quinta-feira, 12 de julho de 2012

TV Tupi, da Loucura à Realidade - Por Luiz Domingues



Não existe um consenso sobre quem inventou a televisão. Desde 1920, experimentos em várias partes do mundo, sinalizaram simultaneamente avanços, portanto, tal qual o caso do avião, em que muitos arvoram-se como criadores e nenhum a aceitar os experimentos de outrem, o mesmo fenômeno deu-se com o advento da televisão. Sabe-se que uma experiência de laboratório em 1925, teria sido a primeira transmissão oficiosa. Entre 1927 e 1928, diversas conquistas ocorreram na Inglaterra; Japão e Estados Unidos.
Em 1930, já fazia-se transmissões de eventos ao vivo, com a BBC de Londres, em ação. Em 1936, a TV alemã transmitiu o primeiro jogo de futebol ao vivo : Alemanha x Itália (o placar final foi 2 a 2, para alívio mútuo dos amigos, Adolfo e Benito...). Esse sonho de implementação da TV no Brasil, já dominava as atenções do magnata das comunicações, Assis Chateaubriand durante as décadas de trinta e quarenta.
Ao perseguir tal determinação, finalmente persuadiu as autoridades; técnicos e fornecedores, a acreditar em uma ideia que parecia uma verdadeira loucura para os padrões modestos do Brasil durante os anos quarenta, e criou assim a primeira estação de TV da América do Sul e quinta no mundo, a TV Tupi de São Paulo. Os equipamentos foram 100% importados, pois não havia tecnologia desse porte no país. Em 25 de março de 1950, chegou a remessa por navio, vinda dos Estados Unidos, e após o trâmite de um comboio vagaroso do porto de Santos até São Paulo, eis que a aparelhagem tecnológica foi lentamente montada, inicialmente nos estúdios dos Diários Associados, o Império jornalístico de Assis Chateaubriand, situados à época, na rua Sete de abril, no centro velho da cidade de São Paulo.
Dali até agosto, diversos testes técnicos foram feitos. Uma transmissão extra-oficial ocorreu entre os dias 20 e 26 de julho do mesmo ano, apenas exibida em circuito interno, no auditório da Faculdade de Medicina da USP, ao mostrar um documentário educativo.
O transmissor foi alojado no teto do edifício do Banco do Estado de São Paulo, na Av. São João, centro velho da capital paulista. A inauguração ocorreu oficialmente na noite do dia 18 de setembro de 1950, cercada por improvisos. Do seu próprio bolso, Assis Chateaubriand comprou duzentos aparelhos de TV e espalhou-os por vários pontos da cidade de São Paulo, para visar dar notoriedade ao evento, e estimular o povo a abraçar a novidade.


Um cantor mexicano, Frei José Mojica e a apresentadora / cantora / atriz, Lolita Rodrigues cantaram o "Hino da TV", com letra escrita por Guilherme de Almeida. Uma menina trajada como índia; o balé de Lia Marques; além da presença de diversos jornalistas; atores de teatro; músicos, e radialistas, todos a formar então a matéria prima humana inicial desse advento, estiveram presentes também. Coube à jovem atriz, Yara Lins, pronunciar o prefixo da estação inaugurada : "PRF-3".

Muitas lendas urbanas popularizaram-se ao longo dos anos sobre essa inauguração. Uma muito engraçada, dava conta de que Assis Chateaubriand, empolgado com o evento, quebrou uma garrafa de champagne em uma das três câmeras disponíveis, ao danificá-la, logo na inauguração.
Cassiano Gabus Mendes, o primeiro diretor artístico da TV Tupi, negou essa versão até falecer, em 1993, Segundo ele, teria sido uma piada inventada pelo ator, Lima Duarte e que ganhou ares de verdade pelo caráter inusitado da sua suposta situação tragicômica.
Uma verdadeira loucura, contudo, foi ter introduzido a TV no Brasil, ainda a viver a lentidão de seu prosaico desenvolvimento industrial, e praticamente centrado na produção rural, como carro-chefe da sua economia.  Chateaubriand foi uma figura polêmica, com inúmeros pontos obscuros em sua biografia e muitas vezes, a utilizar métodos não recomendáveis para obter os seus objetivos. A despeito disso, foi o empreendedor que colocou a TV no Brasil, e dessa forma, ajudou a alavancar o desenvolvimento nacional, sem dúvida. E para tal, teve a parcela de insanidade que todo empreendedor precisa ter para arriscar em relação ao novo.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, e republicada posteriormente no Blog Pedro da Veiga, ambas em 2012.

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