sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Filme: John and Yoko: A Love Story - Por Luiz Domingues

Este filme, como sugere o seu título, foca na relação de John Lennon (interpretado por Mark McGann), com a artista plástica, Yoko Ono (interpretada por Kim Myiori), no entanto, por força das circunstâncias a envolver este famoso casal, fica impossível observar apenas a questão do amor entre os dois como pessoas comuns, simplesmente, sem mencionar a música; as artes plásticas e o ativismo sociopolítico em que ambos militaram com força.
Exatamente por tais adendos inevitáveis e que naturalmente revelam-se sensacionais, foi que este telemovie, que deveria ser uma produção simples a contar uma história de amor comum, ganhou uma dimensão muito maior e surpreende em seu resultado final.
 
O filme inicia-se em agosto de 1966, quando os Beatles estavam a fazer os últimos shows de sua derradeira turnê, nos Estados Unidos e John Lennon cometera o deslize de proferir uma frase de efeito que causou uma polêmica tremenda. Ele dissera em uma entrevista que os Beatles estavam mais populares que Jesus Cristo naquele instante, no entanto, alguns jornalistas distorceram a fala, ao extraí-la de um contexto e dar a entender para a opinião pública, que ele afirmara que considerava a banda, melhor do que Jesus Cristo, ou seja, algo completamente diferente. 
 
Entretanto, justamente no sul dos Estados Unidos uma região formada por estados ultraconservadores, isso caiu como uma bomba e daí, uma reação truculenta, orquestrada por militantes de organizações extremistas, organizou várias ações de repulsa aos Beatles, entre elas, a queima de discos e material em geral sobre a banda, em enormes fogueiras públicas. O grupo não se intimidou e manteve a continuidade da turnê, mas em alguns shows, até bombas de pequeno calibre (mas a conter perigo), foram arremessadas ao palco.
Bem, concomitantemente, mostra-se Yoko Ono a protagonizar a sua famosa performance, “Cut Piece”, em que sentada tranquilamente em uma cadeira, convidava pessoas da plateia para mediante uma tesoura, cortar pequenos pedaços de sua roupa, em silêncio, até que ela ficasse quase que inteiramente nua. Tal performance chamara a atenção do jornalismo cultural mais atento às manifestações da arte avantgarde, todavia, perto da fama de Lennon, Yoko não possuía nem uma parte infinitesimal.
 
Seguem-se cenas dos Beatles em sua rotina na Inglaterra, quando John pergunta ao empresário, Brian Epstein (interpretado por Richard Morant), o que ele achava da guerra do Vietnã e Brian deixa claro que não quer que a banda mistura política com a música e fala isso ainda amparado pela enorme confusão pela qual ele havia esforçado-se recentemente em conter, para que a banda não fosse mais prejudicada do que o fora nos Estados Unidos e para tanto, tenha obrigado Lennon a comunicar um pedido de desculpas formal, através da imprensa. 
 
Os componentes dos Beatles propõe férias, e Brian não gosta inicialmente da ideia, mas pondera que eles estão há anos a emendar turnês e gravações de discos, sem descanso, e por isso, cede aos anseios dos rapazes. Lennon vai à uma exposição da artista plástica, Yoko Ono, em novembro de 1966, em Londres. Ao contrário de um outro filme biográfico sobre John Lennon, (“Naked Lennon”), nesta obra, tal cena é mais esmiuçada. Então Lennon encanta-se com a famosa instalação interativa ao subir a famosa escada de pintor, para apanhar a lupa ali pendurada, e ler no teto, uma inscrição minúscula a mostrar a palavra: “Yes”, e a sua reação é achar positiva a proposta da sua autora. No entanto, a exposição ainda não estava aberta e isso ocorreria no dia seguinte, apenas, portanto, a artista que o não conhece pela sua fama evidente na ocasião, o repreende. Eles travam um diálogo ríspido com Lennon a usar do seu famoso sarcasmo e em princípio ela o acha arrogante e presunçoso.
Corte e agora o filme já avançou para 1967. Em meio aos ensaios para a gravação do LP Sgtº Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Lennon aparece com um livro em mãos, a ler poemas escritos por Yoko Ono. Brian Epstein pressiona a banda para que voltem a fazer turnês. Lennon assiste na TV a exibição de um curta metragem de Yoko Ono que propõe mostrar as nádegas de várias pessoas a esmo e ele acha isso criativo e divertido.
 
Yoko liga para John e o convida a encontrar-se com ela. A desculpa é que um amigo de Nova York, ninguém menos que John Cage, um grande mestre da música experimental, estará presente (Yoko de fato fora membro do movimento estético liderado por Cage, “Fluxus”, em 1964). Está claro que um interessou-se pelo outro. São bonitas as cenas dos Beatles a ensaiar a música: “When I’m 64” no estúdio Abbey Road, mas claro, tudo é mostrado muito rápido, apenas para pontuar a ideia dos Beatles a trabalhar, como rotina na vida de Lennon. 
 
Yoko começa a encontrar-se com Lennon e em um desses encontros, conhece o roadie dos Beatles, Mal Evans, que pensa subliminarmente, tratar-se de mais uma amante a esmo de Lennon. Nesse ínterim, o empresário, Brian Epstein morre e os Beatles ficam chocados com o ocorrido. Cenas da cerimônia fúnebre judaica são mostradas.
John visita Yoko em seu apartamento londrino e um detalhe é muito interessante. Ela mostra-lhe um portfólio com muitas críticas negativas ao seu trabalho e ele surpreende-se: -“você guarda as críticas negativas, também?” Ora, Lennon estava a absorver muita informação nova e isso instigara-o e certamente que realçou a sua atração por Yoko.
 
Em fevereiro de 1968, John convida Yoko para ir à Índia, mas ela alega compromissos a ser cumpridos na Europa e não vai. No entanto, o romance entre os dois mostra-se irreversível e daí, decidem assumir a relação. No entanto, só existe um problema, na verdade, dois: ambos são casados com outras pessoas. Lennon precisa comunicar a sua decisão para Cynthia Lennon (interpretada por Rachel Laurence), e ajeitar assim a vida dela e do filho do casal, Julian Lennon. Yoko por sua vez, tem uma situação mais difícil, pois estava casada com o produtor de cinema norte-americano, Tony Cox (interpretado por Vincent Marzello), mas este não abriria mão da guarda da filha do casal, a pequena, Kyoko Cox, o que angustiava Yoko.
Cenas a mostrar a inserção de Yoko nos ensaios e as gravações dos Beatles, mostram Ringo Starr (interpretado por Phillp Walsh), mais receptivo com a nova namorada do seu amigo. Paul McCartney (interpretado por Kenneth Price), comporta-se distante, mas com um semblante a denotar uma velada preocupação e George Harrison (interpretado por Peter Capaldi), é retratado como um antipatizante assumido da presença da japonesa nos bastidores da banda, o que sucinta a dúvida, foi uma distorção da história, apenas para estabelecer um contraponto na dramaturgia? Ao que consta na história, Harrison esteve insatisfeito nos últimos tempos dos Beatles, por outra questão e não exatamente pela presença acintosa de Yoko nos ensaios.
Daí em diante, se mostram as muitas ações solitárias na intimidade do casal, a produzir toda a sorte de ruídos bizarros e a gravá-los. Yoko influenciara Lennon em torno da arte experimental e ele, encantado com tal possibilidade livre e nada Pop, empolgou-se. Dessas gravações completamente loucas que fizeram a berrar e produzir ruídos estranhos, gravaram um disco chamado: “Two Virgins” e a famosa sessão de fotos ou autofotos que realizaram, inteiramente nus, é mostrada no filme. Com tal foto do nu frontal do casal na capa desse disco experimental, chocou-se a sociedade de uma maneira retumbante na época e duplamente, por sinal, pela capa aviltante e pelo conteúdo sonoro nada musical.
 
Ao habitar um apartamento emprestado por Ringo Starr, o casal Lennon & Yoko, é surpreendido por uma batida policial perpetrada pela Scotland Yard. É encontrada uma pequena porção de maconha, não o suficiente para prendê-los, mas esse flagrante haveria por prejudicá-los em demasia, nos anos posteriores, em solo norte-americano.
Mais um salto temporal e agora em 1969, as filmagens do documentário, “Let It Be” são realistas ao mostrar a banda em um momento péssimo, com brigas, desânimo e música muito boa, apesar de tudo. Eles brigam também por conta da empresa da banda, a “Apple” estar muito mal administrada e assim, Paul sugere a contratação de seu futuro sogro, Lee Eastman, mas Lennon insiste em Allen Klein para assumir os negócios da banda.
 
Uma performance de Yoko, com a participação de Lennon em um auditório, gera vaias na plateia e é massacrada pela crítica. Foi difícil para o fã regular de Lennon assistir Yoko a gritar enlouquecidamente, enquanto Lennon apenas produzia microfonias ensurdecedoras com a sua guitarra, sem tocar uma única nota musical.
 
Lennon conduz Yoko para conhecer a sua tia Mimi. A senhora que criara Lennon desde pequeno, não destrata a japonesa, mas demonstra secretamente à Lennon, que não aprovara a sua nova namorada e preferia que ele se mantivesse casado com Cynthia e na companhia de seu filho pequeno, Julian.
 
Vem o casamento em Gibraltar e a famosa ação sociopolítica do evento conhecido como como “Bed-In”. É para arrepiar ver Lennon cercado de amigos fraternos e a cantar muito improvisadamente, a canção: “Give Peace a Chance”, um libelo à paz fraternal. Ali, mediante um violão, vozes desafinadas e uma percussão improvisada, aquela canção soa tosca, quase como um mantra tribal e no entanto, mostra uma força extraordinária, que emociona.
 
Uma passagem obscura da vida do casal é retratada. O dia em que Lennon e Yoko foram passear em uma viagem como uma família comum, a reunir os seus filhos de ouros casamentos, Julian e Kyoko. Tony Cox estava a ceder lentamente em sua determinação para ficar com a guarda de Kyoko e permitira esse passeio como um gesto de reaproximação, no entanto, por azar, um pequeno acidente de carro fez com que todos sofressem escoriações leves e por conta disso, o sonho de Yoko em continuar a criar Kyoko, esvaiu-se naquele instante pelo menos.
Os Beatles estão em estado terminal. Paul propusera, meses antes, que a banda voltasse a tocar, como uma forma de retomar a energia primordial que havia perdido. Seria uma série de shows pela Inglaterra a viajar com um equipamento mínimo, em um furgão, como se fosse de novo uma banda pequena, na estrada. Todos os demais rejeitam a ideia, ao alegar que a proporção dos Beatles não comportaria mais esse tipo de ação. Paul, de fato, realizou esse sonho ao fundar o Wings nos anos setenta e pelo menos nos primeiros tempos dessa banda nova, exercitou essa loucura de tocar em pequenos shows mediante um equipamento modesto, em pátios de universidades e pequenas casas de shows.
 Yoko está grávida e a clássica passagem sobre Lennon ter gravado a batida do coração do filho, no hospital, é mostrada e também a tristeza do casal ao enfrentar a morte prematura do bebê. Dessa gravação, saiu mais um LP experimental, “Life With the Lions”, com a famosa foto de Yoko no leito hospitalar e Lennon a usar um “sleeping Bag”, ao seu lado. 
 
Paul leva a fotógrafa norte-americana, Linda Eastman, futura senhora McCartney, ao ensaio dos Beatles, mas a antipatia com o casal Lennon mostra-se automática. 
 
John avisa que deseja sair da banda, mas Paul pede-lhe para que ele espere pelo menos por mais alguns meses, até o filme/documentário, “Let it Be”, ser lançado. No entanto, ao quebrar o combinado, Paul vai à imprensa a anuncia a sua saída e o lançamento de um disco solo. John fica furioso com essa atitude. É bela a utilização da música “Isolation”, do álbum solo “Plastic Ono Band”, que diz tudo sobre a amargura da situação. 
 
Cenas a mostrar Lennon em pleno processo de desintoxicação, ao som de “Cold Turkey”, são explícitas. A participação de Lennon e Yoko no Festival “Sweet Peace Toronto”, é mostrada com bastante realismo, apesar de tratar-se de um telemovie, portanto com pouco orçamento. “God”, a canção emblema da catarse de Lennon com o mundo e a vida, explode na tela. Ele não acredita em nada, não acredita em mais ninguém, a não ser “Yoko and me”, como diz a letra da canção.
 
Salto para 1971 e Yoko leva Lennon para conhecer a sua família no Japão. Muito ricos e conservadores, os pais de Yoko (Yeisuko Ono, pai e Isoko Ono, mãe), são amáveis e discretos, mas apenas estranham a vasta cabeleira de seu novo marido, mas tirante esse pormenor, o aceitam bem e com o detalhe interessante em não ter muita ou nenhuma noção da fama que ele ostenta.
 
Ainda em 1971, o casal protagoniza uma cena bizarra. Em Palma de Mayorca, na Espanha, sequestram a filha de Yoko, Kyoko Cox, ou seja, empreendem a pior maneira para resolver a pendência que Yoko não conseguia resolver satisfatoriamente pela via legal. Em junho, mudam-se definitivamente para Nova York. Contratam uma secretária, May Pang, uma bela garota de Nova York, com origem chinesa.
 
Cenas da gravação do álbum, “Imagine”, são bonitas e en passant insinua-se algumas músicas memoráveis desse grande disco. Surge o convite para Lennon participar do histórico “Concert for Bangladesh”, organizado por George Harrison, mas fica claro que Yoko não será bem-vinda. Lennon recusa-se a participar sem a sua esposa. Aqui o enfoque é polêmico, pois mais uma vez a pessoa de George Harrison é demonizada por não gostar e nem mesmo aceitar Yoko Ono. É curiosa a abordagem, visto que não obstante Harrison ter sido reconhecido como um homem extremamente calmo e afeito à espiritualidade, causa espécie essa colocação, pois nesse mesmo ano de 1971, Harrison foi convidado e gravou participação no álbum “Imagine”, aliás, de uma forma brilhante. Cenas reais dessas gravações em um documentário sobre tal disco, mostram Harrison a conviver com o casal Lennon & Yoko, com cordialidade, portanto, só pode ter sido uma licença poética gigantesca, alegar tal animosidade de sua parte para com Yoko.
O casal passa a envolver-se cada vez mais com causas sociais e ativistas. Jerry Rubin, um adepto ferrenho da contracultura e um dos ícones do movimento “Yippie”, uma variante mais politizada do movimento Hippie, torna-se amigo do casal e inspirador para que ambos sejam mais atuantes ainda. John canta em dezembro de 1971, em um concerto organizado em favor da libertação de John Sinclair, um poeta esquerdista. Vê-se na plateia, um sujeito a gravar o show, discretamente, como um espião. Acontece a tragédia na prisão de Attica e isso motiva Lennon a escrever as canções, “John Sinclair” e “Attica”. Motivado, lança em 1972 o álbum duplo, “Some Time in New York City”, com estas duas e mais algumas canções com teor semelhante, fortíssimas ("Angela", inspirada na ativista Angela Davis, por exemplo). E Lennon nota que agentes governamentais estão a segui-lo; o telefone residencial está grampeado e um dia chega uma intimação: a imigração alega que o casal será deportado por conta do processo que ocorrera na Inglaterra por posse de drogas, em 1968.
 
Nesse ínterim, Tony Cox envolve-se em um problema judicial e vai preso. Kyoko finalmente vai ficar com a sua mãe. O concerto realizado no Madison Square Garden é um sucesso estrondoso de público, mas há uma certa frustração pelo não engajamento maciço das pessoas em torno das causas todas que o casal apoia e foram expressas em cada faixa desse disco. E para piorar a situação, a crítica massacra o álbum ao tachá-lo como um “panfleto”. Lennon está tenso com a perseguição política em torno da ameaça por sua deportação e em uma cena em que assiste a marcha das apurações presidenciais, em 1972, em meio a correligionários de suas manifestações sociopolíticas, fica muito alterado por conta da vitória de Richard Nixon, que o perseguia e assim, deprimido, e mediante o exagero com a bebida, leva uma groupie para o quarto, na frente de Yoko. Tudo bem, eram ambos, artistas libertários com espírito hippie e mente aberta, mas essa atitude a Yoko não aceitou com naturalidade. Não é mencionada a gravação do álbum posterior, “Mind Games”, que é um grande trabalho, aliás.
 
Daí em diante, Yoko pediu o famoso “tempo” na relação. Lennon pediu desculpas pela traição e ficou bastante abalado com a decisão de Yoko, mas acatou, enfim, com muita contrariedade. Nesse período, ao final de 1973, Lennon praticamente voltou a ser um adolescente, como ele mesmo observou, ao lembrar-lhe o período pré-Beatles. De início, ele apreciou essa liberdade com libertinagem. O filme não mostra, mas apenas cita que ele foi morar uns tempos em um apartamento, na companhia de Keith Moon, o lunático baterista do The Who e é sabido que Alice Cooper não saia de lá. Foram meses regados a drogas, bebedeiras e orgias. Tal período sabático foi o seu momento Rock Star hedonista e inconsequente, enfim. Ele engatou um namoro com a bela sino-americana, May Pang, nesse momento, ao não fugir da ideia de que gostava mesmo de garotas orientais. Há uma passagem interessante de Lennon ao conceder entrevista no programa do comunicador, Elliot Mintz, na TV.
 
1974, Lennon está ainda sem Yoko, mas a gravar um álbum novo sensacional. As gravações do disco: “Walls and Bridges” estão a ocorrer a todo vapor, quando eis que Ringo Starr, acompanhado do cantor, Harry Nilsson, adentram o recinto do estúdio. Eufóricos, eles se abraçam e gritam como crianças no pátio da escola, quando o produtor do disco, o sinistro, Phil Spector, aparece furioso com a interrupção do trabalho e daí usa um revolver para mediante um tiro desferido no teto, restabelecer a ordem. Todos assustam-se, mas Spector cai na risada a seguir... foi uma brincadeira...
 
Elton John grava um piano espetacular e canta também na faixa, “Whatever Gets You Through the Night”. Elton brinca com John: -“se essa música atingir o primeiro lugar nas paradas de sucesso, você toca comigo em meu show no Madison Square Garden”, em novembro, combinado?” John responde que sim, está combinado, mas relutante, pois não acredita que isso vá acontecer. Contudo, tal fato acontece e Elton cobra a aposta do amigo. Lennon está nervoso, pois faz tempo que não toca ao vivo, mas o show acontece e a participação de Lennon é um sucesso. O público delira e de fato, a canção é espetacular e além disso, essa performance na vida real foi muito emocionante, tanto que ficou registrada em um clássico disco Bootleg, a demonstrar uma excelência na execução impressionante e mais que isso, uma energia incrível. No entanto, a grande surpresa para Lennon, estava no camarim. Elton convidara Yoko, sem Lennon saber. Ao chegar ao camarim, ambos emocionam-se e Elton confirma que fizera isso premeditadamente para o casal reconciliar-se.
Vem o escândalo Watergate e o presidente Richard Nixon, renuncia. Doravante, com um comando governamental mais ameno, a perseguição com o casal Lennon cessa, ao ser concedido o cartão de permanência nos Estados Unidos, “Green Card” para ambos. Yoko anuncia uma nova gravidez e desta vez o bebê nasce saudável, Sean, em outubro de 1975. Lennon resolve interromper a carreira até segunda ordem, pois decidira criar o filho em tempo integral, ao contrário do que fizera com o filho do outro casamento, Julian, que ele mal vira crescer. Cenas a mostrar uma curiosa quebra de paradigma, são divertidas por exibir Lennon com um dono de casa a cozinhar e cumprir tarefas domésticas, enquanto Yoko participa de reuniões enfadonhas com homens engravatados a fumar como chaminés ambulantes.
 
A cena sobre a clássica visita de Paul & Linda McCartney ao casal Lennon, em 1976, é mostrada bem rapidamente, mas de uma forma mais realista da maneira pela qual foi encenada no filme, “Two Of Us”, que mostra essa passagem com muito mais detalhes, mas sob uma licença poética enorme, diga-se de passagem.  
 
Em um dia de 1977 ou 1978, Julian Lennon bate à porta do apartamento em que o casal Lennon habitava no Edifício Dakota. Lennon o recebe bem e surpreende-se em ver o filho já adolescente. Então ele pergunta-lhe sobre o que o filho ouve na atualidade e este responde-lhe que na Inglaterra só fala-se sobre os Sex Pistols, The Clash e congêneres. Lennon sente-se desatualizado da música, pois nunca ouvira falar dessas bandas, mas cá entre nós, não perdeu nada...
 
Kyoko também estava na adolescência e ligou para dizer que deseja passar o natal em casa. Lennon mostra vídeos velhos dos Beatles para o pequeno Sean, visto que ele perguntara-lhe o que seria um “Beatle”. Lennon vê bandas modernosas na TV, ao estilo “New Wave” (uma variante Pop, oriunda da vertente do Pós Punk), e declara para Yoko: -“ acho que finalmente as pessoas te entenderam e estão a imitá-la”... é uma bela ironia sob via dupla, para citar a insipidez da cena New Wave com aquela estética robótica e monocórdica e de fato, espelha o que Yoko sempre fez em sua vida musical, mesmo quando tentara criar música minimamente palatável, fora do experimentalismo extremo. 
 
Lennon anima-se, ao alegar que Sean atingira os cinco anos de idade e isso permitiria que ele reativasse a carreira. Cenas de Lennon e Yoko a gravar o LP “Double Fantasy”, são mostradas e o fim aproxima-se quando em uma dessas noites em que o casal saiu do estúdio em direção ao seu apartamento, o inacreditável ocorreu, quando um fã abordou John para pedir-lhe um autógrafo e este enquanto rabiscou o papel, não imaginou que a intenção do rapaz fosse outra. Daí, contabilizou-se cinco tiros à queima roupa e o sonho, infelizmente, acabou.
Por ser um telemovie, este filme impressiona por alguns aspectos. Primeiramente por conta da sua longa duração. Com quase duas horas de metragem, é realmente notável por esse detalhe, visto que um telemovie geralmente obedece um padrão entre sessenta e oitenta minutos, em média. É admirável também pelo enfoque que avançou aos anos setenta e mostrou muitos aspectos raramente mostrados em outros filmes a retratar a vida e obra de John Lennon. É verdade que alguns pontos ficaram omitidos, mas não podemos reclamar diante de um filme tão longo e que mostrou muita coisa. Poderia sido incluído o episódio sobre a fundação do país fictício, “Nutopia”, algo emblemático na lua sociopolítica do casal e ação essa criada para satirizar Nixon, mas tudo bem, o filme surpreendeu por trazer tantos detalhes.
 
Sobre a música, o material dos Beatles é escasso por conta do problema burocrático que sempre envolve tal demanda, mas algumas poucas insinuações são pontuais nos momentos adequados da cronologia. Já o material de Lennon foi fartamente usado, pois Yoko Ono participou da produção deste filme, com bastante entusiasmo e assim, facilitou também no aspecto da trilha sonora ao não criar empecilhos legais.
 
O filme recebeu boas críticas, das quais eu considero justas, pois esta produção surpreende pelo enfoque do roteiro e pela enorme gama de informações arroladas, por tornar uma dramaturgia banal a contar uma simples história de amor, em algo mais complexo, devido à riqueza natural que tais artistas trazem como legado inerente e a produção soube explorar bem esse manancial de ocorrências interessantes a serem contadas.
 
Alguns atores a mais para citar: Joshua Sinclair (como George Martin), Ray Charleson (como Phil Spector), Ling Tai (como May Pang),; David Gillian (como Harry Nillson) e Martyn Whitby (como Linda Eastman). 
 
Sandor Stern escreveu e dirigiu este filme e conta-se que um outro roteiro fora elaborado por outro profissional, no entanto, Yoko reprovou-o ao alegar que tal roteiro estava exagerado no tocante à menção ao uso de drogas. A escolha do diretor, Sandor Stern, foi curiosa no sentido de que a sua especialidade era o terror (ele dirigiu os filmes da franquia, “Amityville” entre outros), no entanto, ele mostrou competência na condução de um filme de amor que teve um algo a mais, aliás, muito a mais.
Uma curiosidade que passa quase despercebida, o comediante, Mike Myers, então bem jovem, faz uma aparição rápida, ao interpretar um carteiro cabeludo que faz uma entrega e diz rapidamente ser fã de Lennon e ter gostado do LP “Imagine”.
 
Foi lançado em dezembro de 1985, e bastante exibido na TV aberta, algumas vezes em canais da TV a cabo e encontra-se em versão dublada em português, no YouTube. Trata-se de mais um filme a retratar a biografia de John Lennon, e desta feita a focar em um período quase nunca citado da biografia desse grande artista e ao trazer também uma visão mais positiva sobre Yoko Ono, que é em via de regra, por conta da formação de opinião em tom negativo, uma das personalidades mais defenestradas da história da arte e não estou a exagerar.
 
Esta resenha consta do livro: "Luz, Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 297

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Livro: Língua de Trapo (a autobiografia de Luiz Domingues na música - Volume II) - Matilda Produções/Clube de Autores - Lançado em outubro de 2024

É com imenso prazer que eu anuncio o lançamento do segundo volume da minha autobiografia na música, a se tratar da minha história pessoal com o Língua de Trapo.

Antes de mais nada, esclareço que este livro não é a biografia oficial do Língua de Trapo, mas sim a narrar uma segunda parte da minha autobiografia pessoal, portanto, é o volume II das minhas memórias e trata da minha experiência em particular, com a minha visão pessoal e tão somente, sobre a fase pela qual eu fui componente do grupo, aliás, duas fases.  

Com essa banda eu tive duas passagens, ou seja, fui membro desde os movimentos iniciais que precipitaram a sua fundação, a participar desde junho de 1979, tendo permanecido até janeiro de 1981. E depois, tive uma nova passagem entre outubro de 1983 e julho de 1984.

Logo que as atividades da minha primeira banda, o Boca do Céu, se encerraram em abril de 1979, o vocalista Laert Sarrumor, que também era componente dessa banda, convidou-me a participar de um grupo que estava a ser montado na faculdade de jornalismo Cásper Líbero, instituição na qual ingressara naquele mesmo semestre. O objetivo foi inicialmente apenas fazer um espetáculo de música e poesia para os alunos da faculdade, porém convites surgiram e tal grupo foi a ser requisitado doravante e a crescer no circuito universitário em meio a diversas apresentações e participações em festivais de MPB, quando culminou na fundação oficial do Língua de Trapo, já em 1980.

Trato sobre tais primórdios nos primeiros capítulos e a seguir a cronologia, falo a respeito de uma metamorfose que não acompanhei in loco, mas absorvi a posteriori, quando voltei e encontrei o grupo inteiramente profissionalizado, a viver um momento de grande expansão em todos os sentidos.

E explano também sobre o fato concreto de que essa, em meio a tantas bandas que tive e ainda tenho na minha carreira longeva, foi a única não exatamente caracterizada como uma banda de Rock, propriamente dita, porém, dentro do seu ecletismo que lhe serve para exercer tão bem a sua verve dentro da sátira e do humor, sua verdadeira vocação artística, o Rock também é uma das ferramentas que usa com maestria para para tirar "sarro e humor" da sociedade.

São muitas as histórias relatadas sobre a banda em seus bastidores, as minhas impressões em meio a dois momentos muito diferentes de sua história, análise de época e um profundo agradecimento aos talentosos colegas com os quais convivi e atuei, com muita satisfação e orgulho.

Língua de Trapo (a autobiografia de Luiz Domingues na música - Volume II)
 
Autor: Luiz Domingues
Editor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Revisão gramatical, diagramação e carta catalográfica: Alynne Cavalcante
Arte e lay-out final da capa/contracapa e material promocional: Victoria Costa
Foto do autor: Lincoln Baraccat
Capa do Compacto "Sem Indiretas" de 1984: Louis Chilson
Almofada com foto da capa do compacto "Sem Indiretas"de 1984: Amanda Fuccia
Fotos e material impresso que ilustram a capa contracapa: acervo particular de Luiz Domingues (créditos dos fotógrafos nos agradecimentos do livro)
Uma obra proporcionada pela Matilda Produções
Apoio gráfico: Clube de Autores
Outubro de 2024

Vendas pelos sites do Clube de Autores e Amazon:
https://clubedeautores.com.br/livro/boca-do-ceu