sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Manipulação da Boa Fé Pública - Por Luiz Domingues




Não é de hoje que os astutos de plantão usam e abusam da boa fé das pessoas para aplicar golpes. Desde as cavernas, esse tipo de artifício é usado pelos inescrupulosos, que através desse tipo de ação, colocam-se como duplamente execráveis, pois além do golpe em si, existe a agravante da humilhação alheia como alavanca para justificar tal expediente. Com o advento da Internet, isso só multiplicou-se, na triste proporção em que a humanidade costuma cumprir saltos geométricos nos avanços tecnológicos, mas permanece estagnada nos padrões morais, para não dizer que determinados indivíduos, chegam ao disparate em retroagir nessa questão.

O uso da máquina da Internet, potencializada pela febre da interação nas redes sociais, só fez crescer esse tipo de ação criminosa. Há uma extensa lista de E-mails falsos a conter vírus, que a polícia federal recomenda que não cliquemos e basta ter um mínimo de experiência como usuário para decorar a máxima de que não é aceitável abrir E-mails suspeitos. Entretanto, existe outros tipos de golpes, tão sujos quanto, e se não estão ligados diretamente à práticas criminosas perpetradas por bandidos, são práticas tão perniciosas quanto.

Refiro-me à enorme quantidade de postagens falsas que comovem as pessoas e rapidamente tornam-se virais, ao gerar milhares de compartilhamentos e comentários de apoio. Subitamente aparece no mural da sua rede social predileta, uma foto montada, a dar conta que um determinado alimento muito popular, é acusado em constituir-se em um agente cancerígeno e na postagem, constam nomes de supostos cientistas a serviço de pesquisas patrocinados por universidades famosas que concluíram tal pesquisa... no entanto a tratar-se de uma informação dúbia, sem comprovação alguma sobre a veracidade dos fatos alardeados.

Não passa nem um segundo e milhares de pessoas já estão a tratar por espalhar a nova, com a convicção de que estão a contribuir ao alertar os seus amigos e parentes e isso torna-se uma corrente de proporção incalculável. Só que a postagem era falsa. Muito provavelmente fora uma brincadeira de algum desocupado que costuma regozijar-se como  seu vandalismo virtual ou, pior ainda, a tratar-se do fruto de uma sabotagem industrial por parte de alguém que deseja prejudicar a empresa responsável pela industrialização de tal alimento. Já presenciei acontecer isso com remédios; produtos de limpeza; cosméticos; brinquedos; roupas; sapatos e diversos outros objetos. Calúnia, difamação e sabotagem ?

Claro que sim, e pelo que sei, tal atitude socialmente descortês, fica impune, pois desconheço que as autoridades tenham localizado, indiciado e levado a julgamento, tais pessoas autoras dessas ações. Todavia, é no campo político que temos mais observado esse tipo de ação escusa, abominável e digna de asco por parte de qualquer cidadão que paute-se por uma postura digna na vida. O uso desse expediente para provocar formação de opinião; tomada de posição e possível revolta, é criminoso, no mínimo.

Nenhum partido político jamais admitirá ter participação nesse tipo de estratégia, e certamente sempre usarão subterfúgios, caso sejam descobertos em suas falcatruas, porém, o fato é que a rede de boatos montada para ser usada em seu favor, está solta no ar e tal prática é absolutamente nojenta, ao caracterizar um golpe baixo na democracia e sobretudo na boa fé da população. Em época de campanhas políticas, tal prática escusa ocorre desenfreadamente na internet. Todo dia, as redes sociais lotam com postagens absurdas, ao estabelecer afirmações falsas, e assim induzir à não reflexão mais apurada e à comoção, e nesse instante, no impulso, é que faz-se uso da "idiotia servil", um prática detestável, que ofende a inteligência das pessoas realmente honradas.

Com milhares, milhões de idiotas úteis a trabalhar ao seu favor, cegamente, fica mais fácil formatar um conceito, um paradigma que ganha contorno de uma verdade absoluta. Isso não é nenhuma novidade criada junto à moderna tecnologia. Na verdade, a tecnologia do século XXI, que avança, só tratou em potencializar tal expediente.

Esse tipo de uso de informação manipulada, que comove as pessoas e as faz aderir sem pensar, é mais antiga que a civilização, e nos anos quarenta da década passada, ganhou contornos dramáticos quando usada por um homem chamado : Joseph Goebbels. Esse cidadão foi um mestre nesse tipo de artimanha, não podemos negar a sua genialidade, mas, claro que a usou com motivações muito equivocadas e a consequência está nos livros de história. Infelizmente, mesmo com o rescaldo do que esse tipo de prática causou naquela ocasião, ainda existe muitos entusiastas desse tipo de ação e que tem em Goebbels, um ídolo, praticamente. Dessa forma, não passa um dia sem que ao abrirmos E-mails, não vejamos pessoas amigas e de ótima índole, ao repassar-lhe recados criados com objetivos políticos claramente sabotadores, como se fosse uma verdade absoluta e no afã em "ajudar", as pessoas só trabalham como idiotas úteis desses crápulas.

Como máxima do jornalismo, uma notícia só pode ser publicada mediante confirmação de uma fonte fidedigna. Jornalistas costumam checar na verdade, muitas fontes, antes de assinar uma matéria. Portanto, caro leitor, é bom seguir esse preceito, mesmo nós que não somos jornalistas e sendo assim, jamais repassar um E-mail com "notícias bombásticas", sem checar a fonte de tal novidade. Principalmente nas redes sociais, onde a tentação em sentir-se popular é enorme (pelo caráter instantâneo das postagens e principalmente em torno da sua repercussão), por favor, tenha muito cuidado antes de compartilhar, pois muitas vezes aquelas notícias "revoltantes" ou "comoventes", tem uma procedência manipulada e você será mais um idiota útil, por parte de pessoas que tem muito interesse em promover a conturbação social, mediante a estratégia em obter as suas vantagens escusas.

Matéria publicada anteriormente no Blog Planet Polêmica, em 2014. 

sábado, 10 de maio de 2014

O Trilho que Orgulha o Paraná - Por Luiz Domingues


Os estados do sul do Brasil sempre tiveram uma tradição muito forte como celeiro de grandes artistas em todos os segmentos. Na música, e no Rock em específico, a lista é grande. No caso específico do Paraná, é óbvia a lembrança de uma banda histórica como, "A Chave", que eu tive o prazer em ver ao vivo nos anos setenta, e posteriormente mediante outra banda, derivada, como uma espécie de sua reencarnação, ou reinvenção, como queira interpretar o leitor, como "Blindagem", ao atravessar décadas sendo capitaneada pelo grande, Ivo Rodrigues, para orgulhar as tradições da terra dos Pinheiros.

Mais adiante, a safra oitenta / noventista mostrou a sua força através de muitas bandas boas, a destacar-se o Relespública, com a sua proposta em termos de resgate do som Mod sessentista, além do Faichecleres, com a devida veia a pulsar diretamente da Swinging London sessentista.

Ultimamente, o Paraná tem mostrado um novo fôlego, ao revelar nomes interessantes, e dentro dessa cena, um projeto chamado "Gravando Curitiba", estabeleceu uma prévia ao envolver diversas bandas e fechou com doze, consideradas as mais promissoras.


"Trilho ", faz parte também, com muita justiça, além do "Pão com Hamburguer", outra elogiada banda curitibana. Cada banda gravou um Ep com média de cinco a seis canções, ou seja, um impulso muito bom para iniciar uma trajetória, sem dúvida. E agora, esperamos que o "Trilho" parta para um CD com mais canções ainda, para subir cada vez mais na sua carreira.

"Trilho" surgiu em 2009, com uma formação bem jovem, mas antenadíssima em estética retrô da melhor qualidade. As suas influências são nitidamente calcadas no Rock das décadas de sessenta e setenta, o que por si só, já despertaria a minha simpatia imediata, porém, na música de "Trilho", existe pitadas generosas de Blues, espaço para o Folk-Rock e até o Hard-Rock insinua-se, ainda que mais comedidamente. A banda passou por mudanças na sua formação ao longo dos anos, todavia apresenta-se estável com a seguinte formação : André Prokofiev (guitarra); Guilherme Richter (bateria); Thiago Fabiano (baixo); João Lima (teclados e Violão) e Fabíola "Birlla"Malerba (vocal).

A guitarra de Prokofiev (nome de compositor refinado, não sei se tem parentesco, mas evidentemente honra a tradição desse sobrenome), é classuda. Certamente bebeu das mais belas fontes do Southern Rock americano, ao mostrar um repertório de frases; riffs e desenvoltura ao slide, ao revelar a sua proximidade ao Country-Rock e diversas correntes do Blues. Fabiano e Richter formam uma cozinha de extrema competência. Ao ouvir tal firmeza e riqueza rítmica, imediatamente reporto-me ao Grand Funk Railroad. Tal dupla confere à banda, uma segurança muito grande. Gosto bastante da atuação do tecladista, João Lima, que pilota as teclas à moda antiga, com muito swing, pompa & circunstância, ou seja, não está ali para fazer "caminhas harmônicas", como os horríveis tecladistas oitentistas costumavam fazer, mas a abrilhantar, como é o papel de um bom tecladista que segue a tradição de Emerson; Wakeman; Crane; Hensley, e Lord, só para citar cinco entre muitos músicos exemplares nesse quesito. Isso sem contar que ele toca violão bem e nos números acústícos, a sua boa base ajuda e muito.

E a vocalista, Fabíola Malerba é um caso à parte. Dona de uma voz rasgada, que lembra muito o timbre e interpretação de cantoras da pesada como Maggie Bell; Tina Turner; Kiki Dee; Janis Joplin; Rita Coolidge; e Etta James, é talento puro na linha de frente, com desenvoltura e presença de palco como frontwoman.

Especial Rock & Madeira, com uma performance acústica da banda.

Foi através dela que conheci a banda, aliás, quando tornamo-nos amigos na extinta rede social Orkut, amparados pelo fator evidente que compartilhávamos de dezenas de comunidades em comum, versadas pelo apreço em torno do Rock das décadas de 1960 / 1970; contracultura & afins...

Desde o início de nossa amizade e logo que ela enviou-me links da banda em ação, associei-a à Maggie Bell, uma cantora escocesa maravilhosa que foi vocalista da ótima banda : "Stone the Crows", bem ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Posteriormente, Bell fez carreira solo ao lançar disco pela gravadora do Led Zeppelin (Swan Song), com o baixista do Led, John Paul Jones em pessoa, a cuidar de sua produção de estúdio etc. Maggie era chamada como : "Janis Joplin Britânica" e a comparação fazia sentido, pois o seu potencial vocal era muito era privilegiado, exatamente como o da sua contemporânea, que morava  do outro lado do oceano.

Eu costumava brincar com a Fabíola "Birlla", ao chamá-la sempre como : "Maggie Bell brazuca", uma brincadeira carinhosa, mas com fundo de verdade, visto que ela possui mesmo, certas semelhanças vocais com a grande, Maggie.
        Aqui, o Trilho interpreta a canção : "Montanha do Paraná"                        

O "Trilho" já ostenta uma ótima fama em Curitiba e no Paraná como um todo; participou de algumas edições do festival Psicodália em Santa Catarina (que é um fenômeno no Brasil moderno, por ser um festival onde a vibração é 100 % retrô, com uma juventude que chega a ultrapassar a marca de vinte e cinco pessoas reunidas a viver o sonho de Woodstock, aqui e agora, ao apreciar e incentivar bandas jovens que tem essa influência forte em sua música, com muito sucesso.

 https://www.youtube.com/watch?v=76GlVrHY9VQ
O link acima direciona para o clip da música "Esse Rock Foi Quem Fez", uma autêntica paulada !


O Trilho ganhou um festival chamado : "Festival Jam Session Crossroads", onde suplantou outras cento e vinte outras bandas concorrentes. A banda já participou de muitos programas de rádio; faz muitos shows, com agenda sempre cheia e tem muitos admiradores confessos (eu, incluso), conforme nota-se pelas redes sociais da internet.

Para conhecer o seu som e a sua história, eis o seu endereço no Reverbnation :

http://www.reverbnation.com/otrilho

No facebook, é possível tomar conhecimento da sua agenda, também :

https://pt-br.facebook.com/otrilhorock


No canal de You Tube da banda, muitos vídeos para ver e apreciar :

https://www.youtube.com/user/otrilho

O Rock paranaense está bem servido e representado. Torço para que tal grupo, consiga expandir-se, a tornar-se uma banda nacionalmente famosa.


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Kim Kehl & Os Kurandeiros - Dia 9/5/2014 - Sexta/21:30 h. - Santa Pimenta Bar - Jaguaré / SP

l
Kim Kehl & Os Kurandeiros + Edu Dias

Dia 9 de maio de 2014

Sexta-Feira - 21:00 h.

Santa Pimenta Bar

Avenida Antonio de Sousa Noschese, 255

Jaguaré

São Paulo - SP

Kim Kehl & Os Kurandeiros :

Kim Kehl : Guitarra e Voz
Carlinhos Machado : Bateria e Voz
Luiz Domingues : Baixo

Convidado Especial : Edu Dias - Gaita e Voz

Errata : No cartaz, está escrito que cai no sábado, mas o correto é sexta !

sexta-feira, 2 de maio de 2014

No Telhado com Jefferson Airplane; Godard & Pennebacker - Por Luiz Domingues

Jean-Luc Godard já era uma celebridade desde o final dos anos cinquenta, por ter chamado a atenção dos cinéfilos do mundo inteiro, graças aos seus filmes realizados mediante forte teor político e riquíssimo em metáforas.

Um dos maiores expoentes da escola de cinema, "Nouvelle Vague", Godard extrapolou as fronteiras dos cinéfilos e estudiosos de cinema, ao tornar-se um nome conhecido, embora a sua obra não seja nada fácil para ser assimilada pelo público em geral. Com a efervescência contracultural total que precipitou-se na década de sessenta ao redor do mundo, Godard, assim como o diretor italiano, Michelangelo Antonioni (outro extraordinário diretor de cinema), interessou-se em aproximar-se do universo da cultura Pop; Contracultura; Flower Power; Rock & afins. Antonioni insinuara um pouco da atmosfera da "Swinging' London" de 1966, em "Blow-Up", e depois em 1970, realizou  outra obra forte com tal teor, em "Zabriskie Point" filmado na América do Norte.

No caso de Jean-Luc Godard, em 1968, ele entrou com a sua câmera e muitas ideias na cabeça, dentro do estúdio onde os Rolling Stones realizavam as sessões de gravação do álbum : "Beggar's Banquet", e a intercalar com cenas dramatúrgicas sob forte teor político (ao misturar os Panteras Negras e militantes ideológicos marxistas), lançou "One Plus One", também conhecido como "Sympathy for the Devil".

Ainda em 1968, ele partiu para a América do Norte, onde faria um novo projeto, mas a buscar o mesmo mote da militância política de esquerda (uma avaliação equivocada de sua parte, aliás, pois o Rock não fora uma manifestação esquerdista, como ele idealizara), misturada à efervescência do Rock naquele momento, como agente libertário e contestador.


Godard teria um apoio sensacional na América, na pessoa do documentarista norteamericano, D.A. Pennebacker, que era mais que seu amigo pessoal e admirador de sua obra cinematográfica. Pennebacker, na verdade, fora o distribuidor da obra de Godard nos Estados Unidos e por ser um documentarista muito famoso e importante na cena norteamericana, forneceu todo o suporte técnico, inclusive como cinegrafista e diretor de fotografia.

Ao ir além, Pennebacker também ostentava um currículo de filmagens com forte teor político. São famosos os seus documentários a cobrir grandes comícios de John Fitzgerald Kennedy; Martin Luther King e outros militantes importantes da política norteamericana nos anos cinquenta e sessenta. Porém, o seu forte mesmo foi os documentários com artistas do Rock, tanto filmagens de shows históricos (Pennebacker filmou dúzias de shows de Jimi Hendrix; Janis Joplin; o festival de Monterey de 1967, e muitos outros).

Portanto, por conhecer muitos artistas importantes de primeira grandeza da cena do Rock norteamericano, e também por estar envolvido com os maiores agitadores culturais da época e das lideranças Hippies mais proeminentes, Pennebacker foi o sujeito certo na hora certa, para Godard poder empreender o seu novo projeto.

A ideia básica foi seguir a linha mestra usada em "One Plus One" (ou Sympathy For the Devil", como é mais conhecido no meio Rocker e entre fãs ardorosos dos Rolling Stones), ou seja, seriam cenas de dramaturgia com o mote político, intercaladas com cenas de shows de Rock ou a evocar tal cena, ao mesclar-se.


Nesses termos, o Jefferson Airplane, uma das bandas mais loucas da cena psicodélica norteamericana de então, foi contactada a participar. A espetacular banda de Kantner; Slick & Cia. mantinha um trabalho musical consistente, e no campo das letras das suas músicas, apresentava uma contundência contestatória interessante, ao falar sobre questões políticas e o que estava em voga naquele instante, foram os protestos contra a atuação norteamericana no Vietnam (Volunteers of America !). Havia outros artistas com atuação ainda mais contundente em termos de contestação sociopolítica, casos de Bob Dylan; Joan Baez, e a banda "Country Joe and the Fish", por exemplo, mas Godard quis a presença do Jefferson Airplane na sua película.

A ideia da filmagem foi inusitada para a época : seria um show surpresa, desprovido de uma estrutura básica, sem permissão das autoridades e a ser realizado em um local inóspito, que não fosse um palco tradicional de um teatro; casa noturna ou de um evento em específico. Dessa forma, o Jefferson Airplane montou um equipamento de forma rápida e improvisada, no telhado de um hotel na cidade de Nova York (Hotel Schuyler, na esquina da 40 West, com a Five Street).

As tomadas tinham de ser feitas de uma forma muito rápida, para aproveitar-se ao máximo o tempo em que conseguiriam tocar antes de ser interrompidos pelas autoridades, notadamente a polícia, que certamente faria uma intervenção forçada. Pennebacker, pessoalmente, foi um dos cinegrafistas e a sua câmera posicionou-se em um prédio do outro lado da rua, dentro de um consultório médico.

Segundo a vocalista, Grace Slick, aquilo foi muito excitante para a banda e através de uma conversa interna com os seus companheiros, chegou-se à conclusão de que valeria muito mais a pena, gastar-se com advogados, se eventualmente fossem presos, como um investimento de carreira, não só pela banda figurar em num filme do grande diretor, Godard, mas pelo efeito publicitário que esse show-Guerrilha exerceria na mídia. Literalmente, -"seria uma ação mais eficaz gastar com advogados, a contratar um assessor de imprensa" (eu não criei esta frase, mas Grace Slick a proferiu com todas as letras, na época)... e não deu outro resultado.

Mal a banda começou a tocar, a polícia foi chamada imediatamente. Pessoas saíam às janelas nas cercanias, atônitas com o som de uma banda de Rock a soar de algum lugar absolutamente insólito. As pessoas que caminhavam na calçada, também ficaram desnorteadas pela manifestação inusitada e claro que o rebuliço estava causado, e é evidente que Godard e Pennebacker estavam a esmerar-se para aproveitar cada segundo, antes que alguma autoridade tirasse o gerador de eletricidade da tomada...

Sem dúvida que o padrão de atendimento da polícia norteamericana, neste caso, foi inoportuno, pois eis que as viaturas chegaram muito rápido e ordenaram o término da apresentação imediatamente, sob pressão. Deu para capturar uma música apenas : "House at Pooneil Corners", e assim o Jefferson Airplane antecipou em pouquíssimo tempo, o que os Beatles repetiriam em Londres, quando fizeram um show relâmpago no telhado do prédio sede da gravadora Apple, em janeiro de 1969.

Para os olhos do mundo, a ação dos Beatles entrou para a história como algo muito mais notório e inédito, mas na verdade, o Jefferson Airplane foi quem tocou no telhado de um edifício, antes. Quanto ao filme, Godard enfrentou dificuldades com essa produção e pôs-se a postergar a sua finalização. Por ter envolvido-se em outras produções, ele engavetou o projeto por muitos anos, até que Pennebacker tomou a iniciativa e ao assumir a produção, editou o material filmado e o lançou com outro título : "One PM", visto que originalmente, Godard o batizara como : "One AM" (One American Movie). Pennbacker brincou com o trocadilho sobre a mudança de horários do dia, que os norteamericanos adotam (AM-PM).

E a performance do Jefferson Airplane no telhado, foi lançada em 2004, no DVD : "Fly Jefferson Airplane", também editado e lançado por Pennebacker. Dá para assistir a rápida performance da banda, que está postada no You Tube.

Mesmo inacabado, podemos afirmar que Godard também fechou com duas obras ao evocar a cultura sixtie, assim como Antonioni também o fizera. Pennebacker remediou a situação, ao salvar a película e transformá-la em um documentário, e dessa forma, anexou mais um documentário histórico em seu currículo inacreditável.

Muitas bandas imitaram essa loucura de show-guerrilha em locais inusitados, mas ninguém fez desse ato, algo histórico como os Beatles em janeiro de 1969, na Inglaterra e o Jefferson Airplane em novembro de 1968, na América do Norte.

Matéria publicada inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2014.