quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Zequinha de Abreu - Por Luiz Domingues

A vida prega peças para todo mundo e invariavelmente somos surpreendidos com fatos imponderáveis, em todas as áreas. Existe muitos exemplos de meninos com origem humilde, nascidos em pequeninas cidades interioranas e que subitamente alcançam notoriedade estrondosa por conta de algum feito extraordinário que realizam.

É o mesmo caso de um menino nascido na pequena cidade de Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, no longínquo ano de 1880. Batizado como : José Gomes de Abreu, foi filho de José Alacrino Ramiro Abreu, o boticário da cidade, e de Dona Justina Gomes Leitão, dona-de-casa. Mais velho dos oito filhos do casal, recebeu o apelido de "Zequinha" e mostrou aptidão para a música desde a tenra infância, por ter aprendido sozinho a tocar flauta. Aos dez anos de idade já possuía uma grande fluência nesse instrumento, além de dominar a clarineta, também, e ousado, foi o maestro mirim da bandinha escolar. Apesar do sonho do seu pai, em vê-lo formado como médico e da mãe, em vê-lo ordenado padre, Zequinha perseguiu na música, desde sempre.

Já a dominar o piano e estudar com afinco a matéria da harmonia musical, aos dezessete anos de idade, organizou uma orquestra na cidade, onde o objetivo fora tocar em festas; bailes; solenidades, e concertos de toda espécie. Logo surgiu as composições, e sob uma Era pré fonograma, a única maneira para expandir a sua arte, foi através da venda de partituras das composições.
Pobre, e a morar em uma pequena cidade interiorana e naquela época, ainda por cima, tudo foi muito difícil. Casou-se aos dezoito anos e tornou-se funcionário público, para garantir o sustento da família.

Por um golpe de sorte, as suas composições mais famosas, "Branca" e "Tico-Tico no Fubá", chegaram a São Paulo e Rio de Janeiro e daí, ambas ganharam uma dimensão extraordinária, todavia, tudo isso ocorreu muito anos depois, portanto, ele não usufruiu de nada, dessa fama advinda, infelizmente. Foi bem no fim dos anos vinte e durante os primeiros momentos da década de trinta, do século vinte, que essa expansão ocorreu, principalmente por conta da super artista, Carmem Miranda, ter gravado "Tico-Tico no Fubá" e levado esse mega sucesso ao mundo, através dos filmes norteamericanos onde ela tornara-se uma estrela exótica da latinidade.
Claro, em uma época onde o show business mal engatinhava, essa expansão veio muito tempo depois, sem que ele pudesse usufruir adequadamente dessa fama e sobretudo, da sua compensação financeira advinda. Nesse aspecto, a sua biografia assemelha-se muito a do pianista / compositor norteamericano, Scott Joplin.
Tal como Zequinha, Scott foi um menino pobre e com a agravante de enfrentar o preconceito, por ser negro, em meio a uma sociedade muito preconceituosa. Genial pianista e compositor, foi um dos maiores, senão o maior nome do "Ragtime", uma vertente extremamente melódica e técnica do Jazz. Contudo, ele morreu pobre e sem reconhecimento, só vindo a tornar-se famoso muitas décadas depois, quando a sua música maravilhosa estourou como trilha do filme : "The Sting" ("Golpe de Mestre"), e assim motivar uma cinebiografia sua em 1977.  Nesse aspecto, as biografias de Scott Joplin e Zequinha de Abreu são mesmo muito parecidas. Zequinha de Abreu faleceu em 1935 e tal como Scott Joplin, passou os seus últimos anos a sobreviver de música, a duras penas, ao tocar em cabarés; boites e festas particulares ocorridas em São Paulo, capital.
No início dos anos 1950, a Companhia cinematográfica Vera Cruz, bancou a cinebiografia de Zequinha de Abreu. Sob uma produção muito boa, o bom ator, Alselmo Duarte interpretou Zequinha de Abreu e a beldade, Tonia Carrero, interpretou Branca, moça que fora artista de um circo que teria inspirado Zequinha a compor a sua famosa valsa : "Branca".  O filme usou de bastante licença poética e bem na esteira de cinebiografias com artistas da música, ao estilo norteamericano de Hollywood, edulcorou bastante a cinebiografia de Zequinha.
Porém, trata-se de um filme muito bem produzido, pelos padrões brasileiros da época e apresenta a arte dele, Zequinha de Abreu, com muita dignidade. Esse foi Zequinha de Abreu, o menino simples do interior, que deixou uma bela obra artística, com alcance internacional, inclusive.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012

2 comentários:

  1. Ótima matéria sobre o nosso Zequinha de Abreu. Parabéns!

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    1. Que bacana saber que gostou da matéria !

      Grato por ler, comentar e elogiar. Visite sempre o Blog !

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