Tuca, Uma Artista Esquecida - Por Luiz Domingues

No Brasil, existe um triste paradigma, difícil para ser rompido. Trata-se do histórico descaso com a sua memória, em todas as áreas, e no campo das artes, isso promove uma série de injustiças, que espero um dia, sejam devidamente revistas. Se artistas de grande relevância caem no esquecimento eterno, rapidamente, o que dizer então de outros mais obscuros que nunca alcançaram grande projeção, a despeito de seu inegável talento ? É o caso da cantora / compositora e musicista, Tuca, por exemplo.

Valenza Zagni da Silva nasceu em São Paulo, capital, no ano de 1944. Apelidada como,"Tuca", formou-se em música erudita no conservatório paulista em 1957. Posteriormente ao ingressar na FAU da USP (para cursar arquitetura), integrou-se ao grupo de música da faculdade. Em 1962, teve pela primeira vez uma composição sua gravada, no disco da cantora, Ana Lucia.

Logo a seguir, Tuca aventurou-se a cantar as suas próprias canções e assim, a sua primeira apresentação na TV, foi no programa : Primeira Audição", na TV Record de São Paulo. Dali em diante, Tuca colocou-se a aparecer nos grandes Festivais da MPB que as emissoras de TV produziam costumeiramente na década de sessenta. Participou por exemplo dos Festivais da TV Excelsior, TV Rio e TV Globo.

Lançou o seu primeiro LP em 1968, chamado : "Eu, Tuca", pela gravadora Chantecler. Causou espanto ao misturar orquestrações sofisticadas com teor erudito, a violas caipiras de música de raiz.

Descontente com a falta de alavancagem na carreira e também pelos ventos tenebrosos do regime autoritário em voga no Brasil, em 1969 fixou residência em Paris, onde morou por cinco anos e se tornou amiga da musa, Françoise Hardy, para participar de gravações dessa mega famosa cantora francesa em estúdio, inclusive com composições suas, como vê-se na capa do LP "La Question", de 1971, na foto abaixo.

De volta ao Brasil, lançou em 1975 o LP : "Dracula, I Love You".

Tuca foi uma compositora e cantora sui generis, que gostava de ousar, ao criar uma música aberta e muito cosmopolita. Ela faleceu em 1978, vítima de uma parada cardíaca decorrente dos efeitos gerados por sucessivos tratamentos para emagrecimento, mal sucedidos.

Ela tinha apenas 34 anos de idade, e muito o que contribuir à MPB, com a sua capacidade criativa. E com essa partida precoce, entrou lamentavelmente para o rol de talentos que a falta de memória brasileira costuma condenar ao esquecimento.

Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu e posteriormente republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012