domingo, 22 de janeiro de 2012

Diálogo sobre a produção atual de Woody Allen - Por Luiz Domingues & Janete Palma


Janete Palma (JP) :  Conheci o Luiz Antonio (Luiz Antonio Domingues) na comunidade do Orkut sobre Walter Hugo Khoury. Entre outras mensagens que trocamos, uma dela foi falar sobre Woody Allen, depois que eu assisti o filme "Tudo Pode Dar Certo". E transformarmos as mensagens num artigo a quatro mãos.

JP: Você assistiu ao filme do Woody Allen (Tudo Pode Dar Certo) ? Fui assistir ontem, não gostei muito, é uma "mesmice", ou seja, as crises existenciais que ele costuma colocar nos seus filmes. E, mais uma vez eu penso que Khoury está mais para Woody Allen (ou o contrário), do que para Ingmar Bergman. Apesar do tom de comédia do filme, eu senti uma semelhança com os dramas de Khoury.
Luiz Domingues (LD) : Não fui assistir ao filme do Allen, não. Mas você confirmou algumas resenhas que eu havia lido nos jornais. Será que ele irá prosseguir a realizar filmes sobre crises existenciais ? Até quando ? Está bem demorada essa fase introspectiva e soturna, não acha ?

Apesar do tom de comédia, pelo que contou-me, não dá para esperar nenhuma novidade e isso é um caminho perigoso para o artista, mesmo com uma carreira longa como a dele. Acho que entendi o seu ponto-de-vista, sobre a semelhança com o trabalho do Khoury (Walter Hugo Khoury), mas mesmo ao não querer forçar nenhuma barra (mas já a forçar), lembra-se quando anos atrás,  muitos críticos falavam dos filmes mais calcados nas crises psicanalíticas do Woody e os comparavam ao Bergman ?

Claro que a intenção fora para depreciar tal suposta influência, mas eu recordo-me que eles batiam nessa tecla de que o Allen queria porque queria, fazer filmes "Bergmaneanos". Uma coisa é certa : Tanto o Khoury, quanto o Allen, tinham (tem, no caso do norteamericano), influência do cinema europeu, com certeza.

JP : Se eu tiver que te contar uma cena do filme de Woody Allen, em que dei risada, ou achei diferente, não serei capaz. Ao perceber a "mesmice", assisti ao filme com certo desinteresse.

Sei dos críticos falando das influências do Bergman em Woody e Khoury, mas não concordo muito em relação ao Khoury, pois as crises existenciais de Bergman, às vezes, tinham uma solução boa, enquanto os outros dois diretores são deprimentes. No filme "O Sétimo Selo", de Bergman, há a família de Saltimbancos, que mostra o lado bom da vida.

LD : Que coisa... se Woody Allen provoca sorrisos amarelos, é porque seu cinema saiu do prumo, mesmo. Não quero dizer com isso que deveria, a esta altura, partir para o pastelão do início da carreira (se bem que admito, adoro "Bananas" e outros dessa época), mas por outro lado, que precisa repensar. 

Ou não... pois velho e ranzinza como o é, deve pouco importar-se com para as críticas, e dessa forma, a preferir sair de sua casa para tocar seu clarinete em algum Pub por aí, ou a chorar no divã de seu psicanalista...

O cinema dele é que tornou-se previsível. Paciência, sigamos em frente !
Agora, resta-nos torcer para surgir um "novo Woody Allen", pois desse, não dá mais para esperar uma surpresa criativa. Talvez seja aí que os nossos problemas comecem, pois quem estaria a despontar por aí ? Ou contentemo-nos com os filmes modernos, calcados em efeitos especiais cada vez mais pirotécnicos, ou passamos a cultuar autores do espectro underground do underground, naquela predisposição em cultuar-se filmes obscuros, produzidos em países remotos, e que são exaltados em festivais "cult", para cinéfilos, "cool". E sob uma última hipótese, que usemos o telefone, para ligarmos com urgência ao nosso psicanalista, como certamente Woody Allen o faria.
É claro, estou a brincar, mas de certa forma, reflete um sinal dos tempos.

JP :  São mais de 100 anos de cinema, vários séculos de literatura e outros tantos de pintura e de música. Parece que está difícil criar novos enredos nas artes. De formas diferentes, tudo se repete, entendeu ?
Diretores como Allen e Almodóvar, descobriram uma fórmula e ficam repetindo-a. Hitchcock fez o mesmo com o suspense; alguns dos seus últimos filmes, não foram muito bons. Eu citei a música e você é músico. Não acho que a tua banda é original, mas pelo que li no site (*), há uma influência de vários gêneros musicais, não é ?

Isso, a meu ver, não representa uma falta de originalidade, mas, mesmo assim, está se repetindo alguma coisa. Eu sou até meio suspeita de questionar, pois não faço arte alguma.

LD : Sim, concordo com o seu raciocínio ! Os movimentos são cíclicos na arte e isso antecede o século vinte, pois é uma tendência muito antiga. De fato, é difícil criar algo absolutamente inédito, pois praticamente tudo já foi explorado. Sua analogia com a música é perfeita. Ao considerar-se que o modelo ocidental tradicional, oferece-nos apenas sete notas e com o complemento de cinco semitons, o raciocínio é que por análise combinatória, há um limite matemático para o desenvolvimento de melodias e harmonias. A não ser que parta-se para escolas desconstrutivas, tais como : Atonalismo; Cacofonismo; Dodecafonismo e outros experimentalismos similares, é muito difícil compor uma música que seja absolutamente inédita e criativa, sem contar a capacidade para soar bela, aos ouvidos das pessoas. Peço desculpas ! Preciso exercitar o poder da síntese !

E por fim, eu critiquei a mesmice do Woody, mas acho que compreendo-o por um aspecto. Seja qual for o ramo da arte, todo artista chega em um ponto da carreira, onde depara-se com um dilema : se continua fiel ao seu estilo, é massacrado pela crítica, a sofrer a acusação de que não tem poder para gerar mudanças, ou que é acomodado e dorme no seu berço de glórias e só mantém o Status Quo para ganhar dinheiro. Se tenta buscar um novo caminho, é criticado pelos seus fãs, que esperam que ele siga com aquela criação pela qual ficara conhecido e querido por eles. Torcem o nariz para mudanças, portanto.

Há um terceiro aspecto : o artista corre o risco de além de decepcionar o seu público velho, não angariar o novo, só porque repaginou-se, a buscar atualizar-se às novas tendências. Para encerrar, por essa lado é compreensível que um artista com a idade e a fama do Woody, limite-se a não querer mais preocupar-se com nada.
Artigo composto em formato de diálogo, com minha amiga, Janete Palma, para aproveitar uma conversação informal travada na extinta rede social "Orkut", sobre o atual (escrito em 2011), momento da carreira de Woody Allen. Foi publicado inicialmente na edição n° 274, da Revista Cinema Paradiso. 

6 comentários:

  1. Olá Luiz, quero primeiro parabenizar pelo lançamento do seu próprio blog, como também dizer que aprecio o rock e em especial o rock das décadas de 60/70 que para mim foram os mais originais.Já o acompanho no google plus e agora aqui como um de seus seguidores.Um grande abraço.

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    1. Obrigado, Valdi ! Agradeço muito suas palavras e o fato de me seguir aqui no meu Blog próprio e também no Google+.

      Abraço !

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  2. Primeiramente é um grande prazer saber que você finalmente resolveu ter seu próprio blog. Por mais que seja essencial que publique em outras páginas, ter algo com sua cara, sua personalidade distinta é muito mais original. Sempre que puder, passarei por aqui, Cabeludo... Sabe que podes contar com essa pequenina sempre! Um grande abraço e muita sorte pra ti! Beijos na alma! Luz e paz sempre...Namastê!

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    1. Muito grato pelas bonitas palavras, Leonora, minha incentivadora em todos os Blogs onde já escrevi. De fato, o Blog próprio é a oportunidade de reunir toda a produção. Nessa primeira fase, vou apenas relançar os textos velhos publicados em outros blogs, mas no futuro, terei produção inédita também, apesar de continuar escrevendo normalmente em outros Blogs.

      Beijo !

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  3. Oi, Luiz
    Assim como teus amigos acima, também quero parabenizá-lo pelo lançamento do teu blog, assim como, manifestar meu orgulho e agradecimento por ter um texto escrito a quatro-mãos: eu e você.
    Só gostaria de explicar que eu gosto de Woody Allen, e muito, mas isso não significa que tudo que ele fez foi bom para mim. Digo isso, pois tivemos também, repercussão negativa acerca do nosso diálogo. Teve pessoas que entendeu que eu detesto Allen, ou mesmo que eu não havia entendido o filme.
    Houve quem achasse que Allen foi inédito nesse filme, com o personagem falando diretamente com o espectador. Não é verdade, por em Hannah e Suas Irmãs, ele já havia usada essa técnica.
    Porém, teve leitores que concordaram conosco. Enfim, é difícil agradar a todos ao mesmo tempo.
    E tem mais… acho que o filme Meia Noite em Paris, foi um dos melhores a que assisti no ano passado (2011). Allen tem filmes excelente!
    Mais uma vez parabéns e desejo muito sucesso com o blog.
    Um grande abraço!

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  4. Oi, Janete !

    Você que também é uma grande incentivadora minha e não poderia faltar neste meu Blog próprio.

    Quanto ao Woody Allen, está claro no nosso artigo criado em conjunto, que ambos gostamos do velho mestre e só brincávamos com o fato dele ter ficado por um longo período meio repetitivo. Sem dúvida que os últimos trabalhos feitos após o nosso artigo, deram vida nova ao seu cinema que tanto apreciamos.

    Obrigado pelo comentário e um abraço !

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