quinta-feira, 15 de maio de 2025

Filme: The Linda McCartney Story - Por Luiz Domingues

Muitas obras cinebiográficas sobre os Beatles e John Lennon em particular, foram produzidas ao longo dos últimos anos, no entanto, o enfoque nos demais componentes do quarteto de Liverpool, ainda deixa bastante a desejar. É bem verdade que entre os muitos lançados até aqui, o filme, “Backbeat” trata de um ex-membro com curta passagem pelo grupo, em uma fase anterior ao sucesso que tal grupo alcançaria em patamares inimagináveis, ao tratar-se do baixista, Stuart “Stu” Sutcliffe. É um fato, que muitos documentários a retratar os demais, são notórios (sobre Lennon, ele foi o mais agraciado com filmes ao seu respeito), entretanto, a ausência de filmes tradicionais em termos de longa metragem, telemovies e até mesmo curtas, são raros, para não dizer inexistentes. 
 
Portanto, em “The Linda McCartney Story”, apesar do enfoque mostrar-se em favor dessa personalidade cinebiografada, pelo fato do seu óbvio vínculo matrimonial com Paul McCartney, este é bastante atendido ao longo da obra, naturalmente. Antes de prosseguir, reforço o que sempre penso sobre a produção cinebiográfica dos Beatles e de seus componentes, individualmente: falta ainda uma obra definitiva sobre os Beatles, com uma grande produção à altura da magnitude da banda e cada membro do grupo merecem também um filme particular, nos mesmos moldes.
Sobre este em específico, a cinebiografada em questão foi Linda McCartney e ela tem uma relevância pessoal e real para o Rock, além de ter sido esposa de Paul McCartney (e alçada à condição de musicista, ao ter sido uma componente oficial do grupo “Wings”, fundado por Paul, ao longo dos anos setenta). Isso porque é público e notório que ela teve uma forte atuação como fotógrafa para veículos que cobriram o Rock nos anos sessenta, principalmente no caso da famosa revista norte-americana, “Rolling Stone”, onde foi colaboradora. Por ter fotografado astros da primeira grandeza do Rock sessentista, Linda ganhou notoriedade como fotógrafa, portanto, todo o comentário maldoso ao seu respeito formulado por supostamente ter apenas tirado proveito da fama do seu marido, para ser respeitada, não pode ser considerado como algo verdadeiro, de forma alguma. 
É evidente, quando tornou-se a senhora McCartney, a sua fama multiplicou-se de uma forma geométrica, mas ela já tinha o seu valor como profissional, e não poderia ser considerada uma mera oportunista, como a opinião popular leviana a tratou. Bem menos que Yoko Ono, é verdade, porém, Linda McCartney também sofreu bastante com a formação de opinião danosa da parte de pessoas mal-intencionadas, ao atacá-la com esse e outros argumentos baixos e sobretudo, infundados. 
Antes de avançar sobre a resenha do filme, propriamente dita, é preciso esclarecer uma outra lenda urbana a seu respeito. Ao contrário do boato que espalhou-se com uma força descomunal e ajudou a criar a imagem de que Linda fora uma garota burguesa e mimada ao apenas “brincar” em ser fotógrafa, e assim poder circular entre artistas famosos, ela não possuía nenhum parentesco como o senhor, George Eastman, o fundador da gigantesca empresa ligada ao mundo da fotografia, Eastman-Kodak. O fato de seu nome como solteira ter sido, Linda Eastman, e por ser fotógrafa, gerou a confusão (e a má intenção) ao fomentar a lenda urbana que ela seria neta ou mesmo filha do velho, George Eastman, o magnata da fotografia e portanto, herdeira bilionária desse império industrial.
 
Postas tais considerações preliminares sobre a biografia de Linda Eastman McCartney, o filme é feliz por traçar uma amostra fidedigna da sua biografia, no entanto, sob uma aura deveras adocicada, ao seguir o padrão de um telemovie a envolver em seu roteiro, os ingredientes típicos para uma abordagem cinebiográfica/BioPic amena, a conter uma boa dose de romance e drama para intensificar as emoções e também em sutis intervenções discretas de humor.
 
O filme inicia-se com a exposição de fotos de Linda McCartney (interpretada por Elizabeth Mitchell), em Nova York, no ano de 1995. São fotos clicadas por ela nos anos sessenta, a exibir grandes personalidades, as mais diversas no universo do Rock produzido nessa época, incluso os Beatles. Tal material é admirado pelos visitantes, em meio a um cocktail. Linda mostra-se pensativa e daí mergulha em uma lembrança sua, vivida em 1965, quando assistira no Shea Stadium de Nova York, um show dos Beatles. Um pouco além disso, como repórter de uma revista, ele fora designada para fotografar os Rolling Stones em uma embarcação, e ali, foi paquerada com uma certa insistência por Mick Jagger (interpretado por Matthew Harrison) e Keith Richards (interpretado por Claude Duhamel), que também a observa com uma intenção bem clara nessa ocasião. 
Adiante, ela é mostrada em meio a um show do The Doors, em um clube noturno (Andines Club), e daí, convida Jim Morrison (interpretado por Aaron Grain), para uma sessão de fotos particular e os dois mantém um rápido romance, o que é algo ousado se pensado para um telemovie com intenção amena. Entretanto, que bom que houve essa sinceridade da parte da produção, em não esconder tal passagem de sua vida.  
 
Abro um parêntese para comentar três fatos sobre a produção do filme. Primeiro: o recurso do flashback a ser usado logo no início da exibição desta película, é um clichê observado em nove para cada dez cinebiografias e neste caso, o diretor optou pela chamada “zona de conforto”, sem inovar ou renovar tal cartilha.
Segundo ponto: a atriz que interpretou a personagem, Linda McCartney, foi Elizabeth Mitchell que é uma boa atriz e também a tratar-se de uma mulher muito bonita, no entanto, a despeito da semelhança física com a Linda real, não ser muito grande, o fato é que ao viver a personagem, Linda mais madura, foi algo compatível, mas no flashback a retratá-la como jovem nos anos sessenta, ficou um pouco forçado, mesmo com os esforços empreendidos em termos de maquiagem, cabelo e figurino para rejuvenescê-la, visto que a atriz era bem mais madura do que deveria demonstrar nessa fase da vida de Linda. O uso de duas atrizes com a idade biológica diferente entre si, teria sido uma solução melhor para o filme. 
 
E terceiro ponto, no caso específico de uma personalidade tão forte como foi Jim Morrison em vida, fica difícil para qualquer ator interpretá-lo com a mesma intensidade e profundidade, sobretudo, do que o ator, Val Kilmer o fez no filme, “The Doors” de 1991. Portanto, mesmo sendo uma participação curta, e este ator em específico não ter cometido uma performance ruim, pode-se afirmar; o fato é que não convenceu a contento. É difícil um ator que não caia no estereótipo em retratar Morrison como se fosse um malandro de rua qualquer, dotado de uma aura cafajeste ou um menino mimado. Não basta colocar uma calça de couro, uma peruca a simular cabelo comprido e encaracolado e compor a psiquê de um playboy inconsequente, pois Morrison foi um artista muito mais profundo que o seu estereótipo criado no imaginário popular.
Bem, o filme avança e mostra que Linda fora casada e já tinha uma filha, chamada Heather (interpretada por Jordele Ferllan, quando criança). Ela pede um dinheiro adiantado da editora para ir à Londres fazer uma cobertura fotográfica e visita o bairro do Soho na capital britânica. Foi o ano de 1967 e os Beatles estão a anunciar o lançamento de seu álbum icônico, “Sgtº Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Em uma ocasião em que vai a um Pub londrino, ela encontra-se com Paul McCartney (interpretado por Gary Bakewell), por acaso e ali conversam. Pequenos saltos temporais mostram Paul mais íntimo, a ligar para ela e combinar novos encontros, em lugares diferentes. Eles aproximam-se cada vez mais e finalmente o namoro oficializa-se. Uma passagem interessante mostra Paul ao contar à Linda, que compusera a música, “Let It Be” em homenagem à sua mãe, Mary McCartney (“When I find myself in times of trouble/mother Mary comes to me/speaking words of wisdow / Lei it be”...).
Um novo salto para 1995, mostra uma cena caseira, onde Linda pratica um autoexame em seus seios e nota a presença de um nódulo, que a preocupa. Após os exames de praxe, o médico confirma a presença de um câncer agressivo e anuncia um tratamento quimioterápico contundente. Cenas simbólicas sobre tal impacto gerado pela notícia, são usadas para acentuar a gravidade da situação, como por exemplo o fato dela notar que está a perder os seus cabelos, aceleradamente, por conta da quimioterapia.
 
Um novo flashback e volta-se à 1969, quando Paul convida Linda a assistir as filmagens do filme/documentário dos Beatles, Let it Be. Claro que Linda tinha plena consciência da vida alterada que Paul enfrentava há anos por conta da sua fama, mas no filme, dá-se a entender que somente ali, em 1969, foi o momento em que ela levara um choque de realidade ao mostrar cenas a enfrentar a multidão de fãs que montava vigília permanente no portão da mansão de McCartney e claro, os boatos sobre a sua pessoa já mostravam-se fortes a dar conta de seu romance com Paul, pois ela é hostilizada por garotas fanáticas pelos Beatles, que naturalmente sonhavam em estar em seu lugar. 
Mais cenas emblemáticas surgem, como por exemplo a conversa rápida que ela mantém com a governanta da residência de Paul, onde a senhora com trejeitos simples, mas a ostentar a típica fleuma britânica, adverte Linda para que ela resigne-se com a rotina em torno das fãs a assediar o seu patrão, dia e noite nos arredores da residência. E também a conhecer a cadela de estimação dele, a sheep dog, Martha, que inspirara Paul a compor a canção, “Martha um Dear’, que pode ser escutada no “White Album” dos Beatles, lançado em 1968. Linda sente na pele a hostilidade, com as fãs de seu namorado enfurecidas a xingá-la, sem nenhum pudor.
Mais um pequeno salto e Paul vai a Nova York para encontrá-la. Ao magnífico som da banda norte-americana, The Turtles, vemos Paul a usar um disfarce ridículo para andar livremente pelas ruas, sem correr o risco em ser assediado, junto a Linda. Paul conhece a família de Linda. O pai de Linda, o senhor, Lee Eastman (interpretado pelo veterano ator, George Segal), foi um advogado renomado e homem de negócios. Ele e o seu futuro genro falam sobre negócios e Paul estava mesmo preocupado nessa época com o rumo perigoso que a empresa fundada em sociedade com os demais componentes dos Beatles (Apple), estava a percorrer e de fato, quando a briga acirrou-se ele buscou a ajuda do seu sogro para representá-lo em processos múltiplos que foram movidos, inclusive entre os membros da banda, uns contra os outros.
 
A seguir, Paul & Linda e mais a filha do primeiro casamento de Linda, Heather Eastman (Paul a adotou legalmente e ela passou a usar oi sobrenome, McCartney, doravante), mudam-se para uma propriedade rural muito rústica que Paul possuía em algum lugar da Escócia. Paul estava fascinado por experimentar uma vida rural onde ele precisasse necessariamente para prover o bem estar da família, cortar a lenha; cuidar de animais e pequenas plantações, como um camponês. Em março de 1969, Paul e Linda casam-se oficialmente e as fãs vão ao desespero, conforme cenas a mostrar a choradeira perpetrada por essas moças (e algumas dessas fãs, nem tão jovens assim).
O clima dentro da banda está péssimo. Por conta de insatisfações as mais variadas e dinheiro incluso, como já salientei ao mencionar a empresa da banda, Apple, sob intenso processo de desmanche. Mostra-se que a filha do casal, Mary McCartney, nasceu. Decorrente das brigas no bastidor dos Beatles, é mostrada uma cena onde Lennon invade a casa de Paul e o hostiliza, inclusive com direito a mostrar violência ao quebrar objetos, bater portas e não respeitar Linda e as crianças, que ficaram bem assustadas com a cena deprimente. 
 
Não posso afirmar que tenha sido um fato real. No entanto, observo que em vários filmes a mostrar o ponto de vista de Lennon em torno da motivação que o levara a ficar nervoso, a história é narrada a mostrar que Paul violara um acordo verbal feito entre ambos, quando Lennon anunciara para a banda que desejava deixar os Beatles e Paul pedira à ele que não comunicasse isso oficialmente pela imprensa e que esperasse alguns meses para tal comunicado ser efetuado. Ocorreu que antes desse prazo pedido, o próprio Paul comunicou à imprensa que deixara a banda e simultaneamente anunciou o lançamento do seu primeiro álbum solo. Neste filme, Paul não dá uma versão mais convincente de que não fora esse o ocorrido, mas apenas mostra-se Lennon irascível, como se não tivesse nenhuma razão, justamente por ter perdido a compostura. 
Em outra cena, ainda pior, mostra-se Lennon a invadir a residência de Paul, para quebrar, mediante uma pedra que acha no jardim, uma vidraça da casa e a seguir proferir uma série de insultos e sair a pular o portão como se fosse um delinquente juvenil. Isso pode ter acontecido, na vida real ou não, a configurar-se como uma licença poética para expressar um momento de tensão, mas certamente que Lennon teve a sua motivação para ter ficado contrariado com a situação.
 
‘Flashforward” novamente e em 1996, Linda está a lutar contra o avanço da doença. O médico propõe o uso de uma medicação ainda experimental, mas que seria algo mais avançado para tentar coibir a devastação cancerígena. Bem, qualquer pessoa a passar por uma situação dificílima desse porte aceitaria qualquer alternativa para salvar-se. Infelizmente, em 1997, Linda piora.
 
Mais cenas mostram o passado, desta feita por volta de 1971, com Paul & Linda na propriedade rural da Escócia e a mencionar, o nascimento de mais uma filha, Stella McCartney. A criação do grupo, Wings, é um momento muito importante na biografia de Paul, mas neste filme, a narrativa logicamente privilegia a presença de Linda nesse contexto. Portanto, a ideia de Paul em incluir Linda, como componente oficial na banda nova que criara, a assusta, logicamente dada a constatação de que ela não era uma musicista. No entanto, a intenção de Paul é estar com a esposa o tempo todo para aliar-se à sua vontade em atuar ao vivo novamente, fator que não exercia desde 1966, quando os Beatles anunciaram que não tocariam mais ao vivo. Então, é mostrada toda a boa vontade de Paul em ensinar Linda a aprender os rudimentos musicais para poder tocar teclados; pandeiro e a cantar afinada nos backing vocals, nem que fosse dentro do limite da simplicidade, visto que ele cercara-se com bons músicos para formar tal nova banda e nesses termos, a participação dela não seria cobrada pela excelência musical, pelo menos em princípio. 
 
O famoso primeiro show do Wings feito de surpresa no Campus da Universidade de Leeds, na região norte da Inglaterra é retratado e a mostrar Linda nervosa em iniciar a apresentação e errar logo o primeiro acorde que tocou e Paul releva, ao demonstrar o pacto   de tolerância e paciência que estabeleceu com a sua esposa, ao esperar pelo seu desenvolvimento musical em plena atividade da banda na estrada, ou a trocar em miúdos, seria como ensiná-la a pilotar um avião, com o aeroplano em pleno ar. A despeito disso, é boa a cena da banda a tocar com energia o clássico cinquentista, “Kansas City” e a retratar a felicidade de Paul em estar novamente na estrada a tocar e também por ter bancado uma ideia aparentemente não muito boa, em ter sugerido a inclusão de sua esposa, uma pessoa sem técnica musical mínima, para tocar profissionalmente em uma banda de Rock cercada por músicos bons. 
 
Essa fase do casal à frente do Wings é mencionada rapidamente no filme, e eu entendo a questão do roteiro ter optado por não dar muita ênfase, mas lamento por outro lado, por ter representado na realidade, praticamente uma década inteira com uma intensa produção de fatos gerados e sim, muito boa música, pois o Wings jamais pode ser comparado aos Beatles pelo conjunto da obra ou pela sua significância histórica, no entanto, produziu bons álbuns e teve vários sucessos memoráveis, como por exemplo quando a canção, “Live and Let Die”, foi lançada para ser tema principal de um filme de James Bond em 1973, e ouso dizer, entre tantas canções-tema importantes que tal franquia cinematográfica colecionou por décadas, essa provavelmente foi a mais famosa de todos os tempos. Bem, o famoso show no Madison Square Garden de Nova York em 1976, é mostrado e a visita cordial do Paul & Linda ao apartamento do casal Lennon & McCartney, é mostrada, porém de uma forma bem tímida, embora mais realista de como fora retratada no filme “Two of Us”, anos mais tarde, mediante uma gigantesca licença poética para dramatizar tal situação.
Em janeiro de 1980, o grupo Wings já havia mudado de formação inúmeras vezes, ao manter apenas o casal McCartney e o guitarrista/baixista e cantor, Denny Laine no grupo. Eles chegam ao Japão para uma nova turnê, e mediante uma revista da polícia alfandegária nipônica, foi achado uma porção de maconha na bagagem de Paul. Ele vai preso imediatamente e a notícia corre o mundo. Ele é ameaçado em ficar preso por até sete anos se condenado, mas após alguns dias encarcerado e a conter muita conversa mediada por seus advogados, a prisão foi relaxada e ele libertado sem processo. Essa foi a gota d´água para ele dar por encerrada a atividade da banda, assim que voltou à Inglaterra. Ainda em 1980, mostra-se a reação de Paul e Linda em face do anúncio sobre o assassinato de John Lennon.
 
Um novo avanço para a frente e em 1997, a família McCartney está em Sussex, na Inglaterra e comemora a palavra do médico oncologista a esclarecer que houvera ocorrido uma pequena melhora no quadro de saúde de Linda, graças à nova medicação. Mas infelizmente isso fora um sinal não definitivo e a seguir, ela sente-se mal. Mesmo assim, ainda houve tempo para Linda obter uma última alegria em vida, pois é mostrada a ascensão profissional de sua filha, Stella McCartney, como estilista de moda.
Linda piora muito e vem a falecer em 1998. As suas cinzas são espalhadas pelas mãos de seus filhos, na Inglaterra e assim, como uma homenagem final, o filme tem o seu término.
 
Como eu já observei, até pelo menos este instante de 2019, quando escrevi esta resenha, esse é um dos poucos filmes a mostrar mais detidamente, Paul McCartney, ainda que a cinebiografada em tese tenha sido a sua falecida esposa, Linda McCartney. O filme cumpre a sua missão, posso afirmar, ao homenagear a pessoa de Linda, certamente uma boa pessoa e portadora de seus méritos pessoais. Por extensão, mostra momentos cruciais, embora melancólicos do momento em que os Beatles estiveram em crise e sob inevitável ação de encerramento de sua carreira; a trajetória do grupo Wings, ainda que estabelecida mediante uma decepcionante parcimônia e também a sua ação como fotógrafa, que foi importante no meio.
 
Aliás, cabe registrar que como fotógrafa, ela trabalhou em algumas revistas antes de prestar serviços para a Rolling Stone, o seu trabalho mais significativo nessa área. Há um dado que é memorável em sua trajetória como fotógrafa nessa importante revista: ela foi a primeira fotógrafa, como mulher, a ter uma foto sua a ilustrar a capa da revista (Eric Clapton, nesta ocasião), e anos depois, a primeira a ser retratada como musicista na capa, após ter sido fotógrafa da própria revista, quando foi exposta como componente do Wings. Ela fotografou além dos Beatles, Rolling Stones e The Doors, já citados, muitos outros artistas importantes. Jefferson Airplane, Bob Dylan, The Animals, The Who, Simon & Garfunkel e muitos outros. 
E sobre Jimi Hendrix, que foi seu amigo, Linda fotografou as sessões de gravação do LP Electric Ladyland, desse astro da guitarra. Uma foto que ela clicou de Neil Young, em 1968, foi usada muitos anos depois (2008), para compor a capa de um álbum desse grande artista, chamado, “Sugar Mountain”.
 
Outros atores não citados anteriormente: Tim Piper (John Lennon), David Lewis (como David Field, o seu biógrafo), Alexander Ruus (como James McCartney, filho de Linda), Chris Cound (como George Harrison), Michael Murtry (como Ringo Starr), Rafe McDonald (como Brian Jones), Jenafor Ryane (como a sua filha, Mary McCartney), Moya O’Connell (como a sua filha, Heather McCartney, em idade adulta), Linda Ko (como Yoko Ono), Michelle Skallinick (como a sua filha, Stella McCartney), Mitchell Parsons (como Bill Wyman), Vincent Flueck (como Charlie Watts) e outros, de apoio. 
 
O filme foi uma produção britânica e norte-americana em conjunto e teve a atuação de uma banda cover dos Beatles para suprir a trilha sonora, chamada “Fab Four”, além de outros artistas modernos para colaborar em reproduções. 
Foi baseado no livro: “Linda McCartney: A Portrait”, de Danny Fields, um jornalista que escreveu outras biografias e foi muito amigo de Linda e esteve representado no filme. Direção musical de J. Peter Robinson. Escrito por Christine Berardo e dirigido por Armand Mastroianni. 
 
Sobre o diretor, antes que alguém especule, aviso que ele não é filho, neto ou sobrinho do ator italiano, Marcello Mastroianni, como muitas pessoas costumam pensar, mas somente alguém a ostentar um sobrenome homônimo.
 
Foi lançado em maio de 2000, com uma repercussão razoável. A crítica realçou a abordagem amena, mesmo em pontos polêmicos, o que eu tendo a concordar em linhas gerais. Considero um bom filme, mesmo porque vem a tratar-se de um telemovie, onde a produção é sempre muito mais modesta do que um longa metragem para o cinema. Foi bastante exibido em canais abertos e na TV a cabo. No Brasil foi exibido com muitas reprises em canais populares de uma forma surpreendente até. Está à venda em formato DVD, nas lojas e sites de vendas do ramo e na internet, ao menos até este instante, a versão integral é possível em ser assistida no portal: “Internet Archive”.
 
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" através do seu volume II e está disponível para a leitura a partir da página 317.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Filme: School of Rock (Escola de Rock) - Por Luiz Domingues

Esta é uma comédia diretamente relacionada ao Rock, e a trazer incluso em seu bojo, os elementos típicos de uma comédia infantojuvenil e ambientada no cenário escolar. Por tal característica, apresenta muitos clichês típicos desse tipo de comédia, no entanto, por ter o Rock como objeto direto e não como um fator secundário, trata-se de uma peça especial. O segundo ponto para ser salientado, dá-se com a evidência de que ao usar o Rock como mote fundamental, há uma riqueza muita grande em seu roteiro ao dar vazão para que seja sedimentado através da sua construção de diálogos, a reunir muitas piadas bem específicas sobre o universo do Rock e também a resvalar em fatores inerentes a envolver o métier musical como um todo e logicamente a abranger a cultura Pop e por que não (?), aspectos da contracultura, igualmente.
Há por levar-se em consideração que o ator protagonista, Jack Black, além de ser um profissional muito bom, inclusive a destacar-se a sua forte veia como comediante, é um entusiasta do Rock em sua vida pessoal. Ele também é músico na vida real e este não foi o único filme em que atuou a interpretar personagens que sejam músicos ou envolvidos com a música, haja vista a sua boa atuação em “Tenacious D” e “High Fidelity”, entre outras produções. E também pode-se dizer que o diretor, Richard Linklater, já detinha também experiência com filmes que dirigira a enfocar a juventude sob múltiplos aspectos e uma comédia de sua autoria, “Dazed and Confused”, lançada nos anos noventa, é celebrada como uma das mais cultuadas daquela década, a mostrar um grupo de jovens a viver em 1976, em meio ao último dia de aulas em uma High School e sob uma trilha sonora espetacular, a desfilar uma portentosa lista formada por bandas de Rock setentistas, da maior relevância. 
“School of Rock” (“Escola de Rock”), em português, caracteriza uma rara oportunidade em que a distribuição nacional usou a tradução literal e não inventou um título fora do contexto da obra, em sua língua original. E não poderia ser de outra forma, visto que nenhum outro título poderia ser mais adequado para tal comédia. 
 
O filme é uma das melhores comédias já produzidas com o mote do Rock, tornou-se cultuado e uma sequência foi cogitada logo a seguir, mas por absoluta falta de sincronia entre as agendas do diretor, do ator Jack Black, do roteirista, Mike White e de membros da produção para focar em uma continuidade, isso não foi possível. E segundo o próprio, Jack Black já comentou em entrevistas, a vontade sempre foi grande em produzir-se a continuidade, e em 2008, isso quase ocorreu. Posteriormente, em 2012, uma nova tentativa esboçou-se e novamente não foi possível fazer o projeto prosperar. Em 2013, o celebrado, Andrew Lloyd Weber, autor de musicais do calibre de “Jesus Christ Superstar” e “Evita”, entre tantos outros, comprou os direitos sobre a história de “School of Rock” e em 2015, produziu o espetáculo nos palcos. Em 2014, uma adaptação foi levada ao ar no canal juvenil, “Nickelodean”, como um seriado de TV, porém a contar com uma produção bem modesta, típica da parte dessa emissora.
Sobre o mote central, a história é muito boa, a mostrar-se perfeita para amparar uma série de confusões geradas para alimentar a estrutura de uma boa comédia e a usar dos muitos clichês do humor infantojuvenil & escolar, além de usar o manancial de piadas típicas do universo do Rock, cultura Pop e da cultura/contracultura em geral. 
 
Nesses termos, vemos a história construída em torno de uma farsa e a envolver a questão da falsidade ideológica e até poder-se-ia arrolar a corrupção de menores nesse bojo, no entanto, a despeito dessa lista de crimes abomináveis, na prática, tudo é apresentado de uma forma lúdica, a atenuar a carga negativa que supostamente pudesse depor contra, portanto, é óbvio que não é possível levar-se tais acusações a sério e assim, o filme deve ser encarado exatamente como apresenta-se, ou seja, uma comédia ingênua e imbuída de boas intenções, em caráter subliminar.
A trama é a seguinte: Dewey Finn (Jack Black), é guitarrista de uma banda Hard-Rock, chamada “No Vacancy”. Tal banda é obscura, busca uma melhor colocação no mercado, mas nesse estágio, apenas toca em pequenos clubes e eventuais festivais dotados de um pequeno porte. Dewey destoa de seus companheiros, por ser obeso e mais velho, além de adotar ao vivo, uma performance bastante exagerada, ao lembrar de certa forma os trejeitos do guitarrista do AC/DC, Angus Young e todos esses fatores envergonham os demais membros da banda que vibram em outra sintonia. 
Eis que surge uma oportunidade para a banda, quando ela pleiteia concorrer em uma “batalha de bandas”, um típico e tradicional tipo de festival/concurso a premiar bandas, mediante votação em torno de suas respectivas performances no palco. Mas quando chega no estúdio para ensaiar em um certo dia, Dewey é surpreendido ao verificar que um outro guitarrista está a ensaiar com os seus companheiros. Sem maiores escrúpulos, os seus ex-companheiros comunicam-lhe que ele se considere demitido e o novo guitarrista, um sujeito que é jovem e esguio como eles, chamado, “Spider” (interpretado por Lucas Babin), está a ocupar a sua vaga, portanto, reforça-se o aspecto do preconceito por conta de Dewey ser obeso e a beirar a meia-idade.
Contrariado, Dewey volta para o apartamento onde divide o aluguel com um fraternal amigo, Ned Schneeble (interpretado por Mike White, o autor do roteiro, igualmente), e a namorada de Ned, Patty Di Marco (interpretada por Sarah Silverman). O ambiente nessa Lar é o seguinte: Dewey pouco contribui para sanar as despesas da casa por ser músico e quase sempre ter pouco dinheiro no bolso, proveniente dos parcos cachês que recebe eventualmente, proveniente de suas poucas apresentações realizadas em casas noturnas. E agora, fora da banda é que a sua situação tende a piorar. Ele tem a singela compreensão de seu amigo, Ned, que fora companheiro de uma banda pela qual atuaram muitos anos atrás. 
 
No entanto, Ned cortara a longa cabeleira e fora adequar-se ao mercado para ganhar dinheiro, e assim, por apresentar um temperamento dócil ao extremo, tolera a inadimplência do seu amigo e os seus maneirismos Rockers, todos. A contrapartida a garantir o humor, ocorre com a namorada de Ned, que pragmática ao extremo, não tolera os excessos de Dewey, ao cobrar-lhe o valor do aluguel (e sem poupá-lo de insultos), ou seja, a contribuição para que ele quite a sua dívida. Nesse aspecto, o modo de vida do Rocker (neste caso sem ostentar uma condição de fama que gere renda, mínima que seja), é bastante explorado para gerar boas piadas, como por exemplo as muitas implicâncias que a moça nutre pelo amigo do seu namorado, em torno dos hábitos sui generis observados pelo Rocker, Dewey Finn. 
Acuado, Dewey não enxerga uma alternativa emergencial para gerar algum tipo de renda e nessa situação, coloca alguns equipamentos e guitarras suas para vender. Alguns interessados entram em contato para negociar, mas em dado instante, uma pessoa que representa um colégio (Colégio Horace Green), liga para convocar o professor Ned Schneeble, que deixara um currículo ao pleitear uma vaga nessa instituição. De fato, Ned abandonara a errante vida Rocker, para estudar e agora, formado como professor, buscava tal colocação. Em princípio, Dewey apenas diz que Ned não encontra-se em casa, mas ao perceber que seria uma oportunidade para ganhar dinheiro, disfarça a sua voz e ao passar-se por Ned, aceita a oferta para ser ele em pessoa, o professor substituto por um breve período, no lugar de seu amigo. Pronto, está armada uma tremenda confusão a gerar um sem número de situações embaraçosas, mal-entendidos e claro, a gerar ótimas condições armadas para justificar piadas hilárias.
Pois então, Ned comparece disfarçado como professor e apresenta-se à diretora, Rosalie “Roz” Mullins (interpretada por Joan Cusack), que o aceita sem reservas, para conduzi-lo imediatamente a assumir uma sala de aula. Claro que tal situação é inverossímel, mas tudo bem, é uma comédia, não serei desagradável em cobrar realismo. 
Ao chegar na sala, ele nota um grupo de crianças na idade da pré-adolescência, absolutamente adaptadas à disciplina da instituição pela postura passiva, subserviente e sem nenhum indício de rebeldia, ao menos que fosse algo sutilmente identificável, visto que ao longo do filme, alguns alunos deram vazão a certos aspectos latentes nesse sentido. Trajados com uniformes bem tradicionais, o que faz menção aos colégios europeus, os alunos recebem o novo professor com todo o protocolo esperado, ou seja, em tom de absoluto respeito. No entanto, Ned/Dewey é um farsante e simplesmente não sabe o que ensinar às crianças e assim, limita-se a fazer o tempo passar com discussões inócuas e a propor descanso o tempo todo. O seu plano inicial e primordial, foi postergar ao máximo tal período que ele sabia, seria temporário, e assim, ele cumpriria a carga horária sem correr o risco de ser desmascarado e a ganhar uma soma de dinheiro.
No entanto, os alunos na faixa entre dez e doze anos de idade, mesmo imbuídos de sua inocência, o questionam sobre o que ele ensinaria e então, mais piadas ótimas são produzidas, aos montes. Eis que em um dia posterior, a diretora alerta que os alunos terão um período com aula de música e Dewey vai assistir tal atividade ministrada em uma sala especial, por outro professor. Ali, ele observa vários de seus alunos a tocar diferentes instrumentos, mediante a leitura de partituras e em alguns casos, a demonstrar uma técnica surpreendente. A sua perspicácia age rápido, pois ele apanha alguns instrumentos e equipamentos em sua Van e quando os alunos voltam para a sala, são surpreendidos com uma estrutura montada para uma banda de Rock ensaiar em sua sala de aulas.
Estupefatos, não entendem qual seria a intenção do “professor”, e assim, são facilmente ludibriados. Ned/Dewey planeja secretamente formar uma banda, e com ela, participar da tal “batalha de bandas”. Um pequeno potencial musical ele sentiu existir, ao vê-los na aula de música, então, o seu grande dilema passa a ser: como fazer com que pré-adolescentes absolutamente ingênuos, formem uma banda de Rock com solidez para apresentar-se ao vivo e a concorrer com outras bandas sedimentadas? Eis então que para quem não sabia nem como disfarçar não ter nada a ensinar, ele encontra uma matéria para ensinar aos seus alunos, desde o be-a-bá dessa cátedra: Rock’n’ Roll! Pois não basta ensaiar essas crianças a tocar e cantar com desenvoltura, porém faz-se mister que entendam e sintam o Rock em todas as suas nuances. Eis aí a “Escola de Rock” que dá nome ao filme.
Nesse ponto, Ned/Dewey é perspicaz ao envolver a criançada, por convencê-las que tal esforço seria um projeto escolar e que este deveria ser absolutamente sigiloso, exatamente para poupá-lo da vigilância da diretora e também dos pais. Para tanto, é hilária a forma rápida com a qual recruta as crianças para ocupar as vagas como instrumentistas e cantores. As crianças que ficaram de fora, o questionam sobre a possibilidade de não ganhar nota, ao não participar do projeto e ele rapidamente acha uma solução ao designar funções múltiplas, a explicar-lhes que uma banda de Rock não funciona apenas por conta de seus componentes, o que aliás, é uma verdade absoluta. Portanto, ele monta uma equipe a contar com técnicos, roadies, seguranças e até uma “empresária”, visto que nota o potencial incrível para a argumentação de uma simpática menininha, Summer “Tinckerbell” Hathaway (interpretada por Miranda Crosgrove). 
É bem verdade que algumas crianças pedem para trocar de função ao notar que seriam mais úteis em outros postos. É o caso da vocalista, Tomika “Turkey Sub” (interpretada por Maryam Hassan), que tem potencial vocal outrora não expresso e ao demonstrar os seus dotes, o professor imediatamente a incorpora ao corpo de backing vocalistas. E também foi o caso de Billy “Fancy Pants” (interpretado por Brian Falduto), que propõe ser o estilista responsável pelo figurino da banda. Os meninos que foram designados a cuidar da segurança, Frankie “Tough Guy” (interpretado por Angelo Massagli) e Leonard “Short Stop” (interpretado por Cole Hawkins), montam uma vigília a detectar a presença da diretora nas imediações e evitar que sejam surpreendidos em suas aulas sobre Rock’n’ Roll e sobretudo em relação aos ensaios que naturalmente envolveria a incidência de forte presença de emissão sonora.
Piadas sensacionais são produzidas nessa fase do filme, a envolver diretamente o Rock, pois o professor passa a discorrer sobre o assunto em diversos aspectos, inclusive no campo teórico, ao encher a lousa (quadro-negro, para quem não for paulista), com diversos dados a explicar a história do Rock. A trilha sonora usada é excelente e cria uma atmosfera sensacional para encorpar o filme e dar vazão às piadas. Inclusive, quando a banda é formada de uma forma abrupta, isso também é obviamente uma ótima piada e envolve o Rock, pois o professor faz com que alunos que jamais ouviram Rock clássico em suas vidas, toquem de primeira, músicas como: “Smoke on the Water” (Deep Purple) e “Iron Man” (Black Sabbath). Discos clássicos do Rock são distribuídos para cada aluno “estudá-lo” como uma lição de casa. 
O guitarrista, Zack (Interpretado por Joey Gaudos Junior), gosta de tocar violão clássico, e tem um certo apoio paterno, desde que esteja com os estudos regulares em dia e jamais toque Rock na sua hora permitida para o lazer ao violão, a reforçar a ideia do conflito. Vídeos a mostrar cenas clássicas de músicos do Rock, são exibidos em sala de aula, e assim mostra-se engraçado ver o professor a teorizar sobre as loucuras cênicas perpetradas por artistas como Jimi Hendrix, Pete Townshend, Keith Moon e Angus Young.
A banda fica formada então com: Zack “Zack-Attack” Mooneyham, na guitarra; Freddy “Spazzy” McGee Jones (interpretado por Kevin Clark), na bateria, Katie “Posh Spice” (interpretado por Rebecca Brown), no baixo, Lawrence “Mr. Cool” (interpretado por Robert Tsai), aos teclados, Alicia “Brace Face” (interpretada por Aleisha Allen), como backing vocalista, Martha “Blondie” (interpretada por Caitlin Hale), como backing vocalista e a já citada anteriormente, Tomika “Turkey Sub” (interpretada por Maryam Hassan), como backing vocalista. 
 
Ainda a fazer parte da equipe de produção, os garotos, Gordon “Roadrunner” (interpretado por Zachary Infante), como técnico de iluminação e Marco “Carrot Top” (interpretado por James Hosey), como responsável pelos efeitos visuais e nesse aspecto, o professor afirma que o tópico a abordar o uso do “gelo seco” seria abordado nas aulas, como se fosse um trabalho escolar de ciências. Nota-se que todos receberam apelidos a reforçar alguma característica específica de suas respectivas personalidades e também a conter a intenção em emular algum tipo de estratificação Rocker, como um esforço da parte do professor, para acelerar a maturação de crianças entre dez e doze anos de idade, de uma forma instantânea. 
Outra piada muito engraçada ocorre, quando algumas meninas que foram designadas para ser “groupies” da banda, simplesmente aceitaram tal função sem fazer a menor ideia do que isso significaria. Uma delas questiona o professor no dia seguinte, ao afirmar ter pesquisado no “google” e ter descoberto que “groupie” designava um tipo de servidão sexual que ela nem entendia direito do que tratava-se na prática, mas que deduziu ser algo vergonhoso ao ponto de notar ser algo execrado de uma forma geral, portanto, que tais meninas que adotavam tal posicionamento, fossem chamadas como “vagabundas” por muitas pessoas. Embaraçado, o professor contra argumenta a explicar-lhe que uma “groupie” é um tipo de menina que ama tanto uma banda, que a segue aonde ela for, sempre disposta a ajuda-la com muita boa vontade. Pois é mesmo um eufemismo que cabe, se visto sob esse ângulo bem ameno e assim, a pequena menina aceitou a "função", no auge da sua ingenuidade.
Surge também a sugestão para o nome da banda: “School of Rock”, nada mais apropriado. O “estilista” da banda apresenta figurinos fortemente influenciados pela estética do Glam Rock setentista, com direito à piada explícita, ao mostrar-se tal menino a vestir um boneco com tal criação sua, a lembrar o visual de David Bowie nos anos setenta.
 
No convívio com os outros professores na sala dos mestres, mais piadas ótimas são geradas, pois ao ser indagado sobre questões pedagógicas, ele simplesmente nem entende as perguntas e as suas respostas dotadas de sentido nonsense, passam miraculosamente por absoluta sorte, ao crivo de seus supostos pares. Mais que isso, por ser simpático e bem-humorado, os mestres passam a gostar dele, sem nenhuma suspeita. Uma aluna entra inesperadamente na sala dos mestres e afirma adorar as aulas do falso professor, Schneebly. Os outros professores impressionam-se com a empatia e chegam a comentar que isso era raro ali naquele colégio tão tradicional.
Em sua casa, a namorada do verdadeiro, Ned Schneebly estranha que Dewey saia cedo todos os dias ao alegar ter arrumado um emprego e prometer por conseguinte, que em breve poderá acertar as contas atrasadas por estar a receber. Na escola, a diretora também passa a estranhar alguns detalhes e aparece de surpresa para acompanhar uma aula. Devidamente mancomunado com os alunos, há toda uma estratégia de segurança montada para disfarçar ser uma aula convencional. Ela sugere um café fora da escola para conhecê-lo melhor e ele a conduz a um bar Rocker, cheio de pessoas a adotar um visual alternativo e ela estranha. Na falta de café, bebem cerveja e uma vez embriagada, ela deixa escapar que adora Stevie Nicks, a ex-vocalista do grupo, Fleetwood Mac, portanto, há uma recôndita conexão sua com o Rock.
 
Uma artimanha é montada para favorecer a banda inteira, a incluir a sua “equipe de produção”, para deixar a sala de aula e participar de uma prévia da tal “batalha das bandas”. Por uma questão de tempo, eles perdem a inscrição e então o professor trapaceia a comover os organizadores, quando afirma que aquelas crianças seriam enfermas, acometidas por uma doença terminal e portanto, participar do festival seria o último desejo delas em vida. Claro, isso é levado em consideração e a banda não é desclassificada previamente.
Eis que um fato inesperado ocorre, quando o pagamento do professor chega em cheque entregue para o verdadeiro, Schneebly. Inofensivo como sempre, este nem esboça ficar bravo com a falcatrua perpetrada pelo seu amigo ao usar o seu nome indevidamente, mas a sua namorada fica enlouquecida com essa notícia e não vacila em denunciar Dewey à polícia. O conflito final atende perfeitamente a estrutura de uma comédia tradicional infantojuvenil/escolar, pois envolve a polícia a interromper a aula, explosão nervosa da diretora, revolta de um comitê formado pelos pais dos alunos e nessa confusão, Dewey sai a correr com as suas guitarras em fuga desenfreada. 
 
Deprimido, volta a dormir o dia inteiro em casa e com a namorada do seu amigo a expulsá-lo mediante impropérios. Entretanto a virada na história chega, quando ele é acordado pelos seus alunos que estão prontos para atuar na batalha das bandas, independente da opinião de seus pais e autoridades escolares e assim, exortam Dewey a vestir-se rapidamente para que a banda vá ao teatro onde o evento realizar-se-á. Decidem usar uniformes escolares como figurino, e o estilista da banda apresenta uma roupa nesses moldes para Dewey usar, ao estilo de Angus Young. 
Uma vez no teatro, eles chegam em cima da hora e a banda a apresentar-se antes da “School of Rock”, é ironicamente a ex-banda de Dewey, “No Vacancy”. A apresentação dos rivais encerra-se e a “School of Rock” vai subir ao palco. Nesse ínterim, bem no espírito das comédias escolares, a diretora e os pais dos alunos querem entrar no teatro, com todas a mostrar-se enfurecidos, mas o porteiro mostra-se irredutível e assim, os pais não tem outra alternativa a não ser comprar ingressos. No momento em que os pais adentram o ambiente e chegam com certa truculência bem perto do palco, na base do “sai da frente que o meu filho vai apresentar-se”, a banda entra e apesar de um começo relutante, logo passa a tocar com muita desenvoltura e leva a plateia ao delírio, incluso os pais dos músicos, que ficam absolutamente surpresos com a performance. É claro, licença poética forte, o áudio e a mímica exibida mostra um resultado coadunado com uma banda formada por adultos com muita técnica e experiência, bem distante do som que produziam nas sala de aulas, como iniciantes. A canção tratou-se de uma composição do tímido, Zack, que o falso professor fez questão em anunciar ao microfone e isso causa um forte impacto em seu pai que tanto o reprimia anteriormente. O menino porta-se como um Rock Star e ao ver as meninas a delirar por seu filho com dez anos de idade, o pai muda a postura ao demonstrar orgulho.
Bem, após a ovação popular, parece patente que a “School of Rock” venceu a competição, mas ao ser anunciado o resultado, todos surpreendem-se com a vitória do grupo: “No Vacancy”. Há uma reação popular em repúdio e aos gritos de “School of Rock”, eis que a decisão é revista e esta banda é declarada como vencedora. O final feliz previsível, no entanto, isso não chega a incomodar, pois da maneira como foi montado o clichê, o espectador já torcia por isso e assim, o que vale ali é a comoção.
Mas não para por aí, pois a cena final mostra que a escola ficou encantada com a vitória a fazer uma forte propaganda positiva em seu favor e assim, ao mudar radicalmente a sua postura, monta um curso extracurricular oficial, com o agora professor, Dewey Finn como contratado a ministrar o seu curso de Rock, (o verdadeiro Ned Schneebly também é contratado para ensinar guitarra para crianças menores), com direito a um estúdio munido de equipamentos & instrumentos e a banda a ensaiar, quando uma divertida apresentação de cada membro é promovida enquanto Dewey canta a canção do AC/DC: “It’s a Long Way to Top” (If You Wanna Rock’n’ Roll).
Filme simpaticíssimo, engraçado, hilário em alguns momentos, traz boas atuações, incluso dos atores mirins; um bom roteiro e diálogos recheados por ótimas piadas e menções ao Rock, sob diversas nuances. A trilha sonora é espetacular e inclui uma música do Led Zeppelin, algo muito raro, pois é muito difícil que pelo menos um ex-membro dessa banda não negue autorização para a utilização de suas canções em filmes, mas desta feita, os sobreviventes, Page, Plant & Jones e também da parte dos herdeiros de John Bonham, não criaram empecilhos. 
 
Além de “Immigrant Song” do Led Zeppelin, que toca em uma cena onde o falso professor conduz os seus alunos em sua Van, a cantar trechos da letra junto ao áudio do disco, ouve-se: The Clash, Kiss, Cream, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, The Doors, The Who, Ramones, Metallica, The Darkness, David Bowie, The Stoogies, T.Rex, The Velvet Underground, Stevie Nicks, e outros, isto é, prevaleceu o Classic Rock, mas alguns artistas mais modernos, pós anos noventa, também estão presentes.
Escrito por Mike White, que também atuou como ator, como já citei; foi dirigido por Richard Linklater e lançado em outubro de 2003.

O filme recebeu muitas críticas positivas, a realçar a criatividade da história, mesmo que montada sob os clichês tradicionais do gênero. Foi um sucesso de bilheteria também; rapidamente ganhou edição em DVD e passeou pelos canais da TV a cabo com bastante constância. Encontra-se disponível na grade da Netflix, atualmente (2019, quando escrevi esta resenha), e na Internet aberta, via YouTube, apenas em trechos ou a pagar-se via Google Play. Sugiro a busca em portais de filmes similares.

Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume III, com a leitura disponibilizada a partir da página 313.