segunda-feira, 31 de março de 2025

Filme: Eddie and The Cruisers II (Eddie Lives!)/Eddie and The Cruisers II (Eddie, o Ídolo Pop (Eddie Vive !) - Por Luiz Domingues

Bem, ao levar-se em consideração o final enigmático proposto pelo filme, “Eddie and the Cruisers” (Eddie, o Ídolo Pop), quando o protagonista da história, Eddie Wilson foi dado como morto, mas aparece na cena final, de uma forma incógnita a assistir a reportagem que fala exatamente da sua suposta morte, através de vários aparelhos de TV ligados na vitrine de uma loja de eletrodomésticos, ficou em aberto a possibilidade de um outro filme para garantir a sua continuidade. Aliás, mais do que isso, pode-se dizer que tornara-se uma necessidade premente, visto que não foi algo subliminar, todavia a deixar claro que a súbita revelação de que a personagem sobrevivera e estava a viver de uma forma reclusa e sem contestar a sua própria falsa morte, suscitaria uma continuidade para a história.
Entretanto, ao considerar-se também que o cinema (e a TV, igualmente), norte-americano não preocupa-se exatamente com outro valor que não seja o resultado financeiro imediato, essa insinuação para que houvesse uma continuidade lógica para tal história, não significou na prática a certeza de que tal empreendimento fosse concretizado. 
Tanto foi assim, que a tal sequência para fechar a história, somente foi ocorrer seis anos depois do lançamento do primeiro filme (1983/1989). É preciso acrescentar que essa saga sobre o cantor/guitarrista e compositor, Eddie Wilson e a sua banda, The Cruisers, nunca empolgou a crítica e nem mesmo o público verdadeiramente Rocker, mas curiosamente, tornou-se um ícone para uma fatia do público interessada em acompanhar artistas Pop-Rock da seara do dito, “AOR” (“Adult Oriented Rock”), portanto, uma camada consumidora de música mais pela superficialidade, sem ater-se aos detalhes e certamente por conta dessa e outras características incisivas, reconhecida como não formadora de opinião, pelo aspecto genuinamente cultural, pois muito pelo contrário, os marqueteiros do show businesses possivelmente consideravam-na como uma potencial massa formadora de opinião, em termos comerciais ao pensar em seu poder aquisitivo centrado na classe média.
Explicada tal particularidade, é patente que os dois filmes não são prioritários em uma lista mais seleta sobre Rock Movies, entretanto, dentro do imaginário de seus admiradores, são considerados como cultuados. Respeito essa impressão, certamente, no entanto, eu não compactuo com tal graduação e dessa forma, penso que a saga de Eddie Wilson and The Cruisers mostra-se interessante em linhas gerais, todavia, distante muitos anos luz de uma condição mais significativa a denotar ser fundamental na história dos Rock Movies. Logicamente que os dois filmes tem os seus méritos e assim como arrolei alguns deles em relação ao primeiro, cabe acréscimos nesta resenha sobre o segundo filme.
Baseado no livro: “Eddie and The Cruisers”, de PF Kluge, esta sequência mostra a continuidade da história iniciada no primeiro filme, a seguir o texto do livro. Neste caso, se no primeiro filme a ação é desenvolvida no início dos anos sessenta e a demarcar o ano de 1963, como o da suposta morte de Eddie e estabelecer um ponto futuro com 1983 (em meio aos esforços empreendidos pela repórter, Maggie Foley, interpretada por Ellen Barkin, para investigar o paradeiro dos ex-membros da banda, The Cruisers, além do misterioso desaparecimento das fitas a registrar um álbum não lançado e sobretudo, esclarecer melhor as circunstâncias sobre a morte do seu vocalista, Eddie Wilson). Pois em “Eddie and The Cruisers II” (Eddie Lives), a ação alcança a contemporaneidade dos anos 1980, e se no primeiro filme a falha em retratar os anos sessenta sem maiores cuidados, em contraste com a ação de 1983, fora gritante, desta feita tal falha inexistiu pelo simples fato da dramaturgia refletir a ação temporal em comunhão com a produção do filme, ou seja, retrata os anos 1980 e pronto.
Sobre a continuidade da história, Eddie Wilson (novamente interpretado pelo ator, Michael Paré), nesses últimos vinte anos ficara realmente recluso e adotara um novo nome, Joe West. Ele aproveitara-se da sua suposta morte ocorrida em 1963, para desaparecer e assumir a posteriori uma outra identidade na vida, longe da música, pois mostrara-se profundamente desapontado com os desmandos do show business. A atuar como um humilde trabalhador na área da construção civil, mostrara-se resignado em viver longe da música, mas eis que vem a saber que a antiga gravadora da sua banda, The Cruisers, a "Satin", relançara os discos do The Cruisers e estava a anunciar um novo álbum a conter faixas provenientes da gravação do disco que a própria gravadora recusara-se em lançar naquela ocasião, e cuja fita o próprio Eddie, em represália, escondera de todos, em sinal de protesto. Agora, a gravadora anunciara no mesmo pacote, o lançamento de um disco com o título: “Eddie Lives” (“Eddie Vive”) e isso o revolta, mesmo tantos anos depois a viver uma outra vida longe da música.
Nesse ínterim, Eddie (ou Joe, como quis ser chamado desde 1963), entre em um bar e conhece uma banda jovem que estava ali a tocar. Nessa cena, a aproximação não é amigável, no entanto, vide o clima de provocação que estabelece-se entre ele e o guitarrista, Rick Diesel (interpretado por Bernie Coulson). Isso por que Joe (Eddie), afirma ser guitarrista, mas Rick desdenha dele por não acreditar que aquele homem bem mais velho e sem usar um visual Rocker, seja de fato um músico em condições para sobrepujá-lo. 
Um clima de desafio é estabelecido entre ambos, com uma boa dose de soberba, inclusive, da parte dos dois. No entanto, Eddie, apesar de estar longe do meio musical há muitos anos, faz um solo ao estilo blues, para arrepiar, com apoio da banda e Rick rende-se às evidências ao admitir que o veterano é muito bom como guitarrista, e dessa forma, a ocasião fica propícia para que um convite seja formulado a visar que Joe reforce a banda. 
Todavia, um fato enigmático ocorrera, antes desse convite ser feito, pois ainda a estar no palco com a banda, o saxofonista, Hilton Overstreet (interpretado por Anthony Sherwood), esboça ter reconhecido a verdadeira identidade de Joe, ao insinuar em seu instrumento, a melodia de uma canção do The Cruisers, e isso irritara Joe, que sai do palco com certa truculência. 
No entanto, alheio à insinuação do saxofonista, fator que Rick nem percebera, eis que o jovem guitarrista vai atrás de Joe e faz-lhe o convite. Eddie continua o mesmo sujeito temperamental de 1963, quando fora retratado no filme anterior. Arrogante e presunçoso por natureza, embora talentoso, reconhecidamente, não amenizou o seu discurso ao longo dos anos em que manteve-se recluso e resignado em não ser mais um reconhecido Pop Star. Ele aceita integrar o “Rock Solid”, banda formada por tais jovens e certamente assume uma liderança indisfarçável, doravante.
A banda realiza uma turnê modesta por casas de pequeno porte, até que surge uma oportunidade para algo maior e que empolga o jovem guitarrista, Rick Diesel. Uma produtora sinaliza com um festival, no entanto com a condição sine qua non da banda ter que previamente passar para um teste de avaliação e Joe (Eddie) fica possesso ao denotar que o seu gênio incontrolável em choque com os seus traumas arraigados, mostravam-se como ingredientes explosivos, para piorar a perspectiva do protagonista. Nesse ínterim, o saxofonista, Hilton Overstreet, usa da sinceridade e em um tom firme, revela conhecer a identidade real de Joe e nesses termos, conclama Eddie e não o Joe, a não desperdiçar novamente a oportunidade na carreira musical, ao denotar conhecer bem a sua triste história marcada pelas perdas. Eddie cede em sua determinação e diz aceitar a proposta, desde que a banda empenhe-se em um período de ensaios realizados com a observação do foco.
Nesse ínterim, a gravadora Satin faz uma campanha para provar que Eddie está vivo, como esforço a promover o pacote de discos que relançou do “The Cruisers” e certamente em especial ênfase ao inédito: “Eddie Lives”, que contém o material resgatado de 1963. E também ocorre que um pesquisador prova que o ícone cinquentista da vida real, Bo Diddley, participara da gravação do álbum rejeitado de 1963, portanto, um fator a mais para valorizá-lo.
Rick Diesel, inocentemente manda uma mensagem para a gravadora Satin, a dizer que o vocalista de sua banda, Rock Solid, é parecido fisicamente com Eddie Wilson. A sua intenção fora outra, certamente a denotar apenas que desejara angariar algum tipo de simpatia da gravadora por um fato secundário, no entanto sem mensurar a confusão que tal ato poderia gerar, pois Joe West é na verdade, Eddie Wilson em pessoa.
A banda submete-se ao teste musical para ser aprovada em seguida. Ao mesmo tempo em que os seus companheiros ficam contentes com a perspectiva, Joe (Eddie), fica muito preocupado, pois sabe que o seu segredo será revelado quando da participação da banda nesse festival. Ele então resolve procurar o seu velho companheiro do The Cruisers, o baixista, Sal Amato (interpretado por Matthew Laurance, como no primeiro filme) e nesse encontro que ocorre em um praia em New Jersey, acontece um momento tenso, pois em primeiro lugar, Sal fica muito abalado por verificar que a lenda urbana alimentada por vinte anos, confirmara-se, com a figura de Eddie ali à sua frente, vivo. 
E em segundo lugar, por conta de Sal sentir-se traído por conta dessa mentira vivida por Eddie em torno de sua falsa morte e principalmente pelas consequências de tal farsa, com o fim da banda e o disco inacabado, cuja fita fora escondida. O diálogo ameniza-se finalmente, com Sal e Eddie enfim a reconhecer que problemas a parte, ambos estavam felizes pelo reencontro, mas Sal insiste em saber a verdade sobre a fita escondida. Eddie revela ao seu ex-companheiro de banda que não apenas roubara as fitas do estúdio, como em conluio com o falecido saxofonista do The Cruisers, Wendell Newton (interpretado por Michael “Tunes” Antunes), gravara algum material adicional com outros músicos, incluso a figura famosa de Bo Diddley. Sal convence Eddie a seguir em frente com a sua nova banda e assim tornar público que não falecera em 1963. É notório que o exagero nessa cena, em termos de diálogos, lembra bastante cenas melodramáticas de séries dramáticas da TV ou mesmo as “Soap Operas”, as novelas norte-americanas, que são reconhecidamente piegas em excesso.
Eis que o tal festival está prestes a iniciar-se e a intenção subliminar de Rick em impressionar os executivos da gravadora Satin, revela-se uma bomba com potencial jornalístico, pois estes homens reconhecem, Eddie. Uma discussão é gerada, pois Eddie revolta-se em rever um dos sujeitos que dissera-lhe em 1963, que o disco não era bom e que não o lançaria de forma alguma. Tal lembrança o leva a vivenciar um surto nervoso. Ele abandona o local e refugia-se em seu carro, a denotar uma conexão com o filme anterior, quando ele saíra em disparada para cair em um rio e sem que o seu corpo fosse resgatado, fosse dado como morto, a posteriori. 
No entanto, a sua namorada da atualidade, Dianne Armani (interpretada por Marina Orsini), vai atrás e faz um discurso veemente na tentativa em demovê-lo da desistência da música, mais uma vez. E de fato, foi novamente uma cena bastante melodramática, bem ao estilo daquelas cenas exageradas que geralmente são mostradas isoladamente na cerimônia de entrega do Oscar, como um portfólio individual de cada ator ou atriz indicado para o prêmio, como a justificar a sua “grande atuação”, mas geralmente são cenas piegas a gerar constrangimentos. Bem, Eddie pareceu impressionar-se com o discurso da sua bela namorada e daí, resolve voltar ao palco e enfrentar não a plateia em si, e nem mesmo os seus algozes do passado, mas sobretudo, os seus próprios demônios internos.
Trata-se de um festival com grande porte em uma grande Arena (essa cena foi filmada em meio a um show real do Bom Jovi, com abertura do grupo, Skid Row, na cidade de Las Vegas, Nevada, em abril de 1989, portanto a usar a estrutura real de um show de Rock e a contar com uma plateia também verdadeira e disposta a colaborar com a filmagem, na condição de figurante). 
Muito bem, a banda entra com o tema: “Running Through The Fire” e a plateia empolga-se. Eddie dá vazão à sua condição de um Rock Star reprimido há tantos anos e empolga-se para exercer uma performance forte. Ao final da canção, apresenta os seus companheiros pausadamente à plateia (como costumava fazer no tempo do The Cruisers, e recurso esse mostrado no primeiro filme), e ao final, escancara a sua identidade real ao dizer: “e eu... sou Eddie Wilson!” O silêncio em unanimidade, a denotar que a surpresa fora grande a todos ali presentes, é rapidamente quebrado com uma ovação, pois o público berra em euforia : “Eddie... Eddie...Eddie”...
Eddie diz que vai ofertar-lhes o Rock’n’ Roll e enquanto sobe os caracteres e a banda segue com o show, o filme assim encerra-se.
Bem, como complemento da história iniciada no primeiro filme, a sua conclusão através desta segunda película mostra-se até simplória, pois nem de longe o clima de mistério em termos policialescos e proposto pelo filme anterior, é alcançado. É portanto, um complemento apenas para fechar a história como um todo, em via de regra. Como mérito, agrega-se talvez o fato da produção mais centrada nos anos oitenta, ter sido mais fidedigna, ao contrário do filme anterior, onde o salto temporal entre as duas ações, vividas em 1983 e 1963, deixou muito a desejar, pois na maior parte do tempo, mesmo a mostrar ações de 1963, não transparece cristalinamente a diferença entre épocas, com tudo a assemelhar-se a 1983, inclusive na parte musical.
Mais econômico, “Eddie and The Crusiers II” (Eddie Lives), cumpriu o seu papel, se analisado nesses termos. Trata-se portanto de um filme com um ar de telemovie e que se tratado dessa forma, pode ser considerado razoável a demonstrar a ascensão de uma banda jovem, cujo líder é um veterano mais experiente. Entretanto, como não é possível assisti-lo desassociado do filme anterior, é para ser encarado como um complemento, meramente.
Na parte musical, as canções são boas, não resta dúvida, a contar novamente com o apoio de John Cafferty and The Beaver Brown Band e alguns compositores em anexo. O saxofonista, Michael “Tunes” Antunes, inclusive, que participa da saga de Eddie and The Cruisers, como ator, a interpretar o saxofonista da banda, Wendell Newton, é membro oficial da “The Beaver Brown Band”, na vida real. Desta feita, a sonorização que no filme anterior fora muito inspirada no som de Bruce Springsteen e a sua E-Street Band, em “Eddie and the Cruisers II” (Eddie Lives), partiu para o som “AOR” de bandas como o Bon Jovi, por exemplo. Portanto, a sonoridade é o Hard-Rock Pop, típico dos anos oitenta, mas a trazer no seu bojo, bastante influência do Country-Rock, como uma boa base a ser destacada.
O filme redundou em resultado pífio em termos de bilheteria e crítica, no entanto, entre os admiradores da saga, conforme eu já havia alertado antes, tornou-se cultuado. Não trata-se de uma multidão, longe disso, mas em meio a esse pequeno nicho formado por admirados dos dois filmes a retratar a história de Eddie and The Cruisers, existe uma paixão que revela-se até fanática, eu diria, e isso justifica o fato das respectivas trilhas sonoras das duas películas ter alcançado um significativo resultado de vendagem, à época, aliás, em relação ao segundo filme de 1989, com um bom atraso para os padrões norte-americanos, visto que o álbum somente foi colocado à venda, em 1992.
Com produção de William Stuart, Denis Heroux e Stephane Reichel, teve a sua redação a cargo de Charles Zev Cohen e Rick Doehring. A direção foi de Jean-Claude Lord e o filme foi lançado em agosto de 1989.

Esta obra saiu em versão VHS e rapidamente também em Laser Disc, uma coqueluche ao final dos anos oitenta, mas que revelou-se um formato que rapidamente caiu em desuso. A versão em DVD, só foi disponibilizada em 1998, e o Blu-Ray, em 2015. Na TV, o primeiro filme dessa saga passou bastante em canais de TV a cabo, mas o segundo, bem menos e nem é possível explicar qual teria sido o motivo alegado da parte das emissoras por terem omitido a conclusão dessa história. Na Internet, é um dos filmes mais difíceis para encontrar-se, talvez por conta de dificuldades impostas pela questão do direito autoral. Nem mesmo em termos monetizados é fácil acha-lo em portais de filmes pagos, em sua versão integral. Acha-se no entanto, muitos fragmentos, postados como vídeoclips, ao menos no momento em que escrevi esta resenha em 2019.

Esta resenha foi escrita para fazer parte do livro "Luz; Câmera & Rock'n' Roll" em seu volume III, e está disponível para a leitura a partir da página 224.

domingo, 16 de março de 2025

Livro: Poemas Dissidentes/Willba Dissidente - Por Luiz Domingues

Na apresentação da sinopse do livro, contido na contracapa dessa obra, o autor descreve muito bem a sua intenção, influências e ao ir além, demonstra claramente o seu inconformismo com o rumo que a humanidade está a trilhar, perigoso ao extremo e daí, artista sensível que o é, mostra através de sua criação, toda a sua angústia, preocupação e consequentemente, abre trincheira para combater tais valores tão equivocados que fatalmente levarão a humanidade para a sua autodestruição.

"Poemas Dissidentes" é um livro de poesias e se mostra eclético na forma de se expressar, pois não obstante o fato do autor declarar abertamente que é influenciado pela escola do ultrarromantismo, movimento forte e oriundo do século XIV, há o seu lado muito mais ligado à euforia explosiva gerada pelo Rock do século XX, a contrabalançar o seu estilo e isso certamente enriqueceu a sua abordagem. Cabe explicação ante tais nuances aparentemente divergentes entre si e logo ficará claro ao leitor, aonde eu quero chegar.

O fato é que o autor desta obra, Willba Dissidente, além de ser poeta (ele também tem a graduação de ciências sociais e atua como professor), é um ativista cultural muito forte no campo do Rock brasileiro, sendo resenhista de discos & shows, entrevistador, blogueiro, radialista e também apresentador como mestre de cerimônias de shows de Rock por todo o Brasil. Nesses termos, a sua paixão pela música e pelo Rock em específico, dado o seu envolvimento umbilical com tal vertente artística, é total e naturalmente que isso se reflete explicitamente na sua poesia.  

Diante disso, os trâmites clássicos do ultrarromantismo estão muito presentes na poesia de Willba Dissidente, pois há o elemento do pessimismo em torno de uma tomada de posição oposta à atual mentalidade vigente dos líderes de nações poderosas, porém muito equivocadas na sua arrogância sem limites, por exemplo. Há também a romantização ao extremo da projeção do amor entre homem e mulher através do exagero sentimental, mas lhes asseguro, é questão de estilo e por conseguinte não se trata de algo demasiado à obra.

Outros elementos clássicos do ultrarromantismo, tais como o egocentrismo e os escapes da realidade seja pelo aspecto onírico e/ou delirante ou pela via da metafísica ao experimentar o contato com outra realidade extra material se faz presente de uma forma mais discreta, e nesse ponto, é interessante como a outra influência que Willba tem no seu âmago, se mostra como uma força antagônica em tese, porém, a se mostrar devidamente amalgamada de uma maneira muito feliz e dessa forma, a produzir um contraponto e ao mesmo tempo, a denotar haver uma espécie de estilo único para o autor.

E o Rock entra nessa composição estilística pelo viés da pura emoção, expressa por poesias que aludem até à vibração das frequências produzidas pela eletrificação dos instrumentos, euforia que abre caminho para movimentar uma força motriz irresistível a mover a juventude para frente, a buscar a vanguarda na sociedade, ao menos em tese, pois nos dias atuais o autor tem verificado tendências bem equivocadas nessa prerrogativa e se desaponta com tal rumo, até entre os Rockers. Há de se destacar que o seu lado sociólogo lhe garante muita substância teórica para notar tal descalabro social e portanto, isso se expressa sutilmente também na sua poesia.

Como primeiro trabalho impresso, a obra é bem curta na sua composição, no entanto, Willba Dissidente deixou nas entrelinhas que outras virão, e que naturalmente a sua mensagem haverá de ter uma maior expansão.

Sobre a apresentação gráfica da obra, a ilustração mostra um homem a caminhar rumo ao horizonte que lhe surge através de um livro aberto em clara alusão ao próprio livro, ou seja, a usar da metalinguagem. A metáfora da busca de um caminho é explícita e certamente que a poesia é um meio pelo qual o escape imaginado do autor se deu. A presença de um inseto de tamanho irreal pelo caminho, a sugerir o realismo fantástico como recurso estilístico, dá a entender que o atual panorama do mundo não esteja nem um pouco aceitável, a denotar um cenário apocalíptico, no entanto, a representação do homem a se afastar desse cenário é bem clara no sentido de buscar o caminho diametralmente oposto.

Destaco alguns poemas para ilustrar aqui.

Em "Pensamento epistemológico do poema", o autor abre a sua carta de intenções de uma forma incisiva, veja uma estrofe que exemplifica tal afirmativa que eu fiz:

"Este livro que seguras fala sobre desgraça/Pois é seguro que não vou sofrer de graça/Pois de tudo que eu pensei e sofri/Algo a vós pensei e escrevi".

Já em "Vicissitude imperfeita da perfeição", Willba Dissidente afirmou:

"Perfeita é a imperfeição/Na irracional busca por razão/Pois no perfeito só há uma explicação".

Em "O Movimento", a decepção com a falta de um consenso geral a movimentar a força coletiva se faz presente:

"O movimento era total mentira/"E todo mundo o sabia/Que ele não se mexia/A pequenez de seus integrantes refletia".

E como eu aludi anteriormente, a música atinge as entranhas do autor e ele a usa como combustível para viver. Veja o primeiro verso de "Quando a música te tocar":

"Música que enquanto toca, te toca/Em cada dedilhado, ficas emocionando/A palheta que quando toca/Cada emoção evoca".

"Baixo" é uma referência explícita ao instrumento, um dos pilares dentro da configuração de uma banda de Rock. E neste caso, o autor demonstra todo o seu apreço pela sua atuação no contexto da música:

"Esse som que me estoura no peito/O ritmo que me deixa desse jeito/É grave, não agudo/Em quatro cordas eu sinto tudo".

"Meu Caju" é dedicado a um senhor que já não se encontra mais entre nós, chamado: Agenor de Miranda Araújo Neto, popularmente conhecido como: "Cazuza". Willba Dissidente mostra a sua admiração por tal artista da seguinte forma:

"Se ao Rock da descerebração pudermos sobreviver/Como um par na contramão da solidão iremos fugir".

Sobre "Guerreiro, Vagabundo, Poeta e Rei", esta poesia se trata de uma homenagem explícita ao baixista e vocalista da banda de Rock irlandesa Thin Lizzy, o saudoso Phil Lynnot. Eis o que Will Dissidente expressa:

"Muitas coisas você foi/Assim sem perceber/E sem nem saber/Que minha inspiração é você". 

Na página seguinte, outra homenagem é feita para outra personalidade forte da história da história do Rock: Jim Morrison o grande "Rei Lagarto", vocalista, compositor e também poeta, membro do grande grupo de Rock dos anos sessenta: The Doors

Em "Tão baixo que estou por cima", eis alguns versos e desta feita a realçar de novo a sua verve dentro do ultrarromantismo:

"Meu poeta/Diga a todas as pessoas/Que o futuro é incerto/E o fim está sempre perto".

O universo das histórias em quadrinhos, os ditos "comics" e a literatura fantástica de terror marcam presença, quando o autor dedica inicialmente um poema ao autor britânico, Michael Moorcock, que nos anos setenta escreveu diversos romances a descrever a saga do personagem Corum Jhaelen Irsei, naquele realismo fantástico permeado por magia e aventuras com insinuação de ambientação medieval.

Eis a sua ode ao personagem citado e por extensão, ao seu criador, através do poema,"Lamento no castelo de Erorn": 

"Após o etnocídio, Corum aprendera a chorar/Após o etnocídio, Corum aprenderá a matar/Após o etnocídio, Corum vingança buscará/A saga de outro campeão eterno começará".

E sobre a literatura do aclamado autor estadunidense, Stephen King, há uma dupla homenagem, pois Willba Dissidente também menciona o escritor galês, Arthur Machen, autor de muitos livros de terror no século XIX (trata-se do autor do livro: "O Grande Deus Pã" entre outros tantos), e que influenciou Stephen King e neste caso, Willba Dissidente se mostra influenciado por ambos. Eis um trecho do poema:  

"O reflexo era a chave e a saída, sua prisão/Insanidade e dor causava a mera visão".

E assim, permeado por referências, que vão do estilo ultrarromântico dentro do século XIX ao Rock, da literatura fantástica à do terror, Willba Dissidente nos presenteou com um bom livro de poesias em pleno século XXI a misturar tudo isso e abre caminho para esperarmos mais obras em um futuro vindouro.

Eis a versão áudio Book disponibilizada no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ehy1PxxIZ58&t=1s

Há de se salientar que a obra também está disponível nas versões "e-book" e "áudio livro". Disponibilizo o QR Code mais abaixo mediante a ficha técnica da obra.

Livro "Poemas Dissidentes"

Autor: Willba Dissidente
Revisão gramatical e diagramação: Willba Dissidente
Arte de capa e lay-out final: Silvinho Tatoo
Locução do áudio-book: Rafael Lourenço (gravado no Braia Studios)
Lançamento em 2024

Para conhecer mais sobre o trabalho de Willba Dissidente, acesse:

Blog Rock Dissidente:
https://rockdissidente.blogspot.com/

Facebook:
https://www.facebook.com/RockDissidemte

Instagram:
https://www.instagram.com/rock_dissidente/

YouTube:
https://www.youtube.com/@WillbaDissidente

sábado, 1 de março de 2025

CD Confusão/A Quadrilha - Por Luiz Domingues

Banda preocupada em resgatar os valores do Hard-Rock clássico dos anos setenta e oitenta, mas aberta a abraçar aspectos modernos do estilo outras vertentes do Rock, igualmente, "A Quadrilha" tem outros valores agregados além desses citados para fazer dela uma banda consistente sob o ponto de vista musical e ao mesmo tempo, eclética.

Por exemplo, a determinação explícita de se colocar como uma banda que valoriza e se orgulha da sua origem, eu interpreto como uma grande virtude agregada. E tal postura vai além da autoestima, pois a realidade da periferia ao se falar sobre o que acontece nos extremos da zona leste de São Paulo, representa um poderoso caldo cultural que a banda expressa nas suas letras, mediante conteúdo contundente.

Outro mérito d'A Quadrilha é certamente a sua qualidade musical, que é devidamente assegurada através de seus componentes, todos ótimos músicos. 

O fato de uma banda ter bons instrumentistas e cantores, não significa que automaticamente haja um poder de criação criativo, pois não basta tocar bem e estudar teoria musical com dedicação para garantir composições inspiradas, no entanto, eis aí mais um mérito d'A Quadrilha, pois as composições são muito boas na sua concepção, ou seja, os rapazes também são bons compositores, letristas e arranjadores.

E mais um dado importante, a banda se preocupa com o seu produto, pois caprichou bastante na concepção do áudio, ao gravar o seu disco em um estúdio de alto padrão, sob a supervisão de um grande amigo meu que especializou-se para ser produtor e além do mais, cercou-se de técnicos do maior gabarito, portanto, toda a engenharia de áudio foi meticulosa para fazer do CD "Confusão", um álbum muito bem gravado, mixado e masterizado.

Finalmente a se destacar, o aparato visual também recebeu bastante atenção da parte da banda. Sob uma ilustração muito criativa, a carregar inclusive, uma forte dose de alusões na sua concepção geral, trata-se de uma arte de capa a conter beleza estética enquanto traços de desenho, bom gosto no escolha das cores pelo ponto de vista da pintura e como eu já mencionei, forte ao trazer a metáfora urbana e perfeitamente condizente com a proposta artística da banda.

Há um bom encarte incluso sob versão digipack, a conter as letras das canções, além da ficha técnica generosa, porém, sem fotos da banda, nem que fosse uma promocional ao menos, o que teria sido bom na minha visão, mas por outro lado, creio que foi uma opção deliberada dos artistas, a demarcar um conceito.

Sobre as músicas, vale a pena me alongar um pouco mais.

"Ansiedade" abre o álbum. Ouça abaixo enquanto lê esta resenha:

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=TiT6kSyTFYo

Sob uma bela introdução de piano, o riff inicial entra com forte apelo Hard-Rock e por que não(?), insinua o Prog-Rock, pois o apoio do órgão Hammond e o bom uso de caixa leslie na guitarra inevitavelmente remete ao Rock Progressivo dos anos setenta.

Impressiona o poderio de alto calibre da "cozinha", com uma firmeza gigantesca, ou seja, a solidez é enorme e as respectivas linhas criadas pelo baixista Fabio Rodriguez e pelo baterista Marcelo Ribeiro, são de muito bom gosto e tudo sob um esmerado trabalho de produção, pois os timbres impressionam. Todas as intervenções de guitarras de Artur Lacerda são excelentes e claro que o meu amigo que produziu o disco e tocou teclados, trouxe uma contribuição espetacular, o que não me surpreende pois o conheço há décadas e fui companheiro dele através de duas bandas pelas quais atuamos juntos, inclusive. 

E cabe destacar a voz rasgada de Fabiano Sá, com uma rouquidão bem peculiar que lhe serve como uma marca pessoal muito interessante. Ele canta com muita convicção, o que é um adendo muito bom em termos de interpretação e quando o artista canta visceralmente, a acreditar no que canta, a música ganha muito mais força, naturalmente. 

"Confusão", canção homônima ao nome do álbum, vem a seguir.

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=gWk6XAnS8ZU

Mediante um riff forte que lembra bastante o trabalho de algumas bandas setentistas que praticavam uma linha Hard-Rock mais áspera, tal tema tem na sua condução rítmica uma força extraordinária. O Rock Progressivo é insinuado em alguns trechos, a borrifar um sopro muito rico nesse arranjo.

Gostei bastante do arranjo das guitarras perpetrado por Artur Lacerda, incluso estratégicos duetos abertos em harmonia, muito bem colocados no decorrer da música, e com a observação de se evitar repetições, portanto a parcimônia foi muito bem calculada.  

"O Caminho certo", é a terceira música do CD.

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=HTTSb80xC1E

Nesta música, a veia do Hard-Rock oitentista fica proeminente, pois a presença do "Golpe de Estado" como uma inspiração é explícita e saudável no sentido de que A Quadrilha sempre foi fã do time formado por Aguirra-Brito-Zinner-Catalau.  

Bem ao estilo de uma mescla de Hard-Rock com balada mais swingada, a música flui com muito balanço e peso simultaneamente. E mais uma vez a letra direta que é proposta, dá margem para o que o vocalista Fabiano Sá converse coloquialmente com o ouvinte, ou seja, ele usa a mesma boa estratégia que Catalau soube usar com maestria nos anos oitenta e noventa, a bordo do "Golpe de Estado".

"Corra e não faça de conta que não é com você/veja sua vida passando, você não pode perder", diz um trecho da letra e o recado é absolutamente direto, como um conselho sincero da parte de um amigo leal que realmente deseja o seu bem-estar. 

"Sem tempo a perder", vem a seguir.

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=4Sz0fJROlnQ


Hard-Rock bem mais moderno e pesado, lembra o som do
Golpe de Estado pós-anos 2000, sem dúvida. São ótimos os riffs e as convenções bem concatenadas, além da bateria sob ritmo acelerado e a conter muitas viradas extremamente bem feitas.

Com um solo de guitarra poderoso e baixo igualmente muito bem tocado, há um cuidado no tratamento do áudio mediante timbres espetaculares, e sendo assim, este tema também chama a atenção.

"No fio da navalha" é a próxima faixa e tem o blues como mote central, mas sob uma roupagem Hard-Rock e concepção moderna.

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=NyswRkESyYA

A rouquidão na voz de Fabiano Sá lembra bastante a linha vocal de Nasi a bordo dos "Irmãos do Blues" e assim ele avança com um tipo de interpretação super urbana do Blues, a insinuar elementos subliminares contidos nos conceitos do teatro marginal e na literatura beat, a convergir para uma mesma direção.

"Tarde demais" é a sexta faixa do CD.

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Npk2J9RNeN0

O Blues-Rock surge com força. Claro, a roupagem é Hard-Rock na pegada, no entanto, o piano de saloon aparece para trazer o elemento clássico do gênero e enriquece essa dual maneira de atuação.

É bem bacana o solo de guitarra, melódico e com uma pitada Southern-Rock deveras interessante.

"Submundo" é a próxima canção.

Eis o link para escutar a música:
https://www.youtube.com/watch?v=2zziFsI3lEo


Essa faixa é bem versada pela estética dos anos oitenta, a lembrar o som do "
Barão Vermelho" em alguns aspectos. Com uma proposta de baixo e bateria na condução super linear das partes vitais do mapa da música, é uma peça típica para levantar o público em shows com grandes multidões, ou seja, evoca a estética "AOR" para ser usada em estádios de futebol lotados.

"Formação de quadrilha" é a oitava faixa do álbum.

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=2DU9demu6kI

Eis um tema com forte influência da linha Jazz'n' Blues, a lembrar uma banda de Rock que se liga no som de New Orleans, o que se mostra salutar. Mas não é uma imersão explícita, pois o elemento Hard-Rock se faz presente o tempo todo em termos de peso.

Na letra, a brincadeira estabelecida com o próprio nome da banda é criativa. No trecho: "Essa não é uma banda normal/não vá cair na armadilha/juntando todo esse pessoal/ já configura formação de quadrilha", isso fica explícito. Neste caso, trata-se de uma ótima gangue a trabalhar em prol do Rock, eu afirmo.

"Praça da Paz", é a nona canção do disco.

Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hFWGyEv_b3o


Mediante riff e convenções bem típicas dos anos 1970, mas com uma pegada oitentista, lembrou-me mais uma vez o trabalho do "
Golpe de Estado", mas com influência do "Deep Purple", praticamente explícita. Claro, fica a ressalva que se trata de uma impressão pessoal minha e talvez a banda nem tenha se inspirado em tais artistas que eu citei.

E assim, o tema se mostra vigoroso, com ótima intervenção de todos os instrumentos, com direito a momentos de brilho individual para cada um ao longo do tema e tudo feito com muito bom senso, a favor da música, sempre. 

"Recado para a morte" fecha o trabalho.

Eis o link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LkgUHEBItl8


No melhor estilo do slow-blues a mostrar uma densidade forte, esse tema abre caminho para um belo solo de guitarra, amparado pelo processamento de seu áudio feito com maestria.

A melancolia expressa na letra e na sua consequente forma de interpretação, dá a dose certa de carga emocional para que Fabiano Sá mergulhe no Blues mais soturno, a lembrar mais uma vez o trabalho de "Nasi & Os Irmãos do Blues" e assim, a canção soa forte.

Para encerrar, reforço a ideia de que "A Quadrilha" é uma banda que valoriza muito as suas raízes e assim, tem tocado muito pelos bairros mais periféricos da zona leste de São Paulo, como uma forma de valorizar a cultura local, no sentido de se colocar como um grupo fortemente comprometido com o ativismo cultural e isso é notável.

Porém, é também uma banda da cena geral e pronta para atuar em qualquer outro lugar e aliás, esse grupo merece toda a expansão possível pelo ótimo trabalho que desenvolve. 

Faltou falar que o meu amigo que tocou atuou como músico convidado, foi também o produtor do disco: Marcello Schevano.  

A Quadrilha:

Fabiano Sá: Voz
Artur Lacerda: Guitarra
Fabio Rodriguez: Baixo e guitarra
Marcelo Ribeiro: Bateria

Músico convidado:
Marcello Schevano: Piano, órgão Hammond, violão e backing vocals

CD "Confusão"
Gravado, mixado e masterizado no estúdio Orra Meu - São Paulo - Entre 2022 e 2023
Mixagem por Gustavo Barcellos
Masterização por José Maron
Arte de capa/encarte: Juh Leidl
Foto: Um pouco mais de arte
Produção por Marcello Schevano
Lançamento em 2023
Orra meu discos

Para conhecer melhor o trabalho da banda, acesse:

Facebook:
https://www.facebook.com/QuadrilhaBanda

Canal de YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCCeqmfDgNzlsYvNiCHKNH6A

Contato direto com a banda:
quadrilhasp@gmail.com