quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Stan Lee, Super Herói da Imaginação - Por Luiz Domingues

Não é fácil chegar aos noventa anos de idade, ainda mais com a jovialidade e lucidez de um garoto de vinte anos. E talvez seja essa a fórmula que o norteamericano, Stan Lee utilizou durante a sua vida inteira, para alcançar essa idade, com invejável forma física e mente a mil por hora, isto é, ao manter-se mentalmente, jovem.
Nascido como, Stanley Martin Lieber, no dia 22 de dezembro de 1922, em Nova York, era filho de judeus romenos a buscar um lugar ao sol na terra das oportunidades, e teve uma infância dura. Viveu com a sua família em cubículos, e assim teve que dividir o espaço exíguo com a sua família, inevitavelmente. Desde pequeno, ele demonstrou uma imaginação fértil e gostava muito de escrever. Ao esboçar criar os seus primeiros contos infantis, pôs-se a desenvolver a sua escrita e à medida que cresceu, alimentou o sonho em tornar-se um escritor.
Todavia, a dura vida familiar, obrigou-o a ajudar o seu pai, um pequeno alfaiate e dessa forma, Stanley emendou uma série de pequenos empregos, até encaixar-se em uma redação de jornal. Porém, ainda estava longe para poder engatar uma carreira no jornalismo e dessa forma, deram-lhe o trabalho para compilar o obituário do periódico, apenas. A sua sorte começou a mudar quando enfim conheceu o editor de uma pequena editora de revistas de histórias em quadrinhos, denominada : "Timely Comics".

O seu objetivo permanecia em escrever um romance épico que tornasse-o imortal na literatura norteamericana, algo ambicioso, mas plausível em sua compreensão. Aos dezessete anos de idade, assinou pela primeira vez com o apelido, "Stan Lee", ao tentar deliberadamente disfarçar-se, pois de antemão, ele não desejava que o seu nome verdadeiro fosse vinculado à uma revista ao estilo "Comics", pois ele considerava que tal associação macularia a sua trajetória para tornar-se um grande escritor, no futuro. Pois que ironia... a sua fama viria exatamente através dos quadrinhos. Nessa primeira participação, Stan Lee assinou uma história do Capitão América, como apoiador tão somente, do roteirista titular.

E daí em diante, a pequena editora passou a crescer vertiginosamente, até tornar-se a maior rival da então maior editora do mercado, a "DC Comics", que tinha disponível em seu elenco, personagens extremamente populares como o "Superman"; "Batman"; "Aquaman" e a Mulher Maravilha, entre outros.

A pequena "Timely Comics" agigantou-se e tornou-se posteriormente, a "Marvel Comics". Um dos grandes trunfos que fez a Marvel crescer, foi pela influência direta de Stan Lee.
Ao contrário dos super-heróis da "DC Comics", os heróis da Marvel passaram a adotar um comportamento psico-sociólogico que muito os aproximou da realidade da vida. Sendo assim, o padrão do super herói invencível, que tinha em seu âmago a questão do "New Deal", fortemente alicerçada como padrão subliminar nos anos trinta (durante a Era da grande depressão), tratou portanto em adquirir um importante contraponto por parte da Marvel. O contra-ataque teve como estratégia, a humanização dos super-heróis. Eles tinham sim, os seus super poderes e certamente o propósito heroico para usá-los em prol da sociedade, contra forças ameaçadoras de interesses escusos (aliás, há exceções, pois nem todos tiveram isso como ideal de vida), contudo, cada super-herói mantinha o seu lado humano também, com fraquezas; dúvidas; problemas; angústias e até dissabores prosaicos, tal como a falta de dinheiro e as desilusões amorosas em suas vidas pessoais.

Essa perspectiva encantou o público consumidor de HQ, ao angariar uma identificação imediata com o cidadão comum e as suas agruras decorrentes do cotidiano. Ao lidar principalmente com adolescentes, de pronto essa identificação com o seu próprio universo, foi arrebatadora.
A ideia de um super herói capaz de proezas incríveis para salvar pessoas de perigos inimagináveis, mas que tinha a angústia de não ter coragem em declarar-se para a garota que gostava, por sentir-se inferior, foi uma grande sacada. E não é a grande angústia do rapaz tímido, Peter Parker, o Homem-Aranha ? E claro, a cada novo personagem concebido, mais nuances da personalidade humana foram bem explorados, para torná-los ricos em arquétipos dignos para ser estudados em termos psicanalíticos. São inúmeros os exemplos, ao raciocinarmos dessa forma.
Pensemos por exemplo em um grupo de quatro cientistas que durante uma viagem espacial são submetidos a uma espécie de radiação e todos eles desenvolvem, daí, super poderes. Muito bem, agora eles tem essa faculdade excepcional em seu favor, mas continuam sendo as mesmas pessoas, em tese, com os problemas e características pessoais que ostentavam antes do acidente.

O cientista mais velho era apaixonado pela moça e o seu cunhado é um adolescente irrequieto e altivo. O outro cientista do grupo, transforma-se em um homem com um corpo indestrutível, formado por uma impressionante formação rochosa e ao mesmo tempo em que adquire essa super força, passa a ser discriminado, porque tornou-se horrendo e assim, adquire uma fobia social, ao culminar em apenas sair disfarçado pelas ruas. Um quinto elemento desse grupo torna-se um inimigo mortal do grupo e alimenta a fantasia de ser um monarca de um reino medieval remoto, encravado em algum lugar da Europa...

Pois não é fantástica a história do Quarteto Fantástico ?

E não há como julgar-se a postura de um Ser intergalático, por ter sido acuado e dessa forma, ter ficado sem alternativas. Se não auxiliar o terrível vilão, "Galactus", simplesmente este Ser bestial devora o seu planeta, para extinguir a vida de todos, incluso os seus familiares... pois então, o que poderia fazer o Surfista Prateado, a não ser subjugar-se à condição de acólito dessa entidade terrível ?

No caso do Surfista Prateado, fica a metáfora do militarismo desenfreado dos beligerantes, sempre a dispor dos filhos de todas as famílias em prol de seus planos. E o Deus nórdico, que vítima de intrigas palacianas em Asgard, o seu reino celestial, é punido severamente pelo seu pai, o Deus Odin, supremo monarca do panteão, a viver como um humano no insípido planeta Terra ?
Toda a sua altivez como divindade, de nada vale por aqui e a dura adaptação à essa realidade, move Thor, o Deus do Trovão. E o que dizer do milionário industrial e cientista que constrói uma poderosa armadura de ferro, mas que é na verdade um homem sob delicada condição cardíaca ? Essa dualidade entre o super poder dentro da armadura e a fragilidade de um homem à mercê de um coração debilitado, é mais um exemplo dessa exposição das contrariedades humanas.

A boca pequena, fala-se que o cientista milionário, Tony Stark, identidade secreta do Homem de Ferro, foi inspirado diretamente em Howard Hughes. Faz sentido.


No caso de Namor, o Príncipe Submarino, a angústia do personagem é estar dividido por ser híbrido, meio humano (por parte de pai), e "atlante" (pela mãe). Uma clara alusão aos casamentos inter-raciais proibidos em muitos lugares.


Inspirado claramente na história de Dr Jekyll / Mr. Hyde , outro exemplo de ambiguidade dá-se com o personagem do "Incrível" Hulk. O frágil e tímido cientista, Bruce Banner, que transforma-se em uma criatura irascível quando dispara a raiva dentro de si, por conta dos raios gama que acidentalmente atingiram-no em uma experiência laboratorial, praticamente demonstra a vontade interna de cada menino frágil e vítima de "bullying" na escola, em reverter o quadro de seu infortúnio pessoal. Nesse caso, como não identificar-se e ter vontade de "ser" o Hulk, muitas vezes na vida, e assim impor o respeito ? 

No caso do universo do incrível grupamento conhecido como : "X-Men", seria possível escrever sobre cada personagem, com as suas respectivas características, tamanha a sua riqueza enquanto personagens, a revelar-se um micro cosmo da humanidade. No resumo, fica a mensagem da segregação;, do preconceito e da intolerância pelo qual tais personagens são perseguidos pelos intolerantes.


Como não pensar nisso, diante dessa história, construída em torno de uma escola de crianças e adolescentes com super poderes e incompreendidos pela sociedade e até por seus familiares, que são tratados como verdadeiros "párias" ? Está clara aí a alusão à exclusão das minorias, e reforça-se esse conceito na medida em que os personagens de X-Men surgiram quando a questão dos direitos civis na América, atingira o seu clímax, com reações raivosas da parte dos racistas de plantão.


E assim, Stan Lee não parou quieto dentro da Marvel, ao exercer diversas funções, tal como Maurício de Souza exerce-as dentro de sua companhia. Computa-se em cerca de trezentos e vinte personagens criados por ele, entre super-heróis, super vilões e personagens secundários de apoio.

Há quem não o reverencie também. Jack Kirby, um de seus mais célebres colegas na Marvel (e sem dúvida um grande criador, tão grande quanto, Stan Lee, na história dos Comic Books), chegou a criar um super herói para satirizá-lo. Ele dizia que o personagem era um "safado exibicionista e sempre disposto a enrolar as pessoas". Com a advento da TV, Stan Lee também usou bastante o veículo e ao seguir os passos de Alfred Hitchcock, diverte-se em participar de todos os filmes dos heróis Marvel, ao participar em encenar "pontas" inusitadas, sempre a possibilitar tornar-se objeto de conversas entre os fãs.

Já fez locuções; participações em filmes não necessariamente de seus heróis, mas a reverenciá-lo como um grande nome da HQ; apresentou um reality show absurdo na TV (e engraçado), onde a proposta foi inventar-se novos e insólitos super-heróis etc. Sempre bem humorado e a revelar ostentar uma vitalidade incrível, é adorado não apenas por fãs das Histórias em Quadrinhos, mas também por músicos; artistas ligados ao cinema e diversas personalidades,as mais variadas, no mundo inteiro.

Stan Lee não está mais na Marvel, diretamente, e faz tempo, enveredou pela internet, ao criar o seu próprio portal, com a empresa : Stan Lee Media. Claro que eu também sou fã do universo Marvel, desde criança e do velho, Stan Lee, uma tremenda influência em minha formação cultural.


Li, recentemente, a opinião de um jornalista a dizer que Stan Lee está para os quadrinhos, na mesma proporção em que os Rolling Stones estão para o Rock atual. Ou seja, ninguém espera que tais artistas criem nada revolucionário nos dias atuais, ambos, mas por onde passam, os holofotes acendem e todo muito gosta de ver e reverenciar. É por aí...


E que eu consiga ter a sorte de chegar aos noventa anos de idade, com essa vitalidade. Como sou um entusiasta da Marvel, desde criança, acho que tenho chance, pois não corto essa relação com a energia da infância e acredito que isso é um meio eficaz para não envelhecer. Concorda, amigo leitor ?

8 comentários:

  1. Ótimo amigo, não conhecia muito a historia de Stan Lee...muito esclarecedor o seu texto parabéns, também sou fã da Marvel de carteirinha, concordo com a sua ultima frase, é esse sonho de infância que não nos deixa envelhecer, pura verdade...abraços!:)

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    1. Excelente que tenha gostado, amigo Kim !

      De fato, se não cortamos a ligação com a infância, demoramos mais para envelhecer.

      E viva o universo Marvel !!

      Abraço !!

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  2. Aprendi mais um pouco sobre quem criou os super heróis. Mesmo minha infância ficando bem para trás, até hoje curto muito esses desenhos. Não posso concordar que seja apenas para crianças e jovens. Ou será que tbm estou demorando para envelhecer por gostar tanto??? rs.
    Muito obrigada Luiz, por compartilhar esse texto.
    Você sabe fazer um resumo dos assuntos que escreve e consegue esclarece-los muito bem!
    PARABÉNS PELA MATÉRIA!

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    1. Que bacana a sua participação, Bete !

      Fico muito contente por saber que a matéria lhe acrescentou esclarecimentos sobre o assunto.

      Muito grato por ler, comentar e elogiar !!

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  3. Saudações Luiz!
    Boa tarde!
    Meu amigo, adorei seu post. Como de costume, a finesse da escrita e a ambientação do tema é acompanhada de imagens que a ilustram muito bem. Não sabia que você é fã de quadrinhos. A capa da revista "Mundo dos Super Heróis" desse mês (# 39) é um apanhando de 50 curiosidades sobre nosso amigo favorito da vizinhança, talvez você ache interessante.

    Eu particularmente sou fã inveterado da nona arte, meu favorito é o Justiceiro, que começei a acompanhar na época da Super Aventuras Marvel em final dos anos 80 (quando eu havia acabado de aprender a ler). Nesse tempo, já me decepcionei várias vezes com os deslizes da Marvel (e da DC), notadamente na questão da continuidade, mas isso é assunto longo entre fã de quadrinhos, não concorda? Além desses estadunidenses, eu gosto muito dos italianos da Bonelli (linha do velho Oeste), dos brasileiros (especialmente os de teror) e alguns mangas (japoneses).

    Finalizando, concordo com contigo. Manter o espírito jovem é o caminho.
    Um grande abraço e desculpe o, longo, comentário empolgado, rs!
    *

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    1. Sensacional o seu comentário, Will !!

      Sim, curto quadrinhos desde criança, mas não sou grande expert. Meu limite é o universo Marvel e um pouco do DC.

      Acredito que sim, manter viva essa conexão com a infância, ajuda-nos a retardar o envelhecimento.

      Grande abraço !!

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  4. Oi, Luiz

    Belo artigo sobre Stan Lee.
    Eu o tenho visto no seriado The Bing Bang Theory. Você conhece? Os protagonistas (4 nerds) são fãs de Stan Lee.
    Não pude ler muitas revistas na minha infância e adolescência, pois não tinha condições de comprá-las, mas lembro que passavam desenhos animados de alguns heróis. E eu me divertia. Hulk era um dos meu preferidos.
    Parabéns pelo artigo!
    Abraços

    Janete

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    1. Oi, Janete !

      Claro que conheço "The Big Bang Theory". No seriado, existem inúmeras referências ao universo dos quadrinhos e seriados/filmes de Sci-Fi.

      O Hulk é um dos meu personagens prediletos, também. A ideia da ambiguidade entre fraqueza & força e raiva & serenidade, é muito interessante na construção do personagem Bruce Banner/Hulk.

      Obrigado por ler, comentar e elogiar !!

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