sábado, 4 de fevereiro de 2012

Teatro e Cinema : The Rocky Horror Show - Por Luiz Domingues


Na primeira metade da década de setenta, Londres borbulhava entre várias vertentes do Rock, simultâneas, que explodiam pela cidade.

Hard-Rock, Progressive Rock e Glitter-Rock estavam entre as mais populares. E por tratar-se de Glitter (ou Glam Rock), David Bowie fora o supremo Deus a instaurar a androginia, misturada ao conceito do Sci-Fi. Bingo !
Essa mistura do Rock com a androginia e sob fortes referências de velhos filmes de ficção científica e terror das décadas de 1930 e 1950 (principalmente), fez com que o autor / diretor australiano, Jim Sharman criasse o bizarro musical, "The Rocky Horror Show", em parceria com o ator britânico, Richard O'Brien, que compôs as músicas.

A estreia na Inglaterra deu-se no Royal Court Theatre Upstairs em 19 de junho de 1973, mas logo mudou-se para um espaço mais badalado, o Chelsea Classic Cinema. Até 1980, somaram-se, 2960 apresentações. Na Broadway, em New York, a estreia foi em 10 de março de 1975. A sinopse do espetáculo misturou essas mencionadas referências do cinema de terror e ficção científica, com o erotismo andrógino da estética do Glam Rock britânico, sob uma colcha de retalhos muito excêntrico.


Trata-se da história de dois jovens cientistas, recém casados (Janet Weiss e Brad Majors ), que a caminho de sua lua-de-mel, passam dificuldades por uma estradinha sob forte tempestade. Eis que avistam um castelo e resolvem pedir socorro, ao alegar precisar usar o telefone...

Todos os clichês dos velhos filmes são usados, mas sob a égide do Glitter Rock, onde um cientista enlouquecido (Dr. Frank-N-Furter ), proprietário do local, é um travesti, e seu mordomo e a governanta, são igualmente lânguidos e macabros (Riff Raff e Magenta ). Ele estava com uma experiência m curso, que revelava-se estar a dar vida a um homem (Rocky Horror), tal como o Dr. Frankenstein o fizera n literatura e nos filmes, e no castelo, o clima é o de um cabaré berlinense, dos anos vinte.

Para salvar o casal, aparece o Dr. Everett Von Scott (clara referência ao Dr. Van Helsing, de Dracula). Mas Frank-N-Furter já havia seduzido o casal de incautos noivos, com seus joguetes sexuais.

Ao final, Frank-N-Furter, Riff Raff e Magenta revelam ser alienígenas do planeta, "Transilvânia", da galáxia "Transsexual" e que a dança, "Double Feature", seria na verdade uma dança de acasalamento de seu planeta. Apesar dessa mistura de conceitos malucos, o espetáculo agrada aos fãs do glitter Rock, além de homenagear singelamente, os clássicos do cinema de horror e ficção científica. O filme foi lançado em 1975, e foi dirigido pelo seu mesmo criador e diretor no teatro, Jim Sharman. O co-autor, Richard O'Brien interpretou o mordomo, Riff Raff e o casal de incautos cientistas, foi interpretado por Susan Sarandon e Barry Bostwick. Tim Curry interpretou o cientista alienígena e transsexuxal Frank-N-Furter, Patricia Quinn como Magenta e Jonathan Adams fez Everett Von Scott, além de Peter Himwood que fez a criatura "Rocky Horror". O personagem "Eddie"que é assassinado pelo cientista travesti e servido como prato no jantar (dá-lhe, Zé do Caixão !), foi feito no filme, pelo ator / cantor Meat Loaf. 

No Brasil, a primeira montagem foi histórica. O ator, Rubens Corrêa dirigiu o espetáculo que apresentou, Eduardo Conde como o cientista / travesti, Frank-N-Furter, e nos papeis do casal, Wolf Maia e Diana Strella. Lucélia Santos fez Magela e pasmem...Tom Zé, ele mesmo... interpretou o mordomo, Riff Raff. O narrador maluco foi feito por Nildo Parente. A estreia foi no Rio de Janeiro em janeiro de 1975. Eduardo Conde teve que deixar a montagem tempos depois, por problemas de saúde e foi substituído por Edy Star. A peça foi montada em São Paulo no mesmo ano, com Paulo Villaça, Antonio Biasi e Lucia Turnbull, a substituir alguns atores da 1ª montagem, que saíram. A adaptação musical ficou a cargo de Zé Rodrix, Jorge Mautner e Kao Hossman. A Som Livre lançou o LP com a trilha sonora cantada pelo elenco brasileiro, mas esse disco nunca mais foi relançado.

No tocante ao estilo musical, o Glitter Rock comanda do início ao final. Dessa forma, referências ao Rock'n'Roll cinquentista clássico, são visíveis. Com muito piano Boogie Woogie, parece que estamos a ouvir um bom disco do Mott the Hoople, com atores e dançarinos a encenar um filme de Sci-Fi. Como curiosidades, cito que Mick Jagger ligou para Jim Sharman, e ofereceu-se para interpretar Frank-N-Furter, mas este preferiu contratar o ator, Tim Curry. E o castelo do filme, fora um cenário da produtora inglesa, "Hammer", famosa companhia de filmes de terror e Sci-Fi, que teve o seu apgeu entre as décadas de 1950 a /1970. Para quem aprecia cinema clássico de terror e Sci-Fi, a letra da música, "Science Fiction, Double Feature", dá uma ideia dessas citações. Separei algumas frases soltas, não a letra inteira:

"Michael Rennie was ill the day the Earth Stood Still"... ao citar o filme, "O Dia em que a Terra Parou", de 1951 e onde o ator, Michael Rennie interpretou o alienígena, Klaatu.

"And Flash Gordon was there in Silver underwear"... o grande Flash Gordon, que saiu dos quadrinhos para o cinema dos anos trinta !

"Claude Rains was the invisible man"... referência ao filme, "O Homem Invisível" de 1933, e dirigido por James Whale, com o famoso ator, Claude Rains, no papel principal.

"Far from Wray and King Kong"... Fay Wray interpretou a "mocinha", no clássico King Kong, de 1933.

"It came from outer space"... sci-fi clássico da década de cinquenta, dirigido por Jack Arnold.

"Dr. X will build a creature... o grande mistério do Dr. X de 1932 e dirigido por Michael Curtiz (Casablanca) onde o personagem, "Doutor X", fabricou a criatura chamada : "The Full Moon Strangler".

"See androids fighting Brad and Janet, Anne Francis stars in Forbidden Planet"... ao referir-se ao filme, "Forbidden Planet" de 1956, dirigido por Fred M. Wilcox, e onde a atriz, Anne Francis, interpretou "Altaira "Alta" Morbius".


"I Knew Leo G. Carroll was over a barrel, when Tarantula took to the hills"... Leo G. Carroll foi um ator britânico que atuou em vários filmes do gênero, Sci-Fi e trabalhou também em seis filmes de Alfred Hitchcock.

"Tarantula" é um filme Sci-Fi de 1955, e dirigido por Jack Arnold.
"Dana Andrews said prunes, gave him the runes"... Dana Andrews foi um ator com carreira prolífica em Hollwood, e em 1957, atuou no filme, "Curse of the Demon" que foi baseado no conto chamado : "Casting the Runes".

"Said George Pal to his bride and when world collide"... George Pal foi um diretor que trabalhou com o gênero Sci-Fi e realismo fantástico em sua filmografia.

Aqui, a referência foi o filme,  "When world collide"("O Fim do Mundo", em português ), do diretor Rudolph Maté.

"I Wanna go to the late-night double feature picture by RKO"... a RKO foi uma das principais companhias de cinema norteamericanas e que produziu inúmeros clássicos desse gênero de filmes. 

Em síntese, trata-se de uma homenagem tresloucada, mas muito divertida.
Matéria publicada inicialmente no Blog do Juma, em 2011.

Posteriormente, esta resenha foi revista e aumentada, para ser publicada no livro: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll", em seu volume I, a partir da página 60.

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