sábado, 1 de setembro de 2012

Filme: Stoned (A História Secreta dos Rolling Stones) - Por Luiz Domingues

Em 2005, o diretor, Stephen Whooley, lançou um filme longa-metragem sobre Brian Jones, guitarrista e fundador dos Rolling Stones, morto em 1969.
A premissa do filme foi baseada em uma versão pouco confiável sobre a sua morte, ou seja, o famoso e não confirmado depoimento prestado pelo empreiteiro, Frank Thorogood, que em seu leito de morte em 1993, afirmou a uma autoridade policial que assassinara Brian Jones em 1969. 

Vamos aos fatos pregressos: Brian Jones foi membro fundador dos Rolling Stones e era considerado um gênio musical. Multi-instrumentista e aberto à todo tipo de experiências musicais, era idolatrado pelos fãs da banda. 
Com a consolidação da fama do grupo, Brian mergulhou fundo no estilo de vida de genuíno "Rock Star" e em meio a loucura proporcionada pelo advento da chamada, "Swinging London", tornou-se um de seus mais expressivos personas. 

A partir de 1967, os abusos decorrentes da fama e consequentemente do dinheiro em fartura, começou a fazer com que insatisfações geradas por conta com suas posturas pouco focadas na carreira, aflorassem dentro da banda, em relação aos seus companheiros.
Em 1968, em meio as gravações do LP "Beggar's Banquet", ele já demonstrava estar improdutivo pelos abusos cometidos, e em 1969, o clima ficara insustentável, com os demais a convidá-lo a retirar-se do grupo, praticamente.
Em meio a esse clima desagradável, não deu muito tempo para ele lamentar o seu infortúnio, visto que uma fatalidade ocorreu, quando em 3 de julho de 1969, o seu corpo foi achado a boiar na piscina de sua mansão. 

Os Rolling Stones fariam um show gratuito no Hyde Park de Londres, dois dias depois, para marcar a estreia do novo guitarrista, Mick Taylor, mas diante dessa fatalidade, foram impelidos a anunciar que este seria um show em homenagem ao ex-companheiro falecido.
De fato, foi um show histórico, com a presença de cerca de quinhentas mil pessoas, e por ter tido como banda de abertura, o King Crimson, a mostrar-se espetacular no campo do Rock Progressivo, ainda desconhecida do grande público, visto que tal grupo faria a sua estreia nesse dia, além de outras atrações (Family, Alexis Korner, Roy Harper etc). Esse show dos Rolling Stones está devidamente registrado em um DVD oficial, chamado: "Stones in the Park". Nele, Mick Jagger lê um poema escrito por Percy Shelley, em homenagem a Brian, mediante o efeito visual de uma revoada de borboletas, simultaneamente. E quando a banda executou a música:"Sympathy for the Devil", eis que entrou em cena, vários percussionistas africanos caracterizados com figurino folclórico, como uma tribo selvagem, e Jagger diz que vão tocar um "samba". 

Entretanto, em relação à morte de Brian Jones, após investigações exaustivas, a polícia britânica nunca esclareceu o caso a contento, ao deixar no ar a versão de que ele afogara-se acidentalmente, pois estaria em estado mental muito alterado, devido aos abusos costumeiros em relação ao álcool e drogas. 
Claro, por ser um ídolo com fama mundial, a sua morte misteriosa suscitou diversos boatos que espalhou-se mundo afora. E a versão de que fora assassinado, veio à tona, é lógico. Até Mick Jagger e Keith Richards foram citados como "mandantes", em versões baseadas em teoria da conspiração que proliferou pela rede mundial de fofocas da ocasião e a internet nem era pública nessa época, portanto, o boato voou pelos meios prosaicos da época.
Essa versão de que o empreiteiro que estava a realizar reformas em sua casa o matou, também foi ventilada, mas nunca houve uma prova conclusiva. 

Tanto que o sujeito viveu tranquilo, até que em 1993, por sentir a sua morte chegar decorrente de um câncer terminal, resolveu confessar o crime, e supostamente morrer em paz com sua consciência. No entanto, será que foi algo sincero ou apenas motivado por alguma razão ainda desconhecida? Por que ele revelaria tal informação em tom de confissão, apenas em seus últimos suspiros?
E foi por aí, baseado nesse depoimento, que o filme foi baseado. Por ser uma produção barata, não houve recursos para caprichar em nada.
Portanto, tal produção mostra-se bastante decepcionante em diversos aspectos. Nem perderei tempo em enumerar os pontos falhos, indo direto ao crucial: como é concebível um filme sobre Brian Jones, que não contenha uma só música dos Rolling Stones em sua trilha sonora? Por outro lado, ao pensar nos produtores sem recursos, como eles poderiam arcar com a fortuna exigida pela editora detentora dos direitos das músicas dos Rolling Stones, para integrar a trilha sonora?
Sendo assim, as poucas menções aos Rolling Stones, ocorrem com versões de músicas que eles tocavam de outros autores, bem no início da carreira, como por exemplo, "Not Fade Away", do Buddy Holly, cujas taxas exigidas para uso, foram muito mais baratas por parte da editora.
E tirante poucas versões de bandas contemporâneas dos Rolling Stones na década de 1960 (lembro-me em ouvir canções de bandas contemporâneas dos Rolling Stones, tais como: Small Faces; Traffic e Jefferson Airplane, entre outras), o restante da trilha foi elaborado com versões de bandas modernas dos anos noventa, de influência sessentista, como o Kula Shaker, por exemplo. 
Se não fosse uma tentativa de cometer-se uma cinebiografia de um astro real do quilate de Brian Jones, o filme poderia passar como um filme sobre a vida de um Rock Star fictício, ambientado na década de sessenta, com certa dignidade, apesar da falta de recursos, mas ao tratar-se dele, fica realmente difícil para aceitar uma produção tão simples, sem as suas músicas (imperdoável!), e também pela versão pouco confiável a respeito de sua morte, através de um depoimento muito suspeito.
Fora esses aspectos cruciais (infelizmente), o filme tem lá os seus atrativos por retratar a loucura dos anos sessenta, apesar da escassez de recursos dessa produção. São mostradas festas de arromba, regadas a muito loucura, a psicodelia lisérgica a enlouquecer a todos, literalmente; os casos amorosos com mulheres instigantes (Anita Pallemberg teria sido um dos motivos de discórdia dentro dos Rolling Stones, claro, pois na vida real, ela, que fora a sua namorada, o deixou para ficar com Keith Richards, seu próprio companheiro de banda, ou seja, outro baque que Brian sofreu) etc.

Ponto positivo, não se pode reclamar da atuação do ator, Leo Gregory, que esforçou-se para interpretar, Brian Jones, da melhor maneira possível.
 
 
Destaque também para Paddy Considini, que fez Frank Thorogood, Tuva Novotny (ao interpretar uma outra namorada, a garota sueca e belíssima, Anna Wholin), e Monet Mazur, mais pela sua beleza física, ao interpretar a outra namorada de Brian, Anita Pallemberg, que o deixou para ser namorada de Keith Richards. Luke De Woolfson interpretou, Mick Jagger, e Ben Whishaw, fez Keith Richards. O baixista, Bill Wyman foi interpretado por Joseph Altin e o baterista, Charlie Watts, por James D.White. E ainda a respeito da banda, o empresário dos Rolling Stones naquela ocasião, Andrew Loog-Oldhan, foi interpretado pelo ator, Will Adamsdale.
Brian teria dito na vida real, que roubaram-lhe a sua namorada e a sua banda, o que de certa forma fazia sentido, embora não ele levasse em conta o seu estado mental alterado pelos abusos.
E no caso específico de seu suposto assassinato, o filme mostra a relação conflituosa entre Brian e o empreiteiro que reformava a sua casa, a tratar-se de uma mansão conhecida como: "Cotchford Farm", localizada em East Sussex. 

Estabeleceu-se entre eles um jogo em torno de provocações e soberba, onde supostamente Brian Jones deu motivos para Frank Thorogood passar a odiá-lo, mas fica a pergunta: ao ponto de matá-lo? Tudo bem, pessoas cometem crimes por razões banais no cotidiano, principalmente em países de terceiro mundo, portanto, causa espécie que em um país de primeiro mundo, onde tal ocorrência é raríssima, senão inexistente, essa tenha sido a motivação do tal trabalhador para dar cabo da vida de Brian.
Brian Jones é considerado um dos quatro "J", ícones do Rock que morreram precocemente entre 1969 e 1971, a nomear-se: Brian Jones; Jimi Hendrix; Janis Joplin, e Jim Morrison.
Quem sabe no futuro, Martin Scorsese ou Oliver Stone não resolvem fazer uma produção mais caprichada, e com orçamento digno? Pois um aspecto é indiscutível, Brian Jones merece uma cinebiografia desse porte. 

Outros atores que participaram dessa obra: David Morrisey (como Tom Keylock), Amelia Warner (como Janet), David Walliams (como o contador), David Williams (como Speecy), Gary Love (como Jeff), Johnny Shannon (como Ladford), Melanie Ramsey (como Mrs. Thorogoode, a esposa do suposto assassino de Brian Jones), Rüdiger Rudolph (como Volker), Ralph Brown (como Gysin), Alfie Allen (como Harry), Guy Flanagan (como Dino), Vanessa Landford (como Jackie), Lisa O'Reilly (como Mary), Jenna Aaron (como Joan), Tom Espiner (como o técnico de áudio dos Rolling Stones), Anna Madeley (como a secretária dos Rolling Stones) e mais alguns atores de apoio.
Sobre a trilha sonora, a despeito de não haver músicas dos Rolling Stones, lastimavelmente, mesmo assim, a parte musical tem muito material de ótima qualidade. Além dos artistas que eu mencionei anteriormente, arrola-se também: Robert Johnson, Bob Dylan e Bee Gees, e entre as bandas modernas dos anos 2000, que gravaram versões de clássicos do Blues e do Rock, destaca-se: The White Stripes e Kula Shaker. 
Escrito por Neal Purvis e Robert Wade. Produção a cargo de Finola Dwyer e Stephen Wooley. Direção por Stephew Wooley. Foi lançado em novembro de 2005.

Cabe ainda acrescentar que o subtítulo que foi usado no Reino Unido, foi: "The Wild and Wicked world of Brain Jones", que sob uma tradução livre seria algo como: "O Mundo Selvagem e Perverso de Brian Jones", o que em si, denota um exagero histriônico ao meu ver. No entanto, no Brasil, o subtítulo escolhido para ser usado em português, foi ainda pior, pois induz o espectador a uma avaliação errônea sobre a banda em si. Portanto, "A História Secreta dos Rolling Stones", foi  um título capcioso e que poderia ser até alvo de reclamação  da parte do espectador que pagou um ingresso na bilheteria de uma sala de cinema, se levado às últimas consequências, pois definitivamente, não se trata de uma cinebiografia dessa banda grandiosa.
O filme angariou pouca projeção no circuito  comercial, ao  restringir-se aos cine-clubes e festivais alternativos, e nem  despertou grande comoção entre os fãs dos Rolling Stones, como esperar-se-ia. Foi exibido em algumas ocasiões esporádicas em canais de TV a cabo. E na internet, atualmente (2012), eu receio que só possa ser visto através do Google Play, em versão paga. No portal YouTube somente há fragmentos.
Resenha publicada inicialmente na rádio/Blog do Juma, em 2012. Posteriormente esta resenha foi revista e ampliada para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", e encontra-se disponível para a leitura em seu volume II, a partir da página 41.

4 comentários:

  1. Não conhecia esse filme Luiz, mas também achei um completo absurdo o fato de um filme sobre um ex-integrante dos Rolling Stones, não ter músicas da banda e retratar seus integrantes como meros detalhes insignificantes na vida do Brian Jones... É realmente inconcebível! Notei algo parecido no filme que fala sobre o movimento rock Brasília dos anos 80, também achei que tinha pouca música, se tratando de um filme com o tema rock.

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    1. Sem dúvida, Fernanda !

      É inacreditável produzirem um filme sobre Brian Jones e não conter nenhuma música dos Rolling Stones, mas por outro lado, eu entendo a angústia dos produtores e do diretor, pois a verba que tinham não daria nem para sonhar em pagar os direitos autorais delas à editora detentora.

      Realmente existiu uma enorme boa vontade em fazer o melhor possível, mas sem dinheiro, o resultado ficou pífio.

      Não chega a ser constrangedor como dois filmes que retratam a respectivamente a biografia de Little Richard e Jimi Hendrix, mas infelizmente é bem fraquinho.

      Como disse no texto, Brian Jones merece algo muito melhor. Citei Scorsese e Stone, mas o Cameron Crowe também é qualificado para tal empreitada.

      Obrigado por ler e comentar !!

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  2. onde vc baixou o filme? vc poderia disponibilizar o link por favor? obrigada!

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    1. Oi, amiga !

      Infelizmente vou ficar lhe devendo essa informação, pois não baixei da internet. Vi-o em DVD pela primeira vez, assim que foi lançado e posteriormente o vi novamente num canal da TV a cabo (Telecine Emotion),em 2009.

      Obrigado por ler e comentar !

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