A questão é : em que ponto chegou a sociedade, onde pessoas são tratadas como lixo indesejável e dessa forma, passíveis de eliminação "higienizadora" ? Essa mentalidade deveria ter sido sepultada com o final da segunda guerra mundial, mas é com pesar que assistimos atônitos, as barbaridades cometidas por seres humanos cruéis que desejam eliminar os seus semelhantes que julgam ser indesejáveis. Muitos psiquiatras; psicólogos ou psicanalistas devem ter as suas teorias a respeito, acredito que tais ações patológicas devem enquadrar-se em sintomas e caracterizar um "CID". Certamente os sociólogos também tem as suas explicações e claro, os antropólogos e historiadores, incluso.
As autoridades governamentais e policiais certamente discorrem sobre números, estatísticas, mas ninguém traz uma solução definitiva para esse abandono de seres humanos sem teto pelas ruas. Instituições do terceiro setor, abnegadas, com apoio de grupos religiosos fazem o que podem, mas não conseguem consertar o mundo, mesmo ao empreender esforços enormes nesse sentido. Com isso, o resultado está em toda a parte: pessoas a dormir nas ruas, sem perspectivas.
Esse é o estrato social cruel em que a nossa sociedade está montada, mas aí vem outro elemento, pior ainda, como agravante : Pessoas realmente desprovidas de qualquer tipo de compaixão ao semelhante, ao atacar esses pobres coitados, de uma forma covarde e brutal. O que é pior ? O comerciante que cansado de ser prejudicado com a presença dos mendigos resolve dar um "susto" nessas pessoas e contrata brutamontes para espancá-los e /ou atear fogo neles, ou playboys bêbados que vislumbram a possibilidade de usar a agressão para "brincar de vídeogame de verdade, ao barbarizar mendigos pela madrugada ?
Alguém lembra-se do caso do índio Galdino ? Sem lugar para dormir, aconchegou-se em um abrigo de ponto de ônibus em Brasília e acordou em chamas, graças a um bando de playboys vagabundos, no ano de 1997. O que aconteceu para tais moleques ? Informações não confirmadas dão conta de que hoje são funcionários públicos bem alojados na máquina federal, mas claro, deve haver a meritocracia por ter estudado com afinco para concurso público etc. A alegação deles a época, beirou o ridículo. Disseram ter confundido o índio com um mendigo... ora, se fosse um mendigo, estaria liberada a "brincadeira" dos garotões ?
A verdade é uma só : se existem pessoas a viver nas ruas, sem perspectivas de uma vida digna, com casa; trabalho; renda e todas as prerrogativas da cidadania, certamente é culpa de uma estrutura governamental falha e também culpa de nós todos, enquanto sociedade civil, que nada fazemos para buscar uma solução humanitária.
E se estão a viver nas ruas em meio a esse sofrimento, não tem nenhum cabimento ficar sujeitas a espancamentos, brutalidade e assassinato por parte de verdadeiros monstros que achávamos ter sido extirpados da face da Terra, após o tribunal de Nuremberg (oh, doce ilusão...).
Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica em 2012
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