quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Talidomida, o Tardio Pedido de Desculpas - Por Luiz Domingues


Foi na metade dos anos cinquenta que um medicamento chegou às prateleiras das drogarias, a prometer uma revolução nos costumeiros desconfortos que as mulheres sentiam (e sentem) durante o período da gravidez. Inicialmente arrolado como um sedativo e hipnótico, logo tornou-se a panaceia para eliminar os desagradáveis enjoos matinais das mulheres grávidas.

Há por considerar-se que naquela época, o rigor dos testes prévios eram bem menos rigorosos ao comparar-se aos atuais padrões, mas mesmo assim, no caso da Talidomida, o fato foi que os testes falharam e muito, pois não chegou-se perto para cogitar os males congênitos que o medicamento causaria em milhares de pessoas. E foi assim que ao final dos anos 1950, começou a popularizar-se casos de crianças nascidas com graves problemas físicos, notadamente a ausência ou má formação de membros; braços e pernas principalmente (dismelia), e também com possibilidades de deformações no aparelho genital; olhos; boca e aparelho digestivo / intestinal.
Isso tornou-se epidêmico e já em 1962, havia registrados mais de dez mil casos em quarenta e seis países ao redor do mundo. Rapidamente a imprensa cunhou a expressão : "Bebês da Talidomida" para designar tais crianças prejudicadas severamente pelo medicamento.
E nessa época, o remédio foi proibido em todos os países, por suas respectivas agências reguladoras de saúde pública, ministérios de saúde etc. Veio uma enxurrada de ações judiciais, naturalmente. Brigas intermináveis ocorreram nos tribunais desses países afetados e milhões de dólares foram pagos em indenizações pelo laboratório responsável, Grünenthal e por laboratórios associados em diversos países, que responsabilizaram-se por sua industrialização e distribuição em âmbito local.

Associações de vítimas foram criadas em diversos países e nem preciso descrever o tormento que essa tragédia produziu nessas pessoas afetadas diretamente e também em suas respectivas famílias. Agora em 2012, mais de cinquenta anos depois, o laboratório Grünenthal finalmente pronunciou-se de forma oficial e pediu desculpas pelas décadas de silêncio sobre o assunto.

Esse pedido de desculpas oficial foi feito durante uma solenidade onde uma estátua de uma criança vítima da Talidomida foi inaugurada em Stolberg, cidade da Alemanha onde a Grünenthal tem a sua sede. A Associação Brasileira de Portadores da Síndrome da Talidomida criticou duramente esse evento, através de nota em seu site oficial, onde afirmou que o pedido de desculpas veio com incrível demora (verdade...), e o dinheiro gasto para produzir a tal escultura em Stolberg (cotada em 5 mil Euros), seria muito melhor gasto, se fosse distribuído às vítimas.
Apesar de tudo, a Talidomida enquanto substância, hoje em dia serve de base para testes, onde cientistas descobriram que tem eficácia para combater a Hanseníase e a Aids.
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012

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