Bem, ao
levar-se em consideração o final enigmático proposto pelo filme, “Eddie and the
Cruisers” (Eddie, o Ídolo Pop), quando o protagonista da história, Eddie Wilson
foi dado como morto, mas aparece na cena final, de uma forma incógnita a
assistir a reportagem que fala exatamente da sua suposta morte, através de vários
aparelhos de TV ligados na vitrine de uma loja de eletrodomésticos, ficou em
aberto a possibilidade de um outro filme para garantir a sua continuidade.
Aliás, mais do que isso, pode-se dizer que tornara-se uma necessidade premente,
visto que não foi algo subliminar, todavia a deixar claro que a súbita
revelação de que a personagem sobrevivera e estava a viver de uma forma reclusa
e sem contestar a sua própria falsa morte, suscitaria uma continuidade para a
história.
Entretanto,
ao considerar-se também que o cinema (e a TV, igualmente), norte-americano não
preocupa-se exatamente com outro valor que não seja o resultado financeiro
imediato, essa insinuação para que houvesse uma continuidade lógica para tal
história, não significou na prática a certeza de que tal empreendimento fosse
concretizado.
Tanto foi assim, que a tal sequência para fechar a história, somente
foi ocorrer seis anos depois do lançamento do primeiro filme (1983/1989). É
preciso acrescentar que essa saga sobre o cantor/guitarrista e compositor,
Eddie Wilson e a sua banda, The Cruisers, nunca empolgou a crítica e nem mesmo o
público verdadeiramente Rocker, mas curiosamente, tornou-se um ícone para uma
fatia do público interessada em acompanhar artistas Pop-Rock da seara do dito, “AOR”
(“Adult Oriented Rock”), portanto, uma camada consumidora de música mais pela
superficialidade, sem ater-se aos detalhes e certamente por conta dessa e
outras características incisivas, reconhecida como não formadora de opinião,
pelo aspecto genuinamente cultural, pois muito pelo contrário, os marqueteiros
do show businesses possivelmente consideravam-na como uma potencial massa
formadora de opinião, em termos comerciais ao pensar em seu poder aquisitivo
centrado na classe média.
Explicada tal
particularidade, é patente que os dois filmes não são prioritários em uma lista
mais seleta sobre Rock Movies, entretanto, dentro do imaginário de seus
admiradores, são considerados como cultuados. Respeito essa impressão,
certamente, no entanto, eu não compactuo com tal graduação e dessa forma, penso
que a saga de Eddie Wilson and The Cruisers mostra-se interessante em linhas
gerais, todavia, distante muitos anos luz de uma condição mais significativa a
denotar ser fundamental na história dos Rock Movies. Logicamente que os dois
filmes tem os seus méritos e assim como arrolei alguns deles em relação ao
primeiro, cabe acréscimos nesta resenha sobre o segundo filme.
Baseado no
livro: “Eddie and The Cruisers”, de PF Kluge, esta sequência mostra a
continuidade da história iniciada no primeiro filme, a seguir o texto do livro.
Neste caso, se no primeiro filme a ação é desenvolvida no início dos anos
sessenta e a demarcar o ano de 1963, como o da suposta morte de Eddie e estabelecer
um ponto futuro com 1983 (em meio aos esforços empreendidos pela repórter, Maggie
Foley, interpretada por Ellen Barkin, para investigar o paradeiro dos ex-membros
da banda, The Cruisers, além do misterioso desaparecimento das fitas a
registrar um álbum não lançado e sobretudo, esclarecer melhor as circunstâncias
sobre a morte do seu vocalista, Eddie Wilson). Pois em “Eddie and The Cruisers
II” (Eddie Lives), a ação alcança a contemporaneidade dos anos 1980, e se no
primeiro filme a falha em retratar os anos sessenta sem maiores cuidados, em
contraste com a ação de 1983, fora gritante, desta feita tal falha inexistiu pelo
simples fato da dramaturgia refletir a ação temporal em comunhão com a produção
do filme, ou seja, retrata os anos 1980 e pronto.
Sobre a
continuidade da história, Eddie Wilson (novamente interpretado pelo ator,
Michael Paré), nesses últimos vinte anos ficara realmente recluso e adotara um
novo nome, Joe West. Ele aproveitara-se da sua suposta morte ocorrida em 1963,
para desaparecer e assumir a posteriori uma outra identidade na vida, longe da
música, pois mostrara-se profundamente desapontado com os desmandos do show
business. A atuar como um humilde trabalhador na área da construção civil, mostrara-se
resignado em viver longe da música, mas eis que vem a saber que a antiga
gravadora da sua banda, The Cruisers, a "Satin", relançara os discos do The
Cruisers e estava a anunciar um novo álbum a conter faixas provenientes da
gravação do disco que a própria gravadora recusara-se em lançar naquela ocasião,
e cuja fita o próprio Eddie, em represália, escondera de todos, em sinal de protesto.
Agora, a gravadora anunciara no mesmo pacote, o lançamento de um disco com o
título: “Eddie Lives” (“Eddie Vive”) e isso o revolta, mesmo tantos anos
depois a viver uma outra vida longe da música.
Nesse
ínterim, Eddie (ou Joe, como quis ser chamado desde 1963), entre em um bar e
conhece uma banda jovem que estava ali a tocar. Nessa cena, a aproximação não é
amigável, no entanto, vide o clima de provocação que estabelece-se entre ele e
o guitarrista, Rick Diesel (interpretado por Bernie Coulson). Isso por que Joe
(Eddie), afirma ser guitarrista, mas Rick desdenha dele por não acreditar que
aquele homem bem mais velho e sem usar um visual Rocker, seja de fato um músico
em condições para sobrepujá-lo.
Um clima de desafio é estabelecido entre ambos,
com uma boa dose de soberba, inclusive, da parte dos dois. No entanto, Eddie,
apesar de estar longe do meio musical há muitos anos, faz um solo ao estilo blues,
para arrepiar, com apoio da banda e Rick rende-se às evidências ao admitir que
o veterano é muito bom como guitarrista, e dessa forma, a ocasião fica propícia
para que um convite seja formulado a visar que Joe reforce a banda.
Todavia, um
fato enigmático ocorrera, antes desse convite ser feito, pois ainda a estar no
palco com a banda, o saxofonista, Hilton Overstreet (interpretado por Anthony
Sherwood), esboça ter reconhecido a verdadeira identidade de Joe, ao insinuar em
seu instrumento, a melodia de uma canção do The Cruisers, e isso irritara Joe,
que sai do palco com certa truculência.
No entanto, alheio à insinuação do saxofonista,
fator que Rick nem percebera, eis que o jovem guitarrista vai atrás de Joe e faz-lhe
o convite. Eddie continua o mesmo sujeito temperamental de 1963, quando fora
retratado no filme anterior. Arrogante e presunçoso por natureza, embora talentoso,
reconhecidamente, não amenizou o seu discurso ao longo dos anos em que
manteve-se recluso e resignado em não ser mais um reconhecido Pop Star. Ele
aceita integrar o “Rock Solid”, banda formada por tais jovens e certamente
assume uma liderança indisfarçável, doravante.
A banda realiza
uma turnê modesta por casas de pequeno porte, até que surge uma oportunidade
para algo maior e que empolga o jovem guitarrista, Rick Diesel. Uma produtora
sinaliza com um festival, no entanto com a condição sine qua non da banda ter
que previamente passar para um teste de avaliação e Joe (Eddie) fica possesso ao
denotar que o seu gênio incontrolável em choque com os seus traumas arraigados,
mostravam-se como ingredientes explosivos, para piorar a perspectiva do
protagonista. Nesse ínterim, o saxofonista, Hilton Overstreet, usa da sinceridade
e em um tom firme, revela conhecer a identidade real de Joe e nesses termos,
conclama Eddie e não o Joe, a não desperdiçar novamente a oportunidade na
carreira musical, ao denotar conhecer bem a sua triste história marcada pelas
perdas. Eddie cede em sua determinação e diz aceitar a proposta, desde que a
banda empenhe-se em um período de ensaios realizados com a observação do foco.
Nesse ínterim,
a gravadora Satin faz uma campanha para provar que Eddie está vivo, como esforço
a promover o pacote de discos que relançou do “The Cruisers” e certamente em
especial ênfase ao inédito: “Eddie Lives”, que contém o material resgatado de
1963. E também ocorre que um pesquisador prova que o ícone cinquentista da vida
real, Bo Diddley, participara da gravação do álbum rejeitado de 1963, portanto,
um fator a mais para valorizá-lo.
Rick Diesel,
inocentemente manda uma mensagem para a gravadora Satin, a dizer que o
vocalista de sua banda, Rock Solid, é parecido fisicamente com Eddie Wilson. A
sua intenção fora outra, certamente a denotar apenas que desejara angariar
algum tipo de simpatia da gravadora por um fato secundário, no entanto sem
mensurar a confusão que tal ato poderia gerar, pois Joe West é na verdade,
Eddie Wilson em pessoa.
A banda
submete-se ao teste musical para ser aprovada em seguida. Ao mesmo tempo em que
os seus companheiros ficam contentes com a perspectiva, Joe (Eddie), fica muito
preocupado, pois sabe que o seu segredo será revelado quando da participação da
banda nesse festival. Ele então resolve procurar o seu velho companheiro do The
Cruisers, o baixista, Sal Amato (interpretado por Matthew Laurance, como no
primeiro filme) e nesse encontro que ocorre em um praia em New Jersey, acontece
um momento tenso, pois em primeiro lugar, Sal fica muito abalado por verificar
que a lenda urbana alimentada por vinte anos, confirmara-se, com a figura de
Eddie ali à sua frente, vivo.
E em segundo lugar, por conta de Sal sentir-se
traído por conta dessa mentira vivida por Eddie em torno de sua falsa morte e
principalmente pelas consequências de tal farsa, com o fim da banda e o disco
inacabado, cuja fita fora escondida. O diálogo ameniza-se finalmente, com Sal e
Eddie enfim a reconhecer que problemas a parte, ambos estavam felizes pelo
reencontro, mas Sal insiste em saber a verdade sobre a fita escondida. Eddie
revela ao seu ex-companheiro de banda que não apenas roubara as fitas do
estúdio, como em conluio com o falecido saxofonista do The Cruisers, Wendell
Newton (interpretado por Michael “Tunes” Antunes), gravara algum material
adicional com outros músicos, incluso a figura famosa de Bo Diddley. Sal convence
Eddie a seguir em frente com a sua nova banda e assim tornar público que não falecera
em 1963. É notório que o exagero nessa cena, em termos de diálogos, lembra
bastante cenas melodramáticas de séries dramáticas da TV ou mesmo as “Soap
Operas”, as novelas norte-americanas, que são reconhecidamente piegas em
excesso.
Eis que o
tal festival está prestes a iniciar-se e a intenção subliminar de Rick em
impressionar os executivos da gravadora Satin, revela-se uma bomba com
potencial jornalístico, pois estes homens reconhecem, Eddie. Uma discussão é
gerada, pois Eddie revolta-se em rever um dos sujeitos que dissera-lhe em 1963,
que o disco não era bom e que não o lançaria de forma alguma. Tal lembrança o
leva a vivenciar um surto nervoso. Ele abandona o local e refugia-se em seu
carro, a denotar uma conexão com o filme anterior, quando ele saíra em
disparada para cair em um rio e sem que o seu corpo fosse resgatado, fosse dado
como morto, a posteriori.
No entanto, a sua namorada da atualidade, Dianne
Armani (interpretada por Marina Orsini), vai atrás e faz um discurso veemente na
tentativa em demovê-lo da desistência da música, mais uma vez. E de fato, foi
novamente uma cena bastante melodramática, bem ao estilo daquelas cenas
exageradas que geralmente são mostradas isoladamente na cerimônia de entrega do
Oscar, como um portfólio individual de cada ator ou atriz indicado para o
prêmio, como a justificar a sua “grande atuação”, mas geralmente são cenas piegas
a gerar constrangimentos. Bem, Eddie pareceu impressionar-se com o discurso da sua
bela namorada e daí, resolve voltar ao palco e enfrentar não a plateia em si, e
nem mesmo os seus algozes do passado, mas sobretudo, os seus próprios demônios
internos.
Trata-se de
um festival com grande porte em uma grande Arena (essa cena foi filmada em meio
a um show real do Bom Jovi, com abertura do grupo, Skid Row, na cidade de Las
Vegas, Nevada, em abril de 1989, portanto a usar a estrutura real de um show
de Rock e a contar com uma plateia também verdadeira e disposta a colaborar com
a filmagem, na condição de figurante).
Muito bem, a banda entra com o tema: “Running
Through The Fire” e a plateia empolga-se. Eddie dá vazão à sua condição de um
Rock Star reprimido há tantos anos e empolga-se para exercer uma performance
forte. Ao final da canção, apresenta os seus companheiros pausadamente à
plateia (como costumava fazer no tempo do The Cruisers, e recurso esse mostrado
no primeiro filme), e ao final, escancara a sua identidade real ao dizer: “e
eu... sou Eddie Wilson!” O silêncio em unanimidade, a denotar que a surpresa fora
grande a todos ali presentes, é rapidamente quebrado com uma ovação, pois o
público berra em euforia : “Eddie... Eddie...Eddie”...
Eddie diz
que vai ofertar-lhes o Rock’n’ Roll e enquanto sobe os caracteres e a banda
segue com o show, o filme assim encerra-se.
Bem, como
complemento da história iniciada no primeiro filme, a sua conclusão através
desta segunda película mostra-se até simplória, pois nem de longe o clima de
mistério em termos policialescos e proposto pelo filme anterior, é alcançado. É portanto, um complemento apenas para fechar
a história como um todo, em via de regra. Como mérito, agrega-se talvez o fato
da produção mais centrada nos anos oitenta, ter sido mais fidedigna, ao contrário
do filme anterior, onde o salto temporal entre as duas ações, vividas em 1983 e
1963, deixou muito a desejar, pois na maior parte do tempo, mesmo a mostrar
ações de 1963, não transparece cristalinamente a diferença entre épocas, com
tudo a assemelhar-se a 1983, inclusive na parte musical.
Mais
econômico, “Eddie and The Crusiers II” (Eddie Lives), cumpriu o seu papel, se
analisado nesses termos. Trata-se portanto de um filme com um ar de telemovie e
que se tratado dessa forma, pode ser considerado razoável a demonstrar a
ascensão de uma banda jovem, cujo líder é um veterano mais experiente.
Entretanto, como não é possível assisti-lo desassociado do filme anterior, é
para ser encarado como um complemento, meramente.
Na parte
musical, as canções são boas, não resta dúvida, a contar novamente com o apoio
de John Cafferty and The Beaver Brown Band e alguns compositores em anexo. O
saxofonista, Michael “Tunes” Antunes, inclusive, que participa da saga de Eddie
and The Cruisers, como ator, a interpretar o saxofonista da banda, Wendell
Newton, é membro oficial da “The Beaver Brown Band”, na vida real. Desta feita,
a sonorização que no filme anterior fora muito inspirada no som de Bruce
Springsteen e a sua E-Street Band, em “Eddie and the Cruisers II” (Eddie Lives),
partiu para o som “AOR” de bandas como o Bon Jovi, por exemplo. Portanto, a
sonoridade é o Hard-Rock Pop, típico dos anos oitenta, mas a trazer no seu bojo,
bastante influência do Country-Rock, como uma boa base a ser destacada.
O filme
redundou em resultado pífio em termos de bilheteria e crítica, no entanto,
entre os admiradores da saga, conforme eu já havia alertado antes, tornou-se
cultuado. Não trata-se de uma multidão, longe disso, mas em meio a esse pequeno
nicho formado por admirados dos dois filmes a retratar a história de Eddie and
The Cruisers, existe uma paixão que revela-se até fanática, eu diria, e isso
justifica o fato das respectivas trilhas sonoras das duas películas ter alcançado
um significativo resultado de vendagem, à época, aliás, em relação ao segundo
filme de 1989, com um bom atraso para os padrões norte-americanos, visto que o
álbum somente foi colocado à venda, em 1992.
Com produção
de William Stuart, Denis Heroux e Stephane Reichel, teve a sua redação a cargo
de Charles Zev Cohen e Rick Doehring. A direção foi de Jean-Claude Lord e o
filme foi lançado em agosto de 1989.
Esta obra saiu
em versão VHS e rapidamente também em Laser Disc, uma coqueluche ao final dos
anos oitenta, mas que revelou-se um formato que rapidamente caiu em desuso. A
versão em DVD, só foi disponibilizada em 1998, e o Blu-Ray, em 2015. Na TV, o
primeiro filme dessa saga passou bastante em canais de TV a cabo, mas o segundo,
bem menos e nem é possível explicar qual teria sido o motivo alegado da parte
das emissoras por terem omitido a conclusão dessa história. Na Internet, é um dos
filmes mais difíceis para encontrar-se, talvez por conta de dificuldades impostas
pela questão do direito autoral. Nem mesmo em termos monetizados é fácil acha-lo
em portais de filmes pagos, em sua versão integral. Acha-se no entanto, muitos
fragmentos, postados como vídeoclips, ao menos no momento em que escrevi esta resenha em 2019.
Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume III, e está disponível para a leitura a partir da página 224.