Nesses termos, o filme em questão segue mais ou menos, a biografia do artista, ao não exagerar com alterações em nome da inteligibilidade cinematográfica, com as devidas 9ou melhor, indevidas), licenças poéticas, embora algumas cenas tenham gerado controvérsia entre os fãs desse grande artista.
Sobre o cinebiografado em questão, Charles Hardin Holley nasceu em 1936, na cidade de Lubbock, Texas. Logo foi apelidado como: "Buddy", e o "Holly", que adotou posteriormente como nome artístico, fazia trocadilho com seu sobrenome verdadeiro. A sua família era formada por músicos e dessa forma, desde pequeno recebeu aulas de violino, piano e violão.
Quando adolescente, Buddy (no filme, interpretado por Gary Busey), formou uma banda denominada: "The Crickets", com dos amigos, o baterista, Jesse Charles (interpretado por Don Straud) e o baixista Ray Bob Simmons (interpretado por Charles Martin Smith).
A sua primeira grande chance para ascender na carreira, ocorreu em uma noite em que conseguiu abrir um show de Bill Haley and His Comets, onde despertou a atenção de um produtor. No entanto, em Nashville, Buddy teve problemas com a perspectiva da rigidez espartana com a qual os artistas eram tratados em estúdio nessa época, pois a interferência era total no conteúdo artístico e eu até aproveito, na condição de músico, para esclarecer ao leitor que nada é mais frustrante para um artista do que um produtor a impingir modificações, até radicais ma sua obra, na hora em que grava-se um disco.
Então, ele conhece um diretor mais flexível (nem tanto assim, mas pelo menos mais razoável que o anterior), na persona de Ross Turner (interpretado por Conrad Janis), e que ajudou bastante para abrir-lhe as portas para a indústria fonográfica e consequente estouro na mídia mainstream, ao torná-lo um astro sob alcance nacional no âmbito dos Estados Unidos da América, e a seguir, rapidamente, em escala mundial.
O fato de ter tido uma formação musical mais rica sob o ponto de vista teórico e tocar vários instrumentos, deu-lhe um destaque em relação aos outros astros cinquentistas, pois a sua música mostrava-se mais rica, harmonicamente, em relação aos seus pares.
Dotado de um grande e criativo senso rítmico, Buddy tocava guitarra a utilizar uma base harmônica diferenciada e isso logicamente chamava a atenção, sem contar no quesito das letras que escrevia, campo onde muitas vezes surpreendeu a crítica e público ao fugir do trivial dos artistas contemporâneos seus.
Nos bastidores, Buddy fica encantado com a secretária pessoal do produtor, Ross Turner. Essa moça chama-se Maria Elena Santiago (interpretada por Maria Richwine). Apesar de uma relutância inicial por conta da resistência familiar, o casal é formado enfim, com o laço matrimonial.
Fato real, Buddy e a sua ótima banda, The Cricketts, é escalada para tocar ao vivo em um festival com vários artistas, no famoso Teatro Apollo, localizado no bairro do Harlem, em Nova York. é um grande momento do filme, e foi um fato marcante na vida de Buddy.
Ocorre que ali era essencialmente um reduto para artistas negros, a expressar várias vertentes musicais oriundas do Blues, a registrar-se o R'n'B, Soul Music, o Jazz e mesmo o Rock'n' Roll ainda tão recente: pois no contexto da América do Norte dessa época, ainda com graves problemas raciais, causou espécie inicialmente nos bastidores, que os quatro músicos fossem garotos brancos texanos.
O contratante sentiu-se lesado por ter contratado os artistas a achar que seria um grupo formado por rapazes negros. Em meio a tal situação irremediável, os rapazes entram em cena, com todos a temer por uma reação hostil da parte da plateia. Mas Buddy e os Cricketts arrebatam a plateia com seus Rocks, e certamente que foi uma das primeiras (senão a primeira), ocasião em que um artista branco foi bem aceito por uma plateia negra, a tocar Rock'n' Roll, visto que a perspectiva inversa já havia sido vencida, com o público branco a admirar os artistas negros.
No filme, no entanto, essa questão ficou dúbia a gerar reclamações da parte dos admiradores de Buddy, pois não retratou a verdade inteiramente. Em termos sócio/filosóficos e de uma forma subliminar, o Rock'n' Roll agiu como um grande conciliador na cisma racial, desde o começo de seu aparecimento, essa uma verdade histórica.
Um momento ruim e inesperado, advém, justamente quando Buddy ascendia vertiginosamente na carreira, pois os seus companheiros anunciaram estar insatisfeitos com toda a ênfase da mídia concentrar-se na figura de Buddy e eles assim sentiram-se diminuídos. Irredutíveis, Jesse e Ray Bob decidiram voltar para o Texas e negociam com Buddy para que ele deixe que eles continuem a usar o nome, "The Cricketts", o que curiosamente foi uma decisão de vida que garantiu-lhes o direito à continuidade artística, de acordo coma tragédia que sobreveio a seguir. Eis que Buddy seguiu com outros músicos a dar-lhe apoio em muitos shows marcados em meio a extensas turnês, que seguiram.
No entanto, eis que infelizmente ocorreu aquela fatídica noite, logo após um show realizado em Clear Lake, Iowa, quando sob intensa nevasca, a produção despachou os músicos de apoio e técnicos para viajar mediante o uso de um ônibus e na intenção de poupar os astros da turnê em conjunto (a registrar-se: Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Bopper), estes seguiram com avião para a localidade onde haveria o próximo show da turnê, Moorhead, Minnesota, mas o pior aconteceu, com o acidente aéreo a ocorrer e ceifar muito precocemente a vida de três artistas, e neste caso do filme em questão, com a ênfase para Buddy Holly, naturalmente.
O final do filme talvez tenha sido uma licença poética, pois eu não tenho a confirmação da sua veracidade. Ocorreu que os membros dos Crickets procuram Maria, a esposa de Buddy que estava grávida, inclusive, e combinam com ela que fariam uma surpresa para Buddy, ao aparecer sem avisar no show a ser realizado na cidade de Moorhead, mas infelizmente esse show a ser realizado. Como cena melodramática, creio que tenha a sua validade, isso eu entendo, mas fica dúbio se realmente os membros dos Crickets em pessoa, estiveram envolvidos nesse episódio.
Buddy poderia ter tido uma longa carreira, com muito mais a acrescentar, se o avião que o transportava (no mesmo voo, estavam igualmente os astros cinquentistas : Ritchie Valens e Big Bopper, pois os três excursionavam juntos), não tivesse a infelicidade de nunca ter pousado em segurança em seu destino final, naquela madrugada de 3 de fevereiro de 1959. Tal acontecimento ficou tão marcante que passou a ser conhecido como "o dia em que o Rock morreu".
Apesar de seu desaparecimento precoce, Buddy influenciou inúmeros artistas ao redor do mundo e suas canções eternizaram-se. No ano de 1978, finalmente o cinema tomou uma iniciativa e produziu uma cinebiografia desse grande artista, denominada simplesmente: "The Buddy Holly Story". Tal grande astro cinquentista, imprimiu a sua marca indelével na história do Rock, ao influenciar explicitamente bandas sessentistas que surgiram bem depois de sua partida precoce, casos de "The Beatles" e "The Rolling Stones", por exemplo (Paul McCartney e Mick Jagger são fãs ardorosos de Buddy Holly).
Aliás, o nome, "The Beatles", que é um trocadilho com "Beetle"(besouro), é uma homenagem à banda de Holly, "The Crickets" ("Os Grilos"), e quanto aos Rolling Stones, um de seus primeiros sucessos dessa mega banda, foi: "Not Fade Away", música de autoria de Buddy Holly, que aliás, a banda costuma tocar até hoje (2012), em seus shows.
O filme, no entanto, gerou polêmica. Algumas licenças poéticas irritaram os fãs de Buddy Holly. Como por exemplo na sequência onde por um mal-entendido, ele fora apresentar-se no histórico Teatro Apollo, um verdadeiro templo da música negra norte-americana. No filme, Buddy aparece sendo hostilizado pela plateia predominantemente negra, mas na vida real, foi o contrário, pois apesar da estranheza em ver um artista branco a apresentar-se, a plateia o ovacionou, depois que deu-lhe a chance para mostrar o seu valor, com uma performance de extrema qualidade e energia.
Exatamente por tais lapsos da produção do filme, Paul McCartney indignou-se e bancou em contrapartida, a produção de um documentário denominado: "The Real Buddy Holly Story", lançado em 1985, com depoimentos dos membros dos Crickets e muitas pessoas que conheceram e conviveram com Buddy em seu cotidiano.
Por outro lado, o filme agradou pessoas não exigentes com a veracidade dos fatos, ao revelar a música maravilhosa desse grande astro do Rock dos anos cinquenta. Muitas canções marcantes da carreira de Buddy Holly, foram executadas no filme, aliás, as performances ao vivo são mesmo executadas pelos atores e os mais preciosistas não apreciaram essa opção do diretor.
De fato, não é um primor musical, mas como efeito dramático, passa tranquilamente. Claro que os Crickets verdadeiros, tocavam muito melhor, e a despeito desse fato inexorável, particularmente eu acho isso irrelevante para o desenvolvimento do filme. Músicas como "Peggy Sue", "Whole Lotta Shakin Goin' on", "Not Fade Away", "Well All Right", "Rave on", "Oh Boy", "Listen to me", "That'll be the Day", "It's so Easy" "Everyday", entre outras, estão no filme, para o deleite dos fãs de Buddy (incluo-me neste rol, com certeza).
Outros atores que participaram do filme: William Jordan (como Riley), Amy Johnson (como Cindy Lou), Dick O'Neill (como Sol Glitter), Fred Travalena (como Mancuso), Neva Paterson (como a senhora Holly, mãe de Buddy), Arch Johnson (como o senhor Holly, pai de Buddy), John Goff (como TJ), Gloria Irizarry (como a senhora Santiago, a sogra de Buddy), Jody Berry (como Sam), Richard Kennedy (como um pregador protestante), Jim Beach 9como Eddie Foster), Paul Mooney (como Sam Cooke), Freeman King (como o apresentador do Teatro Appolo), Barba Stumie (como Luther), Craig White (como King Curtis) e Jerry Zaremba (como Eddie Cohcran) este, também músico, contribuiu bastante na gravação da trilha sonora, entre outros.
A reação do público nas salas de cinema, foi muito boa, a ofertar uma bilheteria significativa. O filme alcançou o circuito de TV, ainda ao final dos anos setenta e teve inúmeras reprises. Lembro-me de tê-lo assistido pela primeira vez em exibição televisiva sob horário nobre, visto que o filme não teve restrições com horário, por não conter cenas impróprias para menores.
A crítica à época, realçou o fato de que o filme alcançou um resultado positivo em face do seu baixo orçamento e que certamente teve como grande mérito a atuação do ator, Gary Busey. Digno de nota, esse ator, além de realmente ter entregado-se ao papel de uma forma impressionante, fez um esforço pessoal muito grande para poder atuar, ao emagrecer muito, pois Buddy era muito magro, quase esquelético na verdade, e Gary, pelo contrário, a mostrar-se robusto.
Sobre a trilha sonora, a sua notória excelência rendeu-lhe o Oscar da categoria. Gary Busey foi nomeado, mas não levou a estatueta como melhor ator, no entanto, a nomeação foi o reconhecimento da sua ótima atuação, não tenho dúvida. Houve também a nomeação para melhor ator, no entanto, a nomeação foi o reconhecimento da sua ótima atuação, não tenho dúvida. Houve também a nomeação para melhor som, igualmente não vencido. Sobre o álbum com a trilha sonora, além desse repertório maravilhoso de Buddy Holly, ouve-se também o som de Sam Cooke, The Platters, Big Bopper etc.
Baseado no livro biográfico, "Buddy Holly: His Life and Music", escrito por John Goldrosen. Roteiro por Alan Swyer e Robert Glitter. Direção de Steve Rash. Foi lançado em maio de 1978.
Tal obra recebeu a sua versão em VHS, bem rapidamente. No formato em DVD, o seu lançamento foi em 1999. Algum tempo depois, saiu no mercado um kit a conter este filme e também o filme "La Bamba", ou seja, uma estratégia de marketing para vender os dois filmes em um mesmo pacote, justificado pelo fato desses dois artistas (Buddy Holly e Ritchie Valens), terem perecido no mesmo acidente aéreo, portanto, tais filmes tem em seu final, um desfecho em comum. Pelo aspecto ético, não creio ter sido uma boa ideia, no entanto, a revelar um oportunismo indevido pela sua morbidez implícita.
Na internet, o filme é facilmente encontrado no YouTube, nos dias atuais de 2012.
Resenha publicada inicialmente na Rádio / Blog do Juma, em 2012. Esta resenha foi revista e ampliada para fazer parte do livro: "Luz; Câmera & Rock'n' Roll. Encontra-se disponível para leitura em seu volume I, a partir da página 331.
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