Muitas obras
cinebiográficas sobre os Beatles e John Lennon em particular, foram produzidas
ao longo dos últimos anos, no entanto, o enfoque nos demais componentes do
quarteto de Liverpool, ainda deixa bastante a desejar. É bem verdade que entre
os muitos lançados até aqui, o filme, “Backbeat” trata de um ex-membro com
curta passagem pelo grupo, em uma fase anterior ao sucesso que tal grupo alcançaria
em patamares inimagináveis, ao tratar-se do baixista, Stuart “Stu” Sutcliffe. É
um fato, que muitos documentários a retratar os demais, são notórios (sobre
Lennon, ele foi o mais agraciado com filmes ao seu respeito),
entretanto, a ausência de filmes tradicionais em termos de longa metragem,
telemovies e até mesmo curtas, são raros, para não dizer inexistentes.
Portanto, em
“The Linda McCartney Story”, apesar do enfoque mostrar-se em favor dessa
personalidade cinebiografada, pelo fato do seu óbvio vínculo matrimonial com
Paul McCartney, este é bastante atendido ao longo da obra, naturalmente. Antes de prosseguir, reforço o que sempre
penso sobre a produção cinebiográfica dos Beatles e de seus componentes,
individualmente: falta ainda uma obra definitiva sobre os Beatles, com uma
grande produção à altura da magnitude da banda e cada membro do grupo merecem
também um filme particular, nos mesmos moldes.
Sobre este
em específico, a cinebiografada em questão foi Linda McCartney e ela tem uma
relevância pessoal e real para o Rock, além de ter sido esposa de Paul
McCartney (e alçada à condição de musicista, ao ter sido uma componente oficial
do grupo “Wings”, fundado por Paul, ao longo dos anos setenta). Isso porque é
público e notório que ela teve uma forte atuação como fotógrafa para veículos
que cobriram o Rock nos anos sessenta, principalmente no caso da famosa revista
norte-americana, “Rolling Stone”, onde foi colaboradora. Por ter fotografado astros da primeira grandeza
do Rock sessentista, Linda ganhou notoriedade como fotógrafa, portanto, todo o
comentário maldoso ao seu respeito formulado por supostamente ter apenas tirado
proveito da fama do seu marido, para ser respeitada, não pode ser considerado
como algo verdadeiro, de forma alguma.
É evidente, quando tornou-se a senhora
McCartney, a sua fama multiplicou-se de uma forma geométrica, mas ela já tinha o
seu valor como profissional, e não poderia ser considerada uma mera oportunista,
como a opinião popular leviana a tratou. Bem menos que Yoko Ono, é verdade,
porém, Linda McCartney também sofreu bastante com a formação de opinião danosa
da parte de pessoas mal-intencionadas, ao atacá-la com esse e outros argumentos
baixos e sobretudo, infundados.
Antes de
avançar sobre a resenha do filme, propriamente dita, é preciso esclarecer uma outra
lenda urbana a seu respeito. Ao contrário do boato que espalhou-se com uma
força descomunal e ajudou a criar a imagem de que Linda fora uma garota
burguesa e mimada ao apenas “brincar” em ser fotógrafa, e assim poder circular
entre artistas famosos, ela não possuía nenhum parentesco como o senhor, George
Eastman, o fundador da gigantesca empresa ligada ao mundo da fotografia,
Eastman-Kodak. O fato de seu nome como solteira ter sido, Linda Eastman, e por
ser fotógrafa, gerou a confusão (e a má intenção) ao fomentar a lenda urbana
que ela seria neta ou mesmo filha do velho, George Eastman, o magnata da fotografia e portanto,
herdeira bilionária desse império industrial.
Postas tais
considerações preliminares sobre a biografia de Linda Eastman McCartney, o
filme é feliz por traçar uma amostra fidedigna da sua biografia, no
entanto, sob uma aura deveras adocicada, ao seguir o padrão de um telemovie a
envolver em seu roteiro, os ingredientes típicos para uma abordagem
cinebiográfica/BioPic amena, a conter uma boa dose de romance e drama para
intensificar as emoções e também em sutis intervenções discretas de humor.
O filme
inicia-se com a exposição de fotos de Linda McCartney (interpretada por
Elizabeth Mitchell), em Nova York, no ano de 1995. São fotos clicadas por ela
nos anos sessenta, a exibir grandes personalidades, as mais diversas no
universo do Rock produzido nessa época, incluso os Beatles. Tal material é admirado
pelos visitantes, em meio a um cocktail. Linda mostra-se pensativa e daí mergulha
em uma lembrança sua, vivida em 1965, quando assistira no Shea Stadium de Nova
York, um show dos Beatles. Um pouco além disso, como repórter de uma revista, ele
fora designada para fotografar os Rolling Stones em uma embarcação, e ali, foi paquerada
com uma certa insistência por Mick Jagger (interpretado por Matthew Harrison) e
Keith Richards (interpretado por Claude Duhamel), que também a observa com uma
intenção bem clara nessa ocasião.
Adiante, ela é mostrada em meio a um show do The Doors, em
um clube noturno (Andines Club), e daí, convida Jim Morrison (interpretado por
Aaron Grain), para uma sessão de fotos particular e os dois mantém um rápido
romance, o que é algo ousado se pensado para um telemovie com intenção amena.
Entretanto, que bom que houve essa sinceridade da parte da produção, em não
esconder tal passagem de sua vida.
Abro um parêntese
para comentar três fatos sobre a produção do filme. Primeiro: o recurso do
flashback a ser usado logo no início da exibição desta película, é um clichê
observado em nove para cada dez cinebiografias e neste caso, o diretor optou
pela chamada “zona de conforto”, sem inovar ou renovar tal cartilha.
Segundo
ponto: a atriz que interpretou a personagem, Linda McCartney, foi Elizabeth
Mitchell que é uma boa atriz e também a tratar-se de uma mulher muito bonita,
no entanto, a despeito da semelhança física com a Linda real, não ser muito grande,
o fato é que ao viver a personagem, Linda mais madura, foi algo compatível, mas
no flashback a retratá-la como jovem nos anos sessenta, ficou um pouco forçado,
mesmo com os esforços empreendidos em termos de maquiagem, cabelo e figurino
para rejuvenescê-la, visto que a atriz era bem mais madura do que deveria
demonstrar nessa fase da vida de Linda. O uso de duas atrizes com a idade biológica
diferente entre si, teria sido uma solução melhor para o filme.
E terceiro
ponto, no caso específico de uma personalidade tão forte como foi Jim Morrison
em vida, fica difícil para qualquer ator interpretá-lo com a mesma intensidade
e profundidade, sobretudo, do que o ator, Val Kilmer o fez no filme, “The
Doors” de 1991. Portanto, mesmo sendo uma participação curta, e este ator em
específico não ter cometido uma performance ruim, pode-se afirmar; o fato é
que não convenceu a contento. É difícil um ator que não caia no estereótipo em
retratar Morrison como se fosse um malandro de rua qualquer, dotado de uma aura
cafajeste ou um menino mimado. Não basta colocar uma calça de couro, uma peruca
a simular cabelo comprido e encaracolado e compor a psiquê de um playboy
inconsequente, pois Morrison foi um artista muito mais profundo que o seu estereótipo criado no imaginário popular.
Bem, o filme
avança e mostra que Linda fora casada e já tinha uma filha, chamada Heather
(interpretada por Jordele Ferllan, quando criança). Ela pede um dinheiro
adiantado da editora para ir à Londres fazer uma cobertura fotográfica e visita
o bairro do Soho na capital britânica. Foi o ano de 1967 e os Beatles estão a anunciar o lançamento
de seu álbum icônico, “Sgtº Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Em uma ocasião
em que vai a um Pub londrino, ela encontra-se com Paul McCartney (interpretado por Gary Bakewell), por acaso e
ali conversam. Pequenos saltos temporais mostram Paul mais íntimo, a ligar para
ela e combinar novos encontros, em lugares diferentes. Eles aproximam-se cada
vez mais e finalmente o namoro oficializa-se. Uma passagem interessante mostra
Paul ao contar à Linda, que compusera a música, “Let It Be” em homenagem à sua
mãe, Mary McCartney (“When I find myself in times of trouble/mother Mary comes
to me/speaking words of wisdow / Lei it be”...).
Um novo
salto para 1995, mostra uma cena caseira, onde Linda pratica um autoexame em
seus seios e nota a presença de um nódulo, que a preocupa. Após os exames de
praxe, o médico confirma a presença de um câncer agressivo e anuncia um
tratamento quimioterápico contundente. Cenas simbólicas sobre tal impacto
gerado pela notícia, são usadas para acentuar a gravidade da situação, como por
exemplo o fato dela notar que está a perder os seus cabelos, aceleradamente, por conta da quimioterapia.
Um novo
flashback e volta-se à 1969, quando Paul convida Linda a assistir as filmagens
do filme/documentário dos Beatles, Let it Be. Claro que Linda tinha plena
consciência da vida alterada que Paul enfrentava há anos por conta da sua fama,
mas no filme, dá-se a entender que somente ali, em 1969, foi o momento em que
ela levara um choque de realidade ao mostrar cenas a enfrentar a multidão de
fãs que montava vigília permanente no portão da mansão de McCartney e claro, os
boatos sobre a sua pessoa já mostravam-se fortes a dar conta de seu romance com
Paul, pois ela é hostilizada por garotas fanáticas pelos Beatles, que
naturalmente sonhavam em estar em seu lugar.
Mais cenas emblemáticas surgem,
como por exemplo a conversa rápida que ela mantém com a governanta da
residência de Paul, onde a senhora com trejeitos simples, mas a ostentar a
típica fleuma britânica, adverte Linda para que ela resigne-se com a rotina em
torno das fãs a assediar o seu patrão, dia e noite nos arredores da residência.
E também a conhecer a cadela de estimação dele, a sheep dog, Martha, que
inspirara Paul a compor a canção, “Martha um Dear’, que pode ser escutada no
“White Album” dos Beatles, lançado em 1968. Linda sente na pele a hostilidade,
com as fãs de seu namorado enfurecidas a xingá-la, sem nenhum pudor.
Mais um
pequeno salto e Paul vai a Nova York para encontrá-la. Ao magnífico som da
banda norte-americana, The Turtles, vemos Paul a usar um disfarce ridículo para
andar livremente pelas ruas, sem correr o risco em ser assediado, junto a
Linda. Paul conhece a família de Linda. O pai de Linda, o senhor, Lee Eastman (interpretado pelo veterano ator, George Segal),
foi um advogado renomado e homem de negócios. Ele e o seu futuro genro falam
sobre negócios e Paul estava mesmo preocupado nessa época com o rumo perigoso
que a empresa fundada em sociedade com os demais componentes dos Beatles
(Apple), estava a percorrer e de fato, quando a briga acirrou-se ele buscou a ajuda
do seu sogro para representá-lo em processos múltiplos que foram movidos,
inclusive entre os membros da banda, uns contra os outros.
A seguir,
Paul & Linda e mais a filha do primeiro casamento de Linda, Heather Eastman
(Paul a adotou legalmente e ela passou a usar oi sobrenome, McCartney, doravante),
mudam-se para uma propriedade rural muito rústica que Paul possuía em algum
lugar da Escócia. Paul estava fascinado por experimentar uma vida rural onde
ele precisasse necessariamente para prover o bem estar da família, cortar a
lenha; cuidar de animais e pequenas plantações, como um camponês. Em março de
1969, Paul e Linda casam-se oficialmente e as fãs vão ao desespero, conforme cenas a mostrar a choradeira perpetrada por essas moças (e algumas dessas fãs, nem tão jovens assim).
O clima
dentro da banda está péssimo. Por conta de insatisfações as mais variadas e
dinheiro incluso, como já salientei ao mencionar a empresa da banda, Apple, sob
intenso processo de desmanche. Mostra-se que a filha do casal, Mary McCartney,
nasceu. Decorrente das brigas no bastidor dos Beatles, é mostrada uma cena onde
Lennon invade a casa de Paul e o hostiliza, inclusive com direito a mostrar
violência ao quebrar objetos, bater portas e não respeitar Linda e as crianças,
que ficaram bem assustadas com a cena deprimente.
Não posso afirmar que tenha sido um fato real. No
entanto, observo que em vários filmes a mostrar o ponto de vista de Lennon em
torno da motivação que o levara a ficar nervoso, a história é narrada a mostrar
que Paul violara um acordo verbal feito entre ambos, quando Lennon anunciara
para a banda que desejava deixar os Beatles e Paul pedira à ele que não
comunicasse isso oficialmente pela imprensa e que esperasse alguns meses para
tal comunicado ser efetuado. Ocorreu que antes desse prazo pedido, o próprio
Paul comunicou à imprensa que deixara a banda e simultaneamente anunciou o
lançamento do seu primeiro álbum solo. Neste filme, Paul não dá uma versão mais
convincente de que não fora esse o ocorrido, mas apenas mostra-se Lennon
irascível, como se não tivesse nenhuma razão, justamente por ter perdido a
compostura.
Em outra cena, ainda pior, mostra-se Lennon a invadir a residência
de Paul, para quebrar, mediante uma pedra que acha no jardim, uma vidraça da
casa e a seguir proferir uma série de insultos e sair a pular o portão como se
fosse um delinquente juvenil. Isso pode ter acontecido, na vida real ou não, a
configurar-se como uma licença poética para expressar um momento de tensão, mas
certamente que Lennon teve a sua motivação para ter ficado contrariado com a
situação.
‘Flashforward”
novamente e em 1996, Linda está a lutar contra o avanço da doença. O médico
propõe o uso de uma medicação ainda experimental, mas que seria algo mais
avançado para tentar coibir a devastação cancerígena. Bem, qualquer pessoa a
passar por uma situação dificílima desse porte aceitaria qualquer alternativa
para salvar-se. Infelizmente, em 1997, Linda piora.
Mais cenas
mostram o passado, desta feita por volta de 1971, com Paul & Linda na propriedade
rural da Escócia e a mencionar, o nascimento de mais uma filha, Stella
McCartney. A criação do grupo, Wings, é um momento muito importante na
biografia de Paul, mas neste filme, a narrativa logicamente privilegia a
presença de Linda nesse contexto. Portanto, a ideia de Paul em incluir Linda, como
componente oficial na banda nova que criara, a assusta, logicamente dada a
constatação de que ela não era uma musicista. No entanto, a intenção de Paul é
estar com a esposa o tempo todo para aliar-se à sua vontade em atuar ao vivo
novamente, fator que não exercia desde 1966, quando os Beatles anunciaram que
não tocariam mais ao vivo. Então, é mostrada toda a boa vontade de Paul em
ensinar Linda a aprender os rudimentos musicais para poder tocar teclados;
pandeiro e a cantar afinada nos backing vocals, nem que fosse dentro do limite
da simplicidade, visto que ele cercara-se com bons músicos para formar tal nova
banda e nesses termos, a participação dela não seria cobrada pela excelência
musical, pelo menos em princípio.
O famoso primeiro show do Wings feito de
surpresa no Campus da Universidade de Leeds, na região norte da Inglaterra é retratado e a mostrar Linda
nervosa em iniciar a apresentação e errar logo o primeiro acorde que tocou e
Paul releva, ao demonstrar o pacto de
tolerância e paciência que estabeleceu com a sua esposa, ao esperar pelo seu
desenvolvimento musical em plena atividade da banda na estrada, ou a trocar em
miúdos, seria como ensiná-la a pilotar um avião, com o aeroplano em pleno ar. A
despeito disso, é boa a cena da banda a tocar com energia o clássico
cinquentista, “Kansas City” e a retratar a felicidade de Paul em estar
novamente na estrada a tocar e também por ter bancado uma ideia aparentemente
não muito boa, em ter sugerido a inclusão de sua esposa, uma pessoa sem técnica
musical mínima, para tocar profissionalmente em uma banda de Rock cercada por
músicos bons.
Essa fase do casal à frente do Wings é mencionada rapidamente no
filme, e eu entendo a questão do roteiro ter optado por não dar muita ênfase,
mas lamento por outro lado, por ter representado na realidade, praticamente uma
década inteira com uma intensa produção de fatos gerados e sim, muito boa
música, pois o Wings jamais pode ser comparado aos Beatles pelo conjunto da
obra ou pela sua significância histórica, no entanto, produziu bons álbuns e
teve vários sucessos memoráveis, como por exemplo quando a canção, “Live and
Let Die”, foi lançada para ser tema principal de um filme de James Bond em
1973, e ouso dizer, entre tantas canções-tema importantes que tal franquia
cinematográfica colecionou por décadas, essa provavelmente foi a mais famosa de
todos os tempos. Bem, o famoso show no Madison Square Garden de Nova York em
1976, é mostrado e a visita cordial do Paul & Linda ao apartamento do casal
Lennon & McCartney, é mostrada, porém de uma forma bem tímida, embora mais
realista de como fora retratada no filme “Two of Us”, anos mais tarde, mediante uma
gigantesca licença poética para dramatizar tal situação.
Em janeiro
de 1980, o grupo Wings já havia mudado de formação inúmeras vezes, ao manter
apenas o casal McCartney e o guitarrista/baixista e cantor, Denny Laine no
grupo. Eles chegam ao Japão para uma nova turnê, e mediante uma revista da
polícia alfandegária nipônica, foi achado uma porção de maconha na bagagem de
Paul. Ele vai preso imediatamente e a notícia corre o mundo. Ele é ameaçado em
ficar preso por até sete anos se condenado, mas após alguns dias encarcerado e
a conter muita conversa mediada por seus advogados, a prisão foi relaxada e ele
libertado sem processo. Essa foi a gota d´água para ele dar por encerrada a
atividade da banda, assim que voltou à Inglaterra. Ainda em 1980, mostra-se a
reação de Paul e Linda em face do anúncio sobre o assassinato de John Lennon.
Um novo
avanço para a frente e em 1997, a família McCartney está em Sussex, na
Inglaterra e comemora a palavra do médico oncologista a esclarecer que houvera
ocorrido uma pequena melhora no quadro de saúde de Linda, graças à nova
medicação. Mas infelizmente isso fora um sinal não definitivo e a seguir, ela
sente-se mal. Mesmo assim, ainda houve tempo para Linda obter uma última
alegria em vida, pois é mostrada a ascensão profissional de sua filha, Stella
McCartney, como estilista de moda.
Linda piora
muito e vem a falecer em 1998. As suas cinzas são espalhadas pelas mãos de seus
filhos, na Inglaterra e assim, como uma homenagem final, o filme tem o seu
término.
Como eu já
observei, até pelo menos este instante de 2019, quando escrevi esta resenha,
esse é um dos poucos filmes a mostrar mais detidamente, Paul McCartney, ainda
que a cinebiografada em tese tenha sido a sua falecida esposa, Linda McCartney.
O filme cumpre a sua missão, posso afirmar, ao homenagear a pessoa de Linda,
certamente uma boa pessoa e portadora de seus méritos pessoais. Por extensão,
mostra momentos cruciais, embora melancólicos do momento em que os Beatles
estiveram em crise e sob inevitável ação de encerramento de sua carreira; a
trajetória do grupo Wings, ainda que estabelecida mediante uma decepcionante parcimônia
e também a sua ação como fotógrafa, que foi importante no meio.
Aliás, cabe
registrar que como fotógrafa, ela trabalhou em algumas revistas antes de
prestar serviços para a Rolling Stone, o seu trabalho mais significativo nessa
área. Há um dado que é memorável em sua trajetória como fotógrafa nessa
importante revista: ela foi a primeira fotógrafa, como mulher, a ter uma foto
sua a ilustrar a capa da revista (Eric Clapton, nesta ocasião), e anos depois, a primeira a
ser retratada como musicista na capa, após ter sido fotógrafa da própria
revista, quando foi exposta como componente do Wings. Ela fotografou além dos
Beatles, Rolling Stones e The Doors, já citados, muitos outros artistas
importantes. Jefferson Airplane, Bob Dylan, The Animals, The Who, Simon &
Garfunkel e muitos outros.
E sobre Jimi Hendrix, que foi seu amigo, Linda fotografou as sessões
de gravação do LP Electric Ladyland, desse astro da guitarra.
Uma foto que ela clicou de Neil Young, em 1968, foi usada muitos anos depois
(2008), para compor a capa de um álbum desse grande artista, chamado, “Sugar Mountain”.
Outros
atores não citados anteriormente: Tim Piper (John Lennon), David Lewis (como David Field, o seu biógrafo),
Alexander Ruus (como James McCartney, filho de Linda), Chris Cound (como George
Harrison), Michael Murtry (como Ringo Starr), Rafe McDonald (como Brian Jones),
Jenafor Ryane (como a sua filha, Mary McCartney), Moya O’Connell (como a sua
filha, Heather McCartney, em idade adulta), Linda Ko (como Yoko Ono), Michelle
Skallinick (como a sua filha, Stella McCartney), Mitchell Parsons (como Bill
Wyman), Vincent Flueck (como Charlie Watts) e outros, de apoio.
O filme foi
uma produção britânica e norte-americana em conjunto e teve a atuação de uma
banda cover dos Beatles para suprir a trilha sonora, chamada “Fab Four”, além
de outros artistas modernos para colaborar em reproduções.
Foi baseado no livro: “Linda McCartney: A Portrait”, de Danny Fields, um jornalista que escreveu
outras biografias e foi muito amigo de Linda e esteve representado no filme. Direção
musical de J. Peter Robinson. Escrito por Christine Berardo e dirigido por
Armand Mastroianni.
Sobre o diretor, antes que alguém especule, aviso que ele
não é filho, neto ou sobrinho do ator italiano, Marcello Mastroianni, como
muitas pessoas costumam pensar, mas somente alguém a ostentar um sobrenome
homônimo.
Foi lançado
em maio de 2000, com uma repercussão razoável. A crítica realçou a abordagem
amena, mesmo em pontos polêmicos, o que eu tendo a concordar em linhas gerais.
Considero um bom filme, mesmo porque vem a tratar-se de um telemovie, onde a
produção é sempre muito mais modesta do que um longa metragem para o cinema. Foi
bastante exibido em canais abertos e na TV a cabo. No Brasil foi exibido com
muitas reprises em canais populares de uma forma surpreendente até. Está à
venda em formato DVD, nas lojas e sites de vendas do ramo e na internet, ao menos até este instante, a
versão integral é possível em ser assistida no portal: “Internet Archive”.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" através do seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 317.