segunda-feira, 15 de abril de 2024

CD: Travel to the Northern Lands (Live in USA)/Stringbreaker & The Stuffbreakers - Por Luiz Domingues

Banda vigorosa e da qual eu já tive o prazer de resenhar três álbuns de estúdio anteriores lançados por ela, eis que chegou às minhas mãos um trabalho ao vivo do "Stringbreaker and the Stuffbreakers", gravado em meio a uma longa turnê cumprida nos Estados Unidos, através de muitas cidades dos estados de Ohio, New Jersey e também em Nova York, durante o mês de agosto de 2019.

Somente pelo fato de uma banda brasileira de Rock, versada por tradições setentistas e a adotar a linha instrumental como forma de expressão, ter feito uma turnê tão bacana, já seria um feito e tanto, mas conhecedor do trabalho dessa banda e sobretudo por ser um admirador confesso de sua forma exuberante, eu tinha certeza de que representaria muito bem o nosso Rock tupiniquim por lá e não haveria nenhuma hipótese de haver qualquer disposição em contrário.

Bingo...ao escutar o álbum, a constatação óbvia para a minha percepção pessoal não apenas se confirmou, como trouxe acréscimo, no sentido de que a performance da banda ao vivo contém o elemento da adrenalina que sai por todos os poros de qualquer alto falante que o ouvinte usar para degustar tal trabalho.

Mediante aquele clima de disco ao vivo, esse registro mantém a certeira carga de andamento de cada canção a fazer uso de um pouco mais de aceleração, o que é sensacional para qualquer disco ao vivo que se preze, ou seja, a imprimir a devida dose de adrenalina do fator "ao vivo" na performance e o trio solta a mão com uma garra incrível, a lembrar os bons tempos de Beck; Bogert & Appice e Cream, só para citar dois exemplos dentre os grandes, que detinham na performance ao vivo o seu maior trunfo e certamente que o Stringbreaker & the Stuffbreakers segue essa cartilha com grande desenvoltura.

Sobre o áudio, ele é excelente no sentido de que foi capturado através de um sinal "LR" sem maiores requintes na captura inicial, portanto, soa como um "bootleg", porém, o tratamento de pré-produção que recebeu foi sensacional, no sentido de garantir haver um padrão excelente ao se considerar essa circunstância especial da sua captura inicial de gravação. Mais do que isso, dá para ouvir tudo com ótima percepção dos timbres dos instrumentos, portanto, é aquele tipo de "bootleg" de luxo como se diz entre os colecionadores.

Fica sim aquela sensação de reverber de grande amplitude em alguns momentos, e os cortes bem justos entre algumas faixas denota que a mixagem teve que operar verdadeiros "milagres" como trabalho de pós-produção para coibir ruídos indesejáveis e afins, e por isso também merece os parabéns pelo esmero.

Sobre a capa do disco, "Travel to the Northern Lands" (Live in USA), gostei muito da sua boa ideia elaborada ao mostrar a águia, símbolo daquela nação a voar com a sua bandeira ao fundo e em seu bico a carregar um detalhe contido na ilustração da gravata que segura um tijolo, ou seja, desenho que simboliza o álbum: "Brick in a Tie" lançado pela banda em 2019.

Abro parêntese para convidar os leitores para que leiam também as resenhas sobre alguns dos álbuns anteriores lançados pelo Stringbreaker & the Stuffbreakers que eu preparei e publiquei no meu Blog 1:

Sobre o primeiro disco, homônimo:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2015/07/stringbreaker-and-stuffbreakers-por.html

Sobre o CD Rebreaker
http://luiz-domingues.blogspot.com/2018/11/cd-rebreaker-stringbreaker.html

Sobre o CD Brick in a Tie:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2019/05/cd-brick-in-tie-stringbreaker.html

A respeito das canções apresentadas no disco, como já tive a oportunidade de analisar quase todas ao longo de resenhas anteriores pelo fato de tais peças constarem nos álbuns de estúdio, não cabe repetição de análise nesse aspecto. 

Por se tratar de versões ao vivo de tais peças, o que vale a pena acrescentar é na verdade algo que eu já mencionei anteriormente nesta mesma resenha, ou seja, a extrema boa forma da banda ao se apresentar ao vivo com perfeição e claro, a acrescentar aquela empolgação ao vivo que é vital e neste caso, mediante um grau de energia muito grande.

Para escutar esse trabalho na íntegra, o leitor/ouvinte pode acionar a plataforma Spotify:

https://open.spotify.com/intl-pt/album/18IpxPhWEHOhICHxUNcxof?flow_ctx=960e8ef6-bafb-4da2-9e9a-14f3857d8754%3A1705743343

Eis o repertório contido no álbum:
1) Acts of desperate men
2) Groove party
3) Eventide
4) Travel at the southern lands
5) The long and short of it
6) Stuttering five (Mike's song)
7) A 8ª música mais triste do mundo
8) Lenny (Stevie Ray Vaughan tribute)
9) Área 78
10) Tuxedo run over
11) St. Patrick aerostat
12) Under two color sky
13) Unwearing

Para encerrar, eis mais um ótimo trabalho perpetrado por essa excelente banda e desta feita a nos apresentar um apanhado muito bom de como soa ao vivo, a manter a sua extrema qualidade como uma praxe e a acrescentar a energia ao vivo muito intensa.

Ficha técnica:
CD "Travel to the Northern Lands" (Live in USA) - Stringbreaker & the Stuffbreakers
Guilherme Spilack: Guitarra
Dilson Siud: Baixo
Sérgio Ciccone: Bateria
Gravado ao vivo entre 8 e  31 de agosto de 2019 em cidades dos estados de Iowa, New Jersey e Nova York
Arte de capa: Ricardo Bancalero
Produção da tour nos Estados Unidos: Mike Lemke
Apoio especial em Nova York: Silent Brew Records
Técnico de Mixagem e masterização: Guilherme Spilack
Produção geral: Stringbreaker & the Suffbreakers


Para conhecer ainda mais o trabalho da banda, acesse:

Entrevista específica sobre o disco "Travel to the Northern Lands" (Live in USA), concedida ao Blog 2120: 

http://furia2112.blogspot.com/2019/11/entrevista-stringbreaker-stuffbreakers.html

Canal do You Tube:
https://www.youtube.com/channel/UC3mWA2SwUoApaKsXe4tPRKg

Página do Facebook:
https://www.facebook.com/StringBreakerRock/

Site:
http://www.stringbreakerrock.com/?fbclid=IwAR2sFoYm56rgqQKnEGq_jLv_o9LDD8OzMF2VD6_xOHHK_VX-MFigNnfbuYM

Contato direto com a banda:
info@stringbreakerrock.com

sábado, 30 de março de 2024

Livro: Os Zeppelins nos Céus do Brasil/Cristiano Rocha Affonso da Costa - Por Luiz Domingues

Uma parte importante da história da aviação brasileira e pode-se afirmar, também mundial, é pouco conhecida, a se tratar da implantação da primeira linha aérea transoceânica do mundo, que ligou o Brasil e a Alemanha, na década de trinta.

Parece algo inacreditável, mas sim, isso ocorreu principalmente entre 1930 e 1937, com os voos a se tornarem regulares entre as duas nações, através do uso dos dirigíveis, ou como popularmente se tornou mais conhecido como denominação: os "Zeppelins".

Essa lacuna a ignorar um fato tão relevante da história e seus múltiplos desdobramentos, precisava de um estudo profundo e este livro, "Os Zeppelins nos céus do Brasil" veio para suprir inteiramente tal tarefa. Escrito por Cristiano Rocha Affonso da Costa, um autor que contém tarimba como escritor de muitos livros extremamente bem escritos e além de tudo, se destaca pela sua atuação no campo da história e geografia, como um pesquisador muito minucioso.

Portanto, através de suas páginas ricamente ilustradas, recheadas de informações técnicas e culturais a abordar os inúmeros aspectos que cercam tal atuação dos "Zepellins", o texto foi escrito de uma maneira magnífica, e assim a provocar muitas reflexões ao leitor, ou seja, somos induzidos a levar em conta inúmeros aspectos correlatos, tais como: ao pensarmos na parte técnica dessa engenharia aérea, por exemplo, que avanço incrível foi proporcionado por tamanho empreendimento. 

Sob o ponto de vista socioeconômico, a revolução que foi para um país pobre do terceiro mundo ter esse elo de incrível modernidade para os padrões da época é algo notável. E os desdobramentos sociopolíticos advindos do fato de que tal rota também se tornou um trunfo da propaganda nazista e a criar vínculos com seus simpatizantes no Brasil e nas nações vizinhas sul-americanas no decorrer de tal década, foi inevitável.

O uso civil e militar é analisado, assim como os efeitos culturais advindos, que mexeu com o imaginário brasileiro da época e isso é visto em reportagens publicadas por órgãos de imprensa, ilustradas em profusão ao longo do livro.

A parte estritamente técnica é esmiuçada de uma forma impressionante. São dezenas de notas de página a denotar que a bibliografia consultada foi gigantesca.

Tudo é explicado, da invenção dos dirigíveis ao seu funcionamento propriamente dito e muito bem amparado por uma vastíssima carga de dados, ou seja, o leitor vai se sentir plenamente satisfeito ao se deparar com uma leitura tão bem embasada.

Em termos de aeronave comercial, é impressionante o grau de conforto (até requinte, eu diria), que os tais dirigíveis detinham e tudo isso é amplamente relatado em detalhes.

E a diferença entre os modelos "Graf Zeppelin" e o "Hindenburg?" Está tudo esmiuçado ali!

É verdade que a banda de Rock britânica, "Led Zeppelin" foi ameaçada de ser processada por herdeiros do Conde Zeppelin, o patriarca do dirigível Zeppelin? Sim, uma neta do Conde ficou furiosa ao receber a notícia que o nome da sua família batizara uma banda de Rock e tal passagem com muitos detalhes é narrada no livro.

Aliás, cabe destacar que entre tantos atributos, o autor é também um grande músico e estudioso da história do Rock, portanto, há a grande possibilidade dele escrever obras sobre o Rock em um futuro não muito distante e não tenho dúvida que serão livros muito bem escritos e embasados.

E a parte mais voltada para o impacto dessa linha aérea sobre o Brasil, é muito fascinante. Mediante fotos incríveis que o autor pesquisou, inclusive oriundos de remotos acervos familiares que ele encontrou em meio aos descendentes de pessoas que fotografaram os "Zeppelins" pelos céus do Brasil, posso afirmar que são fotos de tirar o fôlego pelo seu caráter histórico.

Se no padrão da época uma viagem regular de navio da Alemanha para o Brasil durava entre 15 a 21 dias a depender das condições climáticas enfrentadas em alto mar, com os dirigíveis esse prazo se reduziu a uma média de três dias e meio, então é possível imaginar o quão foi importante para os dois países tal avanço tecnológico nos transportes intercontinentais, no sentido de que no sul do Brasil (principalmente em Santa Catarina) e na Argentina, as colônias alemãs eram bem grandes. Portanto, tal rota se tornou uma prioridade como transporte de pessoas, cargas e na ação prática como agente de correio.

Há relatos prosaicos a dar conta de pessoas reunidas nas ruas para admirar a passagem dos bólidos enormes e acenar freneticamente para que a sua tripulação se sentisse agraciada e isso demonstra o grau de fascínio com o qual tais acontecimentos ocorreram na ocasião.

Um capítulo foi dedicado para narrar a destruição do dirigível Hindenburg em 6 de maio de 1937. Um acidente muito traumático e que suscitou uma polêmica sobre a viabilidade e segurança de tais aeronaves. Claro, a aviação tradicional havia evoluído muito e tinha o seu interesse em dominar completamente os céus doravante.

Há também muitas curiosidades mais amenas, como as fotos com montagem a atribuir feitos impossíveis aos dirigíveis, e o relato sobre como era a técnica de decolagem e sobretudo da aterrissagem, a se valer de uma atracação semelhante de certa maneira ao padrão náutico mais antigo, mediante cordas gigantes içadas, ou seja, dado muito interessante.

E por fim, um pequeno apanhado pós era dos dirigíveis é colocado, para encerrar a obra com chave de ouro.

Na prática, é um livro técnico, mas o leitor comum e leigo (meu caso, por exemplo) haverá de gostar muito da obra, pois a linguagem é acessível e o conteúdo tem aquele espírito delicioso de um almanaque a conter muitos dados, sim, mas descritos de uma forma lúdica.

E sim, as muitas ilustrações contidas são interessantíssimas e despertarão no leitor, eu tenho certeza pois tive essa sensação ao lê-lo, uma sensação de curiosidade e admiração por tal assunto.
O acabamento gráfico do livro, aliás, é muito bonito, com capa dura e a conter uma ilustração belíssima.

Em suma, mesmo que a aviação não seja um assunto do total interesse do leitor desta resenha, eu recomendo bastante a obra, pois tenho certeza que vai apreciar muito essa abordagem de uma história pouco falada no Brasil e que agora, mediante tal livro, tem enfim um estudo minucioso sobre o assunto e escrito de uma forma leve, apesar de ser um livro repleto de dados precisos.

Leia também no meu Blog a resenha que preparei para uma outra obra do mesmo autor: "Negociação de crises e reféns".

Eis o link para acessar:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2019/03/negociacao-de-crises-e-refens-cristiano.html

Ficha técnica:
Livro: "Os Zeppelins nos Céus do Brasil" (uma visão sobre as viagens ao sul do país e o nazismo no pré-segunda guerra mundial)
Autor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Prefácio: Saulo Adami
Preparação de texto: Heidi Gisele Borges
Revisão: Heidi Gisele Borges, Marcelo Amado e Ronald Monteiro
Arte da capa: Victória Costa
Editora Estronho
Apoio: Matilda Produções
Lançamento: 2020

sexta-feira, 15 de março de 2024

CD: Os Loucos/Vitral - Por Luiz Domingues

O Rock progressivo é uma das mais belas vertentes que o Rock produziu, desde sempre. A sua grandiosidade musical, somado à densidade artística com a qual se revestiu ao longo dos tempos, é inquestionável. 

É bem verdade que a fase áurea desse estilo deu-se na década de setenta, quando floresceu principalmente na Europa (detidamente na Inglaterra, Itália e Alemanha), mas na verdade, frutificou pelo mundo inteiro e o Brasil não ficou de fora de tal onda magnífica ao dar margem para uma infinidade de artistas geniais que beberam dessa fonte e daí em diante, produziram obras incríveis.

Entretanto, mesmo com menor abertura nos meios midiáticos, tal escola seguiu viva através de abnegados aficionados que a perpetuou após esse auge e assim, é com alegria que eu acompanho que o estilo vive e segue a produzir obras bastante expressivas, a honrar as suas mais belas tradições.

Um ótimo exemplo nesse sentido vem do grupo, "Vitral", que se propôs a trabalhar com o conceito instrumental e que foi formado em 1983, no Rio de Janeiro, pelos músicos:

Claudio Dantas - bateria e percussão
Eduardo Aguillar - baixo, teclados e guitarra
Elisa Wiermann - teclados
Luis Bahia - guitarra e baixo

Segue abaixo a história da banda expressa em seu próprio release:

A banda ficou aproximadamente dois anos em atividade e pouquíssimos registros existem desta época. Em 2015, graças a algumas partituras, raras fotos e fitas cassete com gravações domésticas encontradas em seu velho arquivo, Eduardo Aguillar teve a ideia de produzir um álbum com músicas compostas para a banda.

O que seria um trabalho solo se transformou no desejo de unir os antigos integrantes para participarem do projeto. Proposta imediatamente abraçada por Claudio Dantas, partiram para as gravações de teclados, baixo e bateria. Os resultados começaram a surgir e as velhas músicas brotavam das cinzas.

Claudio propôs então relançar a banda para shows e novas produções. Chegava a hora de reconstruir o grupo com renovadas experiências e inspirações para, inclusive, concluir as gravações do que já tomava forma de álbum.

Vitral – 2016/2018

Um ano após a revirada dos velhos arquivos, o Vitral voltou com músicos que, além de participarem de outras bandas e/ou realizarem seus trabalhos solos, resolveram também fazer parte dessa nova história do rock progressivo nacional.

Assim nasceu "Entre as estrelas", primeiro álbum da banda, lançado em 2017 pelo selo Masque Records. Completamente instrumental, o álbum traz uma mistura de influências e inspirações em três músicas, sendo uma delas, a faixa título, uma suíte de 52 minutos dividida em treze movimentos.

"Entre as estrelas" foi muito bem recebido pela crítica e público no Brasil e no mundo, mediante a seguinte formação:

Claudio Dantas - bateria e percussão (Quaterna Réquiem/cofundador do Vitral)
Eduardo Aguillar - teclados e baixo (solo/cofundador do Vitral)
Luiz Zamith - guitarra e violão (Ícones do Progressivo/solo)
Marcus Moura - flautas (Bacamarte/solo)
Vítor Trope - baixo nos shows (Orquestra Rio Camerata)

Em 2018, após dois shows para o lançamento do álbum, no Rio de Janeiro, várias mudanças foram acontecendo no mundo e também no Vitral. Junto com as mudanças, a ideia de um novo álbum, agora com músicas atuais, começava a nascer e, já no final do ano, ele já estava praticamente todo desenhado.

"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos
por aqueles que não podiam escutar a música
".

Friedrich Nietzsche

Vitral - 2023

Comemorando os 40 anos da primeira formação da banda e depois de cerca de 5 anos de maturação, chega, enfim, o novo álbum do Vitral.

"Os Loucos" é um projeto criativo que traz o que de melhor poderíamos ouvir atualmente dentro do cenário do rock progressivo instrumental. Em função da sua riqueza e multiplicidade, o novo trabalho certamente agradará aos mais exigentes amantes da música progressiva. 

Em cada faixa, uma surpresa sonora agradável. As músicas passeiam por várias nuances. Ora um vigoroso solo de guitarra com o aporte de uma bateria nervosa, ora suaves solos introspectivos de flauta, instrumento presente em todas as faixas.

Embora o som seja instrumental, as músicas de uma forma subjetiva revelam situações simbólicas, históricas e místicas. Os títulos já nos induzem a viajar por variados contextos. “Reinos do Norte”, “Sete Povos das Missões”, “Nas Asas de Horus”, “Montezuma”, “Via Appia”, “O Grande Exército Pagão”…

Para essa gravação, o cofundador da banda, Eduardo Aguillar (teclados e baixo), reuniu um time de primeira: Bruno Moscatiello (Nataraj/Kaoll/solo), na guitarra/violão, e Marco Aurêh (LummeN/Palma/solo), nas flautas, formam o núcleo do Vitral,
Gustavo Miorim, músico, produtor e mestre de bateria em São Paulo, completa o elenco como músico convidado. "Os Loucos" foi lançado dia 30 de agosto na página da banda no Bandcamp, plataforma online para artistas independentes. Anote o endereço: (www.vitralband.bandcamp.com)

Eu gostei muito do release que a banda providenciou, pois contém o histórico muito bem escrito e ao ir além, possui uma visão artística da obra em si, ou seja, com tal abordagem, eu penso que esse documento oficial da parte da banda contém um poderio sintético excelente e certamente atende bem o meu público leitor e muito interessado na audição de um trabalho desse quilate. 

Claudio Aguillar, membro fundador do "Vitral", tecladista e baixista. Fonte: Site Rock Stage Brasil

Claro que com tal adendo do release oficial da banda, foi muito facilitada a minha criação de resenha, através desse manancial de muita informação e assertividade contida no release oficial da banda. Todavia, me permito acrescentar alguns apontamentos pessoais. 

Para início de conversa, eu concordo com o texto do release, no sentido de que a banda produz um som que provoca aos seus ouvintes, imagens riquíssimas. Nesse sentido, não há nada mais "progressivo" enquanto conceito de "Art-Rock", que busca aprofundar sempre qualquer discussão em torno dos conceitos propostos, a usar a música (e vice-versa), para exibir forte conteúdo cultural. Isso é uma das marcas registradas do Rock Progressivo e o Vitral se mostra signatário dessa predisposição.

Nesses termos, exatamente como foi assinalado no release, os títulos das canções já denotam a dimensão de seu propósito nobre, ao buscar a abordagem de assuntos profundos, sob uma roupagem etérea. As músicas nos levam aos mistérios secretos do antigo Egito, às tradições dos povos pré-colombianos, a acompanhar as andanças dos jesuítas pelo sul do Brasil, as sagas perpetradas pelos povos nórdicos e da antiguidade romana entre outros temas.

O guitarrista/violonista, Bruno Moscatiello, grande nome do moderno Rock Progressivo brasileiro. Fonte: Site Rock Stage Brasil

Sob o ponto de vista estritamente musical, não há o que acrescentar, mediante uma robustez dessa monta. Eduardo Aguillar, o membro fundador, reuniu um novo time absolutamente espetacular, formado por músicos de altíssimo gabarito e sobretudo, coadunados com a estética do Rock Progressivo e assim, ao comungar dos mesmos valores, tudo fluiu de uma maneira magnífica.

A respeito da arte da capa, também gostei muito. A ilustração a mostrar seres com ares mitológicos a sustentar um vitral que insinua-se como um portal extra-dimensional e dele a emergir a figura de um outro ser, desta feita feminino, ou seja, uma mulher absolutamente fluídica a denotar ser a representação de uma força maior.
Simbolismo muito interessante, portanto, ao propor a construção de uma egrégora com alto poder energético a ditar o conceito da transformação em via de regra. E sim, é muito bonita tal arte final da parte do desenhista. 

O excelente flautista, Marco Aurêh, também bastante conhecido na cena progressiva contemporânea. Fonte: Site Stage Rock Brasil

Sobre as músicas do álbum, tenho mais algumas observações pontuais a acrescentar. Reforço o link do portal "Bandcamp" para que o leitor leia os apontamentos individualizados sobre as músicas enquanto as escuta:

Acesse o CD "Os Loucos" do Vitral:
www.vitralband.bandcamp.com

1) O grande exército pagão

Tema que se inicia épico, com o sintetizador a emular trombetas militares e a denotar uma marcha triunfal. Com inúmeras passagens extremamente melódicas, tem o elemento da doçura assegurado, com partes delicadas propostas pela flauta e outras mais contundentes mediante a guitarra a imprimir peso, e neste caso lembrou-me o Prog-Rock italiano em diversos aspectos.

2) Ciclopes

Esse tema se inicia em meio a um conjunto de acentuações em forma de convenções e logo a seguir propõe o staccato a demarcar bem a fórmula de compasso adotada. São belíssimos os timbres de todos os instrumentos, bem coadunados com o adorável padrão setentista.

3)  Via Appia

O começo grandioso e dramático a insinuar uma ária operística abre campo para uma suíte tipicamente "prog", ou seja, mediada por várias partes e mais uma vez a apresentar melodias muito belas.

A parte mais calma com o piano a flauta a trabalhar juntos, é incrível. O ouvinte é convidado a flutuar junto com a banda, certamente. É ótimo o timbre e linha de baixo. Um pequeno trecho a insinuar contraponto dá espaço logo a seguir para uma levada alegre e permeada por um belo solo de guitarra. 

Advém uma parte bem "glacial", naquela predisposição do "Space-Rock" e a posteriori, um solo de flauta extremamente doce. Criatividade e bom gosto de mãos dadas. E a música se encerra com uma parte mais acelerada e extremamente jovial. 

4) Sete povos das missões

É muito bonita a introdução, com o sintetizador a carregar no timbre setentista clássico. Mais uma vez a flauta conduz uma bela melodia com ares campestres e assim a música vai a se desenvolver mediante a mescla de partes calmas e mais agitadas.

Há um violão muito bonito, que atua bem rapidamente e dá espaço para os teclados mais densos e em seguida uma parte mais agressiva advém, embora seja também rápida.

Gostei de uma parte que insinuou influência indígena, acentuada pela divisão rítmica e auxiliada pela percussão. E o violão fecha com muita beleza a canção, auxiliado pela flauta.

5) Reinos do Norte

Tema com muita pompa sinfônica na sua abertura, mostra uma linha melódica deveras bonita feita pelo sintetizador. 

O elemento medieval se faz presente com grande felicidade, ao lembrar bandas Folk-Prog-Rock setentistas que trabalharam com tal sonoridade mediante extrema destreza e o Vitral honrou tais tradições, com muitos méritos.

É muito bom o trabalho de guitarra, com destaque também para a linha de bateria, que é excelente. E o tema fecha com a mesma grandiosidade do seu início.

6) Montezuma

Achei incrível a guitarra que ponteia uma melodia com notas longas a evocar algo misterioso, mas ao mesmo tempo, muito forte, a denotar uma verdade secreta, muito provavelmente guardada a sete chaves dentro de uma pirâmide asteca.

Gostei muito das partes posteriores, a prover uma grande quantidade de levadas, umas diferentes das outras, bem no conceito do Prog-Rock setentista, a usar e abusar da dinâmica, com muita sapiência.

Além do mais, a conter grandes momentos individuais ao apresentar muita intervenção da flauta, teclados a experimentar timbres diversos (e todos clássicos do gênero), e claro, da guitarra.

7) Nas asas de Horus

Tema curto, mas muito bonito, conduzido pelo piano e flauta, contém uma pontual participação do violão e sutil percussão.  

Ao ouvir esse tema, a imaginação nos leva até Horus que literalmente nos conduz a sobrevoar o Vale dos Reis e exatamente como deveria ser, a visão é espetacular.

8) Os loucos

Tema que se inicia com grande contundência, usa do recurso da quebra brusca de clima ao propor mudança de dinâmica sistemáticas e assim, apresentar um mosaico de emoções dispares entre si para o ouvinte degustar. 

Dessa forma, dos momentos mais tenros à dramaticidade de outros, da reflexão mais cerebral ao ritmo mais pulsante, somos levados a adentrar uma forte emoção caleidoscópica das mais memoráveis.
"Loucura pouca é bobagem", teria dito um famoso Rocker tupiniquim de outrora e claro que ele estava certo! Viva a imersão livre que o Rock progressivo nos proporciona ao experimentarmos a loucura em doses maciças. Viva a loucura! 

Para encerrar, digo que o CD "Os Loucos" da banda de Rock Progressivo, "Vitral", é muito recomendado para ser ouvido com a máxima atenção e tenho certeza, o leitor/ouvinte vai apreciar sobremaneira tal experiência sonora. O seu fiel aporte às tradições do Rock Progressivo clássico é admirável. E no aspecto da qualidade da banda, trata-se de algo muito cristalino, na minha opinião.

Ficha técnica       
CD Os Loucos - Vitral
Produzido por VITRAL
Músico convidado: Gustavo Miorim - bateria
Quadro da capa: Claudio Dantas - @claudiodantaspainter
Mixado e masterizado no Laboratório Pedra Branca, Rio de Janeiro, Brasil
Apoio: A BELA MÚSICA/KAZA 8
Músicas compostas e arranjadas por Eduardo Aguillar

Para conhecer mais o trabalho do Vitral, acesse:

Vitral - Canal de YouTube:
https://www.youtube.com/@vitral-musicaprogressivain655/videos

Vitral no Prog Archives:
https://www.progarchives.com/artist.asp?id=10387

Vitral - Facebook:
https://www.facebook.com/bandavitral

Vitral  - Matéria no RockStage Brasil:
https://rockstage.com.br/rock-progressivo-banda-vitral-celebra-40-anos-e-lanca-o-album-os-loucos/ 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Livro: Quando os ventos sopram na pradaria (uma fábula Sioux)/Walter LP Possibom - Por Luiz Domingues

Para efeito da percepção generalizada, é bem incomum o ponto de vista indígena ser levado em consideração. Mais do que isso, pode-se afirmar que nem mesmo o devido respeito que a sua cultura milenar merece receber, é observado, infelizmente.

Ainda bem que há pessoas que pensam muito diferente e este é caso de um grande estudioso e admirador das tradições indígenas, de sua cultura milenar e sobretudo, a reconhecer o seu admirável senso de honradez, a nos proporcionar uma visão muito mais justa.

Falo a respeito de Walter LP Possibom, grande músico (guitarrista, cantor e compositor, que é membro fundador da banda de Rock, "Delta Crucis"), médico na formação acadêmica e que construiu uma sólida carreira paralela como escritor, a lançar inúmeras obras muito relevantes, em termos de romances muito bem escritos, livros técnicos de medicina e uma enciclopédia incrivelmente profunda sobre a história do Rock, entre outros trabalhos. E como se não bastasse, ele também é um ativista cultural incansável, ao manter um Blog e ser colaborador de uma webradio, ou seja, a alta carga de produtividade é a sua marca registrada.  

Com o dom da palavra de uma forma natural pela veia literária nata, a assertividade do médico, a enorme sensibilidade do músico e a força da comunicação do ativista cultural, Walter Possibom usou tais predicados somados para produzir mais um belo romance, desta feira ambientado na cultura da nação Sioux, uma das mais tradicionais a habitar as pradarias da América do Norte.

Apaixonado pela cultura indígena, ele nem precisaria empreender uma grande pesquisa propriamente dita para dar conteúdo ao romance, no entanto, ele mergulhou no estudo, porque certamente quis enfatizar tais aspectos com bastante ênfase ao construir o seu romance.

Portanto, "Quando os ventos sopram na pradaria" (uma fábula Sioux), tem o elemento da farta explanação sobre inúmeros aspectos da cultura Sioux e também de outras tribos contemporâneas (amigas ou inimigas), a citar com bastante propriedade a organização social de tal nação, a abranger todos os quesitos imagináveis.

O ponto altamente positivo que realço, foi que ao ler o romance, notei que Walter Possibom usou as personagens com muita sapiência nesse sentido de expressar as diversas nuances da cultura Sioux, ou seja, a leitura segue a estrutura básica do romance, no tocante à construção dos arcos narrativos, percepção psicológica de cada personagem, saga com observação da famosa "jornada do herói" (ou monomito), e a acrescentar doses maciças de sentimento de amor terno, a destacar ser essa a energia fundamental que move o casal de personagens protagonistas, Wakanda e Yoomee, ambos filhos de chefes de tribos, que se apaixonam e lutam pelo seu amor, a cumprir muitos protocolos de sua cultura até concretizar a sua união.

A saga apresenta também os momentos de conflito a gerar angústia e "torcida" da parte do leitor, ou seja, a tal "jornada do herói" descrita por Joseph Campbell e que os escritores e roteiristas de cinema e série de TV usam sem parcimônia, e técnica da qual Walter Possibom foi muito feliz ao usar, e assim garantir a emoção, algo primordial para um bom romance. 

Chama a atenção a entrelinha muito clara que acompanha a obra inteira a respeito da mensagem da ética que o permeia. A todo instante, as personagens se expressam sob as suas decisões a serem adotadas, das grandes questões sociopolíticas às questões mais triviais de fácil resolução no cotidiano e há um padrão muito bem delineado para tratar qualquer problema, a denotar um senso de honradez, respeito, consideração ao semelhante, enfim, a revelar um bojo de predicados da mais alta estirpe e nos demonstrar como a alma indígena valoriza a ética como um princípio pétreo de sua sociedade.

Claro, nem todas as nações indígenas construiram seus princípios da mesma forma. Há ao longo da história a revelação de conflitos e práticas cruéis da parte de certas tribos inimigas, a denotar que sempre houve uma graduação natural, ou seja, com a existência de certas nações com princípios nada nobres, onde o egoísmo lhe impelia a cometer atrocidades a troca de obter os seus objetivos torpes, mas nesse ponto, cabe a reflexão que isso não é nenhuma novidade para os homens brancos que vieram do outro lado do oceano atlântico.

Não cometerei o dito "spoiler" ao contar a história em sua totalidade, e dessa forma, fica como um incentivo para que o leitor desta resenha busque a leitura da obra, para nela se envolver e se emocionar.

Transcrevo, entretanto, uma oração Sioux que o autor disponibilizou nas últimas páginas da obra, logo após o encerramento do romance, pois reflete o espírito que norteia essa nação e revela por conseguinte, a sua ética elevada. 

Oração Sioux:

"Oh Grande Espírito, cuja voz eu ouço no vento
E cujo respiro  dá vida a todo o Universo
Ouve-me, sou pequeno e débil, um de teus muitos filhos
Deixa-me passear na beleza e permite-me que meus olhos sempre possam contemplar o vermelho e a púrpura do pôr do sol
Faça com que minhas mãos respeitem as muitas coisas que as Tuas criastes e agudiza meus ouvidos para ouvir a Tua Voz
Faz-me sábio para compreender todas as lições que Tu escondeste por trás de cada folha e de cada rocha
Dá-me força não para ser mais forte que meu irmão, senão para lutar contra o  meu pior inimigo: eu mesmo
E faz-me sempre pronto para ir ante Ti com as mãos limpas e o olhar reto para que quando a luz se desvaneça como se desvanece no pôr do sol meu espírito possa chegar ante Ti sem nenhuma vergonha"
.

Sobre a capa, a ilustração mostra a paisagem da pradaria exuberante, terra dos Sioux, ante a vegetação a predominar os tons verde e amarelo, a interagir com o alaranjado do crepúsculo no horizonte, ambiente idílico de onde o casal de índios sioux, Wakanda e Yoomee contemplam a natureza que o Grande Espírito lhe designou como o seu Lar.  

Recomendo a leitura do livro: "Quando os ventos  sopram na pradaria" (uma fábula Sioux), do grande autor, Walter LP Possibom, um escritor inspirado e sempre preocupado em deixar nas entrelinhas de suas obras, o seu grande apreço pelos valores éticos.

Livro "Quando os ventos  sopram na pradaria" (uma fábula Sioux)
Autor: Walter LP Possibom
Coordenação editorial: Daniel Alves Machado e Denny Guimarães de Souza Salgado
Revisão: Walter LP Possibom
Projeto gráfico e editoração eletrônica: Denny Guimarães de Souza Salgado e Paulo de Tarso Soares Silva
Ilustração da capa: João Rafael Corrêa Lima
Editoração eletrônica da capa: Denny Guimarães  de Souza Salgado
Impressão e acabamento: Editora Kiron
Editora Kiron
Lançamento em 2019

Leia também a minha resenha sobre um outro trabalho de Walter Possibom, o livro "Um Brilho nas Sombras" (uma fábula Rock'n' Roll).

Eis o link para acessar:
http://luiz-domingues.blogspot.com/2016/09/um-brilho-nas-sombras-walter-lp.html

Leia no meu Blog 2 a entrevista que conduzi com Walter Possibom a repercutir o lançamento da sua impressionante  obra: "Enciclopédia Rock, Suas Histórias & Suas Magias"

Eis o link para acessar:
http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com/2022/10/entrevista-walter-possibom-musico.html

Para conhecer ainda mais o trabalho de Walter Possibom como músico, ativista cultural e escritor, acesse: 

Blog Planet Caravan:
https://jjplanetcaravan.blogspot.com/

Blog Planet Caravan no Facebook:
https://www.facebook.com/BloggerPlanetCaravan

Canal do grupo de Rock Delta Crucis no YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCB602J1NIhNiicree6adEFw

domingo, 18 de fevereiro de 2024

CD Prazer te Conhecer/Balls - Por Luiz Domingues

O grupo de Rock, "Balls", brilhou intensamente na cena paulistana dos anos 2010, muito por conta da excelência técnica de seus componentes, aliado a uma carga de influências das mais nobres que a banda abraçou como um farol estético muito claro a ser seguido, ou seja, a se tratar da firme determinação de seguir vertentes setentistas clássicas e mais do que isso, com muito requinte.

Dentro dessa escolha que a banda fez, escolas tais como o Blues-Rock, Hard-Rock, Southern-Rock e Jazz-Rock, ou seja, vertentes bem típicas dos anos setenta, foram visitadas com grande desenvoltura e criatividade, a usar as ferramentas de cada estilo de uma maneira muito consciente, no sentido de que denota conter grande conhecimento de causa da parte da banda, como uma unidade e claro, para cada componente no âmbito pessoal.

Se no primeiro álbum a banda já mostrou um vigor impressionante, neste segundo trabalho de sua trajetória, não apenas reafirmou, como ampliou o seu poder de fogo. Aliás, por falar no primeiro álbum, se ainda não leu, deixo o meu convite para que o leitor visite o meu Blog 1 e leia a resenha que eu preparei sobre esse trabalho, ou releia, se for o caso:

Eis o link de acesso:

http://luiz-domingues.blogspot.com/2023/03/cd-ballsballs-por-luiz-domingues.html

Muito bem gravado no quesito da produção (tem o dedo mágico do grande Edu Gomes na captura sonora de estúdio), o CD "Prazer te Conhecer", mostra a banda ainda mais afiada na execução vigorosa de seus temas, detalhista nos arranjos e a denotar aquela gana Rocker tipicamente setentista, que é na prática, um acréscimo de energia e tanto.

No quesito das letras, a opção predominante foi em torno do romantismo, posso afirmar. A relação homem-mulher é abordada quase na mesma intensidade com a qual esse tema era muito recorrente nos tempos sessentistas da Jovem Guarda, claro, guardadas as devidas proporções. 

Em termos de formação da banda para esse segundo trabalho, houve apenas uma mudança, quando o novo baixista, Paulo Pascale, assumiu o posto e claro, a imprimir o seu estilo próprio, com bastante brilho. 

Sobre a apresentação gráfica do disco, a banda optou mais uma vez pela simplicidade visual ao usar o cinza em diversas matizes como cor predominante e a mostrar a ilustração de uma garota sensual bem no canto do enquadramento, mediante bolhas d'água por toda parte, a sugerir uma superfície de vidro sob a ação de vapor, presumivelmente. 

Já no encarte, as fotos dos componentes ilustram a exibição das letras e da ficha técnica de uma maneira bem funcional.

Sobre as canções que compõem o álbum em si, vale a pena destacar mais alguns detalhes. Convido o leitor a escutar o disco enquanto lê o restante desta resenha, e para tal, ouça de maneira completa através do YouTube:

Eis o link para acessar:
https://www.youtube.com/watch?v=c8LkHnHBkj8&list=OLAK5uy_lKxIg8KACPTw2Zw8rZSc_QEIp0_xDA1e8&index=1 

1) Na estrada (Danilo Martire/Fernando Gargantini/Pi Malandrino)

É bem interessante a linha melódica dessa canção e isso é realçado pela ótima interpretação vocal, mediante o apoio dos backings vocals.

Rock com característica Hard, contém solos de guitarras com extremo bom gosto melódico e bem destacados pelo fato de terem sido muito bem timbrados.

2) No Lixo, há luxo (Pi Malandrino/Pepe Bueno)

Esse tema lembra bem o estilo do Hard-Rock brasileiro a la "Golpe de Estado", isto é, a mostrar riff forte, refrão ganchudo, "cozinha" poderosa e ótimos solos.

3) Prazer te conhecer (Pi Malandrino/Erika Dernovsk)

O Blues-Rock mostra a sua face com toda a pompa em "Prazer te Conhecer", a faixa que dá nome ao CD. A canção apresenta aquele clima acentuado no estilo do "Free" ou seja, a usar do andamento lento aliado a uma ótima melodia bem desenhada como essência básica. E também é notável por exibir como acréscimo o ótimo trabalho de guitarras para engrandecê-la.

O duo final de guitarras lembrou-me bastante o som do "Wishbone Ash", com o devida ressalva de se tratar da minha mera idiossincrasia.

4) À primeira vista (Fernando Gargantini/Pi Malandrino/Paulo Pascale/Lauro Santiago/Danilo Martire)

Ao iniciar-se como uma balada, esse tema já chama a atenção pelo bom uso dos detalhes rítmicos empregados, com contratempo estratégico e uso criativo de percussão.

Mas tudo muda quando o riff mais pesado dá entrada um Hard-Rock cheio de energia e pulsação. E ao final a docilidade da balada reaparece para rapidamente fechar a canção.

5) Pneumonia (Pi Malandrino/Fernando Gargantini)

Rock'n 'Roll de enorme apelo dançante, tem o elemento Pop muito forte na sua estrutura, tanto pela melodia contagiante, quanto pela indução clara do backing vocals que convida o ouvinte a interagir.
Gostei muito de um intermezzo, algo nada Pop, aliás, que quebra o apelo radiofônico da canção, mas é justamente aí que (na minha opinião), reside o fator da criatividade, no sentido de ser perfeitamente possível fazer Pop-Rock, com forte apelo popular, mas a incrementá-lo com ornamentos mais robustos. 

6) Doce Fantasia (Fernando Gargantini/Pi Malandrino/Danilo Martire)

Texas Blues na veia! Esse tema empolga desde o início por toda a sua intenção e assertividade dentro do estilo.

7) Olha pra mim (Pi Malandrino/Danilo Martire)

Tema Pop-Rock com vestimenta Hard-Rock, tem o apoio do órgão Hammond, a lhe conferir um sabor irresistível. Gostei muito das convenções, duetos de guitarra e linha de bateria muito bonita. 

8) Raio e Tempestade (Fernando Gargantini/Pi Malandrino/Danilo Martire 

Mais um Blues-Rock com riff forte, gostei bastante do arranjo de guitarras, principalmente perceptível ao se ouvir com fone de ouvido, ou seja, eu recomendo o uso desse expediente, portanto. 

9) Casa comigo (Pi Malandrino/Danilo Martire)

Outro Rock'n' Roll direto e reto, esse tema dá o recado com bastante força, tanto pelo riff poderoso, quanto na levada firme. O solo em dueto e muito bem feito é a prova cabal de que ter dois guitarristas ótimos e super entrosados é um luxo para qualquer banda e o Balls teve essa sorte.

A parte que usa o staccato, algo bem no estilo do "AC/DC", é bem interessante no sentido de se mostrar como um recurso que ao vivo o Balls deve ter usado bastante em seus shows, para gerar euforia em seu público.

10) Nossa história (Fernando Gargantini/Danilo Martire)

A levada de Blues ritmado, é irresistível, logo de início.  E assim a música segue com a sua pegada blues até desembocar em uma jam-session... 

11) Gran finale (instrumental) (Fernando Gargantini/Pi Malandrino/Paulo Pascale/Lauro Santhiago)

Na verdade, essa faixa está contida na faixa anterior como a sua continuidade natural e foi creditada separadamente por ser um tema instrumental com solos e a demarcar o encerramento da canção anterior e no caso, também do disco.

Com clima de jam-session final, empolga pela sua contundência instrumental, com a banda a soltar a mão para encerrar o disco em alta voltagem e possivelmente na mesma predisposição de "Free Bird" do Lynyrd Skynyrd. como uma inspiração, digamos assim.

Em síntese, o Balls apresentou mais um bom trabalho e do qual eu recomendo a audição, sem sombra de dúvida. 

CD Prazer te conhecer/Balls  
Gravado no estúdio Cakewalking - São Paulo-SP - Fevereiro a abril de 2014
Técnico de áudio (gravação/captura): Edu Gomes
Mixagem e masterização: Pi Malandrino
Ilustrações de capa: Aloísio de Castro
Projeto gráfico e diagramação: Danilo Martire
Foto: Tony Sampaio
Arranjos: Balls
Produção geral: Pi Malandrino e Fernando Gargantini

Formação do Balls neste trabalho:
Lauro Santhiago: Bateria
Danilo Martire
: Voz
Fernando Gargantini
: Guitarra e backing vocals
Pi Malandrino
: Guitarra e backing vocals
Paulo Pascale
: Baixo

Músicos convidados:
Mateus Schanosky: teclados na faixa "Olha pra mim"
Paulo "Coruja" Oliveira
: gaita em "Doce Fantasia"
Pepe Bueno
: backing vocals em "Pneumonia"

Para conhecer melhor o trabalho do Balls, acesse:

Canal do YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCfo61bnRtXLBYku-ZNsua1w

Segundo canal do YouTube:
https://www.youtube.com/@BallsAndRoll

Facebook:
https://www.facebook.com/Bandaballs/about_details

Spotify:
https://open.spotify.com/artist/2an1YxR2qW382iv02VHbQC

Deezer:
https://www.deezer.com/en/artist/10462499

YouTube Music:
https://music.youtube.com/channel/UCcaF8OLntZ3HUcFiWblIwOg

Site oficial:
www.balls.com.br

Contato direto com a banda:
balls@balls.com.br