terça-feira, 26 de junho de 2012

MUG, Febre de 1966 - Por Luiz Domingues


A publicidade brasileira nos anos sessenta ainda mantinha uma boa dose de ingenuidade, ao não projetar oportunidades mercadológicas provenientes de seus golpes (no bom sentido do termo), sem dúvida. Não fosse por isso, os senhores, Horácio Berlinck Neto e João Evangelista Leão, criadores do boneco "MUG", no ano de 1966, teriam enriquecido da noite para o dia, tamanha a febre que isso gerou.
Criado para ser um mero apoio publicitário à uma grife de roupas da época, o boneco ganhou ares de um talismã, quando diversos artistas da MPB começaram a espalhar o boato de que o boneco MUG seria um protetor de ambientes e trazia boa sorte ao seu dono.

Imediatamente, artistas como Chico Buarque de Hollanda e Wilson Simonal forjaram declarações em apoio, publicadas em diversas reportagens de jornais e revistas, para exprimir sobre isso e... "boom", tornou-se uma febre epidêmica, com todo mundo a desejar ter o MUG em casa ou pendurado no retrovisor do automóvel. Outros artistas e personalidades puseram-se a engajar-se nessa ação, que ganhou ares de uma autêntica mania nacional.
O boneco em si era feio em demasia. Tratava-se de uma espécia de estilização de um troglodita a apresentar um corpo desproporcional e a usar um figurino de tecido xadrez que remetia à Escócia, de certa forma. Lembro-me que chegou a ser publicado em reportagens em jornais e revistas, dicas para fazer o boneco artesanalmente, e assim, talvez aí tenha residido a falha dos criadores em não ter sabido explorar convenientemente a sua venda exclusiva, mas convenhamos, nos anos sessenta, pouca gente pensaria nessa hipótese.
No LP "Vou Deixar Cair", de Wilson Simonal, há uma menção curiosa ao boneco, para reforçar a febre e segundo dizem, na letra da música "A Banda", de Chico Buarque, também existem menções subliminares (onde ? quem souber, que poste um comentário abaixo com a explicação, por favor).

E teve também o caso do assalto de um carro do Chico, onde ele lamentou o fato do boneco ter ido junto, a causar repercussão essa declaração. E talvez, tenha sido uma ação precursora das famigeradas : "Fake News". No meu caso pessoal, sim, o meu pai teve um MUG pendurado no retrovisor do carro da família, mas o boneco partiu, assim que carro foi vendido a um estranho.
Adoraria ter de volta essa curiosa relíquia que gerou essa febre toda, mas do mesmo jeito que surgiu, o MUG sumiu, sem deixar vestígios. Logo que entrou o ano de 1967, ninguém mais falou sobre o MUG, que entrou dessa forma, para um melancólico ostracismo eterno.
É raro ver hoje em dia, conhecer alguém que lembre-se dele, mesmo que tenha recordações pessoais marcantes do ano de 1966. No meu caso, ficou na memória, pois o associo imediatamente àquele ano, e apesar de eu ter tido apenas seis anos de idade nessa época, asminhas sinapses cerebrais associam-no a vários fatos desse ano. Eu lembro do MUG e logo vem à cabeça os Beatles Cartoons; o Festival de MPB da TV Record; o LP Rubber Soul dos Beatles; Thunderbirds; Jonny Quest; e Lost in Space...
Ou seja, que saudade de 1966...

8 comentários:

  1. Ladrão levou o Mug foi boa rsr...Luiz eu tive um, não me desgrudava,acho que tenho uma foto com ele,vou procurar...tinha o Topo Gigio o elefantinho da shell e um bonequinho que vinha dentro dos sacos de arroz Brejeiro,nossa era uma festa rsr....obrigado por reavivar essas boas lembranças da infância:) abraços amigo!

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    1. Essa foi demais, mesmo. O Chico ficou chateado de perder o MUG e não o fusquinha...
      O meu pai tinha um no retrovisor do carro.

      Topo Gigio (Agildo Ribeiro, lembra-se ? ), Elefantinho da Shell e o boneco do arroz Brejeiro : Clássicos !! Tinha também os indiozinhos do Toddy, os gangsters do Bardhal e o ovo do Sal Cisne...

      Como era bom ser criança nos anos sessenta !!

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  2. Foi até legal ele não ter sido explorado publicitariamente como seria hoje em dia, pelo menos foi uma simpatia espontânea das pessoas em relação a ele, isso era bom nessa época, pois não tentavam te obrigavam a gostar das coisas como se faz hoje em dia com a publicidade... E concordo, o bichinho podia ser simpático e trazer sorte, mas era feio! ehehehe
    bjão!

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    1. Adorei o seu comentário, Fernanda ! Realmente não havia pensado nesse aspecto. Muito melhor que tenha sido espontâneo e não armação, como tudo acontece hoje em dia.

      Bem, o MUG não era nenhum galã, longe disso...Ha ha ha !

      Beijo !

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  3. não achei feio, que lindinho esse Mug!!! Se eu já estivesse no mundo nessa época gostaria de ter tido um. Muito legal essa simpatia espontânea que ele despertou, sinto que hj quase mais nada é espontâneo, principalmente na publicidade, a não ser pelos memes. mas os memes são muito bestas. Esse Mug era tão bonitinho ♥
    Ótima postagem!

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    1. Caramba !! Você é a primeira pessoa que me diz achar o MUG bonito !! Era uma unanimidade o fato dele ser feio, mas você quebrou a regra.

      No tocante à espontaneidade, você tem toda a razão : Essa ingenuidade ficou lá atrás no século XX, pois hoje em dia é tudo armação de marketeiros.

      Obrigado por ler, curtir e comentar !!

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  4. Grande matéria Luiz deu saudades dos sixty, ainda mais com você que deixa a década mais brilhante e efervescente do que ela já era. Eu sei de uma pessoa que ainda tem o MUG até hoje é o jornalista do Estadao/ESPN Flávio Gomes, torcedor do Barcelusa e piloto nas horas vagas.

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    1. Obrigado, Sil !

      Eu sabia que o Flavio Gomes era colecionador de coisas referentes à fórmula 1, mas daí a ter um MUG, sensacional !

      E valeu por ter lido, curtido e comentado. Eu adoro os anos sessenta, a década mais importante do século XX, em meu entender, por inúmeros aspectos.

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