quinta-feira, 30 de maio de 2013

Eduardo Prado, um Monarquista contra o Imperialismo - Por Luiz Domingues


Em 1889, quando um levante militar destituiu o Imperador Pedro II e proclamou-se a República, nem todo mundo gostou dessa mudança abrupta de regime. Tirante os magnatas da agricultura e amigos do Imperador, notadamente entusiastas do escravatura, houve setores da intelectualidade a declarar-se como simpatizante da monarquia, ao contrário do que se crê comumente, por não enxergar tal vertente sociopolítica como retrógrada por natureza.

Mesmo por que, no espectro filosófico que embasou os primeiros tempos da República, o comando foi regido por parte dos militares e estes mostravam-se influenciados pela corrente de pensamento positivista, à época. Tal corrente filosófica, contava com muitos detratores, exatamente por ter o contorno de uma "quase seita", portanto, o positivismo de Auguste Comte causara náuseas em muitos intelectuais, com o mesmo ímpeto que empolgava outros tantos.

Eduardo Prado foi um entre os quais que abominou as ideias histriônicas de Augusto Comte, e fechado com a concepção da monarquia, tornou-se um crítico feroz do modelo republicano então adotado, pelo qual considerava uma mera ditadura militarista. E também nessa linha de pensamento, Prado acusava o regime de imitar descaradamente ícones norteamericanos, a começar pela própria idealização da bandeira nacional aos padrões republicanos e principalmente pelo teor do texto da Constituição.
Para ir além, Eduardo Prado alinhavou uma série enorme de evidências sobre a suposta política imperialista praticada pelos Estados Unidos da América, ao interferir, desde o século XIX, na geopolítica de todos os países latinoamericanos, Brasil incluso, é claro. Segundo os seus estudos, o objetivo em favor de seu domínio estratégico, revelava-se claro e para tanto, os americanos usavam de uma manobra de mão dupla. Nos meandros, atuavam com contundência para desestabilizar governos considerados hostis e às claras, negavam qualquer interferência, para usar de diplomacia.
Tais estudos que Prado realizou, teve como base o chamado : "período Monroe". Entre 1823 e 1892, a política do presidente James Monroe (1815-1825), preconizou o esforço para integrar todos os países americanos, quando na verdade o objetivo seria controlar cada país, e cuidar para que os seus governantes fossem fiéis ao interesses de Washington.
Os entusiastas das ideias de Prado costumavam ironizar, ao afirmar que Theodore Roosevelt (presidente norteamericano, entre 1901 e 1909), seguia à risca a política Monroe, pois falava manso com os latinoamericanos, todavia com um porrete em mãos...

Eduardo Prado lançou o impressionante livro : "A Ilusão Americana" em 1890. Em 1893, o livro foi proibido e as suas cópias, confiscadas.
Pior que isso, o Marechal Floriano Peixoto desejava prender Eduardo Prado, que só safou-se da prisão política, por conta de uma fuga desesperada, sertão afora, até conseguir chegar a uma embarcação e parar em algum recanto da Europa.
Filho de uma família rica e tradicional paulistana, cujos membros dão nome à várias ruas da capital paulista, hoje em dia (ele, incluso), Eduardo Prado foi muito contundente em suas convicções e não absteve-se em exprimir as suas opiniões fortes e perigosas, mesmo com a possibilidade real em manter uma vida tranquila, sem sobressaltos, devida à condição socioeconômica avantajada em que nascera. Ao concordar ou não com a argumentação, o livro, "A Ilusão Americana" impressiona pelo arrolamento de inúmeros fatos ocorridos durante o século XIX, praticamente inteiro.
Eduardo da Silva Prado nasceu em São Paulo, em 1860 e morreu jovem, em 1891. Foi advogado; jornalista e escreveu muitos livros, tratados e estudos.
Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e também foi amigo pessoal de vários intelectuais importantes, entre os quais, o escritor português, Eça de Queiroz. E quanto ao título desta matéria, a brincadeira com o suposto antagonismo proposto, nunca foi tão "moderno" na política brasileira.
Isso por que a política é uma configuração organizacional na sociedade, sob a extrema ação volátil, portanto, alianças as mais improváveis ocorrem o tempo todo dentro do mesmo cenário e assim, nada mais causa espanto. Portanto, "é tudo da Lei, como vovó já dizia" (na verdade, foi Aleister Crowley quem disse...), pela boca do Raul Seixas... 
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Celulares, Tablets & Afins : As Estrelas do Show - Por Luiz Domingues


À medida que os telefones celulares sofisticaram-se, funções extras e agregadas, foram incorporadas e assim tal acréscimo passou a fascinar os seus usuários. Jogos em primeira instância, mas logo a seguir a possibilidade em fotografar; filmar e interagir com a internet, transformaram tais aparelhos em peças indispensáveis no cotidiano de quase todo mundo.
Então, tornou-se rotina fotografar e filmar shows musicais; peças teatrais; palestras; exposições & vernissages; tarde de autógrafos de escritores; jogos de futebol e outros esportes etc. Até aí, não haveria nada a reclamar. Qual o mal dessa moderna forma de registrar momentos agradáveis em tais eventos ?


Todavia o tempo passou e a febre por essa mania só aumentou, para protagonizar distorções e exageros, naturalmente. Com a chegada dos tablets, isso exacerbou-se ainda mais. E o que verificamos hoje em dia ?
Apagam-se as luzes em um show de Rock, por exemplo, e ao contrário de épocas passadas, o frenesi pela entrada em cena de seu artista predileto, é atenuado pela excessiva preocupação em filmar. Ninguém mais presta atenção no espetáculo, ao parecer que todas as pessoas tornaram-se documentaristas profissionais, tamanha a profusão de aparelhos mirados para o palco.
Na perspectiva do artista em cima do palco, tornou-se algo até bizarro notar que a maioria das pessoas preocupam-se mais com isso, ao fazer com que a emoção gerada por ver & ouvir o artista ao vivo, dilua-se, pois cada pessoa na audiência o vê através de uma tela, na maior parte da duração do show. Observei recentemente uma reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo, a falar sobre isso e impressionei-me com o depoimento de diversos atores. No caso dos espetáculos teatrais, tal hábito é mais deselegante por parte das pessoas, é evidente.
Alguns atores reclamam (com razão), que tal ocorrência os desconcentra do texto e marcações. Além do fato desagradável que muitos não estão a filmar, mas muito pior, a checar o seu e-mail ou a postar asneiras pelas redes sociais. Coibir tal prática parece medida arbitrária, coisa de fascista demodeé, que adora controlar a vida das pessoas. Deixar do jeito que está, provoca mal estar, principalmente para os artistas em cena.

O que fazer ? Se por um lado, um espetáculo acaba por senr incensado por tal prática espontânea da parte do público(pois gera-se vídeos no You Tube; fotos no Instagram e postagens nas redes sociais), por outro, denota mais o modismo da tecnologia em si e a consequente mania do ser humano, para exibir-se.
Li na reportagem que os artistas dividem-se nessa questão. Um dono de um pocket-teatro em São Paulo, disse que expulsa sumariamente quem usa um aparelho desses dentro de um espetáculo em sua casa. Outro, de um outro espaço teatral, incentiva o uso, a apostar na propaganda espontânea das pessoas, como chamariz de suas temporadas. Como músico, eu tenho também observado o crescente número de pessoas que filmam /f otografam todos os shows. É engraçado ver uma parcela grande de gente com a face azulada, a olhar para os seus aparelhos fixamente e assistir o show por tais telinhas.



Contudo, particularmente, não vejo mal algum e pelo contrário, nos meus shows, estão todos autorizados a filmar e fotografar à vontade. Conheço até algumas pessoas que filmam com sofisticação e são verdadeiros documentaristas.
Nesse caso, com apuro e bom propósito, eu acho positiva tal ação, pois mal chego em casa e na madrugada pós-show, já vejo fotos e filmagens na internet, sem dúvida um apoio importante para o trabalho. E você ?  O que pensa sobre isso ?

Matéria publicada no Blog Planet Polêmica, anteriormente, no ano de 2013.

domingo, 19 de maio de 2013

Paulo Vanzolini, Arte & Ciência - Por Luiz Domingues




A Trajetória de Paulo Vanzolini foi bastante profícua e marcada por um fato inusitado : ele transitou por dois mundos aparentemente díspares, e foi muito bom em ambos. Como biólogo e zoólogo, Vanzolini foi um dos maiores especialistas em herpetologia do Brasil e reconhecido mundialmente pela excelência de suas pesquisas. Ligado à USP e por conseguinte ao Instituto Butantã, o professor Vanzolini dedicou sua vida à pesquisa de répteis e anfíbios, ao tornar-se uma das maiores autoridades do assunto.
Mas houve um outro lado na personalidade do professor. Ele gostava também de poesia e música; das noitadas ao luar sob o som do violão e da sonoridade das palavras. Dessa forma, o requisitado professor Vanzolini foi também o poeta e compositor, Paulo Vanzolini, dono de uma carreira solidificada e com lugar garantido no panteão dos grandes nomes da música popular brasileira.
Nascido na cidade de São Paulo, em 24 de abril de 1924, Paulo Emílio Vanzolini, foi um estudante aplicado no curso de medicina, iniciado em 1942.  Mas foi no convívio com os colegas, nos momentos extracurriculares, que a paixão pela música e poesia floresceu para ele. Logo destacou-se nos saraus amadores realizados entre estudantes e o seu talento nato o levou para voos maiores no meio artístico
Em 1944, Vanzolini foi trabalhar na Rádio América de São Paulo, no programa, "Consultório Sentimental", junto à Diva do teatro, Cacilda Becker. As suas composições começaram a chamar a atenção e logo, intérpretes o procuravam, com o propósito em pedir para gravar os seus sambas a conter letras poéticas e bem construídas.  Ainda nos anos quarenta, foi trabalhar no Museu de Zoologia da USP e iniciou ali a sua carreira acadêmica vitoriosa com professor; pesquisador e mentor.
Em 1948, Vanzolini, foi especializar-se e ficou três anos na prestigiosa Universidade Harvard, dos Estados Unidos. Sempre a trafegar em paralelo, a vida artística seguiu, com o lançamento de seu primeiro livro de poesias, chamado : "Lira de Paulo Vanzolini", em 1951.
Foi em 1953, que compôs uma de suas mais conhecidas músicas, chamada como : "Ronda", que ganharia diversas regravações, por muitos intérpretes e inspiraria Caetano Veloso, quando este compôs "Sampa", no fim dos anos setenta. Nesse mesmo ano de 1953, ele aceitou o convite para tornar-se produtor de TV, e assim ficou responsável pelo programa de Aracy de Almeida. Na vida acadêmica, o professor Vanzolini prosseguiu a sua carreira e cresceu muito. Foi histórica a sua expedição pela Amazônia, ao ter navegado por cerca de onze mil kilômetros, através dos rios e afluentes da região, para empreender uma pesquisa gigantesca para a USP.
Tornou-se o diretor do Museu de Zoologia da USP e sob a sua direção, o Museu viu o seu acervo crescer, de doze, para cento e setenta mil espécies em seu poder. Ele foi um dos mentores da criação da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), e uma de suas mais famosas pesquisas acadêmicas, foi a "Teoria dos Refúgios", onde através de seus estudos na Amazônia, corroborou e aperfeiçoou estudos de outros cientistas de universidades internacionais.
Um outro samba que caiu no gosto popular, foi : "Volta por Cima". Essa expressão ficou tão famosa, que foi incluída no dicionário, como a designar o sentimento de superação, diante de dificuldades na vida. Nos últimos tempos, Vanzolini mostrava-se triste. Primeiro, pelo avançar da idade, que cerceou a sua liberdade em poder frequentar as noitadas musicais que tanto amava, rodeado pelos seus amigos.
Mas o duro golpe, foi o incêndio que destruiu grande parte do acervo do Instituto Butantã. Inconformado, Vanzolini soltou o verbo na imprensa, amargurado com a perda irreparável para a ciência brasileira, que aliás, ele fora responsável direto para a concretização desse trunfo, com o seu trabalho incansável. O professor Vanzolini ficou muito triste por esse descuido; descaso e falta de infraestrutura, típica da parte dos governantes normalmente tão descompromissados com arte; cultura; educação & ciência
Muito doente e idoso, Paulo Vanzolini deixou-nos no dia 28 de abril de 2013, infelizmente. Que a MPB e a ciência brasileira, consigam dar a sua "volta por cima", apesar dessa perda gigantesca.
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013

sábado, 18 de maio de 2013

Kim Kehl & Os Kurandeiros - 19 de Maio de 2013 - 16:30 h. - Feira de Artes da Vila Pompéia


                                       Kim Kehl & Os Kurandeiros


19 de Maio de 2013

Domingo  -  16:30 h.

Feira de Artes da Vila Pompéia

Palco Tribal
(Rua Tucuna, no quarteirão entre as ruas Venâncio Aires e Padre Chico)

Vila Pompéia

São Paulo / SP

Ao ar Livre  -  Gratuito

Kim Kehl & Os Kurandeiros :

Kim Kehl - Guitarra e Voz
Carlinhos Machado - Bateria e Voz
Phil Rendeiro - Guitarra e Voz
Luiz Domingues - Baixo



domingo, 12 de maio de 2013

Ciclistas x Bicicleteiros - Por Luiz Domingues


Sei que já abordei esse tema anteriormente e particularmente, eu não gosto de voltar ao mesmo assunto em minhas matérias, para privilegiar sempre a utilização de temas inéditos. Todavia, sou obrigado a voltar para tal assunto já abordado, pois está a tornar-se muito mais perigosa a vida do mais desprestigiado elemento dentro do universo do trânsito: o pedestre... a mídia já vem há meses a enaltecer a bicicleta como a alternativa mais festejada para combater-se o caos no trânsito.

Não tenho nada contra a bicicleta em si, e certamente que reconheço a sua viabilidade no processo, embora ainda considere que não seja o principal agente a ser incentivado. Ou seja, acredito que a solução para uma melhora significativa, passa por um conjunto de ações integradas e não apenas uma resolução.

É bastante ingênuo, ao meu ver, achar que incentivar só o uso de bicicletas, resolverá o problema do trânsito. Eu prefiro pensar que a bicicleta só funcionará adequadamente em paralelo com investimentos pesados na ampliação da malha em torno do Metrô; trens de subúrbio; corredores expressos para ônibus; subsídios para o táxi poder apresentar uma tarifa mais razoável e incentivo à criação de empregos para pessoas que morem no mesmo bairro onde trabalham, ao evitar assim que desloquem-se de uma forma insana pela cidade, diariamente.

Posto isso, é claro que eu penso ser um absurdo o perigo que os ciclistas passam mediante a selvageria institucional do trânsito. Como não revoltar-se com o caso da moça barbaramente assassinada no Rio de Janeiro, ou o rapaz que teve um braço decepado por um playboy arrogante em São Paulo, e que além de não socorrê-lo, teve a crueldade de jogar o braço do rapaz em um córrego, kilômetros distante do acidente (e o braço da vítima poderia ter sido enxertado, segundo os médicos, para agravar a crueldade perpetrada...) ?

A mídia insiste firmemente a realçar tais tragédias (que fique claro, é óbvio que eu solidarizo-me com todo o ciclista que é morto ou ferido no trânsito), e enaltece apenas a causa dos ciclistas, sem levar em conta o incrível contraponto que eu não vejo ninguém citar. Responda-me sem pensar, leitor : quem tem a estrutura mais frágil dentro do trânsito ?
Pois é... o ser humano e o seu corpo composto por carne e ossos, tem apenas a calçada para locomover-se e nesses termos, possuir um mínimo de segurança dentro desse esquema selvagem. Contudo, ao ignorar o fato de que a bicicleta é um veículo como outro qualquer e portanto a sua condução adequada requer respeito às Leis do trânsito, ciclistas, ou melhor, os pejorativamente classificados como : "bicicleteiros", esses irresponsáveis, trafegam pelas calçadas em alta velocidade, a "tirar finas" das pessoas, o tempo todo.
Está cada vez mais difícil atravessar uma rua, pois esses energúmenos simplesmente não obedecem o sinal vermelho dos semáforos; ignoram a faixa de segurança; trafegam na contramão; dobram esquinas sobre as calçadas em alta velocidade, enfim. Não vejo na mídia ou nas redes sociais ninguém a condenar tal selvageria, e pelo contrário, a bicicleta é enaltecida como um objeto da moda, e os ciclistas, por extensão, gozam do "hype" midiático, que enaltece-os, glamoriza, e torna-os cidadãos com a aura imaculada, como algo "cool".
Nas ruas, os atropelamentos são constantes. As brigas perpetradas por jovens impetuosos e arrogantes contra idosos, tornou-se uma rotina, por que além de cometer tal arbitrariedade, estes arvoram-se em estar "certos", e consideram os pedestres como empecilhos às suas manobras radicais pelas calçadas. Não tem um único dia em que não flagro uma barbaridade dessas pelas ruas do meu bairro. Se eu sinto-me inseguro por andar pelas calçadas, o que dizer dos idosos; deficientes físicos; crianças; bebês em carrinhos, e gestantes ?
Está cada dia mais difícil ser um reles pedestre. A bicicleta parece ter mais valor que o ser humano... será esse o conceito de ecologia sustentável que pretende ofertar-nos mais "qualidade de vida" ? Socorro ! Prefiro morrer asfixiado pela poluição a ser atropelado por esses moleques irresponsáveis !
É preciso disciplinar o uso de tal veículo, urgentemente. Não falo sobre criação de Leis, pois os direitos e deveres dos ciclistas estão muito claros no Código Brasileiro de Trânsito. Falo sobre uma campanha de educação maciça, com o apoio da mídia.
E está mais do que na hora da mídia acordar para essa realidade e parar de empurrar a sujeira para debaixo do tapete. No afã de glorificar o ciclismo, os seus agentes "formadores de opinião" estão a ignorar os abusos perpetrados pelos maus ciclistas. Acho oportuno que o leitor leia esses tópicos do Código Brasileiro de Trânsito, transcritos abaixo :


Bicicleta na calçada, só com autorização da autoridade de trânsito e sinalização adequada na calçada:

Art. 59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, será permitida a circulação de bicicletas nos passeios.

Calçada é para pedestres, bicicleta só circula nela em casos excepcionais : PASSEIO – parte da calçada ou da pista de rolamento, neste último caso, separada por pintura ou elemento físico separador, livre de interferências, destinada à circulação exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas.

Quer passar pela calçada ou atravessar com a bike na faixa? O CTB manda desmontar : Art. 68. É assegurada ao pedestre a utilização dos passeios (…)

§ 1º O ciclista desmontado empurrando a bicicleta equipara-se ao pedestre em direitos e deveres.



Acrescento que bicicleta tem que parar no semáforo vermelho, sim senhor ! O pedestre tem o direito de atravessar a via em segurança, e não ser ameaçado por um atropelamento sumário !
Espero que os verdadeiros e bons ciclistas entendam-me e solidarizem-se com esta matéria. Fora da bicicleta, você é um ser humano, também, e da mesma maneira que teme a selvageria dos veículos motorizados pelas ruas, pense que andar sobre a calçada é uma barbaridade igual ou pior, em relação ao pedestre.

E o apelo óbvio : ninguém nasce de geração espontânea, portanto, a sua querida mãezinha; o seu adorável vovô, velhinho e frágil; aquele seu amigo deficiente físico; ou a sua esposinha grávida, são pedestres, também. E você não aceitaria que um irresponsável viesse a voar sobre a calçada com uma bicicleta, para arriscar a integridade física desses seus entes queridos, não é ?



Matéria publicada inicialmente no Blog Planet Polêmica, em 2013

terça-feira, 7 de maio de 2013

As Curvas da Estrada de Santos - Por Luiz Domingues



Os portugueses finalmente interessaram-se em começar a colonizar aquela terra inóspita, onde em 1500, Portugal havia apenas simbolicamente tomado posse, a partir de 1532, quando Martin Afonso de Souza veio com uma comitiva e fundou a cidade de São Vicente, no litoral paulista. Todavia, os índios daquela região, já há muito tempo, construiram uma trilha aberta na Serra do Mar, que dava acesso ao planalto paulista, onde hoje fica a capital de São Paulo e as cidades do ABC paulista.
Foi através dessa trilha aberta pelos índios, que dois padres jesuítas (José de Anchieta e Manoel da Nóbrega), subiram, anos depois e em 1554, fundaram enfim, a cidade de São Paulo. Tal trilha continuou a ser usada por muitas décadas e conforme o seu movimento aumentou consideravelmente, motivou a coroa portuguesa a oficializá-la como uma estrada propriamente dita.
Dessa forma, por ordem do Governo da Capitania de São Vicente, em 1661, surgiu a Estrada do Mar. Em 1789, houve uma melhoria na pavimentação, com a introdução de lajes de granito, no trecho conhecido como : "Calçada do Lorena".
Em uma viagem de Santos à São Paulo, em 1822, o Imperador Pedro I, culminou em prover um evento com relevância histórica, pois em sua chegada à São Paulo, decretou a independência do Brasil, às margens do córrego Ipiranga, no que viria a tornar-se o simpático bairro paulistano com o mesmo nome.  

Uma grande reforma foi promovida na primeira metade do século XIX, para mudar o nome da estrada para : "Estrada da Maioridade", sob uma alusão ao fato do segundo Imperador, Pedro II, estar a viver o processo em emancipar-se para assumir o poder.
Em 1862, a via passou por nova reforma e assumiu outro nome, desta feita, "Estrada do Vergueiro".  No início do século XX, um novo processo de modernização se fez necessário, com a necessidade em adequar a estrada aos tempos modernos, na crescente aparição de automóveis e logo a seguir, dos caminhões. E voltou a ser chamada como : "Estrada do Mar"...
Foi o ano de 1913, e a "Estrada do Mar" tornou-se a primeira estrada asfaltada da América Latina.  Já em 1922, por ocasião do centenário da Independência do Brasil, a estrada já não suportava o tráfego, tamanho o movimento.
Mas só em 1947, surgiu a primeira pista de uma estrada paralela, com o objetivo de apoiar a velha "Estrada do Mar". Surgira então a "Via Anchieta", moderníssima para os padrões da época, com os seus grandes túneis.
Finalmente concluída em 1953, a "Via Anchieta" passou a receber o tráfego mais pesado, para desafogar bastante a velha, "Estrada do Mar".
Nesse momento, a velha estrada passou a ganhar um charme extra, como uma estrada mais turística do que utilitária.
Mesmo ao entrar em acentuada decadência, devido ao relaxo governamental, a "Estrada do Mar" continuou a existir e motivou Roberto Carlos a compor um de seus maiores sucessos na década de 1960 : em "As Curvas da Estrada de Santos", ele usou a metáfora da estrada para falar da solidão amorosa e encantou os seus fãs.

Em 1974, o governo estadual inaugurou o primeiro trecho de uma nova via, a "Rodovia dos Imigrantes", onde a seguir o padrão anterior, visou desafogar a saturada, "Via Anchieta", com a chegada de mais uma estrada, tremendamente mais moderna e segura.
Todavia, o término dessa obra arrastou-se de uma maneira inacreditável e assim, somente nos anos 2000, a estrada ficou 100% pronta. Em 2004, o governo estadual paulista decretou então a velha, "Estrada do Mar", como um polo ecoturístico.
Proibida em ser usada por automóveis, a centenária trilha tornou-se um espaço destinado às bicicletas; práticas esportivas e caminhadas, tão somente.
A despeito de estar descuidada como estrada oficial, a paisagem deslumbrante da Serra do Mar, recheada com mirantes; monumentos históricos e a natureza, pareceu ser o cenário ideal para essa preservação ecoturística.
No entanto, o tempo pôs-se a passar e o governo na contrapartida, a relaxar em sua manutenção, ao inibir em muito o seu uso por esportistas e turistas em geral.
Neste momento (2013), o governo está envolto em um imbróglio burocrático para decidir o que fazer dela.
Boatos na imprensa mainstream, dão conta de que o governo deverá subordiná-la à Fundação Florestal, um órgão dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Seja lá qual for o órgão que irá responsabilizar-se doravante, fica o meu voto de que faça o máximo para preservar a mais antiga estrada do país, onde muitos eventos históricos ocorreram.  Enquanto torço, faço um exercício de imaginação :
Entro dentro de um Karman-Ghia conversível e a dirigir na sinuosa "Estrada do Mar". Vou a assoviar a velha canção do Roberto e ao apreciar a paisagem, em meio a uma aprazível tarde de sábado...
Matéria publicada inicialmente no Site / Blog Orra Meu, em 2013