Um dos primeiros atos de hostilidade dentro da polarização entre as frentes ideológicas de direita e esquerda, foi sem dúvida a Guerra Civil Espanhola. Milhares de idealistas, oriundos de cinquenta e quatro países diferentes, alinharam-se nas Brigadas Internacionais para enfrentar as forças do general Francisco Franco, que por sua vez tinha o apoio ideológico de Adolph Hitler, inclusive com colaboração militar explícita.
Batalhas duríssimas foram travadas nos fronts de Madrid; Jarama; Guadalajara; Brunete; Teruel; Ebro; Albacete; Valencia etc.
Com a força militar nazista a apoiar, ficou mesmo difícil para os brigadistas, e Franco triunfou, ao atrelar a Espanha ao atraso, impingida por décadas em favor de uma ditadura que custou-lhe permanecer na retaguarda, relegada a um patamar de inferioridade em relação as outras nações europeias, assim como Portugal, em semelhante estagnação, com o poder de Salazar, outro ditador alinhado pelos mesmos ideais.
E o que aconteceu com esses brigadistas que lutaram movidos por seus ideais progressistas ? Tirante os que tombaram nos campos de batalha, os demais que foram capturados, e posteriormente conduzidos para campos de concentração localizados na própria, Espanha, em princípio, e também na França. Com o início da II Guerra Mundial, muitos foram deslocados para a Alemanha e redistribuídos para os campos de concentração nazistas, onde evidentemente foram exterminados no bojo do Holocausto. Porém, uma situação inusitada criou-se, pois muitos deles, que escaparam, perderam a sua condição como cidadãos e foram condenados a viver na clandestinidade, ao assumir falsas identidades, pois tornaram-se apátridas e consequentemente, personas não gratas em diversos países do mundo.
Obviamente não foi possível viver na Espanha; Alemanha; Itália; Áustria e na Checoslováquia, dominada por nazifascistas. Mas por incrível que pareça, não encontraram apoio em países alinhados com o bloco soviético, como seria esperado pela obviedade em termos de uma análise mais simplória.
Na prática, tratou-se de cidadãos recusados na Romênia; Bulgária; Iugoslávia; Hungria, e na própria União Soviética, onde passaram a ser considerados como pessoas "não confiáveis" e / ou confundidos com soldados mercenários. O mesmo conceito fora imputado-lhes nos Estados Unidos; França; Inglaterra e Irlanda.
Restou-lhes alternativas de segundo e terceiro escalão, mas mesmo assim, ficou difícil. O Brasil, de Getúlio Vargas flertava com Hitler e Mussolini e só alinhou-se aos aliados, na parte final da Guerra, praticamente. A Argentina também demonstrara simpatia pelo Eixo. Muitos culminaram a aliar-se enfim, à resistência francesa e sua experiência paramilitar foi fundamental para minar os nazistas em inúmeras pequenas ações de sabotagem.
Mas muitos perderam a identidade, ao tornar-se apátridas, rejeitados e considerados "mercenários", acusação esta, ultrajante, por sinal, pois não fora por dinheiro que engajaram-se, mas por idealismo, em via de regra. A coragem desses idealistas em alistar-se em uma causa que só dizia-lhes respeito sob o ponto de vista teórico, foi admirável. Mas fica também uma dúvida a pairar no ar : Valeu mesmo a pena ter engajado-se em uma luta desse porte, em uma terra estrangeira e ter como resultado prático toda essa perda pessoal ?
Venceu um lado, perdeu o outro... alguns anos depois, Franco morreu sem deixar saudade a não ser para seus correligionários, e a Espanha voltou a crescer e tirar o atraso cultural. Do outro lado, todo esse sacrifício para manter e impor os ideais de Karl Marx aos vizinhos, esvaneceu-se, ao culminar em um muro derrubado, a escancarar o fracasso dessa "igualdade" para a humanidade, forjada à fórceps. Na falta de um sistema político e sócio /econômico realmente justo e bem organizado, ao visar o bem estar e com oportunidades para todos, nem o capitalismo, tampouco o comunismo deu respostas aceitáveis à humanidade. Sendo assim, qual a luta que realmente merece ser travada ?
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