Portanto, achei bem colocada a autoclassificação que os membros dessa banda acharam para designar do que se trata o seu próprio produto.
Na parte musical, o V-Mentes mostrou qualidade técnica e artística neste seu trabalho inicial e também uma boa dose de ecletismo ao apresentar um som com várias influências salutares. Os rapazes foram do Pop-Rock ao R’n’B com desenvoltura, mas avançaram ainda mais ao demonstrar uma boa proximidade com a MPB, e de uma maneira até surpreendente, a flertar com o Rock Progressivo e também de uma maneira bem sutil, com a psicodelia nordestina setentista.
Com um áudio satisfatório para o padrão mais comedido da produção independente, o trabalho se mostra agradável em sua audição de uma maneira geral e a performance da banda é muito boa, com cada instrumentista a desempenhar com bastante competência as suas respectivas especialidades.
Sobre a capa do álbum, ela se mostra bem simples a conter a ilustração da massa encefálica de um cérebro humano em coloração vermelha sob um fundo cor de rosa. E na parte da contracapa, há uma ficha técnica sobre o trabalho, até que bem munida de informações, dadas as circunstâncias do pouco espaço disponível para tal.
Como músico e acostumado às agruras do artista que habita o patamar “underground” da música profissional, eu entendo perfeitamente a opção por uma mídia de armazenamento no padrão do “CD-R” como opção mais viável ao bolso do artista e neste caso, sem "silk" com ilustração, portanto, relevo a ausência de um acabamento melhor categorizado nesse item.
Sobre as quatro canções apresentadas nesse álbum, destaco mais alguns detalhes a seguir:
“Olhos Vermelhos” é uma releitura que a banda fez de uma canção do grande Guilherme Arantes. Sucesso nos anos 1980, a versão do Guilherme tem a sonoridade típica daquela década, com o exagero estético imposto na formulação do áudio, ou seja, a se mostrar super pasteurizado, uma grande pena, mas claro, a se tratar de um artista do quilate de Guilherme Arantes, a qualidade da canção se sobrepõe com naturalidade.
No caso desta versão do “V-Mentes”, a predisposição foi seguir praticamente o mesmo arranjo presente no disco do Guilherme Arantes, no entanto, sem aquela carga oitentista toda, pois afinal de contas, a época era outra e os membros dessa banda não sofreram imposição de algum produtor com alta carga de condicionamento em torno do comercialismo, conforme o Guilherme deve ter sido submetido nos anos 1980.
Destaco a presença de uma cantora convidada (chamada: Bruna, e faltou grafarem o seu sobrenome na ficha técnica), que apoiou bem o vocalista da banda, André Vieira.
A segunda faixa, “Ressuscitei”, tem o elemento do Rock Progressivo em diversas passagens do arranjo, inclusive no uso de boas convenções e intervenções pontuais de uma flauta transversal.
Mas a canção se mostra híbrida, no sentido de que há também elementos do som “Grunge” e do “Funk-Metal”, a se tratar de estilos surgidos ao final dos anos oitenta e mais proeminentes no início dos anos noventa, ou seja, a refletir o gosto pessoal dos rapazes que devem ter acompanhado com interesse pessoal tal cena no decorrer da adolescência de cada um.
“Ao Vento” é a terceira faixa e se trata de uma balada no estilo R’n’B, e é inevitável não pensar na tendência aberta do Pop-Rock sob tal viés da Black Music, bem marcante nos anos noventa e início dos dois mil, e celebrado por bandas como o Jota Quest, por exemplo.
Não posso afirmar categoricamente que tenha sido essa a inspiração do “V-Mentes”, mas na minha percepção, foi o que me sugeriu de imediato.
O solo de guitarra com notas longas é bem interessante, com apoio bom dos teclados e na interpretação vocal, eu notei uma predisposição para a eloquência, a lembrar o estilo do Meat Loaf, de certa forma. A música avança para uma parte inteiramente diferente e nesse instante, o baixo se destaca pelo balanço imprimido.
Para fechar o disco, a canção: “Cem Tons de Cinza” traz uma boa porção de brasilidade pela via da MPB mais moderna. Além disso, o Rock Progressivo se mostra presente pela elaboração mais complexa do arranjo e aquela porção de psicodelia setentista nordestina traz um sutil elemento nonsense muito interessante para somar, sem dúvida.
Em suma, por essa pequena amostra em formato de um compacto duplo, o “V-Mentes” mostrou qualidade em todos os quesitos e automaticamente se credenciou como uma banda promissora a pleitear uma carreira interessante.
E tanto foi assim que na contracapa do disco, a banda
deixou a afirmação otimista de que em março de 2003, lançaria um CD completo,
todavia, a banda prosseguiu sem atingir tal objetivo e mediante uma mudança de formação, culminou que os novos companheiros do cantor André Vieira se mostraram mais interessados em atuar pela noite a interpretar música não autoral e assim, a banda encerrou atividades por volta de 2008.
Para complementar, se não há registros específicos sobre o CD compacto, "Made in Casa", ao menos há a boa nova de que o vocalista André Vieira pode ser escutado em trabalhos solo que desenvolveu posteriormente em carreira solo, além de sua atuação com o bom grupo de Rock Progressivo, Tisaris, mediante vários álbuns lançados. Portanto, aprecie tais trabalhos relevantes, cujas indicações se encontram abaixo.
Gravado no estúdio “Olho do Anjo” de Lavras-MG, entre setembro e dezembro de 2002
Operação de áudio (captura e mixagem): André Vieira
Capa (arte e lay-out): André Vieira
Produção geral: André Vieira
Formação do V-Mentes nessa gravação:
André Vieira: Voz
Adriano: Baixo, violão e voz
Fábio: Bateria, percussão, sopros e voz
Thomaz: Guitarra, violão e voz
Ket: Teclados
Participação especial:
Bruna: Voz
Para conhecer melhor o trabalho do vocalista André Vieira, acesse o link do Spotify para ouvir quatro álbuns do grupo de Rock Progressivo, "Tisaris":
https://open.spotify.com/artist/2J4zomeknTnu3oawPeH1x4?fbclid=IwAR3y0KphcTwr148B9HvEREdQ27W4uX5Ifn0E2P_H6uvvA2My8aZuixbGj_k
O canal do Tisaris no YouTube:
https://www.youtube.com/user/tisaris
Veja essa performance ao vivo de André Vieira, em carreira solo, a interpretar a canção: "Honra":
https://www.youtube.com/watch?v=MEw92NYCBEk
Eis o link do YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hjaJw_PSNQg
Agradeço ao bom vocalista André Vieira que forneceu-me informações valiosas sobre a trajetória do V-Mentes, além de outros trabalhos seus e também ao amigo Marinho "Rocker", grande colecionador de discos e ativista cultural, que é de Lavras-MG, a terra natal dessa banda e igualmente colaborou com informações sobre a trajetória do V-Mentes.
Belíssimo texto, caro amigo!! Realmente eu nunca havia lido nada sobre eles pela Net!! Obrigado pela menção no texto!
ResponderExcluirOlá, amigo Marinho!
ExcluirAgradeço muito pelo seu apoio sempre tão entusiasmado. De fato, há uma carência muito grande de informações sobre a trajetória dessa banda e sendo assim, creio que a minha modesta contribuição com tal resenha desse primeiro álbum do V-Mentes, supre de certa forma tal hiato.
No entanto, lastimo não ter nenhuma referência de áudio para indicar ao leitor, que certamente vai ficar curioso ao tomar conhecimento da resenha, e assim poder conferir mediante uma boa audição do material que os rapazes criaram.
Grato também pelo seu apoio ao me fornecer informações sobre a banda, que eu pude anexar no final da resenha.
Grande abraço!
Estimo sucessos contínuos para você Mesre Luiz Domingues e para banda de Rock mineira, "V-Mentes"!
ResponderExcluirMuito obrigado pela sua participação efusiva ao apoiar o Blog e sobretudo, o trabalho da banda V-Mentes, objeto de minha análise nesta resenha acima.
ExcluirGrande abraço!