quarta-feira, 14 de março de 2012

Think Tanks: Usina de Ideias, em Tese - Por Luiz Domingues

Por trás da organização de um governo bem-sucedido, em um país de primeiro mundo, existe algo além dos escalões governamentais. Sim, em tese, a academia formal no âmbito das universidades colabora com seus quadros nesse sentido, mas há também um outro tipo de apoio a ser considerado.              
"Think tanks" é uma expressão cunhada em inglês, que sob uma tradução livre, pode ser entendida como: "Usina de Ideias". Trata-se na verdade, de organizações não governamentais formadas por técnicos, especialistas em gestão e intelectuais, que se propõe a alimentar o governo com... ideias.

Nos Estados Unidos, Japão, e entre as potências europeias, a atuação dos think tanks é fundamental como ajuda extra-oficial aos seus respectivos governos, ao alimentá-los com ideias, soluções, logística etc. Tanto é assim, que não concebe-se a ideia de que um país possa ingressar no seleto grupo do dito "primeiro mundo", sem contar com o apoio maciço dos "think tanks", geralmente com o seu manancial humano, formado dentro das suas maiores universidades e pela sua nata intelectual, composta pelos seus cérebros privilegiados.

No caso do Brasil, neste instante em que o governo de fato  demonstrou estar a conduzi-lo à condição de um país emergente, e a citar como exemplos claros o fato de desejar arbitrar contendas internacionais, sediar mega competições esportivas e a se candidatar a uma cadeira permanente no conselho de segurança da ONU, qual é a situação dos think tanks, locais? 

Infelizmente, o Brasil precisa melhorar nesse quesito, mediante um panorama a apontar para poucas instituições aproveitadas e o pior, é que há um claro jogo de interesses externos a forçar que os nossos governantes possam lhes dar mais ouvido, e nesse aspecto, falo sobre o campo progressista em específico. Claro, é preciso deixar a ressalva muito enfática de que em um país conservador como o Brasil, as ideias mais progressistas sofrem pressões e assim, o lado social é sempre tratado como um "gasto" indesejável e nesses termos, "think tanks" ligadas ao campo do liberalismo econômico tendem a ter muito peso institucional de forças poderosas a pender para o rentismo puro e simples, daí, ao verificar a lista abaixo, fica patente que a "intelligentsia" força a barra para impor os interesses dos especuladores. 

No caso do Brasil, as instituições criadas com tais objetivos existem em profusão, embora, como eu já destaquei, a balança penda para a mentalidade em prol dos interesses do dito "mercado financeiro", ou seja, tais instituições são pouco afeitas ao desenvolvimento nacionalista independente dos interesses internacionais. 

De concreto, sabemos haver a atuação do Think Tank da PUC de São Paulo, Instituto Teotônio Vilela (Ligado ao PSDB), Fundação Perseu Abramo (Ligada ao PT), Fundação Liberdade e Cidadania (Ligada ao Dem), Fundação Lauro Campos (Ligada ao PSL), Cebds (Conselho empresarial brasileiro para o desenvolvimento sustentável), Ceiri (Centro de estratégia, inteligência e relações internacionais), IPG (Instituto de política global), Ibre (Instituto brasileiro de economia), Instituto Liberdade, Vide (Vigilância democrática), Instituto com. unidade wiki, Idesam (Instituto desenvolvimento sustentável do Amazonas), além dos renomados grupos da USP, Unicamp, UFRJ, PUC do Rio Grande do Sul e Fundação Getúlio Vargas, além é claro, da ESG (Escola Superior de Guerra), ligada às Forças Armadas e que alimenta o Ministério da Defesa, com a inteligência militar.

Não há dúvida sobre a qualificação técnica da maiorias delas. O que falta na verdade, é um ajuste político que equilibre um pouco, pelo menos, a sanha dos que só pensam em lucrar com a especulação e usam as think tanks para fomentar a sedimentação de seus interesses rentistas, tão somente. Na teoria, as think tanks tem tudo para prover o apoio intelectual e fundamental para o desenvolvimento do país.

O Brasil sinaliza estar de fato a arrancar economicamente para um patamar de destaque no panorama global. Mesmo assim, o fato é que o país ainda é freado em certos aspectos, sob uma mentalidade antiga de um país de terceiro mundo e se faz mister mudar essa prerrogativa.

A se comportar como um rico novo e boçal (na verdade, é isso mesmo), certas forças insistem em propor a contramão e no caso, não é por ignorância, mas ganância mesmo ao considerar que manter o país subserviente aos interesses internacionais lhe vai trazer mais vantagens fáceis, como meros agentes da especulação. Um choque, mediante investimentos na educação, se faz necessário e o aproveitamento dos melhores cérebros para achar soluções é o caminho que precisa ser percorrido, porém, sem doutrinação, ou seja, retroalimentar a mentalidade do rentismo e sobretudo a empurrar o país para a condição subserviente de uma vassalagem vergonhosa não pode ser considerado como algo razoável. 

É importante deixar espaço para os think tanks levarem as suas ideias livremente a fim de usar a sua especialidade: a massa encefálica privilegiada, em prol do país, e veremos enfim a prosperidade material chegar, a construir um Brasil preparado para ingressar enfim, no patamar do primeiro mundo, como sonhamos e merecemos estar, é uma imagem edulcorada que se tem sobre a atuação das think tanks, no entanto, fica a ressalva de que para a imensa maioria, a meta é forçar o uso da marcha ré, e isso não é por ignorância, mas algo deliberado. Tudo por dinheiro, pois é...


Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica e posteriormente republicada no Blog Pedro da Veiga, ambas as publicações ocorridas no ano de 2011.

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