Nunca observou-se antes na história, uma preocupação tão grande em relação ao extrativismo desenfreado; índices poluidores; falta de crescimento sustentável, reciclagem e contenção de desperdícios. Nunca ?
Talvez não para a grande massa, muito menos para a classe política, mas todas essas preocupações ecológicas sustentáveis começaram bem lá atrás e claro, foram prontamente rechaçadas e duramente combatidas à época, pelos cegos de plantão ou pior ainda, pelos opositores contumazes e beneficiários diretos do sistema caótico e despótico que rege o sistema. Refiro-me ao movimento Hippie como um todo e se houve um acontecimento que pode ser classificado como um manifesto dessas ideias agrupadas em torno de um único ideal, esse evento foi o "Human Be-in", realizado na cidade de San Francisco, no dia 14 de janeiro de 1967, em pleno inverno do hemisfério norte, ao abrir o caminho para a concretização do famoso : "Verão do Amor", alguns meses depois.
Na realidade, diversas manifestações sob menor monta estiveram a eclodir não só na cidade de San Francisco, contudo, em diversas outras localidades na América e na Europa, portanto, a mídia passou a tratar o movimento com outros olhos, a partir do Human Be-in. Organizada por estudantes das universidades Berkeley e Stanford (com a devida ressalva de que os estudantes de Berkeley tinham mentalidade política com tendências de militância dirigida, mais preocupados em agredir o governo / sistema sob polarização direita / esquerda), agrupou bandas de Rock da cena local, como Jefferson Airplane; Grateful Dead; Quicksilver Messenger Service, e vários oradores. Poetas da geração beat apoiaram o evento libertário, mas ninguém melhor representou essa vertente do que o poeta, Allen Ginsberg, um gigante da literatura beat, que mergulhou de cabeça no sonho Hippie após ter tomado conhecimento da meditação transcendental, durante uma estada no oriente.
Timothy Leary cunhou nesse dia a frase que tornar-se-ia o lema do movimento Hippie : "Turn on; Tune in and Drop Out" ("Ligue-se, entre em sintonia e caia fora"m sob uma tradução livre), para gerar enorme preocupação os simpatizantes do conservadorismo fundamentalista norteamericano, que farejou uma rebelião em massa e certamente a alimentar teoria da conspiração, a imaginar ser um plano arquitetado pelos adeptos do socialismo / comunismo.
Protestos contra a repressão, anti-stablishement; contra a guerra do Vietnã, contra a então recente Lei (outubro de 1966), que tornara o LSD, uma substância ilícita e outras questões, ecoaram fortemente no evento.
Falou-se em vida natural; contra a industrialização desenfreada; contra a destruição da natureza; contra a massificação dos seres humanos. Direitos das mulheres na sociedade; pelo fim da segregação racial; pelos direitos civis; pelo direito de questionar autoridades entre tantas outras questões inimagináveis para um mundo fechado ainda sob uma ordenação arcaica de poder para poucos e democracia de fato, até a página 2...
Como marco notado pela mídia, o Human Be-in foi um momento histórico para a sociedade e como tão avançados questionamentos não poderiam ser absorvidos automaticamente, só agora, século XXI em curso, estão a repercutir, não pelo bem, mas pelo mal... Assolados que estamos por crises financeiras sem fim; cataclismas cada vez mais frequentes; revoluções políticas a derrubar ditaduras e sobretudo pelo fantasma iminente da escassez de recursos.
Como o mundo dá as suas voltas... a mesma mídia que tanto esforçou-se, a usar toda as técnicas de propaganda de massa, para bater e desdenhar das ideias do movimento Hippie, o que tem a dizer-nos hoje em dia ?
Entretanto, fato não conveniente tripudiar com ninguém eu diria, pois temos algo mais importante para empreender, que é trazer o velho sonho de volta com a sua devida força e mais que isso, transformá-lo em realidade, com um planeta realmente mais limpo e seres humanos menos egoisticamente criados para competir, mas sim, compartilhar, como irmãos. Viva o Human Be-in, e seja bem vindo à Era de Aquário...
Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2012, e com direito à um adendo escrito pela sua editora, Fernanda Valente, que reproduzo abaixo :
Não basta vestir as roupas, tem que se vestir as ideias!
Como todas as ideias que os "loucos" ou "doidões" que revolucionaram a história trouxeram para esse mundo, as ideias ambientalistas e sustentáveis do movimento hippie, hoje é amplamente divulgada e defendida. Não nego que considero isso um avanço, afinal algo que era fortemente combatido e ignorado, hoje surtiu um efeito contrário, de aceitação. Esse fato serve de exemplo para as novas gerações desacreditadas de que possa haver uma mudança para melhor, que a esperança precisa estar sempre viva, e que devemos continuar defendendo com coragem nossos ideais, por que no final tudo valerá a pena. Juventude : vamos aproveitar essa era de maior liberdade (mesmo que não ainda completa) para expor nossas ideias e buscar um mundo melhor para todos. Como diz meu amigo Luiz, vamos trazer o velho sonho de volta e lutarmos como irmãos para transformá-lo em realidade! É POSSÍVEL SIM !
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