Como eu sei que as aparências enganam, não deixei-me levar
por deduções precipitadas, assim que recebi o EP (para quem não sabe, trata-se um
disco com uma porção mais reduzida de canções do que um CD tradicional),
“Carcere”, do Gandharva, uma banda paulista vinda de Atibaia, no interior, cidade essa, localizada bem perto da capital de São Paulo. Isso por que o título da obra, e a ilustração da capa em
si, sugeriu-me inicialmente algo explicitamente claustrofóbico, com um ar angustiante ante a
liberdade limitada.
Sob uma imagem difusa, uma pessoa com feições indefinidas,
é mostrada em uma janela, a aparentar estar sob um momento de agonia, sem escapatória e
cercada por mãos ameaçadoras que denotam opressão, violência, ameaça...
Em outras épocas, sem a prudência que o avançar da idade forneceu-me como bônus de experiência de vida acumulada, eu já chegaria à conclusão que o trabalho da banda rezava pela cartilha do Punk-Rock ou do Heavy-Metal, mas antes de estabelecer conjecturas antecipadas, coloquei o disco para tocar e aí, a sonoridade surpreendeu-me agradavelmente.
Em outras épocas, sem a prudência que o avançar da idade forneceu-me como bônus de experiência de vida acumulada, eu já chegaria à conclusão que o trabalho da banda rezava pela cartilha do Punk-Rock ou do Heavy-Metal, mas antes de estabelecer conjecturas antecipadas, coloquei o disco para tocar e aí, a sonoridade surpreendeu-me agradavelmente.
Da esquerda para a direita : Anderson Xavier (bateria); Nikolas Rupa (Voz e Violão); Wellington Pires (Percussão e Voz), e Marc Matherson (baixo)
O Gandharva já inova pela sua formação primordial, pois
consiste de violão; baixo, bateria, e percussão, portanto a ausência de uma
guitarra já mostra-se como algo não usual, em uma primeira leitura.
Após ouvir canção após canção, verifiquei que a sonoridade
é leve, mas os rapazes não furtam-se a cometer alguns momentos mais pesados, e mesmo sem o “drive”
da guitarra, expressam densidade de uma forma bastante convincente. Um outro ponto importante é que a banda apresenta múltiplas
influências boas, portanto dentro desse ecletismo, alcançam um resultado que
agrada em cheio os ouvintes que seguem orientações sonoras díspares entre si, sem nenhum
problema.
Ótimos músicos, imprimem uma condução cheia de balanço em
vários momentos do disco; densidade dramática em outros, como já mencionei, e
delicadeza, com muitas sutilezas harmônicas e melódicas através dos bons
arranjos que criaram de uma forma coletiva e também no âmbito individual.
Gostei também da interpretação vocal e das letras, com questões de ordem existencialista na maior parte do tempo, e aí justifica-se o título do álbum, e a concepção da capa, a exprimir a ideia da angústia; cerceamento da liberdade, falta de perspectivas etc. Mesmo ao abordar temas sombrios, não achei que o astral abaixou ao ouvir as canções, e pelo contrário, é uma audição agradável pela qualidade musical que conseguiram criar e executar.
Gostei também da interpretação vocal e das letras, com questões de ordem existencialista na maior parte do tempo, e aí justifica-se o título do álbum, e a concepção da capa, a exprimir a ideia da angústia; cerceamento da liberdade, falta de perspectivas etc. Mesmo ao abordar temas sombrios, não achei que o astral abaixou ao ouvir as canções, e pelo contrário, é uma audição agradável pela qualidade musical que conseguiram criar e executar.
A primeira faixa, “Me Faça”, tem uma levada em torno do
Blues-Rock, mas com concepção moderna, densa. Gostei muito da percussão criativa de Wellington Pires, e
de fato, um percussionista de ofício e que proponha-se a pensar os seus arranjos
no contexto das canções, tem que ser aplaudido, pois tais intervenções se
jogadas a esmo, podem até estragar o resultado final de uma gravação, mas aqui,
muito pelo contrário, caem como uma luva.
A voz de Nikolas Rupa, que também é o violonista da banda, mostra-se agressiva, arranhada, com forte emissão e ele dá o recado com contundência. Há uma guitarra para dar apoio, mas que na verdade trata-se de um violão, que certamente deva ter passado por "plug-ins" de simulação de amplificadores e que foi executada pelo músico convidado, Filipe Rocha. Gostei das suas intervenções delicadas, mediante solos a usar timbres limpos, e o bom uso do "slide". A bateria de Anderson Xavier é enxuta, gostei muito da precisão e da clareza dos timbres agudos, provenientes dos seus tambores e caixa. Marc Matherson faz um baixo encorpado, muito seguro, a realçar bem a condução das canções. Ele segura tudo na retaguarda, a garantir uma direção firme para a banda.
A voz de Nikolas Rupa, que também é o violonista da banda, mostra-se agressiva, arranhada, com forte emissão e ele dá o recado com contundência. Há uma guitarra para dar apoio, mas que na verdade trata-se de um violão, que certamente deva ter passado por "plug-ins" de simulação de amplificadores e que foi executada pelo músico convidado, Filipe Rocha. Gostei das suas intervenções delicadas, mediante solos a usar timbres limpos, e o bom uso do "slide". A bateria de Anderson Xavier é enxuta, gostei muito da precisão e da clareza dos timbres agudos, provenientes dos seus tambores e caixa. Marc Matherson faz um baixo encorpado, muito seguro, a realçar bem a condução das canções. Ele segura tudo na retaguarda, a garantir uma direção firme para a banda.
Já na segunda faixa, “Vida Longa”, observo uma bela incursão por algo próximo da
MPB, com influências boas e nítidas. Sob uma excelente condução do violão, os
demais vão junto na mesma proposta sonora e assim passeiam pelas dinâmicas interessantes que a canção oferece.
Mais um vez uma guitarra limpa, e que lembrou-me o timbre de Mark Knopfler,
trouxe colorido à canção. A voz do percussionista, Wellington, apoia em duo em alguns
momentos, para tornar a melodia ainda mais incisiva. Gostei da letra, bem poética:
“Vasto vento sopra o corpo todo em movimento”...
“Vasto vento sopra o corpo todo em movimento”...
“Cada despedida, cada tentativa, um dedo na ferida”...
Na terceira faixa, “Carcere”, que dá título ao EP, eis o
peso que eu mencionei no início da resenha. Denso, trata-se de um riff que lembra
muito o som "grunge" dos anos noventa, notadamente de uma banda como o “Alice in
Chains”.
Gostei bastante da melodia e a mudança brusca da parte “A” para o refrão, ao sair da densidade soturna, para algo bastante doce, melódico. Há a presença de um teclado sutil, lá no fundo da mixagem, colocado como uma sombra quase imperceptível, mas que dá um incrível colorido à canção. O baixo de Matherson, desenha bonito, através de uma linha bastante criativa, e a percussão alterna momentos de explosão, incríveis na condução das congas, com calmaria em outros instantes, portanto, eu apreciei muito esse arranjo. Apesar do título, a letra não descamba para imagens angustiantes, embora marque presença, com personalidade.
Gostei bastante da melodia e a mudança brusca da parte “A” para o refrão, ao sair da densidade soturna, para algo bastante doce, melódico. Há a presença de um teclado sutil, lá no fundo da mixagem, colocado como uma sombra quase imperceptível, mas que dá um incrível colorido à canção. O baixo de Matherson, desenha bonito, através de uma linha bastante criativa, e a percussão alterna momentos de explosão, incríveis na condução das congas, com calmaria em outros instantes, portanto, eu apreciei muito esse arranjo. Apesar do título, a letra não descamba para imagens angustiantes, embora marque presença, com personalidade.
“Não aceito mais teu jogo sujo,
Não me aceito mais me ver no escuro
Não aceito mais me ver de luto”...
Gostei do forte sabor Folk da canção: “Vida Nova”, porém ela apresenta-se
mesclada ao Rock urbano. Nos momentos mais rurais, as cordas e a percussão brilham, a especificar dedilhados
feitos ao violão, dos mais agradáveis e na parte mais pesada, mais uma vez as sonoridades mais
modernas fazem-se presente. A interpretação vocal visceral da parte de Rupa, contém letra muito
interessante. Gostei bastante da frase: “Tem gente com medo que o medo, acabe”,
pois isso é muito perturbador em ouvir-se, entretanto, é uma das maiores verdades para
quem vive a loucura da vida urbana, em meio ao caos social da atualidade. Uma
afirmação dessa monta é para fazer pensar, em meio a uma reflexão das mais pertinentes.
“Lobo em Pele de Cordeiro” é um blues rasgado, forte na
concepção musical ao ponto de induzir o ouvinte a embarcar nele, e viajar para bem
longe.
“E não me fale com persuasão, pois o meu tédio não tem
emoção” desvela as relações efêmeras que não levam a nada. Se isso é viver
encarcerado em uma mentira existencial, o recado está dado.
"Viva a Diferença”, parece a canção mais Pop do álbum,
mas na verdade detém uma seriedade indiscutível. Gosto da melodia e parece ser uma marca estilística do Gandharva, compor
canções que transitam entre partes densas e doces, o que considerei um mérito da banda. Mais uma vez aparece um teclado, desta feita mais
proeminente, na forma de um rápido solo de órgão Hammond, ou um simulador dele,
mais provavelmente, porém, sob uma boa e certeira intervenção.
“Viva a diferença, viva a liberdade, viva a sua vida,
conquiste a sua parte”... mais um bom recado, sem dúvida.
No cômputo geral, o trabalho do Gandharva mostra qualidade,
revela-se criativo e executado por bons músicos; compositores, cantores e
arranjadores.
Esse trabalho foi gravado no estúdio Box Music, com direção geral de Nikolas Rupa e produção de “Jibóia”. Masterização de Balieiro.
Esse trabalho foi gravado no estúdio Box Music, com direção geral de Nikolas Rupa e produção de “Jibóia”. Masterização de Balieiro.
Gostei do áudio do disco, com timbres bem definidos, peso, clareza e sem
excessos da parte de certas frequências indesejáveis, mas que geralmente sobressaem-se após o processo da
masterização.
Além dos quatro componentes citados, Filipe Rocha tocou
teclados e violão, como músico convidado. O projeto gráfico ficou a cargo de ID Make Media.
A palavra, “Gandharva”, em sânscrito, significa na cultura
indiana e baseada nos “Vedas” (escrituras milenares e sagradas em sua concepção), um tipo de casamento arrumado pelas famílias, sem
interferência dos noivos, na escolha do cônjuge, um do outro. Espero que o Gandharva tenha um longo casamento musical,
portanto, e que os seus componentes continuem a fazer as suas escolhas sonoras
livremente, ao contrário do que a palavra estrangeira sugere, em sua carreira, e lance mais
trabalhos de qualidade artística, como este.
Para conhecer melhor o trabalho da banda, procure a sua página na Rede Social Facebook:
https://www.facebook.com/bandagandharvaoficial/?fref=nf
Grande Luiz Domingues, sempre apresentando material de alta qualidade, valeu!!!
ResponderExcluirMaravilha que a resenha tenha lhe despertado o interesse pelo trabalho desses rapazes.
ExcluirO negócio é esse : dar força para as bandas novas que tem pouca ou nenhuma chance de ter visibilidade na mídia.
Meu Blog é humilde, mas aqui o espaço para artistas verdadeiros, sempre é aberto.
Grato por ler e comentar !!