O objetivo foi claro, desde o seu início, ou seja, enaltecer as realizações de Getúlio Vargas e assim se estabelecer como a sua grande plataforma populista e demagógica, enquanto manifestação sob longo alcance para os padrões de difusão da época. Isso sem contar a parte supostamente cultural, na qual quase todas as músicas executadas, enalteciam a persona do presidente, o popular: "baixinho".
Tal programa sobreviveu ao fim da Era Vargas e prosseguiu nos momentos de calmaria relativa entre o seu suicídio e o golpe militar de 1964, quando daí, eis que encontrou terreno fértil para manter-se fiel ao seu compromisso de estabelecer um tipo de jornalismo chapa-branca.
Desde 1962, havia ampliado o seu horário, com a segunda meia hora da sua programação, destinada a cobrir o cotidiano do poder legislativo.
A partir de 1971, por determinação do então presidente, Médici, mudou novamente de nome, quando passou a chamar-se: "A Voz do Brasil".
Com isso, obtiveram enfim a liberdade para usar o horário das 19:00 horas, considerado nobre no meio radiofônico, para que pudessem transmitir os seus programas com melhor audiência e dessa forma poder explorar melhor as suas possibilidades comerciais, mediante o apoio dos seus patrocinadores.
Infelizmente, as liminares foram caçadas, paulatinamente e praticamente foi restabelecida a rotina obrigatória da ligação em rede, para causar enormes prejuízos às estações.
Feito esse preâmbulo histórico, cabem algumas considerações a mais: A ideia de existir um programa radiofônico no qual os três poderes possam se manifestar e mostrar os seus trabalhos à população, é boa, em tese. Manter a transparência nas relações dos órgãos que regulam o governo e a sociedade, é salutar e democrático, em via de regra.
O problema da Voz do Brasil é que esta atração radiofônica já nasceu mal-intencionada. Sob a desculpa nobre da prestação de contas ao povo, sempre revelou-se ao contrário, um mero agente da propaganda de Getúlio Vargas. Essa ideia não foi original, vide o trabalho massificante realizado pelo Ministro da Propaganda de Adolf Hitler, o sr. Joseph Goebbels.
Com essa propaganda enaltecedora, disfarçada como uma espécie de jornalismo prestativo, Getúlio manipulou por anos a opinião pública. Essa cartilha que continuou a ser seguida a risca, serviu muito aos governos posteriores e seguiu nessa mesma dinâmica, até os dias atuais.
O Partido dos Trabalhadores, que tanto combateu tais práticas, quando foi oposição, demonstra ter gostado do veículo nos dias atuais... e assim, parece não haver meio desse tipo de uso ser interrompido ou no mínimo, modificado.
Outra questão a ser levantada, é o prejuízo que causa às emissoras. Alguém pode usar o argumento das concessões, mas alto lá: independente disso, são empresas comerciais e não é nada justo, que sejam obrigadas a largar mão de um horário considerado nobre, quando deixam de faturar com a publicidade.
Para quem não sabe, no meio radiofônico é considerado nobre o horário entre 17:00 e 20:00 horas, justamente por ser o horário do tráfego intenso nas grandes cidades, em que milhões de motoristas tem no rádio instalado em seu carro, uma companhia ou um aliado com informações sobre as condições do trânsito.
E mais um ponto: estamos a chegar ao final de 2011 e com a tecnologia nas comunicações a caminhar em progressão geométrica, faz algum sentido essa obrigatoriedade?
O cidadão realmente interessado em acompanhar o ritmo de trabalho do governo, parlamentos e judiciário, não tem outros meios para obter tal acompanhamento? Não existem canais específicos na TV a cabo, para cobrir o cotidiano de cada um desses órgãos governamentais?
Hoje em dia, pode-se acompanhar as sessões parlamentares das três instâncias, o andamento dos trabalhos no Supremo Tribunal Federal e as ações do executivo em tais veículos, por 24 horas ao dia. A internet então, tem um enorme manancial com opções, nem preciso enumerar, acredito.
Para encerrar, penso que a cidadania tem que ser respeitada a todo custo. É um direito do cidadão obter informações sobre o andamento das contas e ações realizadas pelo governo, mas essa opção não pode conter o caráter de um dever por parte das emissoras. Esse tipo de obrigatoriedade é uma prática arbitrária, retrógrada e incompatível com o exercício pleno de uma democracia moderna, através da qual pretendemos chegar.
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