terça-feira, 15 de abril de 2025

Filme: Rock'n' Roll High School - Por Luiz Domingues

O diretor, Allan Arkush, mostrava-se afeito ao Rock em sua formação pessoal, por conta de ter sido um funcionário do míticos auditórios, Fillmore East e West, ou seja, um dos principais templos norte-americanos para o Rock nos anos sessenta e setenta (tanto foi assim, que nos anos 1980, ele lançaria o filme : “Get Crazy”, em 1983, para ser preciso, para tentar prestar um tributo ao Fillmore East, cuja resenha desse citado filme, eu também já elaborei e portanto, falo sobre como essa suposta homenagem não configurou-se a contento). 
 
Entretanto, a sua veia natural a pender para o humor mais próximo do pastelão, mostrou-se proeminente. Daí, o diretor, Roger Corman, apareceu com a proposta de produzir uma película a buscar esse caminho e com o enfoque atualizado, moderno, a retratar a conjuntura da música que a juventude de final de década de setenta estava a consumir e pela qual refletisse a época.
Corman foi um diretor especializado em filmes de terror e ficção científica (mais terror), que vinha desde os anos cinquenta a construir a sua filmografia nesse sentido, mas especificamente nos anos sessenta, houvera experimentado (com o perdão pelo trocadilho), uma incursão à realidade paralela construída pelo conceito da contracultura e nesses termos, mantivera uma boa aproximação com o Rock, por extensão. 
 
Tal esforço de sua parte houvera ocorrido principalmente por conta de seu contato direto com um grupo de atores hollywwodianos e que formavam uma confraria de entusiastas pela contracultura & afins, entre os quais, Jack Nicholson, Peter Fonda, Bruce Dern, Karen Black e Dennis Hopper, para citar os principais artífices e por conta disso, Corman lançara filmes tais como: The Wild Angels, The Trip e outros filmes a abordar a juventude sessentista. 
 
Todavia, Corman perdera o fio da meada e ao final dos anos setenta, não continha mais uma referência do que ocorria em termos socio-comportamentais no seio da juventude e por conta disso, buscou em Allan Arkush e outras pessoas associadas, uma fonte para atualizar-se.
Bem, Arkush foi em tese uma boa pessoa a ser consultada se a intenção foi buscar uma retomada cinematográfica para abordar o assunto contracultural. Todavia, para o seu azar em 1979 o que Corman encontraria como sentimento legítimo de uma estratificação cultural natural pelas ruas, seria apenas um mero fruto da formação de opinião detratora, contudo, a veia humorística de Arkush não deixaria a produção tomar um rumo em torno da seriedade, mesmo que a situação assim delineasse-se. 
 
Portanto, se o leitor quiser assistir o filme, “Rock’n’ Roll High School”, a esperar uma continuidade do que Roger Corman expressara em películas que dirigiu ou coproduziu nos anos sessenta com tal teor, pode esquecer. No entanto, se tiver consciência que esta obra em si, trata-se apenas de uma peça sem maiores pretensões a não ser o humor escrachado, constituído pelo "pastelão" clássico do humor popularesco, então, sem problema, estará diante de um típico filme para ser assistido sob soslaio, na sala de estar de sua casa, enquanto a tarde passa lentamente ao seu redor.
Sob um roteiro absolutamente infantilizado, a história é baseada em um argumento remotamente inspirado em uma história verídica ocorrida em uma escola localizada em Milwaukee, Wisconsin, nos anos 1920, em torno de uma greve organizada por alunos, algo impensável para ter ocorrido entre jovens geralmente subservientes e nada contestadores, naquela década. No entanto, foi o mote para construir-se a história desse filme. 
 
Ocorre que neste caso, a ideia de uma diretora que impõe uma disciplina militarizada e logicamente intransigente, incomoda os alunos que desejam a bagunça, pelo sentido amplo da gíria. Nesses termos, uma aluna que é uma fanática seguidora da banda Punk, Ramones, organiza-se, com o apoio de outros alunos Rockers da escola para combater a repressão desmesurada da parte da linha dura adotada pela inspetora, e em torno dessa premissa, todas as piadas são montadas para justificar tal mote e também a trilha sonora.
Bem, o ambiente é a Los Angeles de 1979, e as piadas são grotescas, nada sutis e em alguns casos, constrangedoras até mesmo para a época, portanto, o que dizer décadas depois, quando tornou-se ainda mais fragilizada tal abordagem? Tudo bem, filme infanto-juvenil e inofensivo, se está a milhões de milhas longe de ser considerado uma obra prima, ostenta algo de positivo ao ponto de não ser totalmente defenestrado ao lixo da história, por alguns motivos. Entre os quais, naturalmente em primeira instância a questão da sua trilha sonora.
 
A despeito do fato cabal de eu, particularmente, guardar inúmeras restrições ao trabalho dos Ramones, não é apenas por conta de seu som que a trilha alimenta-se (ainda bem), e é interessante observar a presença de nomes mais significativos em termos musicais, tais como Alice Cooper, Todd Rundgreen; Chuck Berry; Wings; Fleetwood Mac; MC5 e outros. Nesse bojo contém o “Devo”, também nessa trilha sonora, mas tudo bem, isso foi produzido em 1979, fazer o quê, não é verdade? 
 
Aliás, a expectativa inicial seria contar com Todd Rundgreen ou mesmo o grupo, Cheap Trick, para figurar como personagem central e tais artistas não tiveram possibilidade para aceitar por conta de um choque de agenda momentâneo, daí ter sido acionado o plano C, com os Ramones a assumir tal posto.
Sobre as ditas “gags”, são muitos os clichês típicos usados em filme ambientados no espectro estudantil norte-americano, em torno das chamadas :“High School”. Um deles, super surrado, dá-se na figura da aula de música tradicional, com um professor completamente afastado da realidade social a ministrar a sua aula a enaltecer a figura de Ludwig Van Beethoven. 
 
Nesse aspecto, a percepção de que Beethoven é usado como um ícone de algo ultrapassado, revela o viés equivocado do humor popularesco, ao insistir no estereótipo da cultura oficial erudita ser usada como exemplo de algo obsoleto. Isso por si só já revela uma visão preconceituosa e obtusa, portanto, como é possível rir de uma piada construída em torno de tal premissa? 
As cenas das meninas a praticar educação física sob um som tradicional e isso provocar tédio, para em seguida animar-se ao som do Rock tosco dos Ramones, reforça o conceito preconceituoso e fomentado pela tola visão de uma guerra cultural entre o Rock e a cultura tradicional. 
 
Isso recorda-me de alguns debates promovidos pelos meios de comunicação brasileiros nos anos setenta, mediante uma discussão proposta em torno de um conceito, sobre supostamente ter instaurado-se um embate entre o Rock e o samba naquela época, ou seja, uma asneira sem nenhum cabimento sob o ponto de vista do estudo da evolução da cultura, musicologia e nem mesmo sob outras tantas cátedras.
Uma vez assumida a presença dos Ramones como farol a guiar tal produção, o favorecimento ao seu enaltecimento, ficou óbvio. Uma cena, por exemplo, mostra uma escala de valores com o nome de bandas de Rock dos anos sessenta e setenta, e os Ramones a ocupar o patamar máximo. 
 
Foi como se uma lanchonete de bairro colocasse uma placa na sua fachada, ao arvorar-se em vender o melhor sanduíche da cidade, ou seja, uma informação sem valor real algum, além da bravata. Outra cena em favorecimento dá-se no episódio da super fã que acampa na porta de um teatro onde tal banda anunciara um espetáculo e após vacilar por ter dormido, acorda com outra fá colocada à sua frente, à boca da bilheteria. 
 
O diálogo que ambas travam em tom de disputa particular para definir quem é mais fã da banda em questão e assim obter o “direito” de comprar o primeiro ingresso, mostra bem essa predisposição.
Todavia não para por aí. Observa-se aquele clichê em torno dos “experimentos” científicos sobre animais e plantas submetidas à audição de música erudita versus Rock e um rato que assume postura humana e torna-se fã dos Ramones, o professor de música que “converte-se” e também passa a seguir os Ramones, uma infame queima de LP’s de bandas de Rock promovida pela diretora da escola com tendência nazista e a colagem em suas costas de um cartaz com os dizeres: “chute o meu traseiro com força”, bem ao estilo da mentalidade de 5ª série etc... 
Bem, o filme encerra-se com uma rebelião na escola, com direito a um show dos Ramones a realizar-se no pátio da  instituição de ensino e a completa destruição de seu patrimônio (trata-se de cenas verdadeiras da demolição do colégio, e que de fato foi para o chão, mas não fruto de alguma rebelião da vida real, mas por conta de uma ação de engenharia civil), foram usadas para reforçar a dramaticidade.
Sobre os atores, destaque para: PJ Soles, como Riff Randall, Dey Young, como Kate Rambleau, Vince Van Patten como Tom Roberts, Clint Howard, como Eaglebauer (este ator, Clint, apesar de jovem na ocasião, já mostrava-se muito experiente por haver trabalhado desde criança em seriados de TV), Mary Woronov, como a temível diretora, Miss Evelyn Togar, Paul Bartel como Mr. Mcgree e outros atores de apoio, além da presença dos quatro componentes dos Ramones, logicamente e com participação também de Darby “Crash” e Lorna “Doom”, membros da banda Punk, The Germs.
Produção de Roger Corman (errou desta vez, uma pena) e direção de Allan Arkush (que tentaria enfim fazer um filme de Rock a honrar a sua experiência em ter sido um funcionário do auditório Fillmore East, em “Get Crazy”, de 1983, mas a falhar, infeliz e igualmente), “Rock’n Roll High School” foi lançado em agosto de 1979. 
 
Uma sequência foi produzida muitos anos depois, em 1991, com o título : “Rock’n’ Roll High School Forever”. E há boatos sobre uma refilmagem para breve (2019)
O filme foi disponibilizado em versão VHS, logo a seguir; passou bastante nos canais de TV a cabo, foi exibido no Brasil, na famosa: “sessão coruja” das madrugadas ao longo dos anos oitenta. Foi lançado no formato DVD, inclusive várias vezes, para oferecer extras diferentes, e é encontrado com facilidade no YouTube. 
 
Esta resenha faz parte do livro: "Luz, Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II, e está disponível a a partir da página 204

segunda-feira, 31 de março de 2025

Filme: Eddie and The Cruisers II (Eddie Lives!)/Eddie and The Cruisers II (Eddie, o Ídolo Pop (Eddie Vive !) - Por Luiz Domingues

Bem, ao levar-se em consideração o final enigmático proposto pelo filme, “Eddie and the Cruisers” (Eddie, o Ídolo Pop), quando o protagonista da história, Eddie Wilson foi dado como morto, mas aparece na cena final, de uma forma incógnita a assistir a reportagem que fala exatamente da sua suposta morte, através de vários aparelhos de TV ligados na vitrine de uma loja de eletrodomésticos, ficou em aberto a possibilidade de um outro filme para garantir a sua continuidade. Aliás, mais do que isso, pode-se dizer que tornara-se uma necessidade premente, visto que não foi algo subliminar, todavia a deixar claro que a súbita revelação de que a personagem sobrevivera e estava a viver de uma forma reclusa e sem contestar a sua própria falsa morte, suscitaria uma continuidade para a história.
Entretanto, ao considerar-se também que o cinema (e a TV, igualmente), norte-americano não preocupa-se exatamente com outro valor que não seja o resultado financeiro imediato, essa insinuação para que houvesse uma continuidade lógica para tal história, não significou na prática a certeza de que tal empreendimento fosse concretizado. 
Tanto foi assim, que a tal sequência para fechar a história, somente foi ocorrer seis anos depois do lançamento do primeiro filme (1983/1989). É preciso acrescentar que essa saga sobre o cantor/guitarrista e compositor, Eddie Wilson e a sua banda, The Cruisers, nunca empolgou a crítica e nem mesmo o público verdadeiramente Rocker, mas curiosamente, tornou-se um ícone para uma fatia do público interessada em acompanhar artistas Pop-Rock da seara do dito, “AOR” (“Adult Oriented Rock”), portanto, uma camada consumidora de música mais pela superficialidade, sem ater-se aos detalhes e certamente por conta dessa e outras características incisivas, reconhecida como não formadora de opinião, pelo aspecto genuinamente cultural, pois muito pelo contrário, os marqueteiros do show businesses possivelmente consideravam-na como uma potencial massa formadora de opinião, em termos comerciais ao pensar em seu poder aquisitivo centrado na classe média.
Explicada tal particularidade, é patente que os dois filmes não são prioritários em uma lista mais seleta sobre Rock Movies, entretanto, dentro do imaginário de seus admiradores, são considerados como cultuados. Respeito essa impressão, certamente, no entanto, eu não compactuo com tal graduação e dessa forma, penso que a saga de Eddie Wilson and The Cruisers mostra-se interessante em linhas gerais, todavia, distante muitos anos luz de uma condição mais significativa a denotar ser fundamental na história dos Rock Movies. Logicamente que os dois filmes tem os seus méritos e assim como arrolei alguns deles em relação ao primeiro, cabe acréscimos nesta resenha sobre o segundo filme.
Baseado no livro: “Eddie and The Cruisers”, de PF Kluge, esta sequência mostra a continuidade da história iniciada no primeiro filme, a seguir o texto do livro. Neste caso, se no primeiro filme a ação é desenvolvida no início dos anos sessenta e a demarcar o ano de 1963, como o da suposta morte de Eddie e estabelecer um ponto futuro com 1983 (em meio aos esforços empreendidos pela repórter, Maggie Foley, interpretada por Ellen Barkin, para investigar o paradeiro dos ex-membros da banda, The Cruisers, além do misterioso desaparecimento das fitas a registrar um álbum não lançado e sobretudo, esclarecer melhor as circunstâncias sobre a morte do seu vocalista, Eddie Wilson). Pois em “Eddie and The Cruisers II” (Eddie Lives), a ação alcança a contemporaneidade dos anos 1980, e se no primeiro filme a falha em retratar os anos sessenta sem maiores cuidados, em contraste com a ação de 1983, fora gritante, desta feita tal falha inexistiu pelo simples fato da dramaturgia refletir a ação temporal em comunhão com a produção do filme, ou seja, retrata os anos 1980 e pronto.
Sobre a continuidade da história, Eddie Wilson (novamente interpretado pelo ator, Michael Paré), nesses últimos vinte anos ficara realmente recluso e adotara um novo nome, Joe West. Ele aproveitara-se da sua suposta morte ocorrida em 1963, para desaparecer e assumir a posteriori uma outra identidade na vida, longe da música, pois mostrara-se profundamente desapontado com os desmandos do show business. A atuar como um humilde trabalhador na área da construção civil, mostrara-se resignado em viver longe da música, mas eis que vem a saber que a antiga gravadora da sua banda, The Cruisers, a "Satin", relançara os discos do The Cruisers e estava a anunciar um novo álbum a conter faixas provenientes da gravação do disco que a própria gravadora recusara-se em lançar naquela ocasião, e cuja fita o próprio Eddie, em represália, escondera de todos, em sinal de protesto. Agora, a gravadora anunciara no mesmo pacote, o lançamento de um disco com o título: “Eddie Lives” (“Eddie Vive”) e isso o revolta, mesmo tantos anos depois a viver uma outra vida longe da música.
Nesse ínterim, Eddie (ou Joe, como quis ser chamado desde 1963), entre em um bar e conhece uma banda jovem que estava ali a tocar. Nessa cena, a aproximação não é amigável, no entanto, vide o clima de provocação que estabelece-se entre ele e o guitarrista, Rick Diesel (interpretado por Bernie Coulson). Isso por que Joe (Eddie), afirma ser guitarrista, mas Rick desdenha dele por não acreditar que aquele homem bem mais velho e sem usar um visual Rocker, seja de fato um músico em condições para sobrepujá-lo. 
Um clima de desafio é estabelecido entre ambos, com uma boa dose de soberba, inclusive, da parte dos dois. No entanto, Eddie, apesar de estar longe do meio musical há muitos anos, faz um solo ao estilo blues, para arrepiar, com apoio da banda e Rick rende-se às evidências ao admitir que o veterano é muito bom como guitarrista, e dessa forma, a ocasião fica propícia para que um convite seja formulado a visar que Joe reforce a banda. 
Todavia, um fato enigmático ocorrera, antes desse convite ser feito, pois ainda a estar no palco com a banda, o saxofonista, Hilton Overstreet (interpretado por Anthony Sherwood), esboça ter reconhecido a verdadeira identidade de Joe, ao insinuar em seu instrumento, a melodia de uma canção do The Cruisers, e isso irritara Joe, que sai do palco com certa truculência. 
No entanto, alheio à insinuação do saxofonista, fator que Rick nem percebera, eis que o jovem guitarrista vai atrás de Joe e faz-lhe o convite. Eddie continua o mesmo sujeito temperamental de 1963, quando fora retratado no filme anterior. Arrogante e presunçoso por natureza, embora talentoso, reconhecidamente, não amenizou o seu discurso ao longo dos anos em que manteve-se recluso e resignado em não ser mais um reconhecido Pop Star. Ele aceita integrar o “Rock Solid”, banda formada por tais jovens e certamente assume uma liderança indisfarçável, doravante.
A banda realiza uma turnê modesta por casas de pequeno porte, até que surge uma oportunidade para algo maior e que empolga o jovem guitarrista, Rick Diesel. Uma produtora sinaliza com um festival, no entanto com a condição sine qua non da banda ter que previamente passar para um teste de avaliação e Joe (Eddie) fica possesso ao denotar que o seu gênio incontrolável em choque com os seus traumas arraigados, mostravam-se como ingredientes explosivos, para piorar a perspectiva do protagonista. Nesse ínterim, o saxofonista, Hilton Overstreet, usa da sinceridade e em um tom firme, revela conhecer a identidade real de Joe e nesses termos, conclama Eddie e não o Joe, a não desperdiçar novamente a oportunidade na carreira musical, ao denotar conhecer bem a sua triste história marcada pelas perdas. Eddie cede em sua determinação e diz aceitar a proposta, desde que a banda empenhe-se em um período de ensaios realizados com a observação do foco.
Nesse ínterim, a gravadora Satin faz uma campanha para provar que Eddie está vivo, como esforço a promover o pacote de discos que relançou do “The Cruisers” e certamente em especial ênfase ao inédito: “Eddie Lives”, que contém o material resgatado de 1963. E também ocorre que um pesquisador prova que o ícone cinquentista da vida real, Bo Diddley, participara da gravação do álbum rejeitado de 1963, portanto, um fator a mais para valorizá-lo.
Rick Diesel, inocentemente manda uma mensagem para a gravadora Satin, a dizer que o vocalista de sua banda, Rock Solid, é parecido fisicamente com Eddie Wilson. A sua intenção fora outra, certamente a denotar apenas que desejara angariar algum tipo de simpatia da gravadora por um fato secundário, no entanto sem mensurar a confusão que tal ato poderia gerar, pois Joe West é na verdade, Eddie Wilson em pessoa.
A banda submete-se ao teste musical para ser aprovada em seguida. Ao mesmo tempo em que os seus companheiros ficam contentes com a perspectiva, Joe (Eddie), fica muito preocupado, pois sabe que o seu segredo será revelado quando da participação da banda nesse festival. Ele então resolve procurar o seu velho companheiro do The Cruisers, o baixista, Sal Amato (interpretado por Matthew Laurance, como no primeiro filme) e nesse encontro que ocorre em um praia em New Jersey, acontece um momento tenso, pois em primeiro lugar, Sal fica muito abalado por verificar que a lenda urbana alimentada por vinte anos, confirmara-se, com a figura de Eddie ali à sua frente, vivo. 
E em segundo lugar, por conta de Sal sentir-se traído por conta dessa mentira vivida por Eddie em torno de sua falsa morte e principalmente pelas consequências de tal farsa, com o fim da banda e o disco inacabado, cuja fita fora escondida. O diálogo ameniza-se finalmente, com Sal e Eddie enfim a reconhecer que problemas a parte, ambos estavam felizes pelo reencontro, mas Sal insiste em saber a verdade sobre a fita escondida. Eddie revela ao seu ex-companheiro de banda que não apenas roubara as fitas do estúdio, como em conluio com o falecido saxofonista do The Cruisers, Wendell Newton (interpretado por Michael “Tunes” Antunes), gravara algum material adicional com outros músicos, incluso a figura famosa de Bo Diddley. Sal convence Eddie a seguir em frente com a sua nova banda e assim tornar público que não falecera em 1963. É notório que o exagero nessa cena, em termos de diálogos, lembra bastante cenas melodramáticas de séries dramáticas da TV ou mesmo as “Soap Operas”, as novelas norte-americanas, que são reconhecidamente piegas em excesso.
Eis que o tal festival está prestes a iniciar-se e a intenção subliminar de Rick em impressionar os executivos da gravadora Satin, revela-se uma bomba com potencial jornalístico, pois estes homens reconhecem, Eddie. Uma discussão é gerada, pois Eddie revolta-se em rever um dos sujeitos que dissera-lhe em 1963, que o disco não era bom e que não o lançaria de forma alguma. Tal lembrança o leva a vivenciar um surto nervoso. Ele abandona o local e refugia-se em seu carro, a denotar uma conexão com o filme anterior, quando ele saíra em disparada para cair em um rio e sem que o seu corpo fosse resgatado, fosse dado como morto, a posteriori. 
No entanto, a sua namorada da atualidade, Dianne Armani (interpretada por Marina Orsini), vai atrás e faz um discurso veemente na tentativa em demovê-lo da desistência da música, mais uma vez. E de fato, foi novamente uma cena bastante melodramática, bem ao estilo daquelas cenas exageradas que geralmente são mostradas isoladamente na cerimônia de entrega do Oscar, como um portfólio individual de cada ator ou atriz indicado para o prêmio, como a justificar a sua “grande atuação”, mas geralmente são cenas piegas a gerar constrangimentos. Bem, Eddie pareceu impressionar-se com o discurso da sua bela namorada e daí, resolve voltar ao palco e enfrentar não a plateia em si, e nem mesmo os seus algozes do passado, mas sobretudo, os seus próprios demônios internos.
Trata-se de um festival com grande porte em uma grande Arena (essa cena foi filmada em meio a um show real do Bom Jovi, com abertura do grupo, Skid Row, na cidade de Las Vegas, Nevada, em abril de 1989, portanto a usar a estrutura real de um show de Rock e a contar com uma plateia também verdadeira e disposta a colaborar com a filmagem, na condição de figurante). 
Muito bem, a banda entra com o tema: “Running Through The Fire” e a plateia empolga-se. Eddie dá vazão à sua condição de um Rock Star reprimido há tantos anos e empolga-se para exercer uma performance forte. Ao final da canção, apresenta os seus companheiros pausadamente à plateia (como costumava fazer no tempo do The Cruisers, e recurso esse mostrado no primeiro filme), e ao final, escancara a sua identidade real ao dizer: “e eu... sou Eddie Wilson!” O silêncio em unanimidade, a denotar que a surpresa fora grande a todos ali presentes, é rapidamente quebrado com uma ovação, pois o público berra em euforia : “Eddie... Eddie...Eddie”...
Eddie diz que vai ofertar-lhes o Rock’n’ Roll e enquanto sobe os caracteres e a banda segue com o show, o filme assim encerra-se.
Bem, como complemento da história iniciada no primeiro filme, a sua conclusão através desta segunda película mostra-se até simplória, pois nem de longe o clima de mistério em termos policialescos e proposto pelo filme anterior, é alcançado. É portanto, um complemento apenas para fechar a história como um todo, em via de regra. Como mérito, agrega-se talvez o fato da produção mais centrada nos anos oitenta, ter sido mais fidedigna, ao contrário do filme anterior, onde o salto temporal entre as duas ações, vividas em 1983 e 1963, deixou muito a desejar, pois na maior parte do tempo, mesmo a mostrar ações de 1963, não transparece cristalinamente a diferença entre épocas, com tudo a assemelhar-se a 1983, inclusive na parte musical.
Mais econômico, “Eddie and The Crusiers II” (Eddie Lives), cumpriu o seu papel, se analisado nesses termos. Trata-se portanto de um filme com um ar de telemovie e que se tratado dessa forma, pode ser considerado razoável a demonstrar a ascensão de uma banda jovem, cujo líder é um veterano mais experiente. Entretanto, como não é possível assisti-lo desassociado do filme anterior, é para ser encarado como um complemento, meramente.
Na parte musical, as canções são boas, não resta dúvida, a contar novamente com o apoio de John Cafferty and The Beaver Brown Band e alguns compositores em anexo. O saxofonista, Michael “Tunes” Antunes, inclusive, que participa da saga de Eddie and The Cruisers, como ator, a interpretar o saxofonista da banda, Wendell Newton, é membro oficial da “The Beaver Brown Band”, na vida real. Desta feita, a sonorização que no filme anterior fora muito inspirada no som de Bruce Springsteen e a sua E-Street Band, em “Eddie and the Cruisers II” (Eddie Lives), partiu para o som “AOR” de bandas como o Bon Jovi, por exemplo. Portanto, a sonoridade é o Hard-Rock Pop, típico dos anos oitenta, mas a trazer no seu bojo, bastante influência do Country-Rock, como uma boa base a ser destacada.
O filme redundou em resultado pífio em termos de bilheteria e crítica, no entanto, entre os admiradores da saga, conforme eu já havia alertado antes, tornou-se cultuado. Não trata-se de uma multidão, longe disso, mas em meio a esse pequeno nicho formado por admirados dos dois filmes a retratar a história de Eddie and The Cruisers, existe uma paixão que revela-se até fanática, eu diria, e isso justifica o fato das respectivas trilhas sonoras das duas películas ter alcançado um significativo resultado de vendagem, à época, aliás, em relação ao segundo filme de 1989, com um bom atraso para os padrões norte-americanos, visto que o álbum somente foi colocado à venda, em 1992.
Com produção de William Stuart, Denis Heroux e Stephane Reichel, teve a sua redação a cargo de Charles Zev Cohen e Rick Doehring. A direção foi de Jean-Claude Lord e o filme foi lançado em agosto de 1989.

Esta obra saiu em versão VHS e rapidamente também em Laser Disc, uma coqueluche ao final dos anos oitenta, mas que revelou-se um formato que rapidamente caiu em desuso. A versão em DVD, só foi disponibilizada em 1998, e o Blu-Ray, em 2015. Na TV, o primeiro filme dessa saga passou bastante em canais de TV a cabo, mas o segundo, bem menos e nem é possível explicar qual teria sido o motivo alegado da parte das emissoras por terem omitido a conclusão dessa história. Na Internet, é um dos filmes mais difíceis para encontrar-se, talvez por conta de dificuldades impostas pela questão do direito autoral. Nem mesmo em termos monetizados é fácil acha-lo em portais de filmes pagos, em sua versão integral. Acha-se no entanto, muitos fragmentos, postados como vídeoclips, ao menos no momento em que escrevi esta resenha em 2019.

Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume III, e está disponível para a leitura a partir da página 224.