segunda-feira, 14 de junho de 2021

CD Avenida Paulista/Jessé "Blindog" Carvalho - Por Luiz Domingues

Este álbum representa o fechamento de uma trilogia feita pelo extraordinário guitarrista e compositor, Jessé Carvalho, cujo codinome, “Blindog”, também denomina a banda por ele fundada e liderada desde 1995, no entanto, se os dois primeiros discos da trilogia, retrataram em prosa e verso a megalópole de São Paulo, estes foram considerados como trabalhos da banda, todavia, desta feita com o CD “Avenida Paulista” o encerramento dessa saga é creditado como um álbum solo do artista.

Experiente (Jessé está na ativa da vida artística, desde 1965, quando fundou o seu primeiro grupo: “Blue Star”), ele é brutalmente influenciado pelo melhor da produção do Rock e do Blues das décadas de sessenta e setenta, tocou em muitas bandas pela noite e pelos bailes da vida, foi um dos fundadores do famoso grupo: “Irmandade do Blues”, uma banda icônica do métier do blues brasileiro, até criar a seguir, o seu não menos significativo grupo de Rock & Blues: “Blindog”

Versado fortemente pelo Blues-Rock em essência, ele é também um hábil articulador do Hard-Rock, R’n’B, Blues tradicional, Acid-Rock sessentista e muitos outros estilos, portanto, a versatilidade é uma das suas ferramentas, ao lado da técnica apurada e extrema capacidade criativa para criar riffs poderosos. No entanto, também com um poder de criação em torno do teor Pop, haja vista a sua produção mediante ótimas melodias e harmonizações, a garantir que as suas canções sejam bem delineadas.

Isso sem deixar de mencionar que ele é igualmente um instrumentista com dote duplo, pois também toca baixo, além de ser ótimo compositor e arranjador, letrista e detém um outro predicado que é raro nos dias atuais: a sua visão do Rock é versada pela cartilha da mais nobre estirpe, daí a sua credibilidade como artista ser irrepreensível.

Neste álbum, “Avenida Paulista”, ele traz um conjunto de quatorze músicas (duas delas são regravações de antigos trabalhos do Blindog e anotadas como "revisitadas"), a trafegar pelos estilos já citados, com um brilho intenso. 

Impressiona a qualidade dos riffs, harmonização, melodias, arranjos, vocalizações da parte de seus bons cantores convidados, os solos poderosos de sua parte, boas letras escritas e tudo muito bem produzido sob o ponto de vista da produção de áudio, mediante ótimos timbres, principalmente da parte da guitarra e nesse quesito, Jessé é um discípulo da tradicional e infalível clássica guitarra, Fender Stratocaster, a sua marca registrada em termos de sonoridade.

Sobre a capa e encarte, eu gostei da proposta simples, a mostrar a persona de Jessé como ilustração central e com a placa de rua a demarcar o nome da Avenida Paulista. Trata-se de uma foto envelhecida em sua resolução, a dar um ar amarelado e que contrastou bem com o fundo proposto.

No encarte, há um emocionante texto de autoria do próprio Jessé a traçar um histórico da sua carreira até os dias atuais, além de fotos de seus músicos convidados, das suas guitarras & equipamentos e a ficha técnica. 

E cabe destacar igualmente que na capa, há um box a estabelecer um mote publicitário muito divertido ao fazer alusão a uma linha de pensamento controversa: “Powerblues para roqueiros: Blues. Para blueseiros: Rock”. Que fique claro que há uma dose maciça de tais alicerces musicais e muito mais no âmago desta obra.

Sobre as músicas, cabe uma reflexão pormenorizada:

Ouça “Avenida Paulista”. 

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ZsEhKh7p0ME

“Avenida Paulista” a faixa que também denomina o disco e mescla várias influências misturadas. Ali se percebe o Hard-Rock, Blues e Southern Rock em essência. Em sua parte “A”, o ritmo fracionado abre campo para a vocalização soar como uma súplica, com bela interpretação do cantor, Rama Raynsford.

O refrão, é sensacional, a lembrar o estilo do Acid-Rock sessentista e a letra, enumera diversos bairros da cidade de São Paulo, a se revelar uma bela homenagem à megalópole e por conseguinte, enaltecer a ideia da Avenida Paulista como uma espécie de simbiose para tal ode.

Escute “Algemado e Arrastado”:

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=uZdzQnYXnec

A segunda faixa, “Algemado e Arrastado”, começa com um riff poderosíssimo, ultra Acid-Rock sessentista, ainda mais explícito do que fora observado na primeira canção. A melodia é excelente e o arranjo com convenções bem arquitetadas e harmonia muito bem colocada, valoriza demais a canção. O solo é excelente e o apoio da gaita valoriza ainda mais o bom trabalho.

Ouça “Coração Trincado”

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=TDi-EfuriI8

“Coração Trincado” é um Blues tradicional, e claro, muito bem tocado. Como não se empolgar com uma peça desse teor? Os solos mais uma vez, se mostram como muito bons, tanto da guitarra quanto da gaita.

Escute “Blues para Aylan”:

Eis o Link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=suOrBSEDqLg

“Blues parta Aylan”, vem a seguir e a sua intensidade é impressionante. O ritmo é bem marcado pelo baixo e bateria, mas a harmonia não segue a tradição dos três acordes típicos do gênero e pelo contrário, voa longe e assim possibilita também uma maior amplitude para a melodia central para assim permitir que o cantor interprete e também por conter apoio no dobro de voz, muito bem feito.

Ouça “A Velha Harley”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=VfULwZbn0_Y

“A Velha Harley” é a quinta faixa. Não falta o motor e o arranque da moto para dar início à canção e a seguir, o Hard-Rock dá as cartas sob uma primeira instância, mas o Rock’n’ Roll in natura também se apresenta. 

São muito interessantes os desenhos propostos pela guitarra, a colorirem em demasia a canção, assim como o bom apoio da gaita. E também se revela muito bom o solo da guitarra a fazer uso do wah-wah.

Escute: “Seduzido e Mal Pago”:

Eis o Link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=odie2ROngf0

“Seduzido e Mal Pago” traz o Blues-Rock clássico e ele vem com tudo. Tal peça me lembrou muito o som de Robin Trower em sua carreira solo. Adorei o som anasalado da guitarra na parte do solo.

Ouça: “Learning to Cry (Revisada)

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=i9aqbDRT38Y

A sétima faixa é: “Learning to Cry" (revisitada). Esta é bem influenciada pelo Blues texano sob uma primeira instância e se mostra muito vibrante pelo balanço, a lembrar o R’n’B Pop de Edgar Winter, mas há o vocalize todo trabalhado no refrão que me levou diretamente como referência, ao trabalho do duo vocal: “Ghetto Fighters” nos anos sessenta.

Escute “Julia”:

Eis o Link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=NW9FgJPs0s8

“Julia” é uma balada bastante emocional, gostei muito da melodia e sobretudo do solo, super melódico, feito em dueto a abrir vozes dentro da harmonia da canção, através das guitarras.

Ouça “Opala 76”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=iRg6Wiy_G78

“Opala 76”, a nona faixa, é versada pelo Blues-Rock em essência e eu gostei muito da linha de voz em sincronia com a divisão rítmica. E também de mais um solo com o uso do wah-wah muito bem engendrado, além de mais uma vez apresentar como recurso, a voz dobrada a imprimir um estilo tradicional para o trabalho de Jessé Blindog.

Ouça “Vida de Cão:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=FWS4iXmcTds

“Vida de Cão” vem a seguir e o Power-Blues observado nessa faixa é vigoroso. Uma parte B que advém é muito bonita ao propor o Blues mais melódico, graças aos acordes elaborados e igualmente pela condução balançada, via “andante”.

Escute: ”Beco da Eterna Escuridão” (revisitada):

Eis o Link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=8OxK0ML4eC0

“Beco da Eterna Escuridão” (revisitada) contém um sentido Pop muito interessante na sua melodia de refrão, assim como se mostra com um ritmo dançante, embora na sua constituição básica, haja o Blues como proposta, com convenções a delinear tal intenção. Mais uma vez o solo super melódico em dueto, ofertado pelas guitarras de Jessé, chama a atenção.

Ouça “O Mais Triste dos Blues”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=BZDM2dY3jps

“O Mais Triste dos Blues” é vibrante por natureza, ao trazer o riff base bem orientado pelo Acid-Rock sessentista. A melodia é muito bem construída e as convenções enriquecem muito a obra. É ótimo o solo, a lembrar bem o som de Jimi Hendrix.

Escute “Metrô das 7”:

Eis o Link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=x_YpfcbzUCE

“Metrô das 7” tem um balanço incrível, ao fazer me lembrar do som de Dr. John em sua parte cantada com forte teor do R’n’B de New Orleans. Há uma parte acelerada, muito interessante em adendo e o riff é excelente.

Ouça “Balada de um Homem Mau”:

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=65kutbaxHjU

“Balada de um Homem Mau” é a décima quarta faixa do álbum, a encerrá-lo. Gostei muita da sua introdução com convenções bem intrincadas feitas pela guitarra e baixo. Há elementos da escola do Hard-Rock, mas prevalece a base Blues-Rock. 

Gostei do uso de oitavas pela guitarra e baixo a reforçar a voz em alguns versos. Outra vez a fazer uso do recurso do dueto, as guitarras comandadas pelo Jessé constroem uma belíssima melodia a la “Wishbone Ash”.

Com a dedicatória de punho do artista: fiquei honrado por isso!

Para encerrar, eu digo com entusiasmo que o álbum “Avenida Paulista” é mais um trabalho muito inspirado do guitarrista e compositor, Jessé “Blindog”, que eu recomendo com ênfase.

O álbum está disponível em versão de mídia física tradicional e também através das plataformas musicais.

CD Avenida Paulista - Jessé Blindog Carvalho

Gravado, mixado e masterizado por Alexandre Fontanetti no Estúdio Space Blues de São Paulo

Capa e encarte/lay-out: José Irecê Martins e Angeli (dog)

Fotos: Leandro Medina (capa) e Fabio Grum

Produção: Jessé “Blindog” Carvalho e Alexandre Fontanetti

Direção geral: Jessé “Blindog” Carvalho

Jessé Blindog Carvalho: Guitarra, baixo, backing vocals, composições, letras e arranjos

Músicos convidados:

Rama Raynsford: Voz (faixas 1 a 6, 8 a 10 e 12)

Bruno Trítono Santana: Voz (faixas 7, 11, 13 e 14)

Marcelo Viterite: Bateria

Robson Fernandes: Gaita

Para conhecer melhor o trabalho de Jessé "Blindog" Carvalho, acesse:

Facebook:

https://www.facebook.com/jesseblindogpowerblues

Canal do YouTube:

https://www.youtube.com/channel/UCLSra6vTKboX_FXHP2Upfuw/videos

Contato direto com o artista:

blindogpowerblues@yahoo.com.br

4 comentários:

  1. Ter meu trabalho solo, o álbum "Avenida Paulista, que gravei aos 70 anos de idade e em plena pandemia, numa resenha do mega músico Luiz Domingues (baixista e compositor nas bandas Patrulha do Espaço, Chave do Sol, Kim Kehl e os Curandeiros...), também notável incentivador dos artistas independentes e agitador cultural, é mais que uma satisfação, é um privilégio! É prazeroso saber por alguém não contaminado pelo processo de gravação do trabalho, as referências e influências que estão impregnadas em cada participante e que foram externadas em cada música do álbum. Caro Luiz Domingues, só me resta agradecer muito e torcer para que você continue prestando esse trabalho de excelência na contemplação, análise e incentivo à cena independente e autoral tupiniquim! Avante!!!

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    1. Sensacional a sua colocação, Jéssé!

      Agradeço pelo enaltecimento sincero do meu esforço para divulgar o trabalho dos nossos artistas, de fato é uma missão que eu cumpro com o máximo prazer, mesmo cônscio de que o meu Blog é humilde e não possui o alcance que seria necessário para massificá-los como certamente eles merecem pela qualidade de suas respectivas obras.

      Grato pelos elogios pessoais igualmente, eu fiquei bastante lisonjeado com as suas colocações carinhosas.

      Parabéns pela obra e luta! De fato, estar no patamar underground da música não é fácil, eu sei disso como um colega teu que está no mesmo barco e sei bem das dificuldades inerentes. Portanto, gravar mais um ótimo álbum e em meio a uma pandemia terrível desse porte é mais que uma luta artística & cultural, mas um ato de bravura da sua parte.

      Que venham mais discos!

      Abração, amigo!

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  2. Caro Luiz Domingues, muito agradecido por essa bela resenha! Já estou debruçado em um novo material e, tenho por meta, que no mínimo seja do mesmo nível do anterior. Então, espero que daquí a pouco tempo, tenha um novo material autoral para mostrar. Grande abraço e sucesso em suas várias empreitadas (sei que está vindo material inédito do Kim Kehl & Curandeiros. Só pode ser coleção de pérolas!!!).

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    1. Muito obrigado pelo seu apoio, amigo Jessé!

      Excelente notícia sobre já estar a trabalhar em mais um disco inédito, você, além de talentoso, tem uma energia invejável!

      Verdade, Os Kurandeiros anunciam disco novo em breve, quero crer que em agosto de 2021, tenhamos o álbum na praça. Grato pela sua torcida pela nossa banda!

      Abração!

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