Após o sucesso do filme britânico, “That’ll Be The Day”, lançado em
1973, rapidamente a sua continuidade foi filmada e lançada, ao final de 1974.
Chamado como: “Stardust”, essa obra seguiu a cronologia do filme anterior, a
mostrar a trajetória do personagem, Jim McLaine. Na verdade, a sua continuidade
nem esperou o sucesso do primeiro para ser arquitetada, visto que o roteirista,
Ray Connoly e o diretor, Ray Puttnam, já estavam convencidos que essa história
merecia uma continuidade e assim, trabalharam com afinco. Com mais verba
disponível em relação ao filme anterior, foi possível elaborar um roteiro mais
robusto, a propor cenas mais grandiosas e nesse sentido, “Stardust” tem um
acabamento bem melhor em termos de direção de arte; figurino; e o luxo em ter
locações externas muito bonitas da Inglaterra; Estados Unidos e da Espanha.
Aliás, na Espanha, são imagens bem impressionantes, conforme descreverei mais
adiante.
O filme mostra, Jim McLaine na cena inicial, a convidar o seu velho
amigo, Mike, que conhecera no parque de diversões onde trabalharam ao final dos
anos cinquenta, para que este seja o empresário da banda que fundara, chamada:
“Stray Cats”. No primeiro filme, Mike fora interpretado por Ringo Starr, mas em
Stardust, Ringo recusou o papel ao afirmar que devido ao roteiro avançar pelos
anos sessenta e mostrar a ascensão de Jim e sua banda, sentir-se-ia
desconfortável pela sua fama real com os Beatles nessa mesma época enfocada na
história. Desta feita, o personagem, Mike, foi defendido por Adam Faith. Ora,
Adam também foi um egresso do Rock britânico cinquenta / sessentista, com
relativo sucesso (um dos seus sucessos, foi sem dúvida, a canção, “What Dou You
Want”), e não importou-se em atuar, embora seja bem verdade, que a sua fama fora
infinitamente menor que a do Ringo, portanto, apenas observo e entendo as
razões alegadas por ambos.
Daí em diante, mostra-se a ascensão vertiginosa do Stray Cats, a começar
em shows realizados em pequenos clubes, mas rapidamente a galgar degraus e vide
o meio de transporte com o qual começam a sua trajetória, um furgão em péssimo
estado de manutenção e como rapidamente passam a deslocar-se com carros
melhores e compatíveis com a sua fama crescente. A formação da banda contou com
Johnny, na guitarra e voz (interpretado também por um ator/músico, Paul Nicholas,
experiente em musicais teatrais e daqui em diante, em Rock Movies (Tommy,
Lisztomania, Sgtº Peppers entre outros), Alex na guitarra e voz (Dave Edmunds, também músico
e que foi componente da banda sessentista, “Human Beins e responsável pela
trilha sonora deste filme), o tecladista, Steve (Karl Howman, este, apenas
ator) e o super astro do Rock, Keith Moon (The Who), que também participara do
filme anterior e ao contrário de Ringo Starr, não teve nenhum constrangimento
em participar a interpretar o baterista, J.D. Clover, novamente e desta feita em
várias cenas de shows ao vivo e das loucuras de bastidores de uma banda de Rock
na Inglaterra em plena fase de euforia da dita “British Invasion”/Swingin’
London e consolidação do Rock em sua safra “late 60’s”.
As cenas ao vivo, são muito boas, visto que a banda fictícia fora
formada por músicos verdadeiros, com exceção do tecladista, mas a energia
realística garantiu-se e ainda mais com Keith Moon a tocar bateria, ou seja,
uma energia avassaladora e muito bem retratada nas cenas, tanto que a pensar
exclusivamente na atuação dele, é notório o quanto ele atuou a vontade, como se
estivesse a tocar com o The Who na vida real. Keith Moon deu trabalho nos
bastidores das filmagens, visto que o seu gênio indomável gerou muita confusão,
como bem contou o roteirista, Ray Connoly em sua extensa entrevista concedida
anos depois, para falar sobre a produção dos dois filmes : That’ll Be the Day e
Stardust.
Esse foi o lado bom do filme, ao mostrar as ótimas cenas com a banda
fictícia, Stray Cats a tocar ao vivo; programas de TV & afins. Contém
igualmente, bastante bastidores com camarins, quartos de hotel, viagens etc.
Além disso tudo, aborda-se os problemas típicos que toda banda de Rock
enfrentou, não apenas nos anos sessenta e setenta, mas a tratar-se de certas
agruras típicas, tratadas como inerentes ao ofício, ou seja: é quase
inevitável que as brigas de ego ocorram e amplifiquem-se à medida que a fama
cresça. Dinheiro, por exemplo, entra no primeiro posto para estragar tudo, pois
o senso da ganância fala alto e aliás, é uma má conduta observada em qualquer
profissão e não apenas um defeito observado no meio artístico. Portanto, é inevitável
em em um empreendimento que visa lucros e seja controlado por vários sócios,
com o crescimento do negócio, haja um sentimento de um sócio em relação aos
demais, que talvez considere-se mais merecedor de fatias maiores por trabalhar
mais ou até mesmo quando a discórdia instaura-se por alguém duvidar de alguém por
alguma falcatrua cometida em termos de desvio de recursos.
Outra boa maneira para uma banda ser minada por brigas entre os seus
componentes, ocorre por conta de egos infláveis e nesse caso, o meio artístico
é pródigo em proporcionar tal demanda egóica. Basta um componente chamar mais a
atenção dos críticos; fãs e principalmente do público feminino por conta de sua
boa aparência e o fato dele ser comentado como o galã da banda, gera ciumeiras
entre os demais. Mas também tem a proeminência por chamar mais atenção no palco
pela performance; por ostentar um nível técnico maior que os demais ou por suas
ideias para composições e arranjos, ganhar elogios, enfim, são muitos os
fatores que inflam os egos ao ponto de destruir amizades e destruir bandas, implodidas
por tais fatores e isso explica tantas que viveram carreiras curtíssimas, em
detrimento de seu brilhantismo artístico.
Bem, tudo o que descrevi acima ocorre nesses momentos iniciais e até a
metade do filme, muitas situações assim, são vistas. Tem também a loucura dos
fãs, sobretudo das fãs, com cercos policiais feitos para que o Stray Cats toque
e consiga evadir-se dos locais com relativa segurança para os seus componentes,
em clima de Beatlemania. Cada um a correr para uma limusine e com fãs histéricas
a correr atrás, é mostrado e isso foi algo bem dentro da realidade que os Beatles
e outras bandas britânicas sofreram nos anos sessenta.
Então, tem a inevitável participação de um empresário com maior
estrutura para segurar esse momento promissor, na figura de Marty Wilde
(interpretado por Colin Day), claramente inspirado em Brian Epstein, o
empresário dos Beatles, com aquela clássica maneira para gerenciar a carreira
do Stray Cats, a influenciar em todos os detalhes, inclusive a gerar as inevitáveis
indisposições, tamanha a interferência desagradável em seus desígnios pessoais.
Chega-se então em um ponto que o destaque para o personagem de Jim McLaine, que
é o baixista e cantor da banda, motiva uma mudança na estratégia gerencial e
assim, a banda passa a chamar-se : Jim McLaine & Stray Cats. Bingo, a
discórdia com tal mudança gera revolta em outros membros e isso começa a minar
a relação boa construída em mutirão, no tempo da labuta mais rude do início da
carreira.
Copia-se bastante a trajetória dos Beatles, novamente, ao mostrar a
chegada da banda à América do Norte e o quanto isso foi tratado como um impulso
para a banda atingir um nível muito maior. Enquanto isso, as drogas e as
groupies entram na ordem do dia, além de interferências da parte da gravadora;
editora; acordos com radialistas, ou seja, o negócio fica tão grande que a
contrapartida dos artistas estar loucos pela fama e pelos prazeres dela
oriundos, obscurece-lhes o discernimento e nessa hora, os inescrupulosos
aproveitam-se para aproximar-se e roubar bastante o dinheiro fabuloso que a
banda está a gerar.
E o inevitável ocorre, empresários e produtores convencem o mais famoso
da banda que a carreira solo é o seu melhor caminho e que certamente que ele
não precisa dividir nada com os seus companheiros “menos talentosos”. Isso
também é uma ação típica do meio empresarial e igualmente um fator para
destruir carreiras, visto que acaba-se com bandas ótimas e nem sempre uma
carreira solo avança como o artista foi levado a crer que aconteceria
facilmente.
Pois então, Jim McLaine não está mais com os seus amigos. Ele também não
é mais o mesmo, visto que as drogas; bebedeiras e groupies, em profusão, tratou
por moldar a sua personalidade para algo mais soturno. Um certo mau humor
crônico o faz parecer-se com Bob Dylan, em muitos aspectos. Bem, entra em cena
um empresário norte-americano, na figura de um típico texano, Porter Lee Austin,
interpretado por Larry Hagman. Hagman foi famoso na TV norte-americana por ter
interpretado o incauto astronauta, major Nelson, no seriado, “I Dream of Jeannie”
(“Jeannie”, no Brasil.). Também participou de outros seriados; telemovies e uns
poucos filmes longa metragem, mas a sua fama não era grande na Inglaterra. A
sua contratação foi um arranjo do acaso, visto que a intenção inicial da
produção, foi contratar um ator mais famoso, ao tratar-se de Tony Curtis.
Entretanto, apesar de Curtis ter gostado do roteiro e estar acostumado a
trabalhar com britânicos (nessa época, ele já havia participado recentemente do
seriado inglês, “The Persuaders”, ao lado de Roger Moore, em 1971), quem causou
problemas foi o seu agente, que irredutível, não abriu mão do cachet milionário
exigido e daí, a opção por Larry Hagman. E é preciso registrar que Hagman atuou
tão bem como uma magnata texano obstinado e manipulador (boçal igualmente, é
preciso salientar), que tal atuação dele em “Stardust” rendeu-lhe a
oportunidade de ser contratado posteriormente para viver o terrível vilão: “JR
Ewings”, no seriado cafona, porém bem sucedido comercialmente, “Dallas”. Ele
mesmo afirmou isso, em sua biografia pessoal.
Bem, nesta altura do filme, Jim McLaine já está bem perturbado. A sua
fama é mundial; ganha muito dinheiro, mas vive depressivo, quando não catatônico
em virtude de seus abusos e descontentamento com a carreira musical em si.
Chega a sonhar em voltar com o Stray Cats, mas o empresário, Austin e o seu
agente pessoal, Mike não o deixam reagir. Sua namorada, a belíssima, Danielle (Ines
Des Lonchamps), não demonstra muito companheirismo, ao denotar estar a
aproveitar-se da fama dele, Jim, tão somente.
Nesse sentido, ocorre a cena onde ele é informado que a sua mãe falecera
e além de ser mal recebido na cerimônia fúnebre, por seus familiares e amigos
dos tempos em que era apenas um rapaz pobre, tal notícia espalhara-se e a
polícia inglesa tem muito trabalho para montar um cordão de segurança, visto
que a imprensa, e sobretudo os fãs enlouquecidos, estão ali à espreita para ver
o seu ídolo. Esse contraponto dramático é bem interessante na história, embora
seja obviamente desagradável pela circunstância da história. E para piorar as
coisas, ele encontra-se com a sua ex-esposa, Jeanette (interpretada por
Rosalind Ayres), e o filhinho que deixara para trás e ambos são quase engolidos
pela multidão enlouquecida. Um diálogo ríspido com a ex-esposa, mostra o quanto
a fama fizera-lhe mal e ele, apesar de sentir o baque, não reage a contento, visto
que debilitado emocionalmente, tornara-se um rebotalho humano.
Como se tudo isso não bastasse, a sua carreira está mal administrada. A
energia pura do Rock’n' Roll ficara para trás, nas lembranças do Stray Cats, a
sua boa banda. Agora ele grava o que determinam que ele grave, além de
participar de ações de marketing com ação gerencial discutível, obra de seu
novo empresário que não entende nada do ramo, na verdade. Sob tal prerrogativa,
ele grava um especial de TV, muito megalomaníaco, a cantar com o apoio de um orquestra
e coral de vozes, sob uma estilização visual bastante exagerada. Trata-se
supostamente de uma “Ópera-Rock”, chamada :“Dea Santa et Gloria”. A parte
musical desse tema, é bonita, não resta dúvida, mas a sua colocação na história
visou retratar um equívoco na carreira de Jim, portanto, é bastante melancólico
vê-lo a interpretar tal tema, apesar da sua beleza melódica.
Cansado, porém milionário, Jim resolve comprar um castelo medieval encravado
em uma montanha, localizado em uma remota cidade do interior da Espanha. Visto
que estava estafado, foi o refúgio sabático que programou obter para alcançar a
sua recuperação física e mental e quiçá, repensar a carreira. Mais do que
nunca, sente saudade do Stray Cats, mas ao mesmo tempo sabe que os ex-colegas
ficaram magoados com ele e sobretudo, os contratos que assinou, deixam-no
atrelado ao empresário sanguessuga, ainda por um bom tempo.
Ele gasta uma fortuna para restaurar o castelo, mas o seu empresário (e o
seu agente pessoal, também), está farto dessas férias forçadas e quer que o seu
artista volte a produzir o quanto antes, visto que artista não pode sumir do
imaginário popular por um tempo muito grande, essa é uma verdade também expressa
no filme, sob o risco de perder o seu “momentum”, e assim, nunca mais
recuperá-lo.
Então, ele é pressionado a voltar a atuar e marca-se uma entrevista para ele começar a voltar à evidência. O plano é mostrar o castelo maravilhoso em que habita e que ele possa anunciar uma nova etapa na carreira, porém, enquanto a equipe de TV prepara o equipamento para fazer uma intervenção ao vivo, ele está muito depressivo e tem o impulso em suicidar-se. Uma impressionante cena a mostrá-lo a caminhar pelo telhado do castelo, dá a entender que está muito mal. Após uma grande pressão, ele finalmente aparece para conceder a entrevista e já a passar mal pela ingestão de muitas drogas, passa a discursar de forma desconexa, para o desespero do empresário e então, o seu amigo e agente, Mike, percebe a situação e chama uma ambulância.
Então, ele é pressionado a voltar a atuar e marca-se uma entrevista para ele começar a voltar à evidência. O plano é mostrar o castelo maravilhoso em que habita e que ele possa anunciar uma nova etapa na carreira, porém, enquanto a equipe de TV prepara o equipamento para fazer uma intervenção ao vivo, ele está muito depressivo e tem o impulso em suicidar-se. Uma impressionante cena a mostrá-lo a caminhar pelo telhado do castelo, dá a entender que está muito mal. Após uma grande pressão, ele finalmente aparece para conceder a entrevista e já a passar mal pela ingestão de muitas drogas, passa a discursar de forma desconexa, para o desespero do empresário e então, o seu amigo e agente, Mike, percebe a situação e chama uma ambulância.
No trajeto para o hospital, enquanto agoniza, Mike tem uma explosão
nervosa e acusa-o de ser egoísta etc e tal, todavia, Jim já está a ter uma
complicação cardíaca decorrente de uma overdose e falece com a ambulância ainda
em movimento.
Não é uma história exatamente criativa, longe disso, pois explora bem o
clichê da vida e obra de um Rock Star engolido pelas vicissitudes da fama, mas
Stardust é um bom filme, assim como o filme, “That’ll Be The Day”, que foi na
verdade, uma parte inicial da mesma história. O filme tem os seus méritos, certamente, ao mostrar as cenas musicais e
de bastidores, e também a conter boa música. Os temas do Stray Cats, foram
todos compostos; arranjados e executados por Dave Edmunds, que além de atuar
como ator, tocou todos os instrumentos na gravação da trilha. E os temas
cantados, tiveram de fato as vozes de David Essex que era / é um bom cantor,
além dos demais atores que também eram cantores e músicos reais. Sobre David
Essex, em sua carreira real na música, eu já falei a respeito, inserido na
resenha de “That’ll Be The Day”.
Foi dirigido por Michael Apted e lançado em outubro de 1974, na Inglaterra,
e em outros países, de forma escalonada, em 1975. Roteiro por Ray Connoly e
produção a cargo de David Puttnam e Sanford Lieberson. Recomendo “Stardust” e
seu predecessor, “That’ll Be The Day”, ambos, bons filmes e com vários
atrativos interessantes para um Rocker apreciador de Rock Movies e sobretudo,
interessado em cultura Rocker das décadas de 1950/1960 e 1970, sobretudo.
Existe a versão em DVD / Blue Ray, mas no You Tube, só é encontrado alguns
poucos fragmentos do filme. Uma versão na íntegra, gratuita e com boa
qualidade, pode ser vista no portal russo de filmes, “OK.RU”.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll". Está disponível para a leitura através do seu volume II, a partir da página 115.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll". Está disponível para a leitura através do seu volume II, a partir da página 115.
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