

Capa (criação e lay-out): Rogério Sodré, Daniel Gerber e Luis “Caverna” Correa

Produção André Miskalo, Daniel Gerber e Daniel “Kid” Ribeiro

A formação do Power Blues no álbum:

Daniel Gerber: Guitarra e Voz

Paula Mota: Voz e Percussão

Daniel “Kid” Ribeiro: Baixo e Voz

Franklin Paolillo: Bateria e Voz

Músico Convidado:

Marcello Schevano: Teclados

Para conhecer melhor o trabalho do Power Blues, acesse:

Página da banda no Facebook:


Canal do You Tube da banda:


Contato direto com a banda:

O álbum inicial do Power Blues, pode ser escutado em diversas plataformas digitais.

Agradeço o apoio da assessora de imprensa, Briba Castro, que gentilmente providenciou-me material de divulgação da banda. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Os Kurandeiros - 20/10/2019 - Domingo / 18 Hs. - Feira de Artes e Cultura da Lapa - Vila Romana - São Paulo / SP

Os Kurandeiros 

20 de outubro de 2019  -  Domingo  -  18 Horas

Feira de Artes e Cultura da Lapa

Praça Cornélia
Vila Romana
Estação Barra Funda do Metrô
São Paulo - SP

Entrada Gratuita

Outros artistas a iniciar desde as dez da manhã

Os Kurandeiros :
Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Nelson Ferraresso : Teclados
Phill Rendeiro : Guitarra e Voz
Luiz Domingues : Baixo

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Veio a Ordem do Celular: Odeie quem Falar em Amar - Por Luiz Domingues


Tempo confuso esse em que atravessamos, final da década de dez do século XXI, quando a semiótica é desafiada frontalmente. Conceitos são subvertidos a conferir um novo e inusitado significado & significância para todos os conceitos e a justificar teorias da conspiração, aliás, as mais estapafúrdias a servir a ideologia A, B ou C, como se os avanços da humanidade até então, de nada valessem e agora a usurpação pura e simples fosse o lema dos formadores de opinião a manobrar, no pior sentido bovino do termo, os destinos de milhares, quiçá milhões de seres humanos.


Pois eis que chegamos ao limiar do histrionismo máximo em favor do ego. Nunca o egocentrismo foi tão exacerbado, ou a minha impressão é ingenuamente romântica ao ainda acreditar que possa haver solidariedade entre os homens? E pior, muito pior que isso, verifica-se neste mundo atual de 2019, a completa deturpação do conceito em si, ou seja, se já amargamos a falta de solidariedade, o que dizer então quando a própria palavra: “solidariedade” é demonizada ao ponto de ser atribuída e/ou atrelada a conspirações malévolas, que supostamente visam o mal da humanidade, como se servisse aos inimigos que querem dominar e massacrar a raça humana? 

Mas alto lá, quem é que deseja dominar, exatamente? Seria o lado “A” que demoniza o lado “B”, ou justamente o contrário? Não parece uma estratégia que repete-se ao longo da história? 

Sabotagens e acusações mútuas, permeadas por mentiras e nestes tempos de intensa massificação de mensagens via internet e vide a hipnose coletiva que observa-se pelas ruas, em torno do uso abusivo dos Smartphones, eis então o campo fértil para tal ferramenta corrosiva ser usada pelos formadores de opinião. E que não fiquem chateados os publicitários comigo, mas se a ideia foi criar técnicas e teorias para vender produtos, a justificar o progresso em torno da roda da fortuna que sustenta a sociedade de consumo e por conseguinte, o capitalismo, o fato foi que tais metodologias de massificação, que são muito sofisticadas e que avançam mais ao longo dos tempos, também passou a ser empregada por outros fins e assim, ao cair em poder de pessoas obcecadas pelo poder e/ou a usar a desculpa da manutenção do status quo dessa engrenagem que acham tão perfeita e fascinante, o sentido da solidariedade tornou-se por conseguinte, algo desprezível, um conceito abjeto como a configurar um preceito religioso atrasado, a lembrar um resquício da Idade Média ou até da antiguidade, ou como um sonho tresloucado de alguns quixotescos hippies dos anos sessenta, que sonharam e a palavra é essa mesma, ‘sonho”, a denotar que não passara de uma mera divulgação utópica, imaginar que um dia a humanidade seria regida pela total solidariedade fraternal.
Ah, a formação de opinião... a quem interessa formatar um conceito, ou destruir um deles, considerado antagônico? 

Pois é, a deturpação de conceitos como ferramenta eficaz para obter-se os resultados almejados e tratar por destruir os antagonismos. Aliás, nos tempos atuais, destruir opositores tornou-se mais importante do que convencer as pessoas que as suas metas são mais benéficas para a humanidade. 

“Destruir”, que palavra mais terrível, mas cada vez mais reestruturada para ganhar uma outra conotação e lá vão os bovinos a compartilhar a nova ideia passada pelos formadores de opinião, a dar significado positivo para ela. Ganha admiradores, compartilhamento, mais admiradores, com alguns a inflamar-se e gesticular com regozijo ao gritá-la nas praças públicas. 

Destruir, odiar, eliminar quem não pensa igual. Alimentar explicações estapafúrdias a justiçar teorias da conspiração em curso, no sentido de quem acredita em solidariedade é o inimigo que visa destruir a civilização. 

Na contrapartida: ajudar, nutrir compaixão, compartilhar, não alimentar o ódio, passou a ser execrado e assim, as pessoas obedecem fielmente os comandos de seus smartphones, para avisar os seus familiares, amigos e vizinhos sobre o perigo que representa essa gente que fala sobre “amor”, pois eles sim, são conspiradores que desejam o mal da humanidade, não é mesmo?


Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2019.