A vocação paulistana para abrigar imigrantes estrangeiros, vem de longe. O grande fluxo inicial veio evidentemente ao final do século XIX, com a chegada de milhares de europeus para trabalhar nas lavouras do interior do estado. Contudo, com a crescente industrialização da capital, milhares de estrangeiros vislumbraram melhores oportunidades para trabalhar em meio à infinidade de fábricas que aqui instalaram-se.
Naturalmente os italianos tomaram de assalto a cidade por conta do impressionante contingente que aqui chegou, para imprimir o seu sotaque de forma tão incisiva que isso motivou o fato inexorável que influenciou o sotaque paulistano, de forma avassaladora. Isso explica a dificuldade paulistana em pronunciar os plurais, visto que na língua italiana, esse quesito gramatical tem diferenças em relação ao português.
Japoneses; espanhóis; portugueses; judeus; sírios; libaneses e turcos, chegaram em enorme profusão, para tornar a cidade mais enriquecida com tantas culturas diferentes a conviver harmonicamente. Aliás, os japoneses representam um caso a parte, visto a enorme quantidade de nipônicos que aqui estabeleceu-se, tanto quanto os italianos. Essa profusão é tão gigantesca que São Paulo é considerada a maior cidade japonesa do mundo, fora do Japão.
Ao final dos anos sessenta, o fluxo migratório interno, que sempre foi predominantemente dominado pelos mineiros, seguido por gaúchos e paranaenses, passou a ter outra movimentação em grande profusão : os nordestinos, oriundos de todos os estados dessa região do Brasil. Um recrudescimento da imigração deu-se então nas décadas de setenta; oitenta e noventa, talvez a destacar apenas, a chegada dos coreanos a partir de 1963, como última grande leva, sob grande profusão.
Basta andar a pé por avenidas como a Paulista; Faria Lima ou Engenheiro Luiz Berrini, para ouvir-se pessoas a conversar em diversas línguas estrangeiras e verifica-se esse fenômeno.
Isso sem contar os bares e restaurantes étnicos, geralmente abertos por estrangeiros das primeiras levas da imigração, ainda do século XX, que agora mantidos pelos seus descendentes, recebem os compatriotas de seus antepassados, ao servir-lhes comida típica e a sensação de aconchego de suas pátrias de origem.
Verifico também o crescente número de hostels que estabelecem-se por todos os bairros. No meu bairro, conheço pelo menos uns dez, lotados com estrangeiros o tempo todo, geralmente jovens. Segundo dados oficiais, 26 mil estrangeiros receberam vistos de trabalho no início de 2012. Tem o outro lado também. Cresceu gigantescamente a imigração ilegal, principalmente pessoas oriundas de nações vizinhas, sulamericanos que enxergam São Paulo como a nova meca das oportunidades.
Estima-se que já tenhamos cerca de duzentos mil bolivianos a viver na cidade e a imensa maioria de forma ilegal. Os famosos "coiotes" que ajudam pessoas a entrar nos Estados Unidos, via México, agora trabalham por aqui também, para facilitar a entrada de imigrantes desses países hispânicos, vizinhos.
Uma leva de peruanos e paraguaios também tem entrado com força, ao seguir o êxodo boliviano. É impressionante andar pelas ruas de bairros como Pari; Brás; Canindé; e Bom Retiro, onde verifica-se a existência de estabelecimentos comerciais a exibir placas com dizeres em idioma castellaño, para atender essas comunidades oriundas de países hispânicos.
E também há por registrar-se os refugiados de guerra; vítimas das zonas de conflito e com sérios problemas políticos em seus países de origem, que buscam São Paulo para abrigar-se enquanto a situação não melhora em seus respectivos países. Nesse aspecto, são muitos os grupos oriundos de nações Africanas e do Oriente Médio, além do leste europeu e nações centroamericanas, principalmente do devastado Haiti.
Toda essa efervescência combina com a ascensão do Brasil no cenário internacional e certamente faz da sua maior metrópole, uma cidade atraente em termos de oportunidades. Aliás, trata-se de um resgate da tradição paulistana para abrigar estrangeiros de toda parte do planeta.
Matéria publicada inicialmente no Site/Blog Orra Meu, em 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário