Em qualquer turbulência econômica que esboce uma crise à vista, o governo corre para socorrer os bancos e a indústria automobilística, à frente de qualquer outro setor da sociedade.
Isso não depende exatamente de tendência ideológica, embora no caso dos bancos em si, é óbvio que se o governo é orientado por ideais direitistas a balança penda para os detentores do dinheiro.
É em tese uma prioridade para qualquer governo, no entanto, que no caso da indústria, sejam consideradas vital para se evitar um mal maior na economia geral.
Se você for dono de um pequeno comércio de bairro, é melhor que disponha de suas reservas pessoais, pois não receberá ajuda para se se levantar e salvar o seu empreendimento, em caso de uma crise aguda.
Da parte dos bancos, é bem óbvio o comprometimento que políticos conservadores tem, basta pensar nas suas vultuosas campanhas eleitorais etc.
Mas e no casa da indústria automobilística? A desculpa na ponta da língua, usada por qualquer governante, é a questão social, que supostamente desequilibrar-se-ia. Se param de fabricar automóveis, quantos empregos diretos e indiretos poderão ser comprometidos?
Quantas centenas de milhares de famílias entrariam em apuros se não se fabricassem mais automóveis? Isso sem contar o setor de autopeças, a colossal indústria petrolífera, os gigantes dos pneumáticos etc.
Será que uma redução dessa loucura em torno da produção em massa, realmente causaria esse desequilíbrio social, sempre usado como desculpa?
Pois a contrapartida dessa produção absurda, cobra-nos uma conta gigantesca. Segundo dados que li na mídia recentemente (fonte: O Estado de São Paulo), a expectativa da indústria é vender 3,7 milhões de carros até o final de 2011.
Ora, é sabido que o trânsito está completamente caótico nas grandes e médias cidades. Os índices da poluição, cada vez piores, o aumento da violência em torno dos roubos aos automóveis, são alarmantes, acidentes perpetrados pelos bêbados irresponsáveis, cada vez mais acentuados etc.
O preço cobrado para a aquisição de um carros, deveria ser muito menor, proporcional ao incentivo consumista, mas pelo contrário, são extorsivos, a começar pela absurda carga tributária, o que caracteriza não uma contradição estratégica, mas, mera exploração predatória, mesmo.
Para manter um carro, é preciso preparar o bolso para pagar em dia as altas taxas dele decorrentes. Para se manter a documentação do veículo em dia, é preciso ter uma carteira recheada.
Fora o verdadeiro gargalo das restrições: para se estacionar nas ruas, é preciso pagar uma fortuna, pois as prefeituras transformaram as ruas em seu estacionamento particular, com o advento da dita, "zona azul" e mediante outros dispositivos arrecadatórios.
Por exemplo, em cada esquina, um agente de trânsito trabalha o dia inteiro com um grosso talão de multas, que preenche com uma volúpia sem igual. E como a ação policial deixa a desejar na questão dos assaltos, não dá para ficar sem o caríssimo seguro particular, não é mesmo?
O país pretende se consolidar como uma potência petrolífera, mas nem se cogita um repasse à população, pois o preço dos combustíveis, aqui praticado, é dos mais caros do planeta, como se não houvesse uma só gota de petróleo, saída de nosso território.
E mais um dado visível e triste nessa equação viciada: investimentos em transporte público, são feitos sob passos de tartaruga, certamente em comunhão com a indústria automobilística que deseja apenas vender os seus produtos e com transporte público deficiente, estimula-se a ideia das pessoas comprar seus carros particulares, correto?
O cidadão comum entra em um ônibus, ou vagão de metrô ultra-lotado, chega fatigado ao seu local de trabalho e assim, é levado a raciocinar que é melhor ficar presa no trânsito infernal, mas sentada no seu carrinho particular, munido com ar condicionado e a ouvir música, a ficar espremido como uma sardinha em um veículo público, e ironicamente, parada no mesmo trânsito engarrafado...
Resumo da ópera: está do jeito que eles querem! Compre um carro, compre um carro e compre um carro...
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica em 2011, e republicada no Site/Blog Orra Meu, em 2012
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