quarta-feira, 30 de abril de 2025

Filme: School of Rock (Escola de Rock) - Por Luiz Domingues

Esta é uma comédia diretamente relacionada ao Rock, e a trazer incluso em seu bojo, os elementos típicos de uma comédia infantojuvenil e ambientada no cenário escolar. Por tal característica, apresenta muitos clichês típicos desse tipo de comédia, no entanto, por ter o Rock como objeto direto e não como um fator secundário, trata-se de uma peça especial. O segundo ponto para ser salientado, dá-se com a evidência de que ao usar o Rock como mote fundamental, há uma riqueza muita grande em seu roteiro ao dar vazão para que seja sedimentado através da sua construção de diálogos, a reunir muitas piadas bem específicas sobre o universo do Rock e também a resvalar em fatores inerentes a envolver o métier musical como um todo e logicamente a abranger a cultura Pop e por que não (?), aspectos da contracultura, igualmente.
Há por levar-se em consideração que o ator protagonista, Jack Black, além de ser um profissional muito bom, inclusive a destacar-se a sua forte veia como comediante, é um entusiasta do Rock em sua vida pessoal. Ele também é músico na vida real e este não foi o único filme em que atuou a interpretar personagens que sejam músicos ou envolvidos com a música, haja vista a sua boa atuação em “Tenacious D” e “High Fidelity”, entre outras produções. E também pode-se dizer que o diretor, Richard Linklater, já detinha também experiência com filmes que dirigira a enfocar a juventude sob múltiplos aspectos e uma comédia de sua autoria, “Dazed and Confused”, lançada nos anos noventa, é celebrada como uma das mais cultuadas daquela década, a mostrar um grupo de jovens a viver em 1976, em meio ao último dia de aulas em uma High School e sob uma trilha sonora espetacular, a desfilar uma portentosa lista formada por bandas de Rock setentistas, da maior relevância. 
“School of Rock” (“Escola de Rock”), em português, caracteriza uma rara oportunidade em que a distribuição nacional usou a tradução literal e não inventou um título fora do contexto da obra, em sua língua original. E não poderia ser de outra forma, visto que nenhum outro título poderia ser mais adequado para tal comédia. 
 
O filme é uma das melhores comédias já produzidas com o mote do Rock, tornou-se cultuado e uma sequência foi cogitada logo a seguir, mas por absoluta falta de sincronia entre as agendas do diretor, do ator Jack Black, do roteirista, Mike White e de membros da produção para focar em uma continuidade, isso não foi possível. E segundo o próprio, Jack Black já comentou em entrevistas, a vontade sempre foi grande em produzir-se a continuidade, e em 2008, isso quase ocorreu. Posteriormente, em 2012, uma nova tentativa esboçou-se e novamente não foi possível fazer o projeto prosperar. Em 2013, o celebrado, Andrew Lloyd Weber, autor de musicais do calibre de “Jesus Christ Superstar” e “Evita”, entre tantos outros, comprou os direitos sobre a história de “School of Rock” e em 2015, produziu o espetáculo nos palcos. Em 2014, uma adaptação foi levada ao ar no canal juvenil, “Nickelodean”, como um seriado de TV, porém a contar com uma produção bem modesta, típica da parte dessa emissora.
Sobre o mote central, a história é muito boa, a mostrar-se perfeita para amparar uma série de confusões geradas para alimentar a estrutura de uma boa comédia e a usar dos muitos clichês do humor infantojuvenil & escolar, além de usar o manancial de piadas típicas do universo do Rock, cultura Pop e da cultura/contracultura em geral. 
 
Nesses termos, vemos a história construída em torno de uma farsa e a envolver a questão da falsidade ideológica e até poder-se-ia arrolar a corrupção de menores nesse bojo, no entanto, a despeito dessa lista de crimes abomináveis, na prática, tudo é apresentado de uma forma lúdica, a atenuar a carga negativa que supostamente pudesse depor contra, portanto, é óbvio que não é possível levar-se tais acusações a sério e assim, o filme deve ser encarado exatamente como apresenta-se, ou seja, uma comédia ingênua e imbuída de boas intenções, em caráter subliminar.
A trama é a seguinte: Dewey Finn (Jack Black), é guitarrista de uma banda Hard-Rock, chamada “No Vacancy”. Tal banda é obscura, busca uma melhor colocação no mercado, mas nesse estágio, apenas toca em pequenos clubes e eventuais festivais dotados de um pequeno porte. Dewey destoa de seus companheiros, por ser obeso e mais velho, além de adotar ao vivo, uma performance bastante exagerada, ao lembrar de certa forma os trejeitos do guitarrista do AC/DC, Angus Young e todos esses fatores envergonham os demais membros da banda que vibram em outra sintonia. 
Eis que surge uma oportunidade para a banda, quando ela pleiteia concorrer em uma “batalha de bandas”, um típico e tradicional tipo de festival/concurso a premiar bandas, mediante votação em torno de suas respectivas performances no palco. Mas quando chega no estúdio para ensaiar em um certo dia, Dewey é surpreendido ao verificar que um outro guitarrista está a ensaiar com os seus companheiros. Sem maiores escrúpulos, os seus ex-companheiros comunicam-lhe que ele se considere demitido e o novo guitarrista, um sujeito que é jovem e esguio como eles, chamado, “Spider” (interpretado por Lucas Babin), está a ocupar a sua vaga, portanto, reforça-se o aspecto do preconceito por conta de Dewey ser obeso e a beirar a meia-idade.
Contrariado, Dewey volta para o apartamento onde divide o aluguel com um fraternal amigo, Ned Schneeble (interpretado por Mike White, o autor do roteiro, igualmente), e a namorada de Ned, Patty Di Marco (interpretada por Sarah Silverman). O ambiente nessa Lar é o seguinte: Dewey pouco contribui para sanar as despesas da casa por ser músico e quase sempre ter pouco dinheiro no bolso, proveniente dos parcos cachês que recebe eventualmente, proveniente de suas poucas apresentações realizadas em casas noturnas. E agora, fora da banda é que a sua situação tende a piorar. Ele tem a singela compreensão de seu amigo, Ned, que fora companheiro de uma banda pela qual atuaram muitos anos atrás. 
 
No entanto, Ned cortara a longa cabeleira e fora adequar-se ao mercado para ganhar dinheiro, e assim, por apresentar um temperamento dócil ao extremo, tolera a inadimplência do seu amigo e os seus maneirismos Rockers, todos. A contrapartida a garantir o humor, ocorre com a namorada de Ned, que pragmática ao extremo, não tolera os excessos de Dewey, ao cobrar-lhe o valor do aluguel (e sem poupá-lo de insultos), ou seja, a contribuição para que ele quite a sua dívida. Nesse aspecto, o modo de vida do Rocker (neste caso sem ostentar uma condição de fama que gere renda, mínima que seja), é bastante explorado para gerar boas piadas, como por exemplo as muitas implicâncias que a moça nutre pelo amigo do seu namorado, em torno dos hábitos sui generis observados pelo Rocker, Dewey Finn. 
Acuado, Dewey não enxerga uma alternativa emergencial para gerar algum tipo de renda e nessa situação, coloca alguns equipamentos e guitarras suas para vender. Alguns interessados entram em contato para negociar, mas em dado instante, uma pessoa que representa um colégio (Colégio Horace Green), liga para convocar o professor Ned Schneeble, que deixara um currículo ao pleitear uma vaga nessa instituição. De fato, Ned abandonara a errante vida Rocker, para estudar e agora, formado como professor, buscava tal colocação. Em princípio, Dewey apenas diz que Ned não encontra-se em casa, mas ao perceber que seria uma oportunidade para ganhar dinheiro, disfarça a sua voz e ao passar-se por Ned, aceita a oferta para ser ele em pessoa, o professor substituto por um breve período, no lugar de seu amigo. Pronto, está armada uma tremenda confusão a gerar um sem número de situações embaraçosas, mal-entendidos e claro, a gerar ótimas condições armadas para justificar piadas hilárias.
Pois então, Ned comparece disfarçado como professor e apresenta-se à diretora, Rosalie “Roz” Mullins (interpretada por Joan Cusack), que o aceita sem reservas, para conduzi-lo imediatamente a assumir uma sala de aula. Claro que tal situação é inverossímel, mas tudo bem, é uma comédia, não serei desagradável em cobrar realismo. 
Ao chegar na sala, ele nota um grupo de crianças na idade da pré-adolescência, absolutamente adaptadas à disciplina da instituição pela postura passiva, subserviente e sem nenhum indício de rebeldia, ao menos que fosse algo sutilmente identificável, visto que ao longo do filme, alguns alunos deram vazão a certos aspectos latentes nesse sentido. Trajados com uniformes bem tradicionais, o que faz menção aos colégios europeus, os alunos recebem o novo professor com todo o protocolo esperado, ou seja, em tom de absoluto respeito. No entanto, Ned/Dewey é um farsante e simplesmente não sabe o que ensinar às crianças e assim, limita-se a fazer o tempo passar com discussões inócuas e a propor descanso o tempo todo. O seu plano inicial e primordial, foi postergar ao máximo tal período que ele sabia, seria temporário, e assim, ele cumpriria a carga horária sem correr o risco de ser desmascarado e a ganhar uma soma de dinheiro.
No entanto, os alunos na faixa entre dez e doze anos de idade, mesmo imbuídos de sua inocência, o questionam sobre o que ele ensinaria e então, mais piadas ótimas são produzidas, aos montes. Eis que em um dia posterior, a diretora alerta que os alunos terão um período com aula de música e Dewey vai assistir tal atividade ministrada em uma sala especial, por outro professor. Ali, ele observa vários de seus alunos a tocar diferentes instrumentos, mediante a leitura de partituras e em alguns casos, a demonstrar uma técnica surpreendente. A sua perspicácia age rápido, pois ele apanha alguns instrumentos e equipamentos em sua Van e quando os alunos voltam para a sala, são surpreendidos com uma estrutura montada para uma banda de Rock ensaiar em sua sala de aulas.
Estupefatos, não entendem qual seria a intenção do “professor”, e assim, são facilmente ludibriados. Ned/Dewey planeja secretamente formar uma banda, e com ela, participar da tal “batalha de bandas”. Um pequeno potencial musical ele sentiu existir, ao vê-los na aula de música, então, o seu grande dilema passa a ser: como fazer com que pré-adolescentes absolutamente ingênuos, formem uma banda de Rock com solidez para apresentar-se ao vivo e a concorrer com outras bandas sedimentadas? Eis então que para quem não sabia nem como disfarçar não ter nada a ensinar, ele encontra uma matéria para ensinar aos seus alunos, desde o be-a-bá dessa cátedra: Rock’n’ Roll! Pois não basta ensaiar essas crianças a tocar e cantar com desenvoltura, porém faz-se mister que entendam e sintam o Rock em todas as suas nuances. Eis aí a “Escola de Rock” que dá nome ao filme.
Nesse ponto, Ned/Dewey é perspicaz ao envolver a criançada, por convencê-las que tal esforço seria um projeto escolar e que este deveria ser absolutamente sigiloso, exatamente para poupá-lo da vigilância da diretora e também dos pais. Para tanto, é hilária a forma rápida com a qual recruta as crianças para ocupar as vagas como instrumentistas e cantores. As crianças que ficaram de fora, o questionam sobre a possibilidade de não ganhar nota, ao não participar do projeto e ele rapidamente acha uma solução ao designar funções múltiplas, a explicar-lhes que uma banda de Rock não funciona apenas por conta de seus componentes, o que aliás, é uma verdade absoluta. Portanto, ele monta uma equipe a contar com técnicos, roadies, seguranças e até uma “empresária”, visto que nota o potencial incrível para a argumentação de uma simpática menininha, Summer “Tinckerbell” Hathaway (interpretada por Miranda Crosgrove). 
É bem verdade que algumas crianças pedem para trocar de função ao notar que seriam mais úteis em outros postos. É o caso da vocalista, Tomika “Turkey Sub” (interpretada por Maryam Hassan), que tem potencial vocal outrora não expresso e ao demonstrar os seus dotes, o professor imediatamente a incorpora ao corpo de backing vocalistas. E também foi o caso de Billy “Fancy Pants” (interpretado por Brian Falduto), que propõe ser o estilista responsável pelo figurino da banda. Os meninos que foram designados a cuidar da segurança, Frankie “Tough Guy” (interpretado por Angelo Massagli) e Leonard “Short Stop” (interpretado por Cole Hawkins), montam uma vigília a detectar a presença da diretora nas imediações e evitar que sejam surpreendidos em suas aulas sobre Rock’n’ Roll e sobretudo em relação aos ensaios que naturalmente envolveria a incidência de forte presença de emissão sonora.
Piadas sensacionais são produzidas nessa fase do filme, a envolver diretamente o Rock, pois o professor passa a discorrer sobre o assunto em diversos aspectos, inclusive no campo teórico, ao encher a lousa (quadro-negro, para quem não for paulista), com diversos dados a explicar a história do Rock. A trilha sonora usada é excelente e cria uma atmosfera sensacional para encorpar o filme e dar vazão às piadas. Inclusive, quando a banda é formada de uma forma abrupta, isso também é obviamente uma ótima piada e envolve o Rock, pois o professor faz com que alunos que jamais ouviram Rock clássico em suas vidas, toquem de primeira, músicas como: “Smoke on the Water” (Deep Purple) e “Iron Man” (Black Sabbath). Discos clássicos do Rock são distribuídos para cada aluno “estudá-lo” como uma lição de casa. 
O guitarrista, Zack (Interpretado por Joey Gaudos Junior), gosta de tocar violão clássico, e tem um certo apoio paterno, desde que esteja com os estudos regulares em dia e jamais toque Rock na sua hora permitida para o lazer ao violão, a reforçar a ideia do conflito. Vídeos a mostrar cenas clássicas de músicos do Rock, são exibidos em sala de aula, e assim mostra-se engraçado ver o professor a teorizar sobre as loucuras cênicas perpetradas por artistas como Jimi Hendrix, Pete Townshend, Keith Moon e Angus Young.
A banda fica formada então com: Zack “Zack-Attack” Mooneyham, na guitarra; Freddy “Spazzy” McGee Jones (interpretado por Kevin Clark), na bateria, Katie “Posh Spice” (interpretado por Rebecca Brown), no baixo, Lawrence “Mr. Cool” (interpretado por Robert Tsai), aos teclados, Alicia “Brace Face” (interpretada por Aleisha Allen), como backing vocalista, Martha “Blondie” (interpretada por Caitlin Hale), como backing vocalista e a já citada anteriormente, Tomika “Turkey Sub” (interpretada por Maryam Hassan), como backing vocalista. 
 
Ainda a fazer parte da equipe de produção, os garotos, Gordon “Roadrunner” (interpretado por Zachary Infante), como técnico de iluminação e Marco “Carrot Top” (interpretado por James Hosey), como responsável pelos efeitos visuais e nesse aspecto, o professor afirma que o tópico a abordar o uso do “gelo seco” seria abordado nas aulas, como se fosse um trabalho escolar de ciências. Nota-se que todos receberam apelidos a reforçar alguma característica específica de suas respectivas personalidades e também a conter a intenção em emular algum tipo de estratificação Rocker, como um esforço da parte do professor, para acelerar a maturação de crianças entre dez e doze anos de idade, de uma forma instantânea. 
Outra piada muito engraçada ocorre, quando algumas meninas que foram designadas para ser “groupies” da banda, simplesmente aceitaram tal função sem fazer a menor ideia do que isso significaria. Uma delas questiona o professor no dia seguinte, ao afirmar ter pesquisado no “google” e ter descoberto que “groupie” designava um tipo de servidão sexual que ela nem entendia direito do que tratava-se na prática, mas que deduziu ser algo vergonhoso ao ponto de notar ser algo execrado de uma forma geral, portanto, que tais meninas que adotavam tal posicionamento, fossem chamadas como “vagabundas” por muitas pessoas. Embaraçado, o professor contra argumenta a explicar-lhe que uma “groupie” é um tipo de menina que ama tanto uma banda, que a segue aonde ela for, sempre disposta a ajuda-la com muita boa vontade. Pois é mesmo um eufemismo que cabe, se visto sob esse ângulo bem ameno e assim, a pequena menina aceitou a "função", no auge da sua ingenuidade.
Surge também a sugestão para o nome da banda: “School of Rock”, nada mais apropriado. O “estilista” da banda apresenta figurinos fortemente influenciados pela estética do Glam Rock setentista, com direito à piada explícita, ao mostrar-se tal menino a vestir um boneco com tal criação sua, a lembrar o visual de David Bowie nos anos setenta.
 
No convívio com os outros professores na sala dos mestres, mais piadas ótimas são geradas, pois ao ser indagado sobre questões pedagógicas, ele simplesmente nem entende as perguntas e as suas respostas dotadas de sentido nonsense, passam miraculosamente por absoluta sorte, ao crivo de seus supostos pares. Mais que isso, por ser simpático e bem-humorado, os mestres passam a gostar dele, sem nenhuma suspeita. Uma aluna entra inesperadamente na sala dos mestres e afirma adorar as aulas do falso professor, Schneebly. Os outros professores impressionam-se com a empatia e chegam a comentar que isso era raro ali naquele colégio tão tradicional.
Em sua casa, a namorada do verdadeiro, Ned Schneebly estranha que Dewey saia cedo todos os dias ao alegar ter arrumado um emprego e prometer por conseguinte, que em breve poderá acertar as contas atrasadas por estar a receber. Na escola, a diretora também passa a estranhar alguns detalhes e aparece de surpresa para acompanhar uma aula. Devidamente mancomunado com os alunos, há toda uma estratégia de segurança montada para disfarçar ser uma aula convencional. Ela sugere um café fora da escola para conhecê-lo melhor e ele a conduz a um bar Rocker, cheio de pessoas a adotar um visual alternativo e ela estranha. Na falta de café, bebem cerveja e uma vez embriagada, ela deixa escapar que adora Stevie Nicks, a ex-vocalista do grupo, Fleetwood Mac, portanto, há uma recôndita conexão sua com o Rock.
 
Uma artimanha é montada para favorecer a banda inteira, a incluir a sua “equipe de produção”, para deixar a sala de aula e participar de uma prévia da tal “batalha das bandas”. Por uma questão de tempo, eles perdem a inscrição e então o professor trapaceia a comover os organizadores, quando afirma que aquelas crianças seriam enfermas, acometidas por uma doença terminal e portanto, participar do festival seria o último desejo delas em vida. Claro, isso é levado em consideração e a banda não é desclassificada previamente.
Eis que um fato inesperado ocorre, quando o pagamento do professor chega em cheque entregue para o verdadeiro, Schneebly. Inofensivo como sempre, este nem esboça ficar bravo com a falcatrua perpetrada pelo seu amigo ao usar o seu nome indevidamente, mas a sua namorada fica enlouquecida com essa notícia e não vacila em denunciar Dewey à polícia. O conflito final atende perfeitamente a estrutura de uma comédia tradicional infantojuvenil/escolar, pois envolve a polícia a interromper a aula, explosão nervosa da diretora, revolta de um comitê formado pelos pais dos alunos e nessa confusão, Dewey sai a correr com as suas guitarras em fuga desenfreada. 
 
Deprimido, volta a dormir o dia inteiro em casa e com a namorada do seu amigo a expulsá-lo mediante impropérios. Entretanto a virada na história chega, quando ele é acordado pelos seus alunos que estão prontos para atuar na batalha das bandas, independente da opinião de seus pais e autoridades escolares e assim, exortam Dewey a vestir-se rapidamente para que a banda vá ao teatro onde o evento realizar-se-á. Decidem usar uniformes escolares como figurino, e o estilista da banda apresenta uma roupa nesses moldes para Dewey usar, ao estilo de Angus Young. 
Uma vez no teatro, eles chegam em cima da hora e a banda a apresentar-se antes da “School of Rock”, é ironicamente a ex-banda de Dewey, “No Vacancy”. A apresentação dos rivais encerra-se e a “School of Rock” vai subir ao palco. Nesse ínterim, bem no espírito das comédias escolares, a diretora e os pais dos alunos querem entrar no teatro, com todas a mostrar-se enfurecidos, mas o porteiro mostra-se irredutível e assim, os pais não tem outra alternativa a não ser comprar ingressos. No momento em que os pais adentram o ambiente e chegam com certa truculência bem perto do palco, na base do “sai da frente que o meu filho vai apresentar-se”, a banda entra e apesar de um começo relutante, logo passa a tocar com muita desenvoltura e leva a plateia ao delírio, incluso os pais dos músicos, que ficam absolutamente surpresos com a performance. É claro, licença poética forte, o áudio e a mímica exibida mostra um resultado coadunado com uma banda formada por adultos com muita técnica e experiência, bem distante do som que produziam nas sala de aulas, como iniciantes. A canção tratou-se de uma composição do tímido, Zack, que o falso professor fez questão em anunciar ao microfone e isso causa um forte impacto em seu pai que tanto o reprimia anteriormente. O menino porta-se como um Rock Star e ao ver as meninas a delirar por seu filho com dez anos de idade, o pai muda a postura ao demonstrar orgulho.
Bem, após a ovação popular, parece patente que a “School of Rock” venceu a competição, mas ao ser anunciado o resultado, todos surpreendem-se com a vitória do grupo: “No Vacancy”. Há uma reação popular em repúdio e aos gritos de “School of Rock”, eis que a decisão é revista e esta banda é declarada como vencedora. O final feliz previsível, no entanto, isso não chega a incomodar, pois da maneira como foi montado o clichê, o espectador já torcia por isso e assim, o que vale ali é a comoção.
Mas não para por aí, pois a cena final mostra que a escola ficou encantada com a vitória a fazer uma forte propaganda positiva em seu favor e assim, ao mudar radicalmente a sua postura, monta um curso extracurricular oficial, com o agora professor, Dewey Finn como contratado a ministrar o seu curso de Rock, (o verdadeiro Ned Schneebly também é contratado para ensinar guitarra para crianças menores), com direito a um estúdio munido de equipamentos & instrumentos e a banda a ensaiar, quando uma divertida apresentação de cada membro é promovida enquanto Dewey canta a canção do AC/DC: “It’s a Long Way to Top” (If You Wanna Rock’n’ Roll).
Filme simpaticíssimo, engraçado, hilário em alguns momentos, traz boas atuações, incluso dos atores mirins; um bom roteiro e diálogos recheados por ótimas piadas e menções ao Rock, sob diversas nuances. A trilha sonora é espetacular e inclui uma música do Led Zeppelin, algo muito raro, pois é muito difícil que pelo menos um ex-membro dessa banda não negue autorização para a utilização de suas canções em filmes, mas desta feita, os sobreviventes, Page, Plant & Jones e também da parte dos herdeiros de John Bonham, não criaram empecilhos. 
 
Além de “Immigrant Song” do Led Zeppelin, que toca em uma cena onde o falso professor conduz os seus alunos em sua Van, a cantar trechos da letra junto ao áudio do disco, ouve-se: The Clash, Kiss, Cream, Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, The Doors, The Who, Ramones, Metallica, The Darkness, David Bowie, The Stoogies, T.Rex, The Velvet Underground, Stevie Nicks, e outros, isto é, prevaleceu o Classic Rock, mas alguns artistas mais modernos, pós anos noventa, também estão presentes.
Escrito por Mike White, que também atuou como ator, como já citei; foi dirigido por Richard Linklater e lançado em outubro de 2003.

O filme recebeu muitas críticas positivas, a realçar a criatividade da história, mesmo que montada sob os clichês tradicionais do gênero. Foi um sucesso de bilheteria também; rapidamente ganhou edição em DVD e passeou pelos canais da TV a cabo com bastante constância. Encontra-se disponível na grade da Netflix, atualmente (2019, quando escrevi esta resenha), e na Internet aberta, via YouTube, apenas em trechos ou a pagar-se via Google Play. Sugiro a busca em portais de filmes similares.

Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll", em seu volume III, com a leitura disponibilizada a partir da página 313.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Filme: Rock'n' Roll High School - Por Luiz Domingues

O diretor, Allan Arkush, mostrava-se afeito ao Rock em sua formação pessoal, por conta de ter sido um funcionário do míticos auditórios, Fillmore East e West, ou seja, um dos principais templos norte-americanos para o Rock nos anos sessenta e setenta (tanto foi assim, que nos anos 1980, ele lançaria o filme : “Get Crazy”, em 1983, para ser preciso, para tentar prestar um tributo ao Fillmore East, cuja resenha desse citado filme, eu também já elaborei e portanto, falo sobre como essa suposta homenagem não configurou-se a contento). 
 
Entretanto, a sua veia natural a pender para o humor mais próximo do pastelão, mostrou-se proeminente. Daí, o diretor, Roger Corman, apareceu com a proposta de produzir uma película a buscar esse caminho e com o enfoque atualizado, moderno, a retratar a conjuntura da música que a juventude de final de década de setenta estava a consumir e pela qual refletisse a época.
Corman foi um diretor especializado em filmes de terror e ficção científica (mais terror), que vinha desde os anos cinquenta a construir a sua filmografia nesse sentido, mas especificamente nos anos sessenta, houvera experimentado (com o perdão pelo trocadilho), uma incursão à realidade paralela construída pelo conceito da contracultura e nesses termos, mantivera uma boa aproximação com o Rock, por extensão. 
 
Tal esforço de sua parte houvera ocorrido principalmente por conta de seu contato direto com um grupo de atores hollywwodianos e que formavam uma confraria de entusiastas pela contracultura & afins, entre os quais, Jack Nicholson, Peter Fonda, Bruce Dern, Karen Black e Dennis Hopper, para citar os principais artífices e por conta disso, Corman lançara filmes tais como: The Wild Angels, The Trip e outros filmes a abordar a juventude sessentista. 
 
Todavia, Corman perdera o fio da meada e ao final dos anos setenta, não continha mais uma referência do que ocorria em termos socio-comportamentais no seio da juventude e por conta disso, buscou em Allan Arkush e outras pessoas associadas, uma fonte para atualizar-se.
Bem, Arkush foi em tese uma boa pessoa a ser consultada se a intenção foi buscar uma retomada cinematográfica para abordar o assunto contracultural. Todavia, para o seu azar em 1979 o que Corman encontraria como sentimento legítimo de uma estratificação cultural natural pelas ruas, seria apenas um mero fruto da formação de opinião detratora, contudo, a veia humorística de Arkush não deixaria a produção tomar um rumo em torno da seriedade, mesmo que a situação assim delineasse-se. 
 
Portanto, se o leitor quiser assistir o filme, “Rock’n’ Roll High School”, a esperar uma continuidade do que Roger Corman expressara em películas que dirigiu ou coproduziu nos anos sessenta com tal teor, pode esquecer. No entanto, se tiver consciência que esta obra em si, trata-se apenas de uma peça sem maiores pretensões a não ser o humor escrachado, constituído pelo "pastelão" clássico do humor popularesco, então, sem problema, estará diante de um típico filme para ser assistido sob soslaio, na sala de estar de sua casa, enquanto a tarde passa lentamente ao seu redor.
Sob um roteiro absolutamente infantilizado, a história é baseada em um argumento remotamente inspirado em uma história verídica ocorrida em uma escola localizada em Milwaukee, Wisconsin, nos anos 1920, em torno de uma greve organizada por alunos, algo impensável para ter ocorrido entre jovens geralmente subservientes e nada contestadores, naquela década. No entanto, foi o mote para construir-se a história desse filme. 
 
Ocorre que neste caso, a ideia de uma diretora que impõe uma disciplina militarizada e logicamente intransigente, incomoda os alunos que desejam a bagunça, pelo sentido amplo da gíria. Nesses termos, uma aluna que é uma fanática seguidora da banda Punk, Ramones, organiza-se, com o apoio de outros alunos Rockers da escola para combater a repressão desmesurada da parte da linha dura adotada pela inspetora, e em torno dessa premissa, todas as piadas são montadas para justificar tal mote e também a trilha sonora.
Bem, o ambiente é a Los Angeles de 1979, e as piadas são grotescas, nada sutis e em alguns casos, constrangedoras até mesmo para a época, portanto, o que dizer décadas depois, quando tornou-se ainda mais fragilizada tal abordagem? Tudo bem, filme infanto-juvenil e inofensivo, se está a milhões de milhas longe de ser considerado uma obra prima, ostenta algo de positivo ao ponto de não ser totalmente defenestrado ao lixo da história, por alguns motivos. Entre os quais, naturalmente em primeira instância a questão da sua trilha sonora.
 
A despeito do fato cabal de eu, particularmente, guardar inúmeras restrições ao trabalho dos Ramones, não é apenas por conta de seu som que a trilha alimenta-se (ainda bem), e é interessante observar a presença de nomes mais significativos em termos musicais, tais como Alice Cooper, Todd Rundgreen; Chuck Berry; Wings; Fleetwood Mac; MC5 e outros. Nesse bojo contém o “Devo”, também nessa trilha sonora, mas tudo bem, isso foi produzido em 1979, fazer o quê, não é verdade? 
 
Aliás, a expectativa inicial seria contar com Todd Rundgreen ou mesmo o grupo, Cheap Trick, para figurar como personagem central e tais artistas não tiveram possibilidade para aceitar por conta de um choque de agenda momentâneo, daí ter sido acionado o plano C, com os Ramones a assumir tal posto.
Sobre as ditas “gags”, são muitos os clichês típicos usados em filme ambientados no espectro estudantil norte-americano, em torno das chamadas :“High School”. Um deles, super surrado, dá-se na figura da aula de música tradicional, com um professor completamente afastado da realidade social a ministrar a sua aula a enaltecer a figura de Ludwig Van Beethoven. 
 
Nesse aspecto, a percepção de que Beethoven é usado como um ícone de algo ultrapassado, revela o viés equivocado do humor popularesco, ao insistir no estereótipo da cultura oficial erudita ser usada como exemplo de algo obsoleto. Isso por si só já revela uma visão preconceituosa e obtusa, portanto, como é possível rir de uma piada construída em torno de tal premissa? 
As cenas das meninas a praticar educação física sob um som tradicional e isso provocar tédio, para em seguida animar-se ao som do Rock tosco dos Ramones, reforça o conceito preconceituoso e fomentado pela tola visão de uma guerra cultural entre o Rock e a cultura tradicional. 
 
Isso recorda-me de alguns debates promovidos pelos meios de comunicação brasileiros nos anos setenta, mediante uma discussão proposta em torno de um conceito, sobre supostamente ter instaurado-se um embate entre o Rock e o samba naquela época, ou seja, uma asneira sem nenhum cabimento sob o ponto de vista do estudo da evolução da cultura, musicologia e nem mesmo sob outras tantas cátedras.
Uma vez assumida a presença dos Ramones como farol a guiar tal produção, o favorecimento ao seu enaltecimento, ficou óbvio. Uma cena, por exemplo, mostra uma escala de valores com o nome de bandas de Rock dos anos sessenta e setenta, e os Ramones a ocupar o patamar máximo. 
 
Foi como se uma lanchonete de bairro colocasse uma placa na sua fachada, ao arvorar-se em vender o melhor sanduíche da cidade, ou seja, uma informação sem valor real algum, além da bravata. Outra cena em favorecimento dá-se no episódio da super fã que acampa na porta de um teatro onde tal banda anunciara um espetáculo e após vacilar por ter dormido, acorda com outra fá colocada à sua frente, à boca da bilheteria. 
 
O diálogo que ambas travam em tom de disputa particular para definir quem é mais fã da banda em questão e assim obter o “direito” de comprar o primeiro ingresso, mostra bem essa predisposição.
Todavia não para por aí. Observa-se aquele clichê em torno dos “experimentos” científicos sobre animais e plantas submetidas à audição de música erudita versus Rock e um rato que assume postura humana e torna-se fã dos Ramones, o professor de música que “converte-se” e também passa a seguir os Ramones, uma infame queima de LP’s de bandas de Rock promovida pela diretora da escola com tendência nazista e a colagem em suas costas de um cartaz com os dizeres: “chute o meu traseiro com força”, bem ao estilo da mentalidade de 5ª série etc... 
Bem, o filme encerra-se com uma rebelião na escola, com direito a um show dos Ramones a realizar-se no pátio da  instituição de ensino e a completa destruição de seu patrimônio (trata-se de cenas verdadeiras da demolição do colégio, e que de fato foi para o chão, mas não fruto de alguma rebelião da vida real, mas por conta de uma ação de engenharia civil), foram usadas para reforçar a dramaticidade.
Sobre os atores, destaque para: PJ Soles, como Riff Randall, Dey Young, como Kate Rambleau, Vince Van Patten como Tom Roberts, Clint Howard, como Eaglebauer (este ator, Clint, apesar de jovem na ocasião, já mostrava-se muito experiente por haver trabalhado desde criança em seriados de TV), Mary Woronov, como a temível diretora, Miss Evelyn Togar, Paul Bartel como Mr. Mcgree e outros atores de apoio, além da presença dos quatro componentes dos Ramones, logicamente e com participação também de Darby “Crash” e Lorna “Doom”, membros da banda Punk, The Germs.
Produção de Roger Corman (errou desta vez, uma pena) e direção de Allan Arkush (que tentaria enfim fazer um filme de Rock a honrar a sua experiência em ter sido um funcionário do auditório Fillmore East, em “Get Crazy”, de 1983, mas a falhar, infeliz e igualmente), “Rock’n Roll High School” foi lançado em agosto de 1979. 
 
Uma sequência foi produzida muitos anos depois, em 1991, com o título : “Rock’n’ Roll High School Forever”. E há boatos sobre uma refilmagem para breve (2019)
O filme foi disponibilizado em versão VHS, logo a seguir; passou bastante nos canais de TV a cabo, foi exibido no Brasil, na famosa: “sessão coruja” das madrugadas ao longo dos anos oitenta. Foi lançado no formato DVD, inclusive várias vezes, para oferecer extras diferentes, e é encontrado com facilidade no YouTube. 
 
Esta resenha faz parte do livro: "Luz, Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume II, e está disponível a a partir da página 204