A sociedade
norte-americana é sabidamente bastante jurídica em sua ordenação natural. Não apenas pelo enorme número de
advogados formados anualmente pelas suas universidades, mas principalmente pela
gigantesca profusão de processos protocolados em seu sistema judicial, diariamente,
o que justifica a demanda por muitos advogados; promotores; juízes, e todo o
entourage que compõe as suas cortes. Portanto, é
muito natural que o tema judicial alimente a cultura, com formas de
arte a retratá-lo das mais diversas formas. E assim
desenhou-se a saga de um personagem que nasceu nos livros de histórias
policiais, para alcançar posteriormente o cinema; as histórias em quadrinhos; foi
adaptado para as radionovelas; e chegou a televisão, para estabelecer muito sucesso. Falo sobre
o advogado, "Perry Mason", profissional implacável e certamente um personagem sensacional.
O escritor Erle Stanley Gardner, o autor do personagem Perry Mason
Criado por
Erle Stanley Gardner, o primeiro livro com o personagem, foi lançado em 1933.
Dali em diante, foram 80 livros lançados, a explorar o personagem e com uma
marca registrada : todas as histórias mantiveram o início do título escrito como
“The case of”...("O caso de {o}{a}"), com um complemento diferente a designar
cada um, posteriormente.
Na
construção do personagem, Erle criou Perry Mason como um homem idealista, muito
profissional e incansável. Com isso, o marcou como um advogado que só aceitava
casos em que tinha 100% de certeza de que seus clientes fossem inocentes,
a denotar um senso de ética implacável, e mais que isso, com a perseverança de
fazer de tudo para inocentá-los, e assim evitar eventuais erros da justiça e por conseguinte,
a preservar a imagem do próprio sistema judiciário, a garantir-lhe a
infalibilidade e consequente confiança do cidadão comum, em torno da sua atuação. Em seu
escritório, ele contava com o apoio de dois funcionários fiéis, nas figuras da secretária,
Della Street e do detetive particular, Paul Drake, que muito o ajudavam, a cumprir o
trabalho de investigação feito nas ruas, a fim de coletar provas para dar elementos à
elaboração da tese de defesa de seus clientes. Os livros
foram lançados sob um ritmo frenético pela editora, com até quatro lançamentos
em um mesmo ano, periodicamente de 1933, até 1973.
Ainda nos
anos trinta, tal saga do personagem alcançou as telas do cinema (em 1934, para ser preciso), pela primeira vez, para repetir aparições em outras películas, até 1937, ao perfazer seis filmes
produzidos para a tela grande, com o famoso ator, Warry William, a interpretá-lo
por quatro vezes; no penúltimo filme produzido em 1936, tendo outro ator no
papel, Ricardo Cortes e no último, de 1937, Perry Mason foi interpretado por
Donald Wood.
No avançar
pela década de quarenta, as histórias de Perry Mason foram adaptadas para o
Rádio, ao ser produzidas como radionovelas. Com historietas curtas a conter apenas quinze minutos de duração na média, ficou no ar de 1943 a 1955,
porém, com um título diferente : “Edge of Night”, apesar de manter toda a estrutura
normal dos personagens criados para os livros e adaptados ao cinema.
Outra ação
paralela foi a incursão pelas histórias em quadrinhos, todavia sem repetir o mesmo
sucesso, provavelmente pelo fato de não atingir o público infantojuvenil,
principal nicho consumidor de tais revistas. Mas depois que chegou à TV, uma nova
incursão pelos quadrinhos foi relançada e fez um pouco mais de sucesso.
Finalmente, a série
"Perry Mason" chegou à TV, em 1957, através de uma realização da produtora Paisano, para a
Rede CBS de Televisão. Seriado
criado por Gail Patrick Jackson e Patrick Cornwall Jackson, usou como base dos
roteiros, os livros de Erle Stanley Gardner e os roteiros adaptados para o
rádio. Os
produtores da série desejavam inicialmente contar com atores como : Efrem Zimbalist Jr.;
William Hopper; Fred MacMurray ou Richard Carlson para interpretar o incansável
advogado, Perry Mason.
Conta-se
como boato de bastidores, que quando o ator, Raymond Burr apresentou-se nos
estúdios para fazer teste para um outro personagem (ao visar interpretar o
personagem do promotor, Hamilton Burger), o próprio autor do personagem, o
escritor, Erle Stanley Gardner impressionou-se com sua figura e saiu a gritar pelos corredores : -“É ele ! É Perry Mason”, ao referir-se ao ator, Raymond Burr.
A atriz, Barbara Hale, que interpretou Della Street
William Hopper, interpretou o detetive particular, Paul Drake
O veterano ator, Ray Collins, que interpretou o tenente Tragg
William Talman interpretou o promotor público, Hamilton Burger
Os outros
atores da série foram : Barbara Hale (a interpretar Della Street, a secretária);
William Hopper como Paul Drake, o dono da agência de detetives “Drake”, que
fornecia detetives particulares que auxiliavam o advogado Mason; Ray Collins
como o tenente Tragg, que durão, mantinha muitas vezes os clientes de Mason
presos até o resultado final dos julgamentos, para dificultar os esforços do advogado de defesa; William Talman como Hamilton
Burger, o promotor público que sempre enfrentava Mason nos tribunais. Além de
personagens secundários como Steve Drumm (interpretado por Richard Anderson);
William Katt (Paul Drake Jr.); William R. Moses (Ken Malansky); e Hal
Holbrook, como William “Wild Bill” McKenzie.
A estrutura
dos episódios seguiu o padrão americano de seriados dessa época, com cerca de
52 a 55 minutos de duração, cada um, e sem gancho ao estilo das novelas, a
estabelecer continuidade, para começar e encerrar uma história completa a cada
episódio.
Grande parte
da ação passava-se no ambiente dos julgamentos, portanto houve uma sofisticação
nos diálogos, principalmente nas intervenções de Perry Mason e da parte do seu oponente, o
promotor Burger. Contudo, também houve muita ação
encenada pelas ruas e no escritório de Mason, a retratar a coleta de provas para auxiliar
na defesa de seus clientes.
O elemento
dramático fazia-se presente no sentido de que geralmente por configurar-se como causas
“impossíveis” para provar-se, pelas circunstâncias, a genialidade dos roteiros em
achar detalhes imperceptíveis para os telespectadores, fazia com que a atenção
fosse capturada até o veredicto final. Eis aí portanto, um
dos seus maiores trunfos, senão o maior da série, pois mesmo sendo uma
repetição sumária do mesmo mote, o público prendia a sua atenção a esperar pelo
detalhe a dar reviravolta na história, atraído pela solução sutil que os
roteiristas elucubravam para criar, aliás, eles deviam esforçar-se muito para elaborar tais saídas tão bem engendradas. Dessa forma, tratava-se da
repetição da ideia de que um inocente era injustamente acusado de um crime e
com provas irrefutáveis a depor contra, seria salvo no final do episódio graças
a uma prova cabal e achada na última hora. Nesse aspecto, o carisma do advogado realçava-se, visto que isso só ocorria pelo fato dele ser absolutamente obstinado em sua busca pela verdade.
A série fez
grande sucesso na América, espalhou-se pelo mundo afora e chegou ao Brasil
ainda ao final dos anos cinquenta, quando foi exibida aqui pela TV Record. E assim, fez sucesso
entre os brasileiros, também. Ficou popular ao ponto das pessoas brincarem,
ao dizer que “em qualquer circunstância, se ficar difícil resolver algum problema, contrate
Perry Mason que ele resolve”...
E se aqui
ficou popular assim, claro que na América, muito mais e lá, entre muitas
brincadeiras, estigmatizou-se que todo sujeito metido a “sabichão”, que gostava de exibir-se
nas rodinhas de conversa, obviamente denotava que o sujeito prestava atenção nos discursos do Perry Mason, proferidos nos tribunais, durante os episódios da série. Perry Mason
teve nove temporadas, de 1957 a 1966, ao contabilizar 271 episódios.
Logo após
seu término, o ator Raymond Burr foi protagonista de outra série de sucesso na
TV, chamada “Ironside”, onde interpretou o policial paraplégico, Robert T. Ironside, que
apesar da deficiência física, era durão e combatia o crime com firmeza, auxiliado
por assistentes jovens. Tal seriado durou de 1967 a 1975, para fazer sucesso,
igualmente.
O bom ator, Monte Markhan, que não deu sorte ao interpretar Perry Mason, em 1973
E tanto fez
sucesso, que quando planejaram a “volta “ de Perry Mason, em 1973, Raymond Burr
estava comprometido com essa outra série (Ironside), e dessa forma contrataram o ator, Monte
Markhan para interpretar o advogado brilhante. Nenhum outro ator do elenco da
série clássica foi convidado a atuar e infelizmente essa versão foi um
fracasso, ao exibir somente 15 episódios, levados ao ar entre 1973 e 1974.
Em 1985, a
concorrente da CBS, a Rede NBC, bancou um telefilme (TV Movie), para reviver o
personagem, e a contar com Raymond Burr e Barbara Hale, do elenco original da série. O
ator, William Hopper já havia falecido e assim, o filho da atriz, Barbara Hale,
Willian Katt, que tornara-se ator igualmente, foi contratado para viver o
detetive, Paul Drake. Tal TV Movie
foi bem recebido pelo público, e outros foram produzidos em sequência.
Tratou-se de um Perry Mason bem envelhecido, a aproveitar o envelhecimento natural do
próprio ator, Raymond Burr, entretanto, tal situação não atrapalhou em nada e pelo contrário, foi muito bem aceito pelo público, até 1993, quando o ator
faleceu, infelizmente.
Foram produzidos
mais quatro episódios, até 1995, a usar atores diferentes, mas o carisma esteve
mesmo com a figura de Burr, que encarnou o personagem como ninguém,
inegavelmente.
Muitas
reprises foram promovidas, incluso no Brasil, até os anos setenta, mas paulatinamente puseram-se a sumir paulatinamente da TV aberta,
ao ser exibido em canais de TV a cabo, especializados em produções de TV vintage,
mas hoje em dia, que eu saiba, não está mais no ar.
Episódios no
You Tube são encontrados e as caixas oficiais de DVD foram lançadas na América,
mas acredito que no Brasil, não. Em sites de colecionadores é possível achar
cópias alternativas.
Perry Mason
fez muito sucesso, marcou época e tem muitos méritos, a começar pela
criatividade na elaboração dos roteiros; a passar pela qualidade dos diálogos
elaborados; o fator surpresa, paradoxalmente estabelecido em um ambiente de repetição
sistemática; pelo bom elenco e notadamente pelo carisma do ator, Raymond Burr.
Contém uma trilha
sonora muito marcante, também, com o espetacular tema de abertura em destaque,
composto por Fred Steiner e intitulado : “Park Avenue Beat”. Tema muito
bonito, tem um piano a marcar um "staccato" como base, enquanto os instrumentos de
sopro trabalham em torno da melodia principal. Destaque também para a bateria, a fazer uma
batida incomum para orquestrações tradicionais da década de cinquenta, quase
a soar como Rock’n Roll, portanto ao ter marcado como algo moderno ao extremo para aquele momento de 1957, sem dúvida.
Ouça acima o tema de abertura do seriado : Perry Mason
Muitos
diretores famosos por sua atuação no cinema, assinaram episódios dessa série. Laslo Benedeck; Jack Arnold
e Arthur Hiller entre muitos outros.
Sobre os
atores convidados, a respeito das nove temporadas (ao referir-me somente ao seriado
clássico e a ignorar a tentativa de continuação mal-sucedida de 1973, e os TV
Movies dos anos 1980 e 1990, a lista é gigantesca sobre personas conhecidas da TV e do
cinema norte-americano.
Barbara Eden
(I Dream of Jeannie); Paul Fix (Voyage of the Bottom of the Sea); Whit Bissell
(The Time Tunnel); Angie Dickinson (Police Woman); Abraham Sofaer (ator em
todas as series de Irwin Allen); Ruta Lee (participações em uma infinidade de
seriados, de Twilight Zone a Maverick); Murray Hamilton (muitas participações na
TV, mas no cinema, muito mais, como “Seconds”; “The Graduate”; “Jaws” etc);
Yvone Craig (a Batgirl de Batman /1966); Fray Way (a mocinha de King Kong,
versão clássica de 1933); Elysha Cook Jr. (um ator com carreira no cinema desde
1930, com uma soma de trabalhos inacreditável); Hugh Marlowe (outro ator com
forte currículo no cinema); Edward Platt (o "chefe" de Maxwell Smart em “Get
Smart”); Robert Redford (acho que dispensa comentários de apoio...); James
Coburn (idem ao Redford...); Louise Fletcher (“Star Trek / Deep Space Nine”);
Adam West (“Batman”/1966); Simon Oakland (“Kolchak and the Night Stalker”);
Wesley Lau (“The Time Tunnel”); Lian Sullivam (ator com muitas participações em
seriados nas décadas de cinquenta e sessenta); De Forest Kelley (o Dr. McCoy
de “Star Trek”); Burt Reynolds (outro que dispensa apresentações); Linden
Chiles (ator com muitas participações nas séries de Irwin Allen); Leonard Stone (“The
Jean Arthur Show”); Ellen Burstyn (“The Exorcist”); R.G. Armstrong (“Cheyenne”);
Mark Goddard (o Major West, de “Lost in Space”); Leonard Nimoy (o Mr. Spock, de
Star Trek”); Bette Davis (preciso apresentar ?); Michael Rennie (“The Day the
Earth Stood Still”); Walter Pidgeon (veterano do cinema, dispensa
apresentações); Billy Mumy (o Will Robinson, de “Lost in Space”); David McCallum
(“The Man from Uncle”); George Takei (o Sr. Sulu, de "Star Trek"); Victor Buono (o Rei Tut, de “Batman”/1966); Michael
Ansara (outro que foi um ator de confiança de Irwin Allen e esposo na vida real de
Barbara Eden/Jeannie e aliás, invejado no mundo todo por isso...); Paul Carr (“Voyage
to the Bottom of the Sea”); June Lockhart (a srª Robinson de “Lost in Space”);
Mike Connors (Mannix); Lee Meriwheter (“The Time Tunnel”), e muitos outros.
O episódio
piloto, foi filmado em 1956, um ano antes da estreia na TV, e com o requinte de
um filme ao estilo "noir" quarentista. Foi reeditado posteriormente e entrou como o episódio de nº 13,
na primeira temporada, com o título : “The Case of the Moth-Eaten Mink”. No último
episódio em 1966 (“The Case of The Final Fade Out”), o criador do personagem,
Perry Mason, o escritor Erle Stanley Gardner, aparece como presidente do júri,
ao cumprir uma singela participação como ator.
Sobre o
elenco clássico, o ator Raymond Burr faleceu em 2003. Barbara Hale está viva em
2016, com 94 anos de idade; William Hopper deixou-nos em 1970; Ray Collins
partiu também, em 1965; William Talman, deixou-nos em 1968; Richard Anderson está vivo em 2016, com 89 anos de idade.
Assim foi
Perry Mason, uma série que fez muito sucesso, apesar de ser ambientada no mundo
jurídico, com as suas longas sessões de
oratória e nem sempre em linguagem coloquial, aliás, nunca para ser preciso, e
assim, é realmente um mérito para essa produção ter despertado a atenção do
público para um show forense, e assim abrir caminho para que outras séries a enfocar
o mundo jurídico, viessem depois a fazer parte da história da TV, igualmente.
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