quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

D.A. Pennebaker: o Documentarista dos Grandes Momentos do Rock - Por Luiz Domingues

D.A.Pennebaker (Don Alan Pennebaker), nasceu em Evanston, Illinois, no ano de 1925. Filho de uma dona de casa e de um fotógrafo publicitário. Após servir na Marinha norte-americana, formou-se engenheiro, mas logo partiu para a carreira pela qual faria muito sucesso, ao produzir e dirigir documentários para a exibição no cinema e na TV.
                          
O seu primeiro trabalho, foi, "Daybreak  Express" de 1953, pelo qual mostrou a demolição da Estação de Metrô da Terceira Avenida em New York, ao usar a bela música produzida pelo monstro do Jazz, Duke Ellington. 
 
Logo a seguir, Pennebaker passou a lançar documentários sobre política, geralmente a cobrir convenções de partidos, em eleições estaduais, inclusive ao retratar momentos históricos da trajetória de John F. Kennedy. 
 
Digno de nota ainda nesse sentido, foi que a empresa produtora de sua propriedade (Drew Associates), cobriu o famoso conflito racial ocorrido no estado do Alabama, onde o então governador, George Wallace, criou a celeuma sobre a segregação nas escolas naquele estado, em 1963, fato esse considerado a gota d'água para alavancar o clamor popular em meio ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos da América.
                                  
Em 1964, ele lançou um curioso curta-metragem denominado: "You're Nobody Till Somebody Loves You", que tratou-se simplesmente, da filmagem do terceiro casamento de Timothy Leary, o então polêmico professor de psicologia da Universidade de Harvard, que notabilizou-se por defender publicamente o uso da substância alucinógena denominada: "LSD", no âmbito social e que tornar-se-ia a seguir, em um ícone da contracultura e do movimento Hippie por essa e por outras posições fortes que tal personagem adotou, no campo sociopolítico e sobretudo, comportamental.

Em 1965, Pennebaker filmou o compositor erudito, russo, Igor Stravinsky, a pronunciar-se sobre o seu trabalho musical. É certamente uma pérola para o público da música erudita.

Mas foi no decorrer dos anos sessenta que Pennebaker achou o seu verdadeiro nicho, ao realizar o seu primeiro grande trabalho documental a envolver o universo da música Pop em geral. 
 
Em "Don't Look Back", ele retratou o mito da Folk-Music norte-americana, Bob Dylan, com imagens que estava a capturar na verdade, desde 1963 e principalmente acrescido dos momentos exclusivos vividos em bastidores de uma apresentação do astro Folk, em Londres, Inglaterra, no ano de 1965. 
 
Ao demonstrar a sua técnica como cinegrafista, adquirida nos anos em que cobrira a política, Pennebaker mostrou o astro Dylan a seco, na crueza dos bastidores, em meio às entrevistas coletivas e também nos momentos reservados do astro norte-americano, em hotéis e camarins de teatros.
A sequência inicial, com Dylan estático em um beco, ao som da monumental canção: "Subterranean Homesick Blues", a descartar cartazes onde a letra da música é sugerida em tom de "jogral", é tão memorável quanto qualquer cena clássica do cinema, tanto que é considerada entre especialistas em audiovisuais,  como uma precursora do conceito do vídeoclip, que só seria difundido para valer nos anos 1980.            
Em 1966, Pennebaker documentou a tour subsequente de Bob Dylan (Esse trabalho denominou-se: "Eat the Document"), mas esse documentário culminou em não ser lançado na época, assim como um outro documentário também a conter Bob Dylan, chamado: "Something is Happened". 
 
Parte desse material foi reaproveitado no documentário: "No Direction Home", de Martin Scorsese, lançado em 2005. A seguir, Pennebaker cobriu um dos momentos mais mágicos da história do Rock, ao capturar com a sua câmera, o Monterey Pop Festival, de 1967. 
Ao filmar com total espontaneidade o primeiro grande festival Hippie de grande porte, além das performances  musicais que dispensam maiores apresentações, Pennebaker retratou aquela atmosfera, sob a intensa euforia gerada pelo dito: "verão do amor", época em que por uma fração de segundo na história da humanidade, uma geração de pessoas jovens sonhou com a possibilidade de se viver em um mundo melhor, com fraternidade, paz & amor. 

Para falar dos shows em si, deixo tal atribuição para a elaboração de um um outro texto, em específico e que no momento oportuno, publicarei, portanto, para não fugir do tema, realço apenas duas cenas com caráter extra-musical que Pennebaker teve a felicidade em capturar e das quais,  considero-as, belíssimas: Brian Jones (guitarrista dos Rolling Stones e que estava ali só para prestigiar o festival), a caminhar e conversar tranquilamente entre outras pessoas em um momento de relaxamento e a expressão facial de estupefação da grande Mama Cass (uma das vocalistas do grande quarteto: "The Mamas and the Papas"), a assistir o show de Janis Joplin, e ainda mais por ela ter sido também uma grande cantora. Bem, são apenas dois exemplos singelos de uma grande captura do clima espontâneo que as lentes de Pennebaker registraram.
 

E daí em diante, ele pôs-se a filmar shows e mais shows, a capturar as performances de uma infinidade de astros sessentistas e também cinquentistas, como Jerry Lee Lewis e Little Richard, por exemplo. 

Em 1968, filmou um espetáculo de Ballet (Merce Cunningham Ballet), com música de John Cage a compor a sua trilha e sob a supervisão cênica de ninguém menos de quem,  Andy Warhol.

Com John Lennon, ele filmou a meteórica participação do mítico Beatle, com a sua anárquica banda alternativa, Plastic Ono Band, reforçada com Eric Clapton e Alan White (este, na ocasião como o futuro baterista do Yes), em 1969. Por capturar com incrível precisão o caráter de total improviso da performance da banda,  em meio a uma participação totalmente improvisada em um festival em Toronto, no Canadá, Pennebaker realizou mais um trabalho histórico. Esse documentário chama-se: "Sweet Toronto Peace Festival".

Ainda em 1969, lançou: "Keep on Rockin", a enfocar o endiabrado astro cinquentista, Little Richard. O documentário traz ainda a presença de estrelas da primeira grandeza do Rock 1950 & 1960, tais como: Chuck Berry, Bo Diddley, Jerry Lee Lewis, Jimi Hendrix, Janis Joplin, John Lennon e Yoko Ono.
 
Posteriormente, no ano de 1970, lançou: "Company: Original Cast Album", ao mostrar os bastidores dessa peça musical encenada na Broadway, em Nova York. 
Ainda em 1970, houve mais um documentário sob a sua direção, a enfocar a performance ao vivo de Alice Cooper durante a edição do Festival de Toronto, um pouco antes da carreira dele decolar em grande escala após o lançamento do seu terceiro álbum, "Love it to Death".
 
A seguir, D.A. Pennebaker mostrou o famoso: "Mardi Gras" (o chamado, "Carnaval" de New Orleans), em 1970, através do documentário: "Queen of Apollo".

Em 1972, enfim foi lançado um trabalho do qual ele participara em 1968, na realidade, como cinegrafista e produtor executivo de uma obra do cineasta francês, Jean Luc Godard, que deveria ter sido um filme longa-metragem, mas tal película permanecera inacabada por uma série de contratempos ocorridos no âmbito da sua produção e dessa forma, ao misturar as partes de ficção dirigidas originariamente pelo grande cineasta francês (Pennebaker é amigo pessoal do brilhante diretor francês e distribuidor de seus filmes nos Estados Unidos), eis que foi lançado como documentário, posteriormente.
Com a presença de atores como Rip Torn, Carol Bellamy e Amiri Baraka, tal película contém as participações de Marty Balin e Grace Slick, os dois vocalistas do Jefferson Airplane. 
 
É um retrato curioso sobre o final dos anos sessenta, ambientado na cidade de Chicago, Illinois e a mostrar o ambiente sociopolítico da época. Godard o batizou como: "One Am" ou "One American Movie". Pennebaker, muitos anos depois, portanto, o lançou como: "One AM" ou "One Parallel Movie".
No ano de 1973, Pennebaker responsabilizou-se por um outro trabalho monumental na história dos documentários sobre o  Rock: "Ziggy Stardust and the Spiders from Mars", ou seja, a se tratar simplesmente da captura de um momento glorioso do Glitter Rock Britânico, através de sua estrela máxima, David Bowie, e com este artista a viver o auge de sua verve mais Rocker e andrógina.
 

O documentário foca no último show da turnê "Ziggy Stardust", da parte desse artista, realizado no Hammersmith Odeon, de Londres, em 3 de julho de 1973. Tirante o repertório espetacular, a performance cheia de teatralidade de David Bowie e a qualidade da banda super azeitada (sim, eu sou muito fã de Trevor Bolder, como baixista, antes que o leitor pergunte-me), o documentário mostra momentos mágicos, através de cenas memoráveis tais como: o público caracterizado na porta do teatro, horas antes do espetáculo iniciar-se, as fãs completamente hipnotizadas durante a execução da canção:"Moonage Daydream", Bowie e Angie (a esposa dele, à época), a conversarem sobre maquiagem e discos voadores e com a presença estelar de Ringo Starr, o baterista dos Beatles, no camarim. Ainda há a performance de Bowie com a pantomima em "Width of a Circle" etc. Enfim, um grande documentário não apenas para os fãs de David Bowie, mas da história do Rock. 

Nos anos seguintes, Pennebaker lançou documentários sobre outros assuntos, quando voltou a diversificar-se. "Energy War"  e "DeLorean", são exemplos. Lançou também em 1979, um excitante debate proferido por Norman Mailer sobre o feminismo, filmado em 1971, chamado: "Town Bloody Hall". 
 
De volta a enfocar a arte, desta vez em 1983, lançou ele:"Rokeby", onde exibe o processo de ensaio de uma peça do dramaturgo, Samuel Beckett, com o próprio autor em pessoa, mais a presença de atores e componentes da sua produção teatral.
Pennebaker anunciou então o lançamento, em 1986, do show completo de Jimi Hendrix, no Festival Monterey Pop, de 1967. 
 
Em 1987, ele filmou Suzane Vega ao vivo a ensaiar e informalmente em sua casa. "Suzane Vega" é o nome do documentário. Já em 1989, filmou e lançou o documentário, "101", a enfocar o centésimo primeiro show da turnê da banda britânica oitentista, Depeche Mode. 
 
Não se trata de um artista (e tampouco a sua estética), da minha predileção, portanto quem quiser comentar sobre esse trabalho, por favor que acrescente informações nos comentários. 

Ainda em 1989, lança, assim como fizera com Jimi Hendrix,  a performance completa do astro da Soul Music, Otis Redding, no Festival Monterey Pop, de 1967, ao conferir-lhe o título: "Shake!: Otis Redding at Monterey". 

No mesmo ano, lançou mais um documentário sobre Jimi Hendrix, denominado: "Jimi Hendrix Live", extraído de suas capturas ao longo de muitos shows avulsos realizados por esse Deus da guitarra, durante os anos sessenta.
Em 1991, foi a vez de "Jerry Lee Lewis: The Story of Rock'n'Roll ". Trata-se de uma biografia muito boa do artista inquieto, apelidado como: "The Killer", uma das personalidades mais sensacionais e controversas dos anos 1950. 

Ainda em 1991, ele anunciou: "Comin' Home", com performances de Janis Joplin à época da Big Brother and The Holding Company. 

Branford Marsalis, excelente saxofonista de Jazz, foi enfocado no documentário de 1992, denominado: "Branford Marsalis: "The Music Tells You". 

De volta um pouco às suas raízes, em 1993, lançou: "War Room", ao retratar os bastidores da campanha presidencial, vitoriosa, de Bill Clinton para a presidências dos Estados Unidos da América.

Logo a seguir, ele fez então especialmente para a TV, um documentário espetacular, em 1994, denominado: "Woodstock Diary 1969". Ao intercalar cenas do documentário original, com depoimentos de artistas que tocaram no lendário festival de 1969, naqueles dias de 1994, fez um belo tributo nos então, vinte e cinco anos aos quais comemorava-se na ocasião. 

A turnê do ator & cantor, alemão, Marius Müller-Westernhagen entre 1994 & 1995, foi filmada por Pennebaker e lançada em 1996. O nome do documentário é: "Keine Zeit".
 
Outra incursão dele pelo teatro, deu-se em: "Moon Over Broadway", documentário que centrou-se em tal montagem de 1997. O espetáculo estrelado pela atriz/comediante/apresentadora, Carol Burnett, no entanto, foi uma baixa na carreira de Pennebaker, por ter recebido uma saraivada de críticas ruins a respeito desse trabalho, visto que Carol era uma boa artista, mas o documentário a enfocou em um momento decadente da carreira. 
 
Especialmente para a TV, lançou a seguir: "Searching for Jimi Hendrix" em 1999, com mais performances desse mestre, realizadas no calor da década de sessenta e a conter em anexo, depoimentos de muitas pessoas relevantes sobre Jimi Hendrix. 

Após mais uma compilação com clips da banda Techno-Pop oitentista, Depeche Mode, Pennebaker lançou em 2000, um documentário chamado: "Down from the Mountain", no qual mostra as músicas e artistas responsáveis pela trilha sonora do filme: "O Brother, Where Art Thou?", dos irmãos Coen.
Uma verdadeira pérola para quem aprecia a Black Music, está registrada em: "Only the Strong Survive", documentário de 2002,  a mostrar grandes artistas da gravadora "Stax", esta a se revelar como uma forte concorrente da "Motown" na briga que travaram pelo monopólio dos melhores artistas do Soul Music, R'n'B e Funk. 

Elaine Stritch, a grande Dama da Broadway é homenageada no documentário: "Elaine Stritch at Liberty", de 2002, feito para a TV. Ainda nesse ano, lançou: "Best of Bowie", com uma compilação de performances diversas do grande "camaleão". 
 
Curiosa a presença do então desconhecido ator britânico, com origem indiana, Naveen Andrews, no segmento, "Buddha of Suburbia", pois à época, tal participação não chamou a atenção do grande público, mas posteriormente, ele tornou-se bem conhecido, após ter interpretado o personagem iraniano, Sayid Jarrah, na série de TV: "Lost".

"National Anthem: Inside the Vote for Change Concert Tour", reuniu grandes estrelas do chamado: Soft-Rock. Ao unir artistas da velha guarda (James Taylor, Jackson Browne, com alguns artistas mais modernos, como: Dave Mathews, entre outros), além de Bruce Springsteen e Eddie Vedder, por exemplo. Produção de 2004.

"Assume the position with the Mr. Wuhl (um professor de história a revisitar fatos históricos ), "Cinema 16: American Short Films" (compilação com curtas), ambos de 2006 e "Addiction" (ao falar da questão das drogas, em nove segmentos separados), de 2007, foram trabalhos diversificados nesse período. 
 
Ainda em 2007, Pennebaker lançou: "65 Revisted", com outtakes do seu clássico de 1967, "Don't Look Back". Mais um tesouro para os fãs de Bob Dylan.
Pessoas importantes que contribuíram na campanha presidencial de Bill Clinton, em 1992, voltam a opinar no documentário: "The Return of the War Room", de 2008, em pleno final de Era Bush e iminente entrada em cena de Barack Obama. 
 
Ainda em 2008, Pennebaker lançou uma nova versão remasterizada da performance de Jimi Hendrix no Festival Monterey Pop de 1967. Desta vez, ao denominá-la como: "The Jimi Hendrix Experience: Live at Monterey".

O seu último trabalho foi curioso para quem documentou tanto a música e a política. Chamou-se: "Kings of Pastry", de 2009, no qual ele mostrou a saga de um professor de culinária francesa que ministra as suas aulas em Chicago, Illinois e que vai à França para participar de uma competição com outros chefs de cozinha. Ou seja, é no mínimo inusitado, um documentarista do quilate  de D.A. Pennebaker, a realizar uma obra com tal teor tão fora do seu espectro natural.
 
Nota do Editor em adendo póstumo: muitos anos depois da conclusão desta matéria, o grande D.A.Pennebaker nos deixou em 1º de agosto de 2019.
Matéria publicada inicialmente no Blog do Juma em 2011. Foi republicada no Site/Blog Orra Meu, no mesmo ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário