Esta é uma
comédia diretamente relacionada ao Rock, e a trazer incluso em seu bojo, os
elementos típicos de uma comédia infantojuvenil e ambientada no cenário
escolar. Por tal característica, apresenta muitos clichês típicos desse tipo de
comédia, no entanto, por ter o Rock como objeto direto e não como um fator
secundário, trata-se de uma peça especial. O segundo ponto para ser salientado,
dá-se com a evidência de que ao usar o Rock como mote fundamental, há uma
riqueza muita grande em seu roteiro ao dar vazão para que seja sedimentado
através da sua construção de diálogos, a reunir muitas piadas bem específicas
sobre o universo do Rock e também a resvalar em fatores inerentes a envolver o
métier musical como um todo e logicamente a abranger a cultura Pop e por que
não (?), aspectos da contracultura, igualmente.
Há por
levar-se em consideração que o ator protagonista, Jack Black, além de ser um profissional
muito bom, inclusive a destacar-se a sua forte veia como comediante, é um
entusiasta do Rock em sua vida pessoal. Ele também é músico na vida real e este
não foi o único filme em que atuou a interpretar personagens que sejam músicos
ou envolvidos com a música, haja vista a sua boa atuação em “Tenacious D” e
“High Fidelity”, entre outras produções. E também pode-se dizer que o diretor,
Richard Linklater, já detinha também experiência com filmes que dirigira a
enfocar a juventude sob múltiplos aspectos e uma comédia de sua autoria, “Dazed
and Confused”, lançada nos anos noventa, é celebrada como uma das mais
cultuadas daquela década, a mostrar um grupo de jovens a viver em 1976, em meio
ao último dia de aulas em uma High School e sob uma trilha sonora espetacular,
a desfilar uma portentosa lista formada por bandas de Rock setentistas, da
maior relevância.
“School of
Rock” (“Escola de Rock”), em português, caracteriza uma rara oportunidade em que
a distribuição nacional usou a tradução literal e não inventou um título fora
do contexto da obra, em sua língua original. E não poderia ser de outra forma,
visto que nenhum outro título poderia ser mais adequado para tal comédia.
O filme é uma
das melhores comédias já produzidas com o mote do Rock, tornou-se cultuado e
uma sequência foi cogitada logo a seguir, mas por absoluta falta de sincronia
entre as agendas do diretor, do ator Jack Black, do roteirista, Mike White e de membros
da produção para focar em uma continuidade, isso não foi possível. E segundo o
próprio, Jack Black já comentou em entrevistas, a vontade sempre foi grande em
produzir-se a continuidade, e em 2008, isso quase ocorreu. Posteriormente, em
2012, uma nova tentativa esboçou-se e novamente não foi possível fazer o
projeto prosperar. Em 2013, o celebrado, Andrew Lloyd Weber, autor de musicais
do calibre de “Jesus Christ Superstar” e “Evita”, entre tantos outros, comprou
os direitos sobre a história de “School of Rock” e em 2015, produziu o
espetáculo nos palcos. Em 2014, uma adaptação foi levada ao ar no canal
juvenil, “Nickelodean”, como um seriado de TV, porém a contar com uma produção
bem modesta, típica da parte dessa emissora.
Sobre o mote central, a história é
muito boa, a mostrar-se perfeita para amparar uma série de confusões geradas para
alimentar a estrutura de uma boa comédia e a usar dos muitos clichês do humor
infantojuvenil & escolar, além de usar o manancial de piadas típicas do
universo do Rock, cultura Pop e da cultura/contracultura em geral.
Nesses
termos, vemos a história construída em torno de uma farsa e a envolver a
questão da falsidade ideológica e até poder-se-ia arrolar a corrupção de
menores nesse bojo, no entanto, a despeito dessa lista de crimes abomináveis,
na prática, tudo é apresentado de uma forma lúdica, a atenuar a carga negativa
que supostamente pudesse depor contra, portanto, é óbvio que não é possível levar-se
tais acusações a sério e assim, o filme deve ser encarado exatamente como
apresenta-se, ou seja, uma comédia ingênua e imbuída de boas intenções, em
caráter subliminar.
A trama é a
seguinte: Dewey Finn (Jack Black), é guitarrista de uma banda Hard-Rock,
chamada “No Vacancy”. Tal banda é obscura, busca uma melhor colocação no
mercado, mas nesse estágio, apenas toca em pequenos clubes e eventuais
festivais dotados de um pequeno porte. Dewey destoa de seus companheiros, por
ser obeso e mais velho, além de adotar ao vivo, uma performance bastante
exagerada, ao lembrar de certa forma os trejeitos do guitarrista do AC/DC,
Angus Young e todos esses fatores envergonham os demais membros da banda que vibram em outra sintonia.
Eis
que surge uma oportunidade para a banda, quando ela pleiteia concorrer em uma
“batalha de bandas”, um típico e tradicional tipo de festival/concurso a
premiar bandas, mediante votação em torno de suas respectivas performances no
palco. Mas quando chega no estúdio para ensaiar em um certo dia, Dewey é
surpreendido ao verificar que um outro guitarrista está a ensaiar com os seus
companheiros. Sem maiores escrúpulos, os seus ex-companheiros comunicam-lhe que
ele se considere demitido e o novo guitarrista, um sujeito que é jovem e esguio como
eles, chamado, “Spider” (interpretado por Lucas Babin), está a ocupar a sua
vaga, portanto, reforça-se o aspecto do preconceito por conta de Dewey ser
obeso e a beirar a meia-idade.
Contrariado,
Dewey volta para o apartamento onde divide o aluguel com um fraternal amigo,
Ned Schneeble (interpretado por Mike White, o autor do roteiro, igualmente), e
a namorada de Ned, Patty Di Marco (interpretada por Sarah Silverman). O
ambiente nessa Lar é o seguinte: Dewey pouco contribui para sanar as despesas
da casa por ser músico e quase sempre ter pouco dinheiro no bolso, proveniente dos
parcos cachês que recebe eventualmente, proveniente de suas poucas apresentações
realizadas em casas noturnas. E agora, fora da banda é que a sua situação tende a piorar. Ele tem
a singela compreensão de seu amigo, Ned, que fora companheiro de uma banda pela qual atuaram muitos anos atrás.
No entanto, Ned cortara a longa cabeleira e fora
adequar-se ao mercado para ganhar dinheiro, e assim, por apresentar um
temperamento dócil ao extremo, tolera a inadimplência do seu amigo e os seus
maneirismos Rockers, todos. A contrapartida a garantir o humor, ocorre com a
namorada de Ned, que pragmática ao extremo, não tolera os excessos de Dewey, ao
cobrar-lhe o valor do aluguel (e sem poupá-lo de insultos), ou seja, a contribuição para
que ele quite a sua dívida. Nesse aspecto, o modo de vida do Rocker (neste caso
sem ostentar uma condição de fama que gere renda, mínima que seja), é bastante
explorado para gerar boas piadas, como por exemplo as muitas implicâncias que a
moça nutre pelo amigo do seu namorado, em torno dos hábitos sui generis
observados pelo Rocker, Dewey Finn.
Acuado,
Dewey não enxerga uma alternativa emergencial para gerar algum tipo de renda e
nessa situação, coloca alguns equipamentos e guitarras suas para vender. Alguns
interessados entram em contato para negociar, mas em dado instante, uma pessoa que
representa um colégio (Colégio Horace Green), liga para convocar o professor
Ned Schneeble, que deixara um currículo ao pleitear uma vaga nessa instituição.
De fato, Ned abandonara a errante vida Rocker, para estudar e agora, formado
como professor, buscava tal colocação. Em princípio, Dewey apenas diz que Ned
não encontra-se em casa, mas ao perceber que seria uma oportunidade para ganhar
dinheiro, disfarça a sua voz e ao passar-se por Ned, aceita a oferta para ser ele
em pessoa, o professor substituto por um breve período, no lugar de seu amigo.
Pronto, está armada uma tremenda confusão a gerar um sem número de situações
embaraçosas, mal-entendidos e claro, a gerar ótimas condições armadas para justificar
piadas hilárias.
Pois então,
Ned comparece disfarçado como professor e apresenta-se à diretora, Rosalie
“Roz” Mullins (interpretada por Joan Cusack), que o aceita sem reservas, para
conduzi-lo imediatamente a assumir uma sala de aula. Claro que tal situação é inverossímel, mas tudo bem, é uma comédia, não serei desagradável em cobrar
realismo.
Ao chegar na sala, ele nota um grupo de crianças na idade da
pré-adolescência, absolutamente adaptadas à disciplina da instituição pela
postura passiva, subserviente e sem nenhum indício de rebeldia, ao menos que
fosse algo sutilmente identificável, visto que ao longo do filme, alguns alunos
deram vazão a certos aspectos latentes nesse sentido. Trajados com uniformes
bem tradicionais, o que faz menção aos colégios europeus, os alunos recebem o
novo professor com todo o protocolo esperado, ou seja, em tom de absoluto
respeito. No entanto, Ned/Dewey é um farsante e simplesmente não sabe o que
ensinar às crianças e assim, limita-se a fazer o tempo passar com discussões
inócuas e a propor descanso o tempo todo. O seu plano inicial e primordial, foi
postergar ao máximo tal período que ele sabia, seria temporário, e assim, ele
cumpriria a carga horária sem correr o risco de ser desmascarado e a ganhar uma
soma de dinheiro.
No entanto,
os alunos na faixa entre dez e doze anos de idade, mesmo imbuídos de sua
inocência, o questionam sobre o que ele ensinaria e então, mais piadas ótimas
são produzidas, aos montes. Eis que em um dia posterior, a diretora alerta que
os alunos terão um período com aula de música e Dewey vai assistir tal
atividade ministrada em uma sala especial, por outro professor. Ali, ele observa
vários de seus alunos a tocar diferentes instrumentos, mediante a leitura de
partituras e em alguns casos, a demonstrar uma técnica surpreendente. A sua
perspicácia age rápido, pois ele apanha alguns instrumentos e equipamentos em
sua Van e quando os alunos voltam para a sala, são surpreendidos com uma
estrutura montada para uma banda de Rock ensaiar em sua sala de aulas.
Estupefatos, não entendem
qual seria a intenção do “professor”, e assim, são facilmente ludibriados. Ned/Dewey planeja secretamente formar uma banda, e com ela, participar da tal
“batalha de bandas”. Um pequeno potencial musical ele sentiu existir, ao vê-los
na aula de música, então, o seu grande dilema passa a ser: como fazer com que pré-adolescentes
absolutamente ingênuos, formem uma banda de Rock com solidez para apresentar-se
ao vivo e a concorrer com outras bandas sedimentadas? Eis então que para quem
não sabia nem como disfarçar não ter nada a ensinar, ele encontra uma matéria
para ensinar aos seus alunos, desde o be-a-bá dessa cátedra: Rock’n’ Roll!
Pois não basta ensaiar essas crianças a tocar e cantar com desenvoltura, porém
faz-se mister que entendam e sintam o Rock em todas as suas nuances. Eis aí a
“Escola de Rock” que dá nome ao filme.
Nesse ponto,
Ned/Dewey é perspicaz ao envolver a criançada, por convencê-las que tal
esforço seria um projeto escolar e que este deveria ser absolutamente sigiloso,
exatamente para poupá-lo da vigilância da diretora e também dos pais. Para
tanto, é hilária a forma rápida com a qual recruta as crianças para ocupar as
vagas como instrumentistas e cantores. As crianças que ficaram de fora, o
questionam sobre a possibilidade de não ganhar nota, ao não participar do
projeto e ele rapidamente acha uma solução ao designar funções múltiplas, a
explicar-lhes que uma banda de Rock não funciona apenas por conta de seus
componentes, o que aliás, é uma verdade absoluta. Portanto, ele monta uma
equipe a contar com técnicos, roadies, seguranças e até uma “empresária”, visto
que nota o potencial incrível para a argumentação de uma simpática menininha,
Summer “Tinckerbell” Hathaway (interpretada por Miranda Crosgrove).
É bem
verdade que algumas crianças pedem para trocar de função ao notar que seriam
mais úteis em outros postos. É o caso da vocalista, Tomika “Turkey Sub”
(interpretada por Maryam Hassan), que tem potencial vocal outrora não expresso
e ao demonstrar os seus dotes, o professor imediatamente a incorpora ao corpo
de backing vocalistas. E também foi o caso de Billy “Fancy Pants” (interpretado
por Brian Falduto), que propõe ser o estilista responsável pelo figurino da
banda. Os meninos que foram designados a cuidar da segurança, Frankie “Tough
Guy” (interpretado por Angelo Massagli) e Leonard “Short Stop” (interpretado
por Cole Hawkins), montam uma vigília a detectar a presença da diretora nas
imediações e evitar que sejam surpreendidos em suas aulas sobre Rock’n’ Roll e
sobretudo em relação aos ensaios que naturalmente envolveria a incidência de
forte presença de emissão sonora.
Piadas sensacionais
são produzidas nessa fase do filme, a envolver diretamente o Rock, pois o
professor passa a discorrer sobre o assunto em diversos aspectos, inclusive no
campo teórico, ao encher a lousa (quadro-negro, para quem não for paulista),
com diversos dados a explicar a história do Rock. A trilha sonora usada é
excelente e cria uma atmosfera sensacional para encorpar o filme e dar vazão às
piadas. Inclusive, quando a banda é formada de uma forma abrupta, isso também é
obviamente uma ótima piada e envolve o Rock, pois o professor faz com que
alunos que jamais ouviram Rock clássico em suas vidas, toquem de primeira,
músicas como: “Smoke on the Water” (Deep Purple) e “Iron Man” (Black Sabbath).
Discos clássicos do Rock são distribuídos para cada aluno “estudá-lo” como uma
lição de casa.
O guitarrista, Zack (Interpretado por Joey Gaudos Junior), gosta de tocar violão clássico, e tem um
certo apoio paterno, desde que esteja com os estudos regulares em dia e jamais
toque Rock na sua hora permitida para o lazer ao violão, a reforçar a ideia do
conflito. Vídeos a mostrar cenas clássicas de músicos do Rock, são exibidos em
sala de aula, e assim mostra-se engraçado ver o professor a teorizar sobre as loucuras
cênicas perpetradas por artistas como Jimi Hendrix, Pete Townshend, Keith Moon
e Angus Young.
A banda fica
formada então com: Zack “Zack-Attack” Mooneyham, na guitarra; Freddy “Spazzy” McGee Jones (interpretado por Kevin
Clark), na bateria, Katie “Posh Spice” (interpretado por Rebecca Brown), no
baixo, Lawrence “Mr. Cool” (interpretado por Robert Tsai), aos teclados, Alicia
“Brace Face” (interpretada por Aleisha Allen), como backing vocalista, Martha
“Blondie” (interpretada por Caitlin Hale), como backing vocalista e a já
citada anteriormente, Tomika “Turkey Sub” (interpretada por Maryam Hassan),
como backing vocalista.
Ainda a
fazer parte da equipe de produção, os garotos, Gordon “Roadrunner”
(interpretado por Zachary Infante), como técnico de iluminação e Marco “Carrot
Top” (interpretado por James Hosey), como responsável pelos efeitos visuais e
nesse aspecto, o professor afirma que o tópico a abordar o uso do “gelo seco”
seria abordado nas aulas, como se fosse um trabalho escolar de ciências. Nota-se que
todos receberam apelidos a reforçar alguma característica específica de suas
respectivas personalidades e também a conter a intenção em emular algum tipo de
estratificação Rocker, como um esforço da parte do professor, para acelerar a
maturação de crianças entre dez e doze anos de idade, de uma forma instantânea. Outra piada
muito engraçada ocorre, quando algumas meninas que foram designadas para ser
“groupies” da banda, simplesmente aceitaram tal função sem fazer a menor ideia
do que isso significaria. Uma delas questiona o professor no dia seguinte, ao
afirmar ter pesquisado no “google” e ter descoberto que “groupie” designava um
tipo de servidão sexual que ela nem entendia direito do que tratava-se na
prática, mas que deduziu ser algo vergonhoso ao ponto de notar ser algo execrado
de uma forma geral, portanto, que tais meninas que adotavam tal
posicionamento, fossem chamadas como “vagabundas” por muitas pessoas.
Embaraçado, o professor contra argumenta a explicar-lhe que uma “groupie” é um
tipo de menina que ama tanto uma banda, que a segue aonde ela for, sempre
disposta a ajuda-la com muita boa vontade. Pois é mesmo um eufemismo que cabe,
se visto sob esse ângulo bem ameno e assim, a pequena menina aceitou a "função",
no auge da sua ingenuidade.
Surge também
a sugestão para o nome da banda: “School of Rock”, nada mais apropriado. O
“estilista” da banda apresenta figurinos fortemente influenciados pela estética
do Glam Rock setentista, com direito à piada explícita, ao mostrar-se tal
menino a vestir um boneco com tal criação sua, a lembrar o visual de David
Bowie nos anos setenta.
No convívio
com os outros professores na sala dos mestres, mais piadas ótimas são geradas,
pois ao ser indagado sobre questões pedagógicas, ele simplesmente nem entende
as perguntas e as suas respostas dotadas de sentido nonsense, passam
miraculosamente por absoluta sorte, ao crivo de seus supostos pares. Mais que
isso, por ser simpático e bem-humorado, os mestres passam a gostar dele, sem
nenhuma suspeita. Uma aluna entra inesperadamente na sala dos mestres e afirma
adorar as aulas do falso professor, Schneebly. Os outros professores
impressionam-se com a empatia e chegam a comentar que isso era raro ali naquele
colégio tão tradicional.
Em sua casa,
a namorada do verdadeiro, Ned Schneebly estranha que Dewey saia cedo todos os
dias ao alegar ter arrumado um emprego e prometer por conseguinte, que em breve
poderá acertar as contas atrasadas por estar a receber. Na escola, a
diretora também passa a estranhar alguns detalhes e aparece de surpresa para
acompanhar uma aula. Devidamente mancomunado com os alunos, há toda uma
estratégia de segurança montada para disfarçar ser uma aula convencional. Ela
sugere um café fora da escola para conhecê-lo melhor e ele a conduz a um bar
Rocker, cheio de pessoas a adotar um visual alternativo e ela estranha. Na
falta de café, bebem cerveja e uma vez embriagada, ela deixa escapar que adora
Stevie Nicks, a ex-vocalista do grupo, Fleetwood Mac, portanto, há uma
recôndita conexão sua com o Rock.
Uma
artimanha é montada para favorecer a banda inteira, a incluir a sua “equipe de
produção”, para deixar a sala de aula e participar de uma prévia da tal
“batalha das bandas”. Por uma questão de tempo, eles perdem a inscrição e então
o professor trapaceia a comover os organizadores, quando afirma que aquelas
crianças seriam enfermas, acometidas por uma doença terminal e portanto,
participar do festival seria o último desejo delas em vida. Claro, isso é
levado em consideração e a banda não é desclassificada previamente.
Eis que um
fato inesperado ocorre, quando o pagamento do professor chega em cheque
entregue para o verdadeiro, Schneebly. Inofensivo como sempre, este nem esboça
ficar bravo com a falcatrua perpetrada pelo seu amigo ao usar o seu nome indevidamente,
mas a sua namorada fica enlouquecida com essa notícia e não vacila em denunciar
Dewey à polícia. O conflito final atende perfeitamente a estrutura de uma
comédia tradicional infantojuvenil/escolar, pois envolve a polícia a
interromper a aula, explosão nervosa da diretora, revolta de um comitê formado
pelos pais dos alunos e nessa confusão, Dewey sai a correr com as suas
guitarras em fuga desenfreada.
Deprimido, volta a dormir o dia inteiro em casa
e com a namorada do seu amigo a expulsá-lo mediante impropérios. Entretanto a
virada na história chega, quando ele é acordado pelos seus alunos que estão
prontos para atuar na batalha das bandas, independente da opinião de seus pais
e autoridades escolares e assim, exortam Dewey a vestir-se rapidamente para que
a banda vá ao teatro onde o evento realizar-se-á. Decidem usar uniformes
escolares como figurino, e o estilista
da banda apresenta uma roupa nesses moldes para Dewey usar, ao estilo de Angus
Young.
Uma vez no
teatro, eles chegam em cima da hora e a banda a apresentar-se antes da “School
of Rock”, é ironicamente a ex-banda de Dewey, “No Vacancy”. A apresentação dos
rivais encerra-se e a “School of Rock” vai subir ao palco. Nesse ínterim, bem
no espírito das comédias escolares, a diretora e os pais dos alunos querem
entrar no teatro, com todas a mostrar-se enfurecidos, mas o porteiro mostra-se irredutível e assim, os pais não tem
outra alternativa a não ser comprar ingressos. No momento em que os pais
adentram o ambiente e chegam com certa truculência bem perto do palco, na base
do “sai da frente que o meu filho vai apresentar-se”, a banda entra e apesar de
um começo relutante, logo passa a tocar com muita desenvoltura e leva a plateia
ao delírio, incluso os pais dos músicos, que ficam absolutamente surpresos com
a performance. É claro, licença poética forte, o áudio e a mímica exibida
mostra um resultado coadunado com uma banda formada por adultos com muita
técnica e experiência, bem distante do som que produziam nas sala de aulas,
como iniciantes. A canção tratou-se de uma composição do tímido, Zack, que o
falso professor fez questão em anunciar ao microfone e isso causa um forte
impacto em seu pai que tanto o reprimia anteriormente. O menino porta-se como
um Rock Star e ao ver as meninas a delirar por seu filho com dez anos de idade,
o pai muda a postura ao demonstrar orgulho.
Bem, após a
ovação popular, parece patente que a “School of Rock” venceu a competição, mas
ao ser anunciado o resultado, todos surpreendem-se com a vitória do grupo: “No
Vacancy”. Há uma reação popular em repúdio e aos gritos de “School of Rock”,
eis que a decisão é revista e esta banda é declarada como vencedora. O final
feliz previsível, no entanto, isso não chega a incomodar, pois da maneira como
foi montado o clichê, o espectador já torcia por isso e assim, o que vale ali é
a comoção.
Mas não para
por aí, pois a cena final mostra que a escola ficou encantada com a vitória a
fazer uma forte propaganda positiva em seu favor e assim, ao mudar radicalmente
a sua postura, monta um curso extracurricular oficial, com o agora professor,
Dewey Finn como contratado a ministrar o seu curso de Rock, (o verdadeiro Ned
Schneebly também é contratado para ensinar guitarra para crianças menores), com
direito a um estúdio munido de equipamentos & instrumentos e a banda a
ensaiar, quando uma divertida apresentação de cada membro é promovida enquanto
Dewey canta a canção do AC/DC: “It’s a Long Way to Top” (If You Wanna Rock’n’
Roll).
Filme
simpaticíssimo, engraçado, hilário em alguns momentos, traz boas atuações,
incluso dos atores mirins; um bom roteiro e diálogos recheados por ótimas
piadas e menções ao Rock, sob diversas nuances. A trilha sonora é espetacular e
inclui uma música do Led Zeppelin, algo muito raro, pois é muito difícil que
pelo menos um ex-membro dessa banda não negue autorização para a utilização de
suas canções em filmes, mas desta feita, os sobreviventes, Page, Plant &
Jones e também da parte dos herdeiros de John Bonham, não criaram empecilhos.
Além de “Immigrant Song” do Led Zeppelin, que toca em uma cena onde o falso
professor conduz os seus alunos em sua Van, a cantar trechos da letra junto ao
áudio do disco, ouve-se: The Clash, Kiss, Cream, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC,
The Doors, The Who, Ramones, Metallica, The Darkness, David Bowie, The
Stoogies, T.Rex, The Velvet Underground, Stevie Nicks, e outros, isto é,
prevaleceu o Classic Rock, mas alguns artistas mais modernos, pós anos noventa,
também estão presentes.
Escrito por
Mike White, que também atuou como ator, como já citei; foi dirigido por Richard
Linklater e lançado em outubro de 2003.
O filme recebeu muitas críticas positivas, a
realçar a criatividade da história, mesmo que montada sob os clichês
tradicionais do gênero. Foi um sucesso de bilheteria também; rapidamente ganhou
edição em DVD e passeou pelos canais da TV a cabo com bastante constância.
Encontra-se disponível na grade da Netflix, atualmente (2019, quando escrevi esta resenha), e na Internet
aberta, via YouTube, apenas em trechos ou a pagar-se via Google Play. Sugiro a busca em portais de filmes similares.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume III, com a leitura disponibilizada a partir da página 313.