Filme: The Grapes of Wrath (As Vinhas da Ira) - Por Luiz Domingues

O escritor norte-americano, John Steinbeck, lançou em 1939, um livro chamado: "The Grapes of Wrath" (As Vinhas da Ira), a enfocar a saga de uma família a lutar para sobreviver à grande depressão que assolou o mundo e neste caso da história a abordar tal fenômeno socioeconômico sob o ponto de vista dos Estados Unidos da América ao longo da década de trinta. 

 

Nessa obra, esse autor retratou de forma muito comovente os anos difíceis em que o povo norte-americano sobreviveu com muitas dificuldades, graças ao grande crash da Bolsa de Valores de Nova York, no ano de 1929. 

 

Como sempre, quem mais sofreu foram as camadas mais simples da população. Pequenos fazendeiros perderam as suas terras (impossível quitar as hipotecas), operários perderam os seus empregos, com muitas fábricas falidas, comerciantes ficaram em frangalhos etc.

Foi assim que o então já consagrado diretor, John Ford, transportou para as telas essa saga de Steinbeck, em 1940. A adaptação do livro para o cinema, foi boa, na medida do possível quando se leva em conta que mediante uma adaptação literária para o cinema, o livro em tese sempre contém muito mais detalhes, todavia, Ford foi bem feliz nessa adaptação do roteiro para as telas.

Ao contar com um elenco repleto de ótimos atores, Ford realizou um filme extremamente pungente, apesar da aspereza do tema e do enfoque em situações dramaticamente duras, porém reais no tocante à absoluta penúria que a depressão causou ao povo norte-americano, principalmente aos menos favorecidos.

Neste caso, a ação se pauta pela saga perpetrada pelo personagem principal, que se chama: Tom Joad. 

 

Ele é um homem rústico que cometeu um crime em seu passado e ficara encarcerado por muitos anos por conta dessa falha de sua parte. 

Doravante em liberdade, ele volta para a casa e se depara com a família em situação sob penúria, com a pequena propriedade rural que possuíam, perdida, e sem perspectivas para manter o seu sustento. Sem outra alternativa, a família junta a sua parca economia e investe na compra de uma caminhão velho para a seguir, ao se colocar a caminho da Califórnia, um dos únicos, senão o único estado da federação, onde a crise estava a ser suportada, graças à riqueza observada através das fazendas produtoras de laranja, pêssego e algodão, principalmente e por conta da indústria cinematográfica ali instalada e sob franca expansão. 

A viagem da família, ao cruzar vários estados, a partir de Oklahoma, é muito emocionante. Sem recursos e a agravar a situação, mediante o desconforto inerente de um caminhão horroroso (e logicamente a quebrar pelo caminho), além de enfrentar algo pior, como a fome, sede e calor. 

 

Para agravar esse sofrimento, o vovô morre na estrada, por não suportar as condições insalubres dessa viagem. Logo a seguir, sucumbe a vovó, ao não aguentar a perda do marido. 

 

À medida que avançam, tais pessoas humildes passam a encontrar diversas outras famílias na mesma situação miserável, a lutarem desesperadamente pela sobrevivência, vindas de diversos outros estados e a sonhar com dias melhores na ensolarada e próspera, Califórnia, a representar para todos, um oásis em meio ao deserto.

Quando a família se aproxima na fronteira desse estado, eles já estão em meio a um inacreditável comboio formado por excluídos, oriundos de várias partes do país. De fato a depressão não foi nada fácil e essa aglomeração migratória na Califórnia, ocorreu de fato na vida real. 

 

Neste caso, o volume gerado pela horda de migrantes famintos foi tanto, que o governo estadual da Califórnia montou uma triagem policial na fronteira. Para se entrar no referido estado, seria preciso apresentar documentos para se comprovar possuir uma residência fixa, trabalho contratado, ou uma quantia mínima em dinheiro, em mãos, para atestar ser possível se manter em tal estado, pelo menos por um certo tempo. 

 

Nesse sentido, na ficção, a família de Tom Joad faz todo o tipo de sacrifícios para poder ter essa chance e finalmente consegue uma colocação de trabalho em uma fazenda californiana. 

Infelizmente, muitos inescrupulosos se aproveitavam da situação lamentável desses retirantes ao lhes oferecer trabalho sob condições aviltantes, na base da escravidão, praticamente. Remunerações miseráveis foram oferecidas em contratos maliciosos, nos quais toda a despesa de subsistência fora cobrada mediante preços extorsivos, ao estabelecer que o trabalhador ficasse sempre a dever ao empregador, para tornar o trabalho, uma enorme exploração de cunho escravagista, veladamente. 

 

Após muitas confusões, a família conseguiu se livrar dessa situação e no próximo ponto do filme, encontrou uma outra fazenda em que as condições de trabalho se provaram enfim, dignas. 

 

Porém, mesmo assim, tragédias ocorridas com enchentes e incêndios, fizeram com que eles rumassem para um outro destino incerto. 

Em um desses acampamentos de trabalho, eles se envolvem com gangues formadas por sabotadores. E por conta dessa situação perigosa, em meio a uma festa supostamente criada para se prover a confraternização das famílias dos trabalhadores dessa propriedade rural, uma briga é forjada, como um ato de sabotagem da parte desses bandidos e ali ocorre um assassinato. 

 

Com fama de ex-presidiário, claro que Tom Joad se torna um alvo fácil. Sem saída, a família sai em fuga, mas ao verificar que seriam apanhados facilmente, Tom Joad resolve fugir sozinho, para poder fornecer uma chance melhor de sobrevivência à sua família.

Neste ponto em ele que fala com a sua mãe idosa, o famoso discurso do personagem Tom Joad é de arrepiar: 

 

-"Eu estarei nos cantos escuros. Estarei em todo lugar. Onde quer que olhe. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, eu estarei lá. Onde houver um policial surrando um sujeito, eu estarei lá. Estarei onde os homens gritam quando estão enlouquecidos. Estarei onde as crianças riem quando estão com fome e sabem que o jantar está pronto. E, quando as pessoas estiverem comendo o que plantaram e vivendo nas casas que construíram, eu também estarei lá".

O grande ator, Henry Fonda, interpretou o personagem, Tom Joad, com um olhar tão desesperançado, que realmente fica difícil imaginar outro ator de sua época, para tal interpretação. 

 

Jane Darwell, John Carradine, Russell Simpson, O.Z. Whitehead, e John Qualley, entre outros, participam desse grande filme, também. 

 

Lançado em janeiro de 1940, é sem sombra de dúvida, um filme impressionante, emocionante e histórico. Direção de John Ford